segunda-feira, maio 17, 2010

Em nome do euro!

Primeiro foi a fuga desajeitada, como quem foge ao destino. Depois fugimos às nossas responsabilidades e interesses - para trás ficou o mar da nossa independência e ficaram guerras civis intermináveis. Fomos aceites em nome da democracia (!) e de uma série de condições que nunca discutimos ou negociámos. Por via disso escondemos as consequências e evitámos submeter a realidade ao veredicto popular. Não havia alternativa, diziam! Como se uma nação com oito séculos de história não tivesse alternativa! A fuga em frente foi portanto a solução e para a justificar tornámo-nos mais europeus que a Europa! Aderimos a tudo, entusiasticamente, criámos uma nomenclatura bem nutrida, e a propaganda falava de fartura a todas as horas.

Até que chegou a hora da verdade. E o primeiro-ministro anunciou sorumbaticamente que acabou o crédito para pedintes profissionais! Os pedintes somos nós, e a jangada de Abril afunda-se lentamente. Ainda há quem acredite que descobrimos outra vez a Índia ou a China! Infelizmente é ao contrário, porque desta vez foram eles que nos descobriram! E descobrem-nos todos os dias, mas por terra, pois é através da união europeia que aqui chegam os produtos que arruínam as nossas empresas e lançam no desemprego milhares de portugueses.

Afinal onde está a união que nos protegia de tudo, até de nós próprios?!
E agora?! Com quem podemos contar?! Com a solidariedade externa?! Como?! Se não a praticamos internamente!
Mais obras públicas?!
Recorde-se que a única obra pública que consolidámos foi o enorme fosso entre ricos e pobres! No futuro será essa a obra emblemática do regime.

Por outro lado, o que sabemos do presente não é bom augúrio:

Sabemos que o estado não desemprega ninguém e continua a empregar compadres e comadres; sabemos que o governo, que os governos, continuarão a ser eleitos pelo funcionalismo público e pela legião de subsidiados; e sabemos que embora protestem irão defender com unhas e dentes a sua situação de privilégio; sabemos também, mas é como se não soubéssemos, que o império está debaixo do tapete, e por lá há-de continuar sem solução à vista; sabemos por fim que o regime é incapaz de se regenerar por dentro;

E sabemos, porque é notícia, que a estátua de Salazar vai ser reerguida em Santa Comba. E que o nacional-benfiquismo está com o Xanana!
A república repete-se, sem solução, e desta vez é que emigro.


Nota básica: - Cavaco Silva tem hoje a suprema hipótese de usar os poderes que a constituição lhe confere para vetar o casamento entre homossexuais. Só promulgará a lei se quiser. Tem também a suprema hipótese de ficar na história de Portugal (e da Europa) como alguém que olhou para a defesa dos princípios que construíram este país, princípios que enformam o sentir da esmagadora maioria dos portugueses. Tem essa hipótese, essa responsabilidade e esse poder. E se vetar a lei terá ainda a hipótese, menos importante, é certo, de ser reeleito com maioria absoluta.
Eu tenho dúvidas sobre a sua coragem, mas retratar-me-ei se estiver enganado.

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