sábado, maio 31, 2008

Será desta?!

A história partidária portuguesa só um milagre a pode alterar! Como diversas vezes referi, vivemos sempre em partido único, ora inclinado à esquerda, ora à direita, embora durante certos períodos existam dois partidos que se revezam no poder, mas como dizia o Eça, são tão parecidos, que apenas se distinguem porque os respectivos capatazes almoçam em sítios diferentes. Nestas condições, esperar por uma clarificação do espectro político partidário é pura utopia! Esse desiderato só poderia acontecer se uma das duas formações partidárias que se reclamam da social-democracia (PS e PSD) se fracturasse, levando a outra a desagregar-se. Dos escombros poderiam então nascer dois grandes partidos de poder, um conservador, à direita, e outro socialista/social-democrata à esquerda, aliás, à semelhança do que acontece nas democracias adultas.
Mas se calhar o problema é esse, nós não queremos ser adultos, há um pavor atávico em crescer, que nos tolhe os movimentos, as decisões… a não ser que o discurso (de derrota) de Santana Lopes queira mudar alguma coisa! Eu ouvi falar num projecto político próprio, de que ele não abdicava! E em política os projectos próprios precisam de um meio próprio para se expressarem e desenvolverem – e esse meio são os partidos.
Será um novo partido que se perspectiva? Liberto da ganga social-democrata?!
Era bom que fosse verdade, mas não acredito.
Estou mais inclinado para uma luta surda e mortal entre Sócrates e Manuela Ferreira Leite, para ver qual dos dois se parece mais com Salazar.
E a Manuela até se saiu bem no discurso de vitória! Não disse nada e disse tudo.
Saudações monárquicas.

quarta-feira, maio 28, 2008

Então e o 28 de Maio?!

Ninguém fala nele! Será que não conta para o centenário?! E a juventude, aquela que confunde o 25 de Abril com a fundação da nacionalidade, terá ela alguma ideia sobre o 28 de Maio de 1926? Ou não sabe nem quer saber porque desconfia que deve ter sido mais uma revolução traída!
A verdade é que foi o ‘28 de maio’ que deu origem à segunda republica, vulgo, estado novo, e sempre foram quarenta e oito anos, não é brincadeira nenhuma! O melhor é dar uma explicação (informação) simples, como se fosse futebol, para os adeptos da selecção perceberem: com o 28 de maio a direita venceu a esquerda, colocando as republicas empatadas a uma bola. O 25 de Abril desempatou a favor da esquerda mas como as coisas andam não deve tardar muito para a direita empatar outra vez. E já merecia.
Até nisto somos o país dos empatas!

domingo, maio 25, 2008

Profético

Quando Sócrates decidiu, em tom solene, congelar os ‘passes sociais’, estava eu sentado a ver o debate na televisão! Num gesto instintivo, levantei-me, fui ao frigorífico, e pus o salazarismo a descongelar!
Salazar também congelou as rendas de Lisboa e Porto, e quando o fez, invocou por certo as melhores razões, e tal como Sócrates, recolheu o aplauso da união nacional da época.
Salazar também sabia que há mais inquilinos que senhorios, e que é em Lisboa e Porto que as maiorias se definem, com ou sem votos expressos. Sócrates também sabe que os passes sociais dizem respeito às populações que vivem à volta destas duas grandes cidades.
Em ambos casos a medida é inatacável, a crise externa justifica quase tudo, e tem a vantagem de esconder inépcias e populismos internos.
Assim, governar é fácil.

sexta-feira, maio 23, 2008

Cançoneta a dois tons

Temos que admitir que as canções da Eurovisão já tiveram melhores dias, antigamente entravam no ouvido, era no tempo em que os melhores autores e compositores apostavam forte neste concurso. Agora, letras e músicas aparecem enlatadas, na sua maioria são cantadas em inglês, não é fácil distingui-las! Na hora de escolher, o melhor é orientarmo-nos pelos intérpretes, no meu caso, pelas intérpretes.
Mas confesso que ando um pouco alheado do festival e tanto assim é que quando ouvi a locutora nomear a nossa intérprete apanhei um susto pois pensei tratar-se da Vanessa Fernandes, a grande campeã do triatlo! Percebi mal, o apelido também é Fernandes mas chama-se Vânia. Uma jovem que defendeu muito bem a canção portuguesa, um bocadinho trágico-marítima, mas isso ela não tem culpa, a verdade é que conseguiu apurar-se para a final!
Mas o que eu não sabia, e fiquei a saber, é que a Europa das canções também funciona a duas velocidades, também tem os grandes e os pequenos, e curiosamente nós fazemos sempre parte dos pequenos! É como lhes digo, e se não percebi mal outra vez, para além do país organizador, mais quatro países (adivinhem quais!) e respectivas canções, têm apuramento garantido, obrigando-se os restantes a disputarem uma espécie de pré-eliminatória!
Com franqueza, nem nas cantigas somos iguais, nem com música a Europa se comove!
E nós ainda insistimos, ainda lá vamos, em lugar de fazermos concursos e festivais com quem, e para quem, nos entenda.

quinta-feira, maio 22, 2008

Bloqueio

Não sei se já lhes aconteceu ficarem bloqueados a seguir a um devaneio poético! A resposta é não, porque evitamos devaneios e ainda menos poéticos. Pois concordo, mas a verdade é que aquelas palavras, provavelmente por serem vãs, se interpuseram de tal modo entre a escrita e o que eu tinha para dizer, que não houve outro remédio senão esperar por algum acontecimento que me retirasse de apuros. Neste sentido a Festa do Corpo de Deus salvou-me, trouxe-me de volta, mas com a promessa, e a penitência, de poupar o interregno à tentação da rima… ‘por dá cá aquela palha’. Provérbios populares está bem, são admissíveis, versos é outra conversa.
Mas afinal que havia para dizer, de tão urgente, que não podia esperar pelo fim do mês! Que notícia, que novidade, merecem algum comentário nesta pasmaceira de país! Que não protesta, que não põe o pé na rua, que assiste, melancólico, ao aumento diário do gazóleo e do resto! Que em contrapartida inventa alienações que ultrapassam os efeitos de qualquer opiáceo, por mais duro que seja!
A psicose com a selecção é um bom exemplo: são famílias inteiras que se deslocam em peregrinação ao Fontelo, só para ver os seus ídolos, artistas da bola para onde transferimos todas as nossas frustrações! Por isso merecem tudo, inclusive uma diária, para tabaco e diversos, na ordem dos setecentos euros! O que faz aumentar ainda mais a admiração dos ‘adeptos’, reformados a trezentos euros, empregados a setecentos euros (mensais), para não falar do fundo de desemprego. Mas o terceiro mundo é assim, não há nada a fazer.
A não ser congelar qualquer coisa!
Onde é que eu já vi isto?!

"História da Solenidade do Corpo de Deus"


A Solenidade Litúrgica do Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como "Corpo de Deus", começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade belga de Liège, tendo sido alargada à Igreja universal pelo Papa Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.
.
Teria chegado a Portugal provavelmente nos finais do século XIII e tomou a denominação de Festa de Corpo de Deus, embora o mistério e a festa da Eucaristia seja o Corpo de Cristo. Esta exultação popular à Eucaristia é manifestada no 60° dia após a Páscoa e forçosamente uma Quinta-feira, fazendo assim a união íntima com a Última Ceia de Quinta-feira Santa.
.
Em 1311 e em 1317 foi novamente recomendada pelo Concílio de Vienne (França) e pelo Papa João XXII, respectivamente. Nos primeiros séculos, a Eucaristia era adorada publicamente, mas só durante o tempo da missa e da comunhão. A conservação da hóstia consagrada fora prevista, originalmente, para levar a comunhão aos doentes e ausentes.
.
Só durante a Idade Média se regista, no Ocidente, um culto dirigido mais deliberadamente à presença eucarística, dando maior relevo à adoração. No século XII é introduzido um novo rito na celebração da Missa: a elevação da hóstia consagrada, no momento da consagração. No século XIII, a adoração da hóstia desenvolve-se fora da missa e aumenta a afluência popular à procissão do Santíssimo Sacramento. A procissão do Corpo e Sangue de Cristo é, neste contexto, a última da série, mas com o passar dos anos tornou-se a mais importante.
.
Do desejo primitivo de "ver a hóstia" passou-se para uma festa da realeza de Cristo, na "Christianitas" medieval, em que a presença do Senhor bendiz a cidade e os homens.
.
A "comemoração mais célebre e solene do Sacramento memorial da Missa" (Urbano IV) recebeu várias denominações ao longo dos séculos: festa do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; festa da Eucaristia; festa do Corpo de Cristo. Hoje denomina-se solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, tendo desaparecido a festa litúrgica do "Preciosíssimo Sangue", a 1 de Julho.
.
A procissão com o Santíssimo Sacramento é recomendada pelo Código de Direito Canónico, no qual se refere que "onde, a juízo do Bispo diocesano, for possível, para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia faça-se uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo" (cân 944, §1).

In AGÊNCIA ECCLESIA - (História da Igreja)

sábado, maio 17, 2008

As palavras vãs

São palavras soltas
espalhadas no chão
sem nada que as una
a não ser o sentido
de tudo o que existe
e não tem expressão

É apenas o ritmo
Em triste cadência
Sem génio ou ciência
A escrita esgotada
No espaço de um verso
Que não sabe de nada.

quinta-feira, maio 15, 2008

Um país a fingir

Eu bem tento animar-me, pensar o contrário, engano-me com o quinto império, mas não resulta, o Almada é que tinha razão – ‘o país é bonito, fica feio pôr lá portugueses’! Almada é apenas um exemplo, muitos outros se expressaram com igual desilusão e acerto. Para piorar as coisas, garantiram-me ontem que a ‘malta das naus’ nunca existiu, ou se existiu, não regressou. Há quem desespere por nova invasão fenícia, por alguém que aqui aporte, e nos submeta, a ver se ganhamos juízo e rumo! Neste desfazer pátrio, a fé já perdida mas não o humor, um parente próximo não perdoa a onda de canonizações a benefício de ‘nuestros hermanos’! Qual condestável, num último alento nacionalista, recusa a vida eterna alegando que o céu está cheio de espanhóis!
Felizmente que nem tudo são más notícias, o país recebeu com natural satisfação a boa nova de que o primeiro-ministro ía deixar de fumar! Subsiste apenas a dúvida, se Sócrates vai deixar de fumar na qualidade de chefe do governo ou de cidadão! Um assunto a desenvolver.
Noutro quadrante, a guerra do futebol promete, já se contam espingardas mas sem perder o sentido romanesco do drama! Carolina, heroína da segunda circular, garantiu em tribunal que o pérfido amante frequentou local proibido, enquanto o homem do norte, ferido na sua honra, tem almoço marcado na Assembleia da República, e imagine-se, com deputados!
Não dei a volta ao mundo, mas tenho o carro na reserva, pago o meu imposto na bomba de gazolina, regresso a casa, e durante a curta viagem discorro sobre o legalismo puritano que nos possui, religião em forma de lei e processo interminável, tão rigorosa e afinal tão propícia ao ‘pecado’ da transgressão!

segunda-feira, maio 12, 2008

“Parati”

“Estou em Parati, a uns quilómetros a sul do Rio de Janeiro, junto à costa. ‘Para ti’, ‘Para-te’ ou um nome qualquer índio, a verdade é que este é um dos locais mais maravilhosos do mundo que conheço. Talvez parecido com Korshua na Croácia mas para melhor e mais português, o que é uma enorme vantagem.
(…) Até me deu para sonhar o quinto império. A ver se vos explico o meu sonho que, não só é realizável, mas também parte de dois dados bem reais. O primeiro dado é que o Brasil é um país fantástico que importa exportar para muitos cantos do mundo. O segundo dado é que o Brasil foi possível porque Alcácer Quibir nos fez espanhóis por algum tempo na Europa, mas nós transformámos o que era espanhol em brasileiro na América. De facto não conseguimos unir a Península a nosso favor, de Sagres a Guadarrama, mas conseguimos fazer isso mesmo à escala do continente sul-americano de Natal à Rondónia. De alguma forma sofremos pelos brasileiros já que era essa a nossa obrigação de pais, mas que de outras vezes nos esquecemos de desempenhar.
Será que podemos tirar ilações para o terceiro milénio a partir destes dados seminais? Vejamos, fazemos parte da Europa e corremos riscos sérios de, por essa via, ser integrados em Espanha. Porque não aproveitamos as lições da ocupação filipina para que, com desígnio, abrasileirarmos os espaços hispânicos, anglo-saxónicos e franceses por esse mundo fora como outrora fizemos no sertão brasileiro que era espanhol por direito? Pode ser pensável, mas temos que assumir que os portugueses de agora são fundamentalmente Velhos do Restelo e que precisamos de lusófonos mais arrojados para a importante missão que temos pela frente. Para isso há que, primeiro, trazer muito mais brasileiros e outros lusófonos para Portugal para que se introduzam numa atitude de serviço por essa Europa fora. Depois, quando esses povos começarem a ter medo, os lusófonos europeus serão certamente empurrados para a América, para África, para a Oceânia e até para a Índia e para a China, quando estes países orientais e civilizados reencontrarem a enorme vantagem de misturar o arroz com o feijão, acompanhado de vinho, de boa música e bons poemas, o que só a língua portuguesa permite sem serem precisos os efeitos especiais das caras bonitas de Hollyood, o drama do dizer espanhol ou o francês em tom sussurrado e feminino. Até o mundo árabe pode ser redimido com um punhado de guineenses e árabes brasileiros.
Podem dizer que isto é de loucos mas não é por acaso que os espanhóis estão a criar dificuldades aos brasileiros no aeroporto de Madrid, no trânsito que fazem para Lisboa para aproveitarem os voos mais baratos da Ibéria. Para além do mais até a chuva que cai lá fora, por detrás das janelas e portas que conhecemos, é bonita no som, na água e no aconchego sem frio que se cria deste lado. Porque não dá-lo a todo o mundo a começar nas favelas do Rio.”

Retirado com a devida vénia do Jornal “A União” de Angra do Heroísmo, da autoria de Tomaz Dentinho.

sexta-feira, maio 09, 2008

Apito Fatal

Não é ainda o apito final, é um começo, um aviso, uma declaração de falência, o futebol luso é uma mentira, sempre foi. Esta verdade incómoda, desatada em zanga de casa de alterne, não é especialidade do norte, percorre o país de lés a lés, e seria bom que o sul sorridente entendesse o que está acontecer. Seria bom que todos percebessem que precisamos de fazer uma escolha decisiva, no futebol e no resto: ou continuamos a sustentar três fidalgotes na europa, à custa da miséria geral, ou aceitamos a nossa realidade, e em lugar de emagrecer o campeonato pedimos aos fidalgotes que façam eles dieta.
E o regime podia aproveitar para fazer também regime... de propaganda barata.

quinta-feira, maio 08, 2008

Faltam princípios, sobram leis

O governo e o parlamento, em grande azáfama, vão fabricando a teia em que se enreda a nossa insegurança! Talvez pensem que esse sentimento diminui por decreto ou proposta de lei! Tarefa inglória.
É o mesmo governo que fez aprovar a lei do aborto, no mesmo parlamento que recusou um voto de pesar pelas vítimas do Terreiro do Paço, enquanto elevava criminosos ao Panteão nacional!
É a mesma classe política que festeja em Abril a impunidade nos processos da Casa Pia e outros, com igual mensagem – vale a pena prevaricar!
Num país assim, as leis não substituem a falta de princípios, verdadeira fonte do mal, nem as estatísticas iludem a realidade, ainda que o ministro esteja convencido do contrário.
Já sabemos que a enfermidade é geral mas não podemos importar só o mal dos outros!…
E o bem?!

quarta-feira, maio 07, 2008

"Retrato de Amália"


És filha de Camões, filha de Inêz
Assassinada voz de portuguesa
Cantando a nossa imensa pequenez
Com laranjas e gomos de tristeza!
.
É no claro Mondego dos teus olhos
Que se debruça o mal da nossa mágoa
Ao Tejo dos teus gestos que se acolhe
O nosso coração a pulsar água!
.
Falando desatada de saudade
Choras um povo, cantas a balada
Mais bonita que soa na cidade
de Lisboa, por ti apaixonada.
.
José Carlos Ary dos Santos

sábado, maio 03, 2008

O máximo divisor comum


Nestas questões partidárias que vão acontecendo e são notícia o que parece não é: Manuela Ferreira Leite pode de facto reunir algum consenso entre os barões do partido, dito social-democrata, mas se olharmos para além do nevoeiro, quem suscita maior unanimidade de pontos de vista, quem é geralmente apontado como não tendo qualquer viabilidade ou apoio, esse é Pedro Santana Lopes! Assim, com alguma sorte, e pela negativa, estou convencido que seria o único a poder unir o partido em torno dessa aversão! E se não estou a ironizar, a comunicação social até podia dar uma ajuda, prosseguindo na sua campanha contra o 'menino guerreiro' das 'trapalhadas', colocando a fasquia naquele ponto alto – nada a favor de Santana, tudo contra Santana.
Porém, curiosamente, Santana é o único dos candidatos que afirma querer mudar o rumo da política, dentro do partido e dentro do país, enquanto os outros candidatos, por certo mais credíveis, vão apresentando curriculum vitae, incluindo medalhas por serviços prestados a todos os títulos!
Mas como a classe política não está interessada em mudar de política (era só o que faltava!) também aqui Santana Lopes está completamente isolado, mantendo-se portanto como o máximo divisor comum!
A única esperança que resta aos portugueses é que tanta unidade contra o Santana acabe por dividir o partido e finalmente clarificar o espectro político partidário.