Na torre de marfim onde habito, a vida passa-me muito ao largo, mas não foi hoje o caso! Um pequeno gesto de solidariedade, a habitual visita de quinta-feira, mais disponível e menos breve que o costume, e eis-me recompensado com um livro ao qual nunca dei importância. Esteve sempre ali, à mão de semear, mas só agora, perante o incentivo – ‘leve e leia, faz-lhe bem’ – acedi e trouxe o livro comigo.
É uma dificuldade que tenho, olho pouco para o que os outros escrevem, sejam ou não autores consagrados.
Abri ao acaso: –
‘Que tranquilidade contar histórias a um homem aleijado!
As pessoas saudáveis são todas instáveis; ora vêem as coisas de uma maneira ora olham para elas de outro ângulo; quando caminhamos com elas ao nosso lado direito durante uma hora pode acontecer que de repente as ouçamos responder-nos do nosso lado esquerdo, simplesmente porque lhes terá ocorrido que tal posicionamento é mais polido e demonstra requinte. Com um homem aleijado não temos de temer tais coisas. A imobilidade torna-o semelhante àquelas coisas com as quais ele de facto cultiva a intimidade; fazendo dele, digamos, uma coisa superior a todas as outras coisas, uma coisa que escuta não só com o silêncio mas proferindo também raras palavras calmas e de reverentes sentimentos.
É ao meu amigo Ewald que eu mais gosto de contar histórias. E ficava feliz quando da janela do dia a dia dele me chamava: “Quero perguntar-lhe uma coisa…”.
O resto da história fala de histórias que já andaram de boca em boca, que já tiveram vida, e hoje jazem no esquecimento de um livro de contos, arrumado definitivamente numa prateleira.
É a vida, dizem, mas valeu a pena a leitura!
‘Histórias de Deus’ de Rainer Maria Rilke.
É uma dificuldade que tenho, olho pouco para o que os outros escrevem, sejam ou não autores consagrados.
Abri ao acaso: –
‘Que tranquilidade contar histórias a um homem aleijado!
As pessoas saudáveis são todas instáveis; ora vêem as coisas de uma maneira ora olham para elas de outro ângulo; quando caminhamos com elas ao nosso lado direito durante uma hora pode acontecer que de repente as ouçamos responder-nos do nosso lado esquerdo, simplesmente porque lhes terá ocorrido que tal posicionamento é mais polido e demonstra requinte. Com um homem aleijado não temos de temer tais coisas. A imobilidade torna-o semelhante àquelas coisas com as quais ele de facto cultiva a intimidade; fazendo dele, digamos, uma coisa superior a todas as outras coisas, uma coisa que escuta não só com o silêncio mas proferindo também raras palavras calmas e de reverentes sentimentos.
É ao meu amigo Ewald que eu mais gosto de contar histórias. E ficava feliz quando da janela do dia a dia dele me chamava: “Quero perguntar-lhe uma coisa…”.
O resto da história fala de histórias que já andaram de boca em boca, que já tiveram vida, e hoje jazem no esquecimento de um livro de contos, arrumado definitivamente numa prateleira.
É a vida, dizem, mas valeu a pena a leitura!
‘Histórias de Deus’ de Rainer Maria Rilke.
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