sábado, março 11, 2006

Uma família feliz

De mão dada, sobem a rampa do Palácio de Belém, felizes da vida, como se tivessem chegado ao topo do mundo. Cume de uma carreira política bem sucedida, um justo troféu para tanta ambição e canseira!
Rei por um dia, ou por cinco anos, talvez por dez, quem não gostaria de ser?
Escrevo estas linhas no divã da psicanálise, expurgado da inveja, do sofrimento da rejeição, dos traumas de infância, de tudo o que possa ofuscar ou diminuir este momento de glória, aquela imagem de felicidade.
Antes porém, debati-me com o meu outro eu, mais selvagem, primário, que me gritava ao ouvido uma série de disparates: que Mário Soares foi coerente ao não cumprimentar o inimigo da véspera, e que essa é uma atitude que está na lógica republicana. Para quê fingir que estou contente com a vitória do outro, se não estou, e se assim a minha neta não pode fingir de princesinha por mais uns anitos?!
O meu outro ouvido também não foi poupado! Dizia-me então a besta que habita dentro de mim: para a República, os Palácios devem ser Museus e não locais de habitação. Os Palácios não são do povo, porque eu nunca vi o povo habitar em Palácios. E continuava o maldizente: o Presidente deve tomar posse no notário e com testemunhas, não há necessidade de festividades e convites. Imagino que quem não votou nele, e ainda foram uns quantos, não deve estar virado para grandes festas, nem quer pagar a conta.
Mas como disse, isto foi antes do correctivo que o psiquiatra me aplicou. Nada de confusões, que eu até simpatizo com o homem.

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