Leio Fernanda Câncio quando me quero fustigar inutilmente! Talvez porque estes dias de calor torturante convidassem ao sacrifício, confesso que li Fernanda Câncio. A ideia que tenho de Câncio atemoriza-me – penso que ela não me deixaria nascer, mas se conseguisse nascer, quando fosse muito velhinho, poderia decretar que o meu tempo expirou! Mas Câncio surpreende, Câncio compreende o drama dos senhorios que foram empobrecendo enquanto os inquilinos prosperavam. Câncio descobriu que a expressão proprietário tem no nosso país uma conotação pejorativa, que a lei acompanha e penaliza. Câncio contra a corrente condena o congelamento das rendas, o que é um bom princípio.
É sempre assim, quando esperamos o pior de alguém, enganamo-nos, e pode haver salvação. Por isso subscrevo Câncio:
“(…) Quando uma pessoa que paga 50 euros por uma casa onde pagou durante quase cinquenta anos uma renda ínfima se acha no direito de exigir/sugerir a realização de uma obra que custa pelo menos o equivalente a dez anos de rendas futuras e corresponde a práticamente todo o ‘bolo’ das rendas que pagou desde o início, surge óbvia a conclusão de que, para essa pessoa o senhorio é um serviçal. Condenado a servi-lo em penitência eterna por ter alguma vez sonhado que um investimento podia ter proveito, que ser proprietário podia ser rentável. O mais grave, porém, é que este delírio não pertence a um excêntrico isolado, mas a uma cultura generalizada e autorizada pela lei. Uma cultura que arruinou o centro das cidades e empobreceu milhares de famílias. Pudessem elas tombar os prédios nas estradas e paralisar o País, outro galo cantaria. Assim, resta-lhes servir a pena – e ter sentido de humor.”
Nem mais.
Fonte: “O sequestro dos senhorios” de Fernanda Câncio in DN de 27/06/08.
É sempre assim, quando esperamos o pior de alguém, enganamo-nos, e pode haver salvação. Por isso subscrevo Câncio:
“(…) Quando uma pessoa que paga 50 euros por uma casa onde pagou durante quase cinquenta anos uma renda ínfima se acha no direito de exigir/sugerir a realização de uma obra que custa pelo menos o equivalente a dez anos de rendas futuras e corresponde a práticamente todo o ‘bolo’ das rendas que pagou desde o início, surge óbvia a conclusão de que, para essa pessoa o senhorio é um serviçal. Condenado a servi-lo em penitência eterna por ter alguma vez sonhado que um investimento podia ter proveito, que ser proprietário podia ser rentável. O mais grave, porém, é que este delírio não pertence a um excêntrico isolado, mas a uma cultura generalizada e autorizada pela lei. Uma cultura que arruinou o centro das cidades e empobreceu milhares de famílias. Pudessem elas tombar os prédios nas estradas e paralisar o País, outro galo cantaria. Assim, resta-lhes servir a pena – e ter sentido de humor.”
Nem mais.
Fonte: “O sequestro dos senhorios” de Fernanda Câncio in DN de 27/06/08.
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