quinta-feira, março 06, 2008

“O Fundamentalismo Laicista”

1. Introdução

“A Europa atravessa uma fase de fundamentalismo laicista.
O primeiro grande sinal – pelo menos o primeiro visível – foi a discussão sobre as origens cristãs do pensamento europeu e, consequentemente, da civilização e cultura europeias. Atitudes e comportamentos anti-cristãos, assumida ou disfarçadamente, começaram então a manifestar-se na legislação da Europa comunitária. À medida que alastra, esta mancha ideológica vai-se progressivamente radicalizando e mesmo fanatizando. O que significa dizer por outras palavras: “deseuropeizando”. Porque os radicalismos e os extremismos são a antítese do moderno pensamento europeu.
À liberdade democrática (essa, sim, verdadeiramente europeia) de não ser religioso, ou de não ser cristão, sucede-se a liberdade (profundamente anti-democrática) de atentar contra a liberdade de outros o serem.
Tudo se passa a coberto da ideia de Estado laico ou separação entre a Igreja e o Estado – o que é um princípio profundamente democrático que deixa a cada indivíduo decidir, no foro da sua consciência, o credo e respectivas normas de conduta a que quer aderir. O Estado nada lhe impõe nessa matéria. Como nessa matéria nada lhe impede. Só que esta ideia – como qualquer outra mas mais facilmente do que qualquer outra – é muito susceptível de ser prontamente subvertida e pervertida. Basta exagerar para além de todos os limites para perverter o bom em mau, o legítimo em ilegítimo, o justo no injusto. É assim que a separação entre Estado e Igreja se transforma em perseguição do Estado à Igreja, em opressão, em limitação. Raramente assumida mas sempre “civilizadamente” justificada. É a transformação do Estado Laico em Estado Laicista; é a tolerância religiosa europeia transformada no fundamentalismo laicista digno de qualquer país do terceiro mundo.

Como “bom aluno” da nascente União Europeia, Portugal não escapa a esta moda ideológica. E – como é costume dos alunos que se põem de dedo no ar para chamar a atenção do mestre para a sua perspicácia e precocidade – tenta mesmo, nesta e noutras matérias, mostrar a sua aplicação e adiantamento. Só que – parece-me – muitos portugueses não reparam. Desiludidos ou alheados da Federação nascente só darão pela ditadura ideológica mascarada de democracia de ideias quando esta lhes tolher o pensamento e a acção.
Por isso gostaria de aqui ensaiar e partilhar algumas reflexões sobre o emergente fenómeno do “fundamentalismo laicista”…”
(Continua)

Com a devida vénia, transcrevi o primeiro de vários artigos sobre o tema, publicados no jornal semanário “A Ordem”, (a partir de 17/01/2008), da autoria do seu Director – M. Moura-Pacheco.

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