terça-feira, novembro 30, 2010

Fado corrido

Sonho sexagenário

Que a gôta não me apoquente
Que o coração não me enfarte
Que a tentação não me tente
E o juízo não me falte!

Que o tempo corra sem pressa
Porque eu assim não me canso
Que o meu amor não me esqueça
Para manter o balanço!

Que a discussão seja amena
Se perdermos outra vez
E a reforma que é pequena
Chegue até ao fim do mês!

Mas se acham que exagero
Retiro tudo o que disse
Porque afinal o que eu quero
É ter tudo na velhice!

sexta-feira, novembro 26, 2010

Antes do terramoto

Sempre nos fizeram crer que Lisboa antes do terramoto de 1755 era feia, suja, antiquada, e que a reconstrução operada pelo Marquez de Pombal a transformou numa das mais belas cidades da Europa. Nada mais falso. Lisboa sempre foi elogiada pela sua beleza e as imagens virtuais que a tecnologia consegue revelar mostram-nos aquilo que era óbvio: - uma cidade harmoniosa, virada para o rio, respeitando a história e o sentido de praças, ruas e lugares.
Pelo contrário, Sebastião Carvalho e Melo, homem sem dúvida determinado, privilegiou uma arquitectura (a régua e esquadro), sem diversidade, fortemente igualitária, onde nada nem ninguém se podia destacar, incluindo as Igrejas! Esta Lisboa pombalina tem a sua apoteose numa praça bonita (o sítio também ajuda) com um senão: - chama-se do Comércio mas não tem comércio, chama-se Terreiro do Paço, mas não tem Paço!
Está hoje infestada de ministérios e é apenas cruzada por quem se dirige à outra banda. Neste sentido tem razão o poeta que acusou Pombal de plantar barrotes em lugar de árvores.
Mas a obra de Pombal também pode ser acusada de afastar a população do rio. Em vez de construir segundo a antiga traça, pondo a cidade à beira do Tejo, preferiu continentalizá-la apontando na perpendicular em direcção às avenidas novas e ao Campo Grande! Onde a maresia não se sente e os barquinhos que existem são os do respectivo lago. Há patinhos… mas não há oriente.


Saudações monárquicas

terça-feira, novembro 23, 2010

“O maior fracasso da democracia”!

Clara Ferreira Alves faz parte do ‘eixo do mal’ e escreve no Expresso. Nos seus mais recentes escritos tem vindo a denunciar uma série de anomalias que vicejam neste ‘quintal’ à beira mar plantado! Diz ela, em resumo: -

“Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.”

Já sabíamos, mas alvíssaras para a senhora, porque descobriu finalmente que o Portugal democrático nunca deixou de ser uma mistificação. Aliás a palavra democracia é ela própria uma mistificação, já que é utilizada por gentes e hábitos políticos tão diversos. Foi útil (é útil) para atacar a Igreja Católica e os seus princípios, foi útil (é útil) para atacar a trilogia Deus, Pátria, Rei, tradição constituinte de um povo, e como consequência tornou-se útil para atacar as bases da família. Com a inversão de valores (e ausência de referências) que o facto comporta.
Mas isso a senhora (tão esperta, tão culta) não percebe.
E não percebe, porque a democracia (ou seja lá o que isso for) não é um fim mas apenas um instrumento político para aperfeiçoamento da vida comunitária. E o que começamos a perceber é que tal instrumento só funciona razoavelmente quando estão reunidas determinadas condições prévias… adivinhem quais?!
Eu ajudo – se lerem o postal ao contrário, do fim para o princípio, chegam lá concerteza. Se calhar até a Clarinha lá chega!

Saudações monárquicas

domingo, novembro 21, 2010

Lisboa babilónia

Diz-se que na antiga Babilónia construíram uma torre para chegar ao Céu, mas Deus, incomodado com tanta proximidade, pôs os atrevidos a falar línguas diferentes e logo se desentenderam. E a torre caiu.
Em Lisboa passou-se mais ou menos o mesmo com uma diferença, não foi necessária a intervenção divina para percebermos que falavam línguas diferentes quando se referiam ao futuro da velha torre de Babel. A confirmar esta dificuldade um batalhão de analistas e estrategas esforçou-se (durante três dias) por descobrir nas entrelinhas, nas vírgulas e nas palavras mais repetidas, algum indício… que chegasse ao céu. Tarefa vã uma vez que a unanimidade se escondeu numa única frase – ‘cimeira histórica’!

Histórias à parte, é bem possível que a verdadeira agenda não tenha sido revelada ao público, ou por ser inconveniente, ou por ser redundante! Redundante, porque se tratava de arrumar (e arquivar) a ‘tralha’ que havia sobrado da guerra fria; inconveniente, porque o que se pretendia era encontrar um consenso alargado para (mais dia, menos dia) abater o Irão, tal como Bush pai e filho, já haviam feito para liquidar o Iraque com a historieta das armas de destruição massiva. Percebe-se que estas coisas tenham que ser (bem) manobradas para que não venha à baila o arsenal nuclear de Israel, da Índia ou do Paquistão, considerados 'nuclear amigo'! E claro, também seria desagradável mencionar a Coreia do Norte, por causa da China. Estes e outros assuntos ficaram convenientemente na gaveta.

Reservo um último capítulo para a participação portuguesa nesta cimeira! À semelhança do que aconteceu com o tratado de Lisboa os portugueses dominaram mais uma vez os acontecimentos melhorando inclusive na serenidade da linguagem, evitando pás e porreiros! É claro que tudo isto tem duas leituras e admito que os mais cépticos estejam a pensar nas consequências do Tratado de Lisboa e por aqui concluam que quando os portugueses chegam ao topo… pode vir aí borrasca da grossa! Pode ser que não, vamos ser positivos, não esqueçamos que Sócrates recebeu um elogio de Obama (!), o que augura uma próxima futura aposentação só para organizar cimeiras pelo planeta! E deve levar consigo o seu ministro da administração interna, um verdadeiro especialista em bloquear e imobilizar cidades inteiras em nome da segurança dos altos interesses, das altas individualidades! Amanhã continua a vidinha dos portugueses, com todos os seus problemas, e todas as suas (ridículas) inseguranças.

Saudações monárquicas

quinta-feira, novembro 18, 2010

Selecção republicana 4 – Espanha 0

A crónica podia começar assim:
A selecção escalada para celebrar a implantação da república e o resto do ‘brilhante’ centenário (48 anos de ditadura incluídos) esmagou hoje a Espanha, actuais campeões do mundo, por quatro bolas a zero! A equipa que trajava de branco com lista vertical verde encarnada (cores da carbonária e da projectada união ibérica), realizou excelente exibição, bastante diferente da efectuada na África do Sul por ocasião do campeonato do mundo. Desta vez os jogadores honraram os seus pergaminhos (e vencimentos) já que na sua grande maioria alinham nos melhores clubes do planeta.

Ou podia começar assim:
O jogo amigável entre Portugal e Espanha (incluído na promoção da candidatura ibérica ao campeonato do mundo de 2018) acabou com a vitória, inteiramente justa da equipa portuguesa que desta vez não se inferiorizou perante a estatura do adversário.

Ou então assim:
A instrumentalização do desporto por parte dos regimes republicanos para fins exclusivamente propagandísticos é pecha antiga a que não escapam mesmo aquelas repúblicas que se dizem ‘democráticas’! Era assim na União Soviética e na Alemanha de Hitler, foi assim na ditadura de Salazar, e de um modo geral é assim por todo o terceiro mundo. Portugal está portanto bem acompanhado nesta ‘Taça’ do centenário com um único senão – aquela não era ‘a equipa de todos nós’. Mas isso é de somenos para quem instrumentaliza, assim como é de somenos para a populaça que gosta de ‘pão e circo’, embora haja cada vez menos pão e haja cada vez mais circo!

Nota da redacção: A monarquia nunca comemorou centenários. E foram sete.

Saudações monárquicas

terça-feira, novembro 16, 2010

Refrão

Quem mais?!

Quem mais!
Poderia ajudar este velho gaiteiro
Que aprendeu na Europa a ser caloteiro
E esqueceu na Europa que nasceu marinheiro!

Quem mais!
Poderia ajudar este velho guerreiro
Que chegou pelo mar e foi o primeiro
Mil quatrocentos e tal, para ser verdadeiro!

Quem mais… a não ser…
As antigas colónias presentes
Memórias de outros orientes
Macau, Dili ou a Índia concani!

Quem mais… a não ser…
O irmão de Maputo, o guarani resoluto
A saudade angolana, toda a Taprobana
Quem mais para te comprar a dívida soberana?!

Quem mais?!

segunda-feira, novembro 15, 2010

Quem mais?!

Sim, quem mais poderia ajudar este velho cavaleiro endividado (reformado) sem dinheiro, sem cavalo, sem futuro que é coisa que nunca falo! Quem mais senão a família, as antigas colónias presentes, as memórias de antigos orientes, desde a longínqua Díli, que fica mesmo ali, passando pela China ou a Índia concani! Quem mais senão os nossos irmãos de Maputo ou Lourenço Marques tanto faz, de São Paulo ou São Paulo de Luanda! Pobres e menos pobres dispõem-se a comprar a dívida do nosso descontentamento! A dívida que contraímos para mudar de destino, plástica mal sucedida na Europa! Silicone a mais para esconder as rugas do passado… Coisa de velho gaiteiro.
Agradecido, envergonhado, aceito a ajuda familiar, sem precisar de estender a mão porque não se estende a mão a quem nos pega ao colo. Em nome da história comum, subscrevo-me,

Saudações monárquicas

quinta-feira, novembro 11, 2010

Posta restante

Chegou hoje um telegrama
‘FMI a caminho’
A dívida é soberana
Ai chora, chora, baixinho!

São contas do centenário
São juros do carbonário
A república falida
E Portugal foi à vida!

Acabaram-se os segredos
Companheiro, põe-te a pau
Vão-se os anéis e os dedos
Vai Sines atrás de Macau!

Se há um pingo de vergonha
Para salvar o que resta
Pátria, outrora risonha,
Ergue-te, luta, protesta!
.

(Trova para canto e assobio junto ao Palácio de Belém, no logradouro de São Bento e nas escadarias da assembleia da república, com amplificador.)

terça-feira, novembro 09, 2010

Telegrama

União ibérica a caminho república centenário carbonário casa pia perjuro dívida vendida china mandaretes murchos cinco a zero vítor pereira desculpas então e o Paços, pá?!
Sem virgulas acentos bolas de golfe para substituir as que faltam escrito ao abrigo do acordo ortográfico selecção lusa vai jogar próximo dia dezassete com castelhana para celebrar obra acabada oito séculos (menos sessenta anos) mandados às urtigas ninguém repara. Falta TGV, inaugurações, figurões, de lá para cá e de cá para lá benfica madrid sempre! Então e o mar, pá?!
Estamos feitos.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Public party

Reduzido no seu objecto social a dar sustento à sua própria máquina trituradora, o estado português bem pode esperar por melhores dias! De facto, o país é hoje propriedade indiscutível da enorme massa humana que se senta à mesa do orçamento e que, directa ou indirectamente, com lugares sentados ou em pé, com mais ou menos talheres, tudo gasta e tudo consome de forma insaciável. Nem sequer ficam de fora os bancos e as grandes empresas, antes pelo contrário, têm lugar cativo, negócios certos, confundem-se com o próprio estado!
É este o maior partido português, é ele que decide as eleições, é ele que alimenta o parlamento, é ele que consome os impostos, é por ele que nos endividamos todos os dias, é por causa dele que todos os dias perdemos a independência.

Dito isto, assaltam-me várias conclusões e algumas perguntas:
A primeira conclusão é que um país destes é ingovernável.
Segunda conclusão: - É impossível derrubar por meios pacíficos a ditadura deste ‘public party’.
E surge a primeira pergunta: - Como regressar ao objecto social desta grande empresa chamada Portugal, ao único admissível, que passa obrigatóriamente por tratar todos os seus filhos de forma equitativa, sem pôr em risco o futuro da comunidade?!
Segunda pergunta: Porque não aceitar a inevitabilidade de um país que terá sempre muitos funcionários públicos, muitos negócios dependentes do estado, mas onde o leque de remunerações terá de ser obrigatóriamente baixo, e os negócios parcos e muito bem pensados?!
Salazar funcionava assim e o estado funcionava bem e sem dívidas.
Até me custa dar este exemplo… de quem traiu a monarquia e hipotecou com isso o futuro de Portugal. Como agora e todos os dias se demonstra.

Saudações monárquicas

terça-feira, novembro 02, 2010

Notícia do Achamento

Nunca fui ao Brasil (devo ter sido o único da família!) mas em compensação tive (em épocas diferentes!) duas namoradas brasileiras. Uma da favela, outra do Leblon e assim acabei por conhecer o país por dentro. Não todo, evidentemente, o possível.
E do que conheci, confesso, não me impressionou! Especialmente aquela parte em que eu falava do Dom Pedro (ou da Leopoldina) e me respondiam com um encolher de ombros ou com uma escola de samba! No máximo dos máximos, o império ficava-se pela princesa Isabel e a abolição da escravatura e nisso coincidiam quer a favela quer a nata de Ipanema. Às vezes, na minha ignorância, arriscava dizer-lhes que no tempo do Império (monarquia) o Brasil tinha outra cotação (para melhor) no ranking das nações civilizadas. Elas sorriam condescendentes e diziam que isso de monarquia era ‘coisa antiga de porr-tu-guês’! E eu mudava de assunto até porque vinha sempre à conversa, para eu não me esquecer – ‘Portugal é um ponto no mapa’! Essa era a parte em que eu me zangava, ameaçava acabar com o namoro, enquanto remoía… ‘Vós, poderoso Rei cujo alto Império, o sol logo nascendo vê primeiro, vê-o também no meio do hemisfério, e quando desce o deixa derradeiro…’ Bem sei, outros tempos…
Mas pergunta-se: – era só isso, não namoravam?! Namorávamos.

Ora bem, feito o registo de interesses, mergulhemos nas eleições brasileiras e por consequência na Dilma Roussef. Para já não gosto do nome. Embora eu próprio tenha costela russa (pré-bolchevique) o nome de Roussef lembra-me precisamente o contrário – bolchevique! Reciclada por conveniência de serviço, não deixa de ser um atentado à inteligência (e à fraqueza de espírito) ter alguma vez militado numa espécie de organização comunista! Se não é verdade, retiro tudo o que disse, menos a impressão, e essa é no fundo a que fica. Pelo sim pelo não, Dilma não seria minha namorada.

Saudações monárquicas

segunda-feira, novembro 01, 2010

Todos os Santos em Bogotá

Todos os Santos
Todas as preces
Todos os prantos
Para ficar!

Todos os dias
Todos os mares
Todos os ventos
Para zarpar!

Todas as vezes
Todas as voltas
Que o mundo dá…
Acordei hoje em Bogotá!


(refrão)

.
Todas as festas
Toda a alegria
Todos os anos
Por este dia!