quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O partido das dez semanas

Tal como se previa, os “transversais, mas pouco”, gémeos siameses uns dos outros, fabricaram o seu inevitável projecto de lei sobre a liberalização do aborto!
Esquecida a dor das prisões, desaconselhado o aconselhamento, ‘não vá a miúda hesitar’, a despenalização não era afinal o objectivo, o que se pretendia era o aborto puro e simples, anónimo e clandestino, na clinicazinha certificada, de borla, sem papéis e boa noite.
Os que andaram a choramingar frente às câmaras de televisão, condoídos com o drama da mulher, podem limpar as lágrimas de crocodilo, não vai haver obstáculos à liquidação total e sem rasto.
E alegrem-se as bestas, o partido das dez semanas promete mais aventuras no futuro. Para a próxima, não te esqueças, continua a votar nas bestas.
Aliás, é a única maneira de votares em ti.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

A saúde em leilão

Excelências:
Não tendo podido deslocar-me ao programa prós e contras da televisão pública, ficando assim impossibilitado de resolver, não apenas o meu problema de saúde mas também o da minha prima e vizinha, venho por esta via reclamar o meu médico de família, que não me quer conhecer, bem como a abertura de um SAP ou algo semelhante, próximo da minha casa.
Mais informo, que não sou autarca, vivo entre o campo e a cidade, não sou pobre nem rico, particularidades que me colocam praticamente à beira da exclusão social.
Mas não me conformo.
Por isso, se não forem satisfeitas as minhas exigências, pode o senhor ministro da saúde estar certo de que, para além de outras formas de luta que tenciono intentar, farei queixa à Dona Fátima, bem como ao nosso bem-amado primeiro-ministro, que por certo não deve saber da pouca-vergonha que por aí vai.
Pobre engenheiro Sócrates! Como ele deve sofrer rodeado de tanta incompetência!

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Desinteressante

Programas de culinária para todos os gostos, truques políticos para todos os paladares, servidos nas mesmas mesas redondas, onde a guarnição é obtusa, são o cenário visível deste país insonso e desinteressante, também ele obtuso!

“Sobre a frágil balaustrada do medo, construímos uma imerecida sociedade de abundância, sabemos que o nosso aparente bem-estar é o fruto de uma miséria colonial ‘nunca dantes navegada’, e falamos do passado com um misto de vergonha e pena! O espelho da vaidade está gasto, hoje apenas reflecte a nossa impotência”.

Esta passagem que cito de memória e cujo autor reconheço, é uma fotografia suficientemente nítida da nossa realidade. Existe uma verdade proibida, ‘um rei vai nu’, que ninguém se atreve a denunciar, achamos preferível avançar às cegas para o inevitável abismo!
Porquê?
Que segredo tão pavoroso esconde o dia de amanhã! Que nos impede de pensar?!
O que esperas para te ergueres desse escuro ermo onde jaz a tua alma?!
Entretanto – “Come chocolates, pequena, come chocolates”!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O fim de qualquer coisa

Dizem que o rotativismo monárquico entrou em fase de acentuada decadência, quando a aparente funcionalidade foi quebrada pelas cisões e divergências dentro dos dois partidos que, com mais ou menos escândalo, iam assegurando o governo. Claro que estas divergências tiveram a sua origem na chamada lei da vida que afecta homens e instituições – refiro-me ao natural envelhecimento e desgaste dos seus líderes históricos, tanto no partido regenerador, como no partido progressista.
Hoje é patente, que enquanto no Partido Socialista tudo se cala e consente à volta de um leader indiscutível, não porque Sócrates o seja de facto, mas porque temendo o pior, toda a minha gente quer salvar e salvar-se com um mínimo de perdas e danos, pelo contrário, no Partido Social-democrata, tudo o que acontece é pretexto para abrir brechas cada vez mais profundas e difíceis de fechar!
Mas o que verdadeiramente anuncia o fim desta república, é a permanente confrontação entre o Governo Regional da Madeira e o Governo da República, numa querela que já ninguém quer disfarçar!
Aparentemente, Sócrates sente-se com força suficiente para afrontar Jardim, o único leader que lhe faz frente na actual conjuntura política, mas as coisas podem complicar-se inesperadamente para o nosso primeiro-ministro: Alberto João Jardim é um adversário temível, e sem querer, pode começar a capitalizar não apenas o descontentamento madeirense, mas o descontentamento geral que vai lentamente grassando pelo país, a acordar definitivamente do sonho europeu!
Há dois anos quando me iniciei nestas lides, assumi sem rodeios alguma simpatia pelo leader madeirense, que na altura, lembre-se, era alvo de chacota generalizada. Hoje não tenho dúvidas: seja qual for o resultado desta nova tentativa para liquidar Alberto João Jardim, ele já se constituiu como a única oposição ao regime vigente.
Haja alguém!

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Gripe

Uma doença inútil, daquelas que não mata mas mói, interrompeu o autor do Interregno e desligou-me do mundo. Não sei o que terá acontecido entretanto aos vencedores do referendo, não sei se Salazar continua à frente de Cunhal, ou se o Aristides tem vindo a recuperar terreno, como também não sei o que se passa na China, país de conversa obrigatória numa globalização que se preze. Do Belenenses, como dos outros clubes que não merecem notícia diária, deduzo, seguindo o ditado pessimista – “pas de nouvelles, bonnes nouvelles”!
Uma das vantagens desta gripe global é o isolamento que provoca no paciente, a necessidade de tossir sozinho, de assoar-se eternamente em bom recato, são, apesar de tudo, sensações que revelam algum direito à intimidade, e que ainda estão fora da regulamentação oficial. Mas nada que me sossegue.
Imaginei, ou foi sonho febril, que estas doenças passarão no futuro a ter um tratamento adequado por parte do estado, de forma a diminuir os impactos negativos sobre a saúde pública, sobre a produtividade, e sobre o emprego.
Para além da vacinação obrigatória, sujeita a coima para os relapsos, a gripe, uma vez denunciada, deverá seguir as melhores práticas em uso na Europa, acabando-se de vez com as mesinhas antiquadas, do género chá de limão com mel, ou o tradicional – ‘avinha-te, abifa-te e abafa-te’, expedientes próprios de um país atrasado e que apenas resultaram com os nossos avós.
No meu delírio, nada disto vai vingar daqui para a frente, incluindo avós e netos, a vida será superiormente organizada entre o centro comercial e o centro de saúde, mas sempre com uma televisão por perto, em ordem a orientar o potencial paciente.
As melhoras.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A Vida...Não me perguntes porquê.

“Nenhum homem é uma ilha isolada;
Cada homem é uma partícula do Continente, uma parte da Terra;
Se um torrão é arrastado para o mar a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria casa;
A morte de qualquer homem diminui-me, sou parte do género humano.
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram;
Eles dobram por ti.”

John Donnepoeta irlandês do século XVII.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

A Europa do aborto

“É fartar vilanagem” - Foi com este brado que o herói de Alfarrobeira se resignou aos seus inimigos que o sangraram até à morte. Esvaía-se assim a razão inocente face à intriga de Estado e face à brutalidade de uma força desigual que seguia o futuro Rei.
Convoco este triste lance da história pátria para lembrar que todos nascemos da mesma maneira e da mesma maneira haveremos de morrer. Sejam heróis, mártires, ou os seus carrascos. O que se torna extraordinário é o facto de agora pormos em causa a vida daqueles que querem nascer como nós!
São cinzentos estes dias e mais cinzentos se tornam quando constatamos que é na chamada Europa rica e desenvolvida que se fala de aborto livre, que se instituem direitos de propriedade sobre a vida dos mais frágeis, tudo em nome da ditadura do presente, do imediato, tudo em favor de uma sociedade de direitos, onde os deveres ficam à ‘responsabilidade’ de uma entidade mítica e misteriosa conhecida por Estado!
Não constitui portanto surpresa que esta mesma Europa ‘civilizada’ rejeite o marroquino, o cigano, o preto, que fogem à miséria e à fome, como também não surpreende que rejeite a doença ou a fragilidade, que se escondem nas suas bolsas problemáticas, que uma cultura de facilidade e egoísmo vai multiplicando.
Então que se faz? Como é que podemos mascarar a realidade?
Muito simples – incapazes de perceber as causas, incapazes de enfrentar as causas, rendemo-nos aos seus efeitos: se existe droga, ‘eles’ que se droguem de forma a não perturbar a nossa tranquilidade; se o aborto clandestino é uma realidade e um risco, vamos legalizá-lo, para que o façam em boas condições!
Sacrifique-se o que for preciso ao bem-estar das nossas consciências!
Sem vergonha, denunciamos o nosso isolamento a par com a Irlanda e a Polónia, também eles países de matriz católica. Queremos ir para o outro lado, para o lado dos ricos…mas com pobres argumentos!
Nem de propósito ocorre-me que foi um sindicato polaco, o Solidariedade, curioso nome, que pôs em causa o poderio soviético, que não se resignou à brutalidade da força, que soube lutar por ideais. Estar acompanhado neste caso pela Polónia é uma honra e uma certeza: a sociedade que temos que construir, reconstruir é melhor dito, deve basear-se na solidariedade, onde os mais fortes ajudem os mais fracos, em lugar de os exterminar.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Aula de esgrima

Os melhores floretes da cidade enfrentaram-se de novo numa querela inútil sobre o valor da vida que todos os dias desrespeitamos. Depois de algumas escaramuças sem consequências, o mestre de armas do ‘sim’ abriu a guarda quando referiu o verdadeiro combate que ali se travava. Para quem o quis ouvir, Vera Jardim declarou que a moral do estado laico republicano e socialista, não tem nada a ver com os valores que a Igreja Católica defende. Esta, segundo disse, pode até sair da sacristia, mas não vai longe, porque nós não deixamos!
Nós é que detemos o poder, que vocês, os do ‘não’, generosamente nos oferecem, eleição após eleição, de há trinta anos para cá…ou mais. Mesmo quando não havia eleições!
Então não é verdade que foram também vocês, os do ‘não’, que entronizaram este Sócrates, tal como no passado recente tinham entronizado Mário Soares! Então não são vocês que sem medirem as consequências dos vossos actos, votam sistematicamente contra os vossos interesses, e estão sempre disponíveis para atacarem a hierarquia, num anti clericalismo doentio, que afronta a tradição, a história, e os próprios alicerces da comunidade?! O que queriam agora que acontecesse?! Que fizéssemos leis a defender os princípios que aqui vos vejo defender?! Que ingenuidade a vossa!
Assim falou, sem o dizer, o mestre de armas do ‘sim’.
Nesta batalha quase perdida, mesmo que ganhe o ‘não’, apenas uma voz de esperança ressoou vinda dos confins do Império, do Império que nos há-de redimir – Rosário Carneiro, à semelhança do que já tinha sucedido em anterior programa com Pedro Luvumba, exprimiu a lição que espalhámos em séculos de missão por esse mundo fora – pela vida e pela salvação.
O resto é nada.

sábado, fevereiro 03, 2007

Ler para perceber

Um postal fundamental para que se perceba a trama que se desenvolve em torno da nossa frágil independência. E acredito que sei do que estou a falar quando falo de dependências.
Este baixar dos braços, esta relativização em curso, que atinge os vivos, que nem sequer poupa os que vão nascer, é prenúncio feroz de uma rendição anunciada.Quando dermos por isso, pode ser tarde.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Transversal, mas pouco

É uma frase feita para sugerir que algumas questões como esta da liberalização do aborto, atravessam a sociedade de forma transversal, fazendo crer que entre os apoiantes do ‘sim’ coexistem pessoas de todos os quadrantes do pensamento, dos mais diversos matizes, e o mesmo sucedendo do lado do ‘não’!
Mas será de facto assim?! Ou não passará tudo isto de mais uma tentativa para esconder os lobos que se disfarçam no meio da manada?!
O meu juízo é diferente, esta questão do aborto, é semelhante a tantas outras, que dividem verticalmente, e de que maneira, não a esquerda e a direita, o que seria mais uma fórmula para não acrescentar nada, mas sim cristãos e ateus, e sobretudo crentes e não crentes. Esta é que é a verdadeira divisória, a única trincheira visível, por muito que isso custe a muito boa gente, por muito alarido que se faça para escamotear a realidade, por muita sondagem que se publique, afiançando que os portugueses gostariam que a Igreja Católica se afastasse deste referendo sobre o aborto. Percebe-se o ponto de vista dos ‘transversais’, devem ainda lembrar-se de 1975, quando a Igreja Católica se opôs com firmeza à ditadura comunista que visava implantar-se em Portugal.
São sempre os mesmos, querem retirar os crucifixos dos locais públicos, mascarados de progressistas, não acreditam num futuro melhor, porque simplesmente não acreditam na vida, por isso a desvalorizam, por essa razão se sentem proprietários da vida dos outros, cultivadores da morte, é o que são.
E porque têm medo de si próprios, nunca andam sozinhos, sempre conseguem arregimentar uns quantos para defenderem as suas ideias macabras.

Escrevi este texto na recordação permanente do crime do Terreiro do Paço. Não me esqueci que no dia 1 de Fevereiro de 1908 foi assassinado o Rei D. Carlos e o seu filho mais velho, o Príncipe D. Luís Filipe, num acto de cobardia e infâmia que convém ter bem presente nos dias que correm.