quinta-feira, novembro 29, 2007

REN por toda a parte!

O sítio de que vos falo esteve outrora coberto de vinhas, dava bom vinho, algum azeite, ainda hoje existem vestígios de adegas e lagares, e um velho moinho que já deu pão atesta que por ali sopra vento antigo.
O primeiro choque, a primeira agressão a que assisti sem perceber, veio do poder central: a segunda república entendeu subsidiar o trigo sem cuidar dos danos colaterais. Os rendeiros agradeceram e arrancaram as vinhas, teriam menos trabalho e não teriam que dividir os frutos com o proprietário. Mas naquelas quintas e courelas o trigo nunca seria viável, o vinho era… e seria. Não adianta agora carpir mágoas, o erro está feito e oferecem-se alvíssaras a quem descobrir uma cepa nas freguesias da Caparica e Trafaria.
O segundo choque veio com o poder local! Alheios à região, os eleitos curavam de ser eleitos e nessa tarefa se consumiam! Em nome do voto ou da disciplina partidária tudo consentiram, a floresta de betão cresceu muito e desordenadamente, os bairros clandestinos são o verdadeiro emblema de trinta anos de ditadura autárquica. Apesar de tudo, nesta ponta ocidental do concelho de Almada houve quem resistisse á especulação imobiliária, houve quem conservasse, com maiores ou menores dificuldades, património legado, e por isso a paisagem ainda mantém algum equilibrio e beleza.
Mas o terceiro choque aí está, um choque eléctrico a cargo das todo poderosas empresas públicas! A história visível conta-se em poucas linhas: - a EDP deu à luz uma filha chamada REN, cuja actividade consiste em semear um leque variado e profuso de postes e torres metálicas de alta e altíssima tensão transformando este pedaço de Portugal num gigantesco paliteiro! E não se incomoda muito com o plantio, tanto pode espetar um poste em cima de uma capela setecentista, como de um moinho milenar, pode ser rente a uma escola ou perto das casas dos moradores, é onde lhe calha! Entretanto, face aos legítimos protestos dos habitantes, que correm o sério risco de virarem lâmpadas fluorescentes, a edilidade acordou finalmente do seu longo torpor para clamar em uníssono - aqui d’el rei! Que ‘este progresso’ não justifica tudo.
Será que ainda vamos a tempo?!

segunda-feira, novembro 26, 2007

Bons sinais

Uma notícia aqui, uma opinião ali, um evento que se anuncia para amanhã, começamos a descobrir que andávamos a ser enganados, que a verdade histórica estava subtilmente amordaçada, mal contada, ou simplesmente esquecida! Também li o artigo de Pulido Valente, ele próprio um dos desenganados, afinal o Rei Dom João VI foi um estadista notável, não o imbecil que Junqueiro e as repúblicas, de um lado e do outro do Atlântico, se esforçaram por fazer crer. O Rei que Napoleão não conseguiu destituir ou prender, mantendo assim a independência do Reino, o Rei que fabricou o Brasil, unificando o maior e mais poderoso País da América do Sul, dando-lhe o estatuto de Reino, que teve o talento e a previsão de sonhar o Reino Unido de Portugal e Brasil, que ainda hoje é desígnio maior de quem ainda sabe sonhar, esse Rei só merece a nossa gratidão e homenagem. E quando digo nossa, refiro-me naturalmente a portugueses e brasileiros.
Os manuais escolares anti-portugueses e anti-brasileiros ainda insistem que fugiu para o Brasil cumprindo instruções dos ingleses! Seria caso para indagar se era do interesse de Portugal que Dom João VI fosse preso e humilhado pelos franceses como aconteceu com o Rei de Espanha, destituído sumariamente por Bonaparte! Claro que não era, e daí também a diferente designação que espanhóis e portugueses dão à mesma realidade bélica que constituiu a expulsão dos invasores: enquanto os espanhóis lhe chamam ‘guerra da independência’, porque de facto a tinham perdido quando perderam o seu rei, os portugueses chamam-lhe ‘guerra peninsular’ porque mantivemos a independência, uma vez que o nosso Rei continuou livre e a dar as suas ordens a partir do Rio de Janeiro.
Mas Pulido Valente tem razão quando reconhece a tentativa de silenciar e menorizar a guerra que travámos contra o invasor jacobino: - “… Porque sucedeu isto? Por causa da subordinação cultural de Portugal à França e ao mito da França como ‘libertadora da humanidade’ (que não se adaptava bem à razia de Bonaparte). E por causa do republicanismo, que nunca desculpou à Igreja, ao ‘Antigo Regime’ e à própria Monarquia liberal a defesa do país contra a ‘revolução’, mesmo sob a forma de império napoleónico. O homem da época passou a ser Gomes Freire de Andrade, um traidor que lutou até ao fim pelo inimigo. Quando por aí a inconsciência política resolve apelar ao patriotismo, nunca me esqueço da omissão e distorção da nossa guerra da independência contra a França. O Portugal moderno nasceu torto. Como, de resto, se viu no PREC”.

Fonte: Jornal Público de 23/11/07.

sexta-feira, novembro 23, 2007

A lógica orçamental

Do orçamento retenho um momento do ministro das Finanças… que me fez sorrir! Dizia ele que em Portugal, ao contrário de outros países, ainda se considera um feito digno de nota, fugir ou defraudar o fisco. Por isso garantiu que o combate à evasão e à fraude fiscal vai continuar e com vigor acrescido, política que sustentou no seguinte pressuposto: - se os incumpridores pagassem os impostos que não pagam, mas deveriam pagar, o IRS de cada português poderia ser desagravado em cerca de 38%! Ouviram-se palmas. Foi neste momento que sorri. Naturalmente que o Ministro sofre, como todos nós, da falta de um raciocínio lógico, a mesma deficiência que explica o insucesso escolar de muitos dos nossos jovens! Então se os portugueses confiassem no Governo, se tivessem a garantia de uma correspondência tão linear entre o seu gesto cumpridor, e o benefício que lhes adviria com uma previsível baixa de impostos, se tivessem a certeza, ou ao menos a esperança, de um futuro melhor, acha o Senhor Ministro que não seriam os primeiros a cumprir os seus deveres fiscais, ou pensa que deixariam sem censura quem não o fizesse também!
A questão é diferente e vai para além deste orçamento: - porque será que em determinados países os respectivos habitantes ‘sentem’ que fugir ao fisco é um acto quase patriótico?! Ou dito de outra maneira, porque será que esses povos não confiam nos seus governantes?!
Ora aqui está um problema que pode servir para exercitar o raciocínio lógico.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Pobres e mal agradecidos

Desde que o homem chegou que não falhamos uma fase final, situação que nunca vivemos no passado, foi também ele que incendiou o ardor patriótico que envolve a selecção, que faz sonhar um povo descrente, em crise de identidade, que apenas se revê naqueles onze rapazes a correrem atrás de uma bola, e espera deles a absolvição de todos os pecados! Tudo isto se deve ao ‘tio’ Scolari.
Mas como na fábula, já se sabia que ‘quem semeia ventos colhe tempestades’. Não adianta explicar aos portugueses que a selecção não é tão extraordinária como eles imaginam, ou como os media diáriamente nos impingem. Temos de facto dois ou três jogadores acima da média, titulares indiscutíveis em grandes clubes europeus, mas que podem estar lesionados ou em melhor ou pior forma, porque os restantes são apenas bons jogadores, semelhantes a muitos que se encontram por esse mundo fora. Scolari bem nos avisa, mas o povo não quer saber, avança para o estádio plenamente convicto de que os ases lusitanos infligirão a desolação e a derrota a quem se atreva desafiá-los. Ronaldo e Quaresma hão-de trespassar as defesas com fintas humilhantes, a goleada é obrigatória!
Quando finalmente verificam que os adversários resistem, e que para chegar ao próximo Europeu foi preciso sofrer a bom sofrer, os ‘patriotas da selecção’ não se conformam, desatam num berreiro, e vá de zurzir no pobre seleccionador nacional! É caso para perguntar: - o que teria acontecido se não têm conseguido o apuramento?!
Scolari deveria ter falado comigo antes de aceitar tal tarefa, este pesadíssimo fardo de aturar uma nação alienada, que não tem onde se agarrar, que não vislumbra horizonte… ou então, se o homem insistisse, citaria os romanos quando por aqui passaram: - “não se governam, nem se deixam governar”!

sexta-feira, novembro 16, 2007

O organismo independente

Alvíssaras!
Algures, no meio desta floresta de enganos, plena de suspeições, onde a justiça tarda e a culpa morre solteira, aqui, nesta nesga do paraíso irreal, foi proclamado o seguinte edital: existe uma entidade, um organismo, completamente independente, acima de qualquer suspeita, imune a pressões, e que não se desvia um milímetro das suas excelentes razões! Razões técnicas, naturalmente, ou outras, se for caso disso.
O nome do organismo? – LNEC
Porque foi convocado? - Para arbitrar o jogo entre a OTA e ALCOCHETE, equipas que disputam árduamente a localização do futuro aeroporto de Lisboa. Ou será um novo aeroporto estratégico para o país?!
Seja o que for, ficámos a saber que tínhamos um organismo com esta qualidade e calibre, o que ía levando o governo a demitir-se de funções entregando-lhe a responsabilidade da escolha! O governo já desmentiu, assegura que lhe cabe a palavra final, mas foi por um triz!
Não sei o que pensar! Fico triste e contente ao mesmo tempo: contente, porque foi com alívio que vi o governo recuperar o seu estatuto; triste, porque afinal se temos uma entidade assim, que não se deixa manipular por ‘lobies’ e partidos, deveria ser ela a governar, e quem sabe, encarregar-se de outras tarefas bicudas, por exemplo, nomear os árbitros do futebol, eu sei lá!
Saudações monárquicas.

quarta-feira, novembro 14, 2007

O caminho de Tordesilhas

Advertência ao leitor – este não é um texto sério no sentido comum do termo, desvia-se do padrão, é um sonho que acordou na recente cimeira Ibero-Americana, em que foi visível… a invisibilidade luso-brasileira. Diga-se que sem proveito nem glória, porque enfraqueceu simultaneamente o mundo hispânico e o universo lusíada.
Não estou a imaginar fórmulas mais ou menos sofisticadas de neo-colonialismo, nem quero recuar no tempo, mas apenas constatar que é do interesse de todos os ibero-americanos reconstruir um entendimento sólido em torno de uma história comum, entendimento assente no respeito mútuo, e que salvaguarde a duplicidade das respectivas raízes ibéricas. Mas tem que ser um acordo útil, que consiga fazer frente à clara hegemonia anglo-americana, que vem ditando as suas leis e não está por certo interessada no ressurgimento de uma forte concorrência. Aquela que traz à memória Tordesilhas! Para o efeito conta com a pulverização das repúblicas sul-americanas, fomenta o divisionismo, e não aprecia nada a capacidade representativa da monarquia espanhola. Conta também com a fragilidade lusitana, incapaz de assumir e corporizar um projecto que inclua os interesses e as aspirações da lusofonia. Daí a pobreza participativa na cimeira, que acabou naturalmente por afectar também o Brasil. Penso aliás que Portugal deveria propor outro equilibrio para as próximas cimeiras: por um lado, considerando o peso relativo do Brasil face ao bloco hispânico, quer em termos territoriais, quer em termos populacionais, por outro lado, tendo em conta a capacidade representativa portuguesa em termos de ‘ponte’ para o continente africano.
Claro que estas propostas e este tipo de protagonismo só fazem sentido e só são exequíveis com uma monarquia. Daí a advertência inicial.
Saudações monárquicas.

terça-feira, novembro 13, 2007

Futebol a quanto obrigas…

A televisão pública deve estar atenta aos fenómenos que ocupam e preocupam os portugueses e um desses fenómenos é sem dúvida o futebol. A alienação está identificada e denomina-se “deslocação de interesses”. Persiste endemicamente no terceiro mundo, e no continente europeu, é uma herança das ditaduras. Uma das bolsas mais resistentes na Europa é o caso de Portugal, onde o futebol assume a condição de desígnio nacional, abre e fecha telejornais, suporta três jornais desportivos diários, ocupando ainda espaço e tempo mediático em proporções que raiam o insuportável.
Apesar de todo este entusiasmo e interesse, o nosso principal campeonato sobrevive em falência técnica, depende exclusivamente de receitas extraordinárias e dos vastos subsídios, encapotados ou não, provenientes do orçamento de estado. É um campeonato reduzido a três clubes, que há mais de meio século disputam, praticamente sem concorrência, os primeiros lugares, clubes esses que congregam a simpatia de mais de noventa por cento dos adeptos, outra peculiaridade portuguesa que concorre para a sua insustentabilidade competitiva e financeira.
Curiosamente não foi sobre esta realidade que os ‘prós e contras’ de Fátima Campos Ferreira se debruçaram, o que poderia ser curial e interessante! Não, a grande preocupação nacional versa sobre a arbitragem e sobre as tecnologias que a poderão auxiliar a diminuir os erros… no tal campeonato em que ganham sempre os mesmos!!!
Dizem que o ridículo mata, acredito, mas não em Portugal.

sábado, novembro 10, 2007

“Quem tem medo do raciocínio lógico?”

É este o título de uma pequena crónica assinada por SAR o Duque de Bragança, na revista “Magazine Grande Informação”. Na sua dupla qualidade de pai e raiz (composição que transforma a terra em país), o Senhor Dom Duarte vem incentivar os portugueses a corrigirem comportamentos ilógicos, por certo adquiridos nos últimos séculos, e que poderão estar na origem do nosso constante declínio. Enquanto lia não pude deixar de relacionar a oportunidade do tema com um recente relatório do governo suíço que colocava a escolaridade da comunidade portuguesa no fim da escala em termos de resultados. Seremos portanto congenitamente estúpidos?! Ou somos estúpidos porque queremos ser estúpidos?!
O Duque de Bragança responde: “Estudos demonstram que a inteligência média dos portugueses é semelhante à dos outros europeus, embora com uma grave deficiência ao nível do raciocínio lógico. Mas a inteligência lógica adquire-se com uma educação apropriada, e a falta desta na escola está na base da maioria dos nossos problemas. Sabemos o que queremos, mas frequentemente não actuamos em conformidade – os ‘verdes’ não votam nos partidos ecologistas, os cristãos não votam nos partidos de inspiração cristã, e por aí fora. Relativamente ao ensino em Portugal os governos colocam entraves à liberdade de escolha pelos pais…Seria bom que os eleitores se organizassem e obrigassem os Deputados a legislarem no sentido de dar liberdade de escolha às famílias. Mas talvez nos falte a lógica necessária para usar os instrumentos da Democracia de modo adequado…”.

Fonte: MGI de Novembro/Dezembro.

terça-feira, novembro 06, 2007

Beato Nuno de Santa Maria

Entro no café habitual, convoco o jornal da casa, e disparo na direcção certa: pode um homem que andou a matar castelhanos ser canonizado santo ou beato pela Santa Madre Igreja?! Apanhado de surpresa o dono do café reagiu afirmativamente: - matar ou expulsar castelhanos que nos invadem a terra para nos tirar a independência e o pão, não só não é pecado como é um dever. E reza a história que Nuno Álvares foi sempre magnânimo para com os vencidos. Concordei e lastimámos a falta que nos faz um Condestável à altura das circunstâncias. Por certo que um homem desses, capaz de abdicar da glória terrena para se recolher a um Convento, seria sempre um exemplo para qualquer sociedade. Ainda mais para a nossa, desmoralizada, sem confiança, nem rumo.
A bica é por conta da casa, insistiu o patrão.
Hoje o calendário religioso assinala o dia do Beato Nuno de Santa Maria.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Sol de Outono

O Belenenses resolveu animar o campeonato e foi ao Porto arrancar um empate. Quem continua a jogar para o empate e pode perder é o edil de Gaia. Ao apostar na ratificação do Tratado de Lisboa deixa o campo livre para que Sócrates arrisque cumprir promessas eleitorais, viabilizando o referendo. É um palpite deste interregno.
Catalina Pestana continua a incomodar a paz podre que reina na república. Vai avisando que as vítimas de abusos sexuais na Casa Pia podem vir a ser silenciadas definitivamente. Porque sabem demais. O que todos sabemos é que neste país a justiça não julga a nomenclatura. E tudo começa a fazer sentido: as eleições forçadas para levar ao poder o partido acossado no processo de pedofilia; a substituição de Souto Moura; a inexistência de oposição, prisioneira de pactos de justiça, e de outras trocas e favores, e quem sabe, a própria eleição presidencial.
Os Bispos queixam-se do governo e da excessiva influência da maçonaria nas decisões políticas. Mais vale tarde do que nunca, porque é este o caminho que a Igreja deve seguir em Portugal: demarcar-se claramente desta república, dita laica e socialista, sigla que esconde o seu verdadeiro e permanente desígnio – substituir a religião católica por uma religião de estado.
Termino com a curiosa opinião de Saraiva, director do semanário “Sol”, sobre as causas do declínio do BCP: “…A grande lição a retirar do caso do BCP é que, quando o capital é muito fragmentado, tem de haver um núcleo duro estável com condições para exercer o poder de uma forma coerente… se esse núcleo duro não existir, o banco – por mais dinheiro que ganhe – é sempre vulnerável…Aliás a História de Portugal é um exemplo disso: poucos países da Europa viram passar pelo seu território tantas fortunas. As fortunas de três impérios – no Oriente, no Brasil e em África. E, no entanto, Portugal é hoje um dos países mais pobres da Europa”.
Não era esta a intenção do cronista, mas não pude deixar de pensar no núcleo duro e estável que a Instituição Real sempre representou, garantindo assim as condições de sobrevivência e independência nacionais.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Dia de Todos os Santos

Nesta guerra das datas, conspiração surda (e suja) que pretende apagar da nossa memória a memória cristã, apagando ao mesmo tempo a nossa identidade, lembrei-me de reproduzir um excerto de um postal, escrito há mais de um ano, a que chamei – “A guerra dos dias”:

“ É uma espécie de contra-cruzada lançada de longe pelas forças ocultas que não se conformam com a herança Católica, que não se conformam com o calendário gregoriano, nem se conformam com a história!
Se pudessem eliminar o dia de Natal, o seu significado religioso, não hesitavam.
Não se trata, infelizmente, de mais uma teoria da conspiração, porque já tentaram fazê-lo explicitamente a seguir à Revolução Francesa, mudando o nome dos meses, apagando os dias santos, com o objectivo de edificarem uma religião de estado…”.

Não me parece que tenham desistido.
Hoje, ainda é Dia de Todos os Santos.