segunda-feira, novembro 23, 2015

A fraude compensa?

Estamos em vésperas de mais um 25 de Novembro, quarenta anos depois daquele que deu início a esta terceira república, e pelo que nos é dado observar também devemos estar próximos do seu fim.

Com efeito quando o presidente da república se vê forçado a entregar o governo a quem perdeu as eleições, porque de repente alguém nos quer convencer que os deputados têm a mesma legitimidade representativa que o presidente da república! E quando ao mesmo tempo um ex-primeiro ministro, indiciado por crimes graves, organiza almoçaradas de apoio não se sabe bem a quê! Quando tudo isto acontece com a maior das naturalidades! Temos que concluir que um país destes não pode ser levado a sério.

Sobre o golpe do Costa não é de mais lembrar que se trata de uma fraude. Já expliquei que embora a constituição diga que os eleitores votam em deputados, a verdade é que a lei eleitoral, habilmente arquitectada, ilude este princípio, acabando os eleitores por votar em partidos! Neste sentido podemos até dizer que a lei eleitoral é inconstitucional!

Na realidade os deputados são agrupados em listas e quem os escolhe para essas listas são os respectivos chefes partidários. Nestas condições os eleitores não podem responsabilizar os deputados pelo seu desempenho. A fraude está aqui. E é por isso que a assembleia da república, ao contrário do que sustentam os golpistas, não tem uma representação directa dos eleitores. Não há ali portanto nenhuma maioria óbvia a sustentar a vontade popular.

Cavaco Silva, esse sim, tem representação directa do eleitorado, mas colocou mal a questão desde o início. A questão é de fraude política, o eleitorado sente-se defraudado, e Cavaco insistiu em tratar o caso como se não houvesse golpe. Deveria ter cortado cerce a aventura do Costa usando argumentos de natureza política e sem medo de colocar em crise a capacidade dos deputados para impedirem o governo eleito de governar. Teria (ou terá!) de ser assim se queria salvar a ‘sua’ terceira república.

Quanto ao último episódio Sócrates, ele é tão penoso e tão triste que não me vou alongar em grandes comentários. Alerto apenas para a possibilidade de haver ligação entre o golpe do Costa e a agitação socrática.

Saudações monárquicas



Nota importante: Já depois de ter escrito este postal tomei conhecimento das exigências que Cavaco fez a Costa. Exigências por escrito. O PS diz que vai mandar uma carta a dizer que sim a tudo, enfim, uma brincadeira. Não sei se isto é para levar a sério mas Cavaco Silva tem uma derradeira oportunidade para sair bem deste filme. Nem que renuncie alegando o seguinte: que não dá posse a um governo que não se compromete verdadeiramente com nada; e que a sua renúncia é o processo mais rápido para devolver a palavra aos portugueses.
Mas pelo andar da carruagem não vai ser nada disto que vai acontecer. Cavaco não terá uma saída limpa e Costa terá a sua entrada suja. É o país que temos... e que queremos ter. 

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