domingo, outubro 30, 2016

A corja!

O livro de Camilo lê-se bem, é a continuação de outro (Eusébio Macário) que se lê ainda melhor e o facto de ainda se ler um livro de crónica social com quase duzentos anos, é porque o retrato perdura, dura, dura… Era o liberalismo, o ‘tempo dos Cabrais’ e o que se seguiu até hoje. E hoje a única diferença, a grande diferença é que estamos mais ‘parvos’, no sentido de mais pequenos. Pequenos no território mas sobretudo pequenos nos horizontes do espírito. Há para aí um velho caduco (que tem uma filha irritante) e que de vez em quando balbucia os seus temores! Teme que Portugal se transforme num ‘estado exíguo’! O ‘estado exíguo’ define-se como uma comunidade política inútil no concerto das nações e como tal deve ser anexada, incluída no destino de outra que não tenha chegado a essa situação de exiguidade. Pois bem, lamento informar a veneranda criatura mas já lá chegámos, já somos um ‘estado exíguo’. E nem são os quilómetros quadrados perdidos que fazem a diferença. A pequenez como disse está no espírito. Não há qualquer projecto nacional. Aliás esta expressão já só se usa no futebol! O futuro é a dose diária, aquilo que para qualquer drogado representa o supra sumo da felicidade! Não se fazem barões, fazem-se comendadores. Temos personagens ilustríssimas, em todas as áreas, que servem para a ONU, para a União europeia, mas que não nos servem para nada. Este é mais um sinal da exiguidade. Tantos príncipes e nem um rei!



Saudações monárquicas

terça-feira, outubro 25, 2016

Fair Play financeiro!

Os relatórios começam a chover, às pinguinhas, de Bruxelas, e as conclusões não podem ser mais claras: - a união europeia é afinal uma fonte de desigualdades! E nas repúblicas que a compõem essas desigualdades multiplicam-se internamente! Os filhos de Rousseau (que a pariram) andam inquietos, olham para os respectivos umbigos e não percebem o que aconteceu. Mas o que aconteceu já aconteceu tantas vezes que só eles é que não percebem. A famosa trilogia imposta por decreto fez as suas habituais vítimas – a fraternidade (agora diz-se solidariedade) desapareceu, a igualdade é cada vez mais desigual, e a liberdade reduziu-se ao abanar das orelhas. Portugal, neste aspecto, está entre os ‘melhores’ – continua a divergir da média europeia e internamente o fosso entre ricos e pobres varia entre o ordenado do manda chuva da Caixa Geral de Depósitos e o salário mínimo corrente! Nada que assuste. Aliás nem é preciso ir tão longe. Basta atentarmos no fair play que a UEFA impõe ao futebol europeu mas que não se estende aos campeonatos internos dos países filiados. É o chamado fair play para inglês ver. Nesta vertente Portugal ocupa também um lugar de relevo. Quiçá campeão! A comparação entre os orçamentos dos três grandes clubes nacionais e os orçamentos dos restantes competidores revela uma realidade desportiva exemplar! Numa análise corriqueira, despretensiosa, é como se uns jogassem de botas cardadas e os outros… descalços. Mas o futebol é intocável, é o ópio do povo.


Saudações monárquicas 

terça-feira, outubro 18, 2016

Nunca me enganaram!

A proposta do PCP que previa um aumento geral de dez euros e que eu aqui elogiei, afinal era só propaganda. A proposta do Bloco idem. Passada a propaganda estes dois partidos meteram a viola no saco e aceitaram o costume. O costume é deixar de fora dos aumentos (extraordinários!) as reformas daqueles que descontaram anos e anos para a segurança social mas que têm o azar de terem uma pensão acima dos 632 euros! Estamos a falar de valores entre os 700 e os mil e poucos euros. Estas reformas, maioritáriamente oriundas do sector privado, levam umas moedas por conta da inflação e já não é nada mau. Porque com o anterior governo da direita nem isso.
Entretanto e já depois de entregue o orçamento o PS deu também a sua cambalhota e veio anunciar que afinal as ‘pensões mínimas’ também seriam aumentadas em dez euros. Eram para não ser. Não vou discutir a justiça destes aumentos, o que eu discuto é a designação de pensões quando no fundo estamos a falar de verbas de subsistência. A confusão, propositada e eleitoralista, é que me irrita. No resto nada de novo. O poder pelo poder e pelo poder vale tudo. Até um orçamento eleitoral!



Saudações monárquicas

quinta-feira, outubro 13, 2016

O mundo em que vivemos!

Em economia há duas visões distintas e inconciliáveis: - para uns mandam os clientes, ou seja, o mercado, para outros manda o estado, ou seja, o partido. Em Portugal e por razões históricas tendemos a optar pelas duas coisas, ou seja, pelo absurdo! Queremos tudo! O que traduzido para economês significa que queremos o mercado mas não queremos a concorrência. Por um lado sonhamos com as longas filas soviéticas para comprar os produtos destinados ao povo; mas logo a seguir avançamos para a diversidade das superfícies comerciais e exercemos os nossos direitos de consumidor! É mais ou menos neste ponto que se situa o actual diferendo entre taxistas e uberianos. Eles vão ter que resolver o conflito que os separa. E nós vamos ter que decidir em que sociedade queremos viver.



Saudações monárquicas

segunda-feira, outubro 10, 2016

A eleição de César!

Quando recuamos aos tempos da república romana e por aquilo que se sabe, os momentos mais trágicos coincidiam com a eleição do novo César. Aí, os vários candidatos usavam de todas armas para serem eles os escolhidos. Valia tudo, desde o envenenamento ao assassinato puro e simples! E porque isto era assim houve uma altura em que, para sossego e prosperidade da república, decidiram que seria preferível ter uma monarquia. Em monarquia a sucessão está assegurada evitando-se a guerra civil permanente que o sistema republicano inevitávelmente gerava.

Passaram muitos séculos e a humanidade não aprendeu. Pelo menos parte dela, nomeadamente aquela que tem pretensões de comandar o mundo dando-lhe bons exemplos de vida em comunidade!
Bons exemplos um tanto estranhos se tomarmos o exemplo dos debates eleitorais nos Estados Unidos! Há insultos, ameaças e fala-se sobretudo de sexo! E o mundo, melhor dito, as colónias, vão tomando partido sobre o assunto. Há quem goste mais de Trump enquanto outros preferem a Clinton! Entre os portugueses assiste-se até a uma coisa curiosa, mas não surpreendente: - a direita portuguesa, se pudesse votar nos Estados Unidos, votaria na esquerda! No fundo, é o mesmo que costuma fazer em Portugal.



Saudações monárquicas   

domingo, outubro 09, 2016

Um bloco de asneiras!

Primeiro eram só as reformas mais baixas que deviam ser aumentadas e estamos a falar das reformas auferidas por pessoas que nunca descontaram nada para a segurança social. Depois, como o PCP pela voz de Jerónimo de Sousa, veio reivindicar um aumento de dez euros para todas as reformas, o Bloco viu que fez asneira, recuou, e fala agora em aumentar as reformas até aos 845 euros! Não diz qual é o aumento nem explica porque é que as reformas de, por exemplo, 846 euros já não têm direito ao aumento previsto?!

Ora é evidente em toda esta história que a única proposta que encerra alguma justiça é a do PCP. Honra lhe seja feita. De facto, dez euros representam muito pouco para quem tem grandes reformas mas é muito para quem tem pequenas reformas e fazer justiça é isto. Por outro lado o PCP entende, mas o Bloco pelos vistos não, que continuar com o choradinho dos aumentos das reformas mais baixas, deixando de fora, as outras, também baixas, de quem descontou para a segurança social dez, vinte, trinta ou mais anos, é uma tremenda injustiça. E é um convite a que no futuro ninguém desconte porque nestas condições não vale a pena descontar. Acresce que entre as ditas reformas de quem nunca descontou há muita gente que tem outros rendimentos o que torna este assunto mais complexo do que se pensa e portanto pouco propício a demagogias baratas.

E termino com uma mágoa: - que não tenha sido o CDS (o partido mais à direita do espectro político) a propor aquilo que o PCP propôs. Ou seja, uma proposta justa.


Saudações monárquicas

quarta-feira, outubro 05, 2016

Eu e o cinco de Outubro!

Faltou uma página ao livro de José António Saraiva. Vou tentar escrevê-la aqui. Começaria assim: - e depois, pese as desinteligências, as vergonhas, as guerras intestinas entre pedreiros e lojas, juntaram-se todos no cinco de Outubro! Para celebrar as mordomias e o emprego! Talvez pudesse fazer uma antevisão do que seria a festa, imaginar a coreografia, não seria difícil atendendo à sua experiência de jornalista. Eu limitei-me a seguir com os olhos parte do programa televisivo, numa mesa longínqua, enquanto tomava o pequeno almoço no café habitual.

Lá estava a guarda pretoriana do regime, perfilada, um corpo policial paralelo, que não existe nos países civilizados mas é frequente existir nas ditaduras. Lá estava também o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a rebentar de contente, mestre-de-cerimónias natural da revolução lisboeta. A GNR continuava firme e aguardava o pretor. Enquanto Marcelo descia da limousine o meu espírito recuou e lembrei-me que a GNR fora a única força que quis disparar contra o 25 de Abril! Era a tentativa para salvar o seu padrinho Marcelo Caetano e a segunda república! Curioso, quem diria! Mas agora estamos na terceira república, e o melhor sinal de que ainda lá estamos foi esta reposição do feriado contrariando aqueles que à maneira de Salazar quiseram (e querem) pôr uma pedra sobre o assunto. Fingir que aquilo não aconteceu! Nessas condições prefiro que se comemore, não gosto de cernelhas, prefiro pegas de caras. Gosto de ver a face dos meus adversários, a sombra dos traidores, a pose dos adesivos. E adesivos são todos aqueles que lá estão podendo lá não estar.

É um dia feliz para uns tantos mas é um dia triste para Portugal.



Viva a monarquia!

segunda-feira, outubro 03, 2016

Memórias de um jornalista

Li o livro de que todos falam, um livro maldito para muitos, um livro que achei interessante por ser um retrato fiel da terceira república e da sua classe política. Escrito por um jornalista proeminente da nossa praça, com poucas concessões ao mau gosto (a anedota em vernáculo do Deus Pinheiro era dispensável) o livro confirma aquilo que todos sabem ou desconfiam com razoável grau de certeza. E sendo assim compreendo que seja incómodo que alguém que dirigiu o Expresso durante tantos anos, órgão de referência do regime, venha agora contar pormenores ou detalhes que confirmam suspeitas e acendem factos que se mantinham no limbo do semi-esquecimento. Mas é nos detalhes que a verdade se insinua.

E a primeira verdade, o primeiro retrato é o do autor, como acontece aliás em qualquer livro de memórias. José António Saraiva é filho de alguém que foi militante do partido comunista, tal como muitos dos retratados neste livro, e por aí compreendemos melhor a teia de relações da república, a pequenez do país e a inferioridade do seu destino. Todos se conhecem, todos têm a revolução francesa enfiada na cabeça, são todos de esquerda. O autor foge um pouco à mediania e aparenta alguma superioridade moral fruto talvez de uma educação antiga e do facto, digo eu, de ter nascido na Ajuda e ter assim respirado aquela atmosfera intraduzível que vai do Calvário a Belém! Julgo que é simpatizante do Belenenses o que o torna sem dúvida uma figura singular! Pelo menos aos meus olhos.

Sobre os outros retratados existem muitos pormenores curiosos, alguns decisivos na imagem que a história venha eventualmente a perpetuar. Isto se a história estiver para isso. Reproduzo apenas um que me chamou particularmente a atenção e define a república mentirosa que somos: - Findo o mandato o nosso ex-presidente Cavaco Silva, e num último encontro que teve com o autor do livro, referiu quais os jornais e revistas que tenciona receber no seu futuro escritório no Palácio do Sacramento. E são eles: - as notas da agência Lusa; a revista Economist; o Financial Times; o El País e o Le Monde! Os dois últimos são como se sabe dois jornais socialistas. O chamado líder da direita é afinal (sempre foi) um homem de esquerda. Não lê nem se interessa por saber o que pensa a direita portuguesa ou internacional!


Saudações monárquicas