Declarações
do escritor e dissidente soviético, Vladimir Bukovsky, sobre o
Tratado de Lisboa
"É
surpreendente que, após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha
construído outro semelhante: a União Europeia (UE).
O que é,
exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabê-lo examinando
a sua versão soviética. A URSS era governada por quinze pessoas não
eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder
perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que
se reúnem à porta fechada e, também não têm que responder
perante ninguém, sendo politicamente impunes.
Poderá
dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie
de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem
discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no
Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo
está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.
Na
UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito
elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade
judicia vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro,
façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada?
A
URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação
militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força
das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.
Para
poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente.
Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a
acontecer o mesmo com a UE.
Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.
Um
dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação.
É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a
intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de
existir. O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece
a mesma coisa na UE.
Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto». Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade.
Na
URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra.
Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma
ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético
vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a UE traz consigo os
germes da sua
própria destruição. Desgraçadamente, quando ela
desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso
descalabro e enormes problemas económicos e étnicos. O antigo
sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o
é. (...)
Nota. O Interregno já havia publicado há uns anos esta advertência do dissidente soviético Vladimir Bukovsky. Fá-lo novamente porque parece que andamos todos distraídos com o que está a acontecer na Polónia e na Hungria a quem se opõe ao diktat da burocracia de Bruxelas. Os ingleses perceberam isso e não querem fazer parte do descalabro final.
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