Páginas

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

O programa da cidade

Desceu hesitante pelo túnel em caracol, foi o cabo dos trabalhos para alcançar o ticket do parque de estacionamento, esticou-se, quase que saiu pela janela, estacionou finalmente e respirou fundo! Durante todo este percurso ela azucrinou-lhe os ouvidos – mais depressa… para onde é que tu vais?! Em frente. Chega-te ao parquímetro. Não há pachorra para um homem assim… Há quanto tempo não vens a Lisboa?!
Meio estonteado saiu do carro e seguiu-a até ao elevador apinhado. Subiu ao colo de desconhecidos, recompôs-se, saltou barreiras de gente, conquistou o bilhete e viu-se num filme indiano!
Antigamente era impensável ver um filme indiano! Passavam no Odeon, anunciados em grandes cartazes e contavam histórias de amor impossível. Agora já não existem filmes indianos mas filmes sobre a Índia. Onde o amor se tornou impossível!
Quem quer ser milionário?!
Este concurso universal serve de pretexto para visitarmos a realidade indiana, os tremendos contrastes de uma sociedade milenarmente estratificada, a miséria e o luxo lado a lado, onde o progresso acentuou disparidades e clivagens.
Em Munbai ou Bombaim, que foi dote oferecido aos ingleses, a vida continua incompreensível aos olhos de um ocidental! E o realizador não poupa os espectadores ao realismo da condição de milhões de seres humanos que habitam em intermináveis lixeiras como se fossem casas. E que apesar de tudo sorriem e amam. E trocariam um prémio milionário pelo sim da sua amada!
Um bom filme que escusava de acabar em arremedo de West Side Story. Mas está bem, afinal sempre é um filme indiano.
A parelha improvável ficou mesmo ao meu lado. E ela, bem mais tolerante, aconchegou-se.

Sem comentários:

Enviar um comentário