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quinta-feira, setembro 09, 2010

"Foi por ela"

Foi por ela que amanhã me vou embora
ontem mesmo hoje e sempre ainda agora
sempre o mesmo em frente ao mar também me cansa
diz Madrid Paris Bruxelas quem me alcança
em Lisboa fica o Tejo a ver navios
dos rossios de guitarras à janela
foi por ela que eu já danço a valsa em pontas
que eu passei das minhas contas
foi por ela

foi por ela que me enfeito de agasalhos
em vez daquela manga curta colorida
se vais sair minha nação nos cabeçalhos
ainda a tiritar de frio acometida
mas o calor que era dantes também farta
e esvai-se o tropical sentido na lapela
foi por ela que eu vesti fato e gravata
que o sol até nem me fez falta
foi por ela

foi por ela que eu passo por coisas graves
e passei passando as passas dos algarves
com tanto santo milagreiro todo o ano
foi por milagre que eu até nasci profano
e venho assim como um tritão subindo os rios
que dão forma como um deus ao rosto dela
foi por ela que deixei de ser quem era
sem saber o que me espera
foi por ela

foi por ela que amanhã me vou embora
ontem mesmo hoje e sempre ainda agora
sempre o mesmo em frente ao mar também me cansa
diz Paris Berlim Bruxelas quem me alcança
em Lisboa fica o Tejo a ver navios
dos rossios de guitarras à janela
foi por ela que eu já danço a valsa em pontas
que eu passei das minhas contas
foi por ela

Fausto Bordalo Dias (Para além das cordilheiras)

Nota do Interregno: - Para percebermos hoje o que os poetas adivinharam ontem – o enorme equívoco que foi (é) para nós a união europeia.

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