segunda-feira, outubro 03, 2016

Memórias de um jornalista

Li o livro de que todos falam, um livro maldito para muitos, um livro que achei interessante por ser um retrato fiel da terceira república e da sua classe política. Escrito por um jornalista proeminente da nossa praça, com poucas concessões ao mau gosto (a anedota em vernáculo do Deus Pinheiro era dispensável) o livro confirma aquilo que todos sabem ou desconfiam com razoável grau de certeza. E sendo assim compreendo que seja incómodo que alguém que dirigiu o Expresso durante tantos anos, órgão de referência do regime, venha agora contar pormenores ou detalhes que confirmam suspeitas e acendem factos que se mantinham no limbo do semi-esquecimento. Mas é nos detalhes que a verdade se insinua.

E a primeira verdade, o primeiro retrato é o do autor, como acontece aliás em qualquer livro de memórias. José António Saraiva é filho de alguém que foi militante do partido comunista, tal como muitos dos retratados neste livro, e por aí compreendemos melhor a teia de relações da república, a pequenez do país e a inferioridade do seu destino. Todos se conhecem, todos têm a revolução francesa enfiada na cabeça, são todos de esquerda. O autor foge um pouco à mediania e aparenta alguma superioridade moral fruto talvez de uma educação antiga e do facto, digo eu, de ter nascido na Ajuda e ter assim respirado aquela atmosfera intraduzível que vai do Calvário a Belém! Julgo que é simpatizante do Belenenses o que o torna sem dúvida uma figura singular! Pelo menos aos meus olhos.

Sobre os outros retratados existem muitos pormenores curiosos, alguns decisivos na imagem que a história venha eventualmente a perpetuar. Isto se a história estiver para isso. Reproduzo apenas um que me chamou particularmente a atenção e define a república mentirosa que somos: - Findo o mandato o nosso ex-presidente Cavaco Silva, e num último encontro que teve com o autor do livro, referiu quais os jornais e revistas que tenciona receber no seu futuro escritório no Palácio do Sacramento. E são eles: - as notas da agência Lusa; a revista Economist; o Financial Times; o El País e o Le Monde! Os dois últimos são como se sabe dois jornais socialistas. O chamado líder da direita é afinal (sempre foi) um homem de esquerda. Não lê nem se interessa por saber o que pensa a direita portuguesa ou internacional!


Saudações monárquicas 

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