sábado, março 18, 2006

As Cores de Portugal

Interpelado por um ilustre visitante, que não conheço, mas que demonstra preocupação e sapiência sobre a simbologia que presidiu à escolha das ‘cores nacionais’, regresso ao assunto, que por manifesta falta de espaço, não cabe, nem coube, na caixa de comentários do postal anterior.
Já me referi a este tema no ‘Portugal no arco-íris’, mas agora pretendo ser mais explícito.
Quais são, afinal, as cores de Portugal?
A própria dúvida, assim colocada, já indicia uma triste realidade: um dos objectivos do partido republicano foi atingido – ninguém tem certezas, estamos divididos, fomos enganados, já não sabemos quem somos. Os republicanos falsificaram a história, adulteraram os nossos símbolos. Não adianta ver o que não está visível, o que não se entende. O que não está lá, porque foi retirado, de propósito.
Retiraram a Coroa do Fundador, símbolo da Realeza e portanto da Independência, introduziram o ‘verde e encarnado’, seja da União Ibérica, seja da carbonária italiana, símbolo da dependência!
O Branco, onde tudo se pode inscrever, onde inscrevemos o sinal da nossa Missão, a CRUZ, esse caíu! O Serviço que justificou a Independência, ‘o aumento da pequena Cristandade’, aparece apenas, de forma velada, na formação dos escudos e quinas!
O Azul das Terras de Santa Maria, o Azul de Nª Senhora da Conceição, Rainha coroada na Restauração, também desapareceu!
O que resta?
A esfera, coroa fechada de um quinto império, onde não existe a Cruz?
A armilar que abraça o mundo, sem o símbolo Superior do Padrão dos Descobrimentos?
Onde está a Missão? O Estado separado da Nação? Cada um para seu lado?
Paremos para pensar. Existem três momentos culminantes da Independência Pátria, a saber:
Ourique, Aljubarrota e Restauração: Em todos eles se fez juz ao símbolo Fundador – o Branco e a Cruz Azul, mais tarde, o Branco e o Azul em Cruz! A Coroa, quando conquistámos a Independência.
Cabe aqui recordar, para que não existam dúvidas, que o Condestável, ao pôr em causa o direito dinástico, foi percursor, mas no sentido da tradição: ‘Se Deus nos deu uma Pátria, devemos defendê-la’.
Porém, ‘entre os portugueses, traidores houve algumas vezes’.
Assim, no lado errado da história, as datas do anti-Portugal são três também:
O jacobinismo de 1820, acentuado em 1910, e a cobardia de 1974.
Em todos eles fugimos de nós próprios, adoptámos símbolos dos outros, em todos eles trocámos independência por dependência!
Em 1820 renegámos a tradição e aprisionámos o Rei atrás das grades de uma constituição anti-portuguesa. A seguir veio o que se esperava, a guerra civil e a República. Esta, sabe-se hoje, sempre se soube, patrocinada pela Inglaterra que ambicionava as nossas Colónias, tal como as outras potências.
Em 1974, a República consumou o acto e foi altura de nos reformarmos, abdicando de ser uma Pátria Livre e Independente. Não conseguimos assinar a Constituição Europeia, mas estamos muito contentes na Europa. A Europa que nos ature!
Os símbolos seguiram naturalmente todo este percurso de dependências, várias e para todos os gostos.
A matrona de grandes seios mostra à evidência a sociedade infantil em que nos transformámos! O Regicídio, como em França, revela nova faceta infantil e doentia: um acirrado complexo de Édipo. Pelo avesso revela orfandade. Matámos o Pai e procuramos um sucedâneo em qualquer padrasto! De preferência solteiro e beato. Também escolhemos ateus. A seguir vamos a Fátima!
Haverá esperança?
Responde-me o ilustre visitante que o Interregno, não este, o verdadeiro, é ele próprio o sinal iniciático da ‘nova era’! É possível desde que a bandeira volte a ser símbolo do caminho que percorremos juntos há oito séculos. Os desvios e os erros servem apenas para nos indicar que nos afastámos.
O verde e encarnado, são desvios.
A Coroa que falta, é um erro.

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