terça-feira, julho 29, 2008

Idade perigosa

Há uma idade perigosa para os homens, já não é aos quarenta, é mais tarde, quando querem afirmar uma juventude que lhes escapa inexoravelmente. Nesta fase, enquanto uns procuram no alterne a julieta dos seus sonhos, outros arvoram-se nos revolucionários que nunca foram e emitem pareceres em conformidade.
Começam aqui os problemas para o próprio, mas especialmente para quem os rodeia, surpreendidos pelo insólito comportamento destes eternos jovens!

Por exemplo, aplicada ao futebol a ‘doutrina Freitas’ era assim: - o árbitro resolve expulsar um jogador pelas razões (certas ou erradas) que entende; o jogador não se conforma, revolta-se contra a decisão e recorre ali mesmo para o plenário dos jogadores; o plenário decide então manter o jogador em campo e aproveita a oportunidade para suspender e substituir o árbitro!
O mesmo exemplo pode servir para ilustrar como funcionaria a ‘doutrina Freitas’ no caso do árbitro decidir encerrar o encontro invocando não haver condições para o mesmo prosseguir: nesta situação o capitão da equipa que estava a perder (ou a ganhar) reclamava para o plenário de jogadores, que suspendiam o árbitro e prolongavam a partida.

Portanto escusa o professor Freitas de escrever um livro, basta-lhe uma folha A4 para esclarecer o seguinte: o presidente do Conselho de Justiça da FPF tem ou não tem poderes próprios?! E nesses poderes incluem-se ou não dar início e pôr fim às reuniões por ele convocadas?! Assim como declarar o impedimento de um qualquer conselheiro?!
É que se tem poderes próprios pode naturalmente exercê-los com certeza ou erro, e das suas decisões (e enquanto durar a reunião) não cabe recurso para o plenário do Conselho de Justiça.
Se isto não é assim, então o presidente do CJ (ou de qualquer outro órgão similar) não tem poderes próprios e até o início dos trabalhos tem que ser votado pelo plenário dos conselheiros!!!
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Enfim… incongruências da idade.

sexta-feira, julho 18, 2008

Bem comum

Segunda-feira passada, no ‘prós e contras’, um belga que por cá casou e ficou (a ensinar filosofia), exaltava as nossas qualidades como povo mas admirava-se com a ausência de sentido do ‘bem comum’ entre os portugueses. E exemplificava com a resistência dos condóminos em contribuírem para as partes comuns do condomínio!

Sabendo-se que a noção de ‘bem comum’ é o cimento (e o impulso) que constrói as pátrias e que a sua ausência ou desvalorização, conduzem à extinção ou à dissolução das mesmas, não pude deixar de prestar atenção a tal depoimento, ainda por cima vindo de um observador privilegiado.

E digo observador privilegiado porque a existência da Bélgica só se compreende apelando à noção de ‘bem comum’, uma vez que estamos perante um estado constituído (fundamentalmente) por duas comunidades, flamengos e valões, com origens e idiomas muito diferentes, em tudo propensas à separação.

Esta separação não acontece (não aconteceu até agora) porque a noção de ‘bem comum’ prevalece, e prevalece, em minha opinião, porque tem uma representação política adequada. Na Bélgica, como se sabe, quem representa e garante o ‘bem comum’ é a monarquia, ou se quiserem, ‘o rei dos belgas’.

Aqui chegados, lembro-me que no referido programa, Fátima Campos Ferreira não resistiu e leu uma conhecida crónica de Eça de Queiroz onde este descreve o ‘estado da nação’ à época (finais do séc. XIX e finais da monarquia), retrato em tudo semelhante ao tempo presente. A mesma crise social, igual descrédito na política, na justiça, a desconfiança generalizada, com toda a gente a dizer mal de tudo e de todos.
E vivíamos ainda em monarquia, exclamarão (satisfeitos) os republicanos!

Dando de barato que o regime era monárquico, eu chamar-lhe-ía antes uma ‘república coroada’, torna-se necessário admitir que a noção de ‘bem comum’ é uma coisa e a respectiva representação política é outra. Normalmente (e de forma natural) coincidem em monarquia e só excepcionalmente (por períodos de tempo limitado) podem coincidir em república. Nunca coincidem, digo eu, quando as elites que detêm o poder impõem à população usos e costumes estranhos às suas origens e cultura. O ataque à Igreja Católica e ao catolicismo é neste aspecto recorrente.

Era portanto lógico que o divórcio entre o povo e a ‘elite afrancesada’ que chegou ao poder em 1820, se fosse aprofundando atingindo mais tarde por ricochete a própria instituição real. Hoje todos os historiadores vão nesse sentido, nomeadamente quando tentam explicar as causas do regicídio.

Podemos assim concluir que a noção de bem comum se fortalece nos caminhos da tradição, e esmorece sempre que o estado se afasta desses caminhos. Nesta ordem de ideias compreende-se que tenha sofrido forte abalo no período filipino; e que tenha recuperado com a restauração; também não foi bem tratada durante as razias de Pombal e decaíu muito no liberalismo; mas a machadada final no bem comum quem a deu foram os jacobinos republicanos, e curiosamente... invocando sempre o bem comum!

segunda-feira, julho 14, 2008

Restos de família

Não procurem aqui a verdade das ciências ou a fé das religiões, isto é um diário de emoções, são os instintos à solta e algumas necessidades cartesianas - opino, logo existo. Nada mais. Hoje preciso de falar na família, no conceito que herdei, que me dá jeito, e que Sócrates (o primeiro-ministro) também parece defender! Quem diria. Foi sem querer, eu sei, serviu apenas para denunciar a opositora, que não deu pelo anzol que o liberalismo mordeu e onde ainda se debate.
Manuela e Sócrates não se distinguem neste aspecto, filhos dilectos de Rousseau, ambos se conjuraram para destruir a família patriarcal, onde a comunhão e a solidariedade estavam presentes para além da consanguinidade. Para além da procriação. Era um conceito inclusivo e abrangente, não tinha a ver com os valores efémeros de cada época, consubstanciava uma realidade duradoura. Porém, a miragem do homem anjo, pré-familiar (!), as necessidades (comerciais) de conquista do poder pela burguesia, destronaram a família real - arquétipo e representação política familiar - e nesta contingência todas as famílias se desmoronaram.
Entre os escombros subsistem os restos do antigo agregado mas a confusão está instalada – a (avó) Manuela aprisiona a família na procriação enquanto Sócrates insinua abrangência para a contrariar! Mas não têm (não temos) sorte nenhuma, o mais certo é acabarmos a vida num lar, sem família por perto… sanguínea, ou outra.

sábado, julho 12, 2008

"O Estado da Nação"


O "Estado da Nação"? Basta olhar para a Assembleia, quieta e calada, para se perceber o "Estado da Nação". Em nenhum parlamento da "Europa" subsiste um partido como o Partido Comunista Português, que não deixou ainda a "guerra fria" e vê Portugal como o via em 1960. Com uma certa razão. O PCP não é, por assim dizer, o artifício de um fanatismo inexplicável e ridículo: é o produto arcaico de uma economia arcaica e de um Estado autoritário e monstruoso. Num país moderno não existiria; na eterna "modernização" de Portugal prospera.
Exactamente como o Bloco, que vem do mundo dúbio da heterodoxia marxista e se alimenta da pobreza letrada e de uma velha história, que só neste ermo, esquecido e miserável, continua. O PC e o Bloco são, segundo as sondagens, 20 por cento do eleitorado.
Fora isto, que já chega, há o "debate" entre os presuntivos representantes da democracia "burguesa". De facto, não há debate - de qualquer espécie. A oposição fala do atraso e da insuficiência do país, que naturalmente quase não varia, e atribui ao Governo a culpa dessa interminável desgraça. O Governo devolve a culpa à oposição, que já foi governo, e gaba os méritos das duas ou três coisas, que no meio da balbúrdia conseguiu fazer. Nunca, em tempo algum, se sai daqui. Assistir a uma sessão é assistir a todas. Nem as personagens mudam; e a realidade, essa, não penetra em S. Bento. Para os participantes neste ritual, a substância de uma questão ou de um argumento não contam. "Ganhar" é a afirmação de uma simples superioridade teatral ou da "esperteza" bronca e bruta, que "apanha" o próximo e que o indígena tanto estima.
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Em 1975, a Assembleia ainda sabia gramática e usava com alguma eficiência a língua portuguesa. Hoje papagueia sem vergonha os lugares-comuns da propaganda partidária ou perora num calão administrativo e "técnico", que se destina habilidosamente a esconder a verdade ou o vácuo. A tradição oratória, até a salazarista, desapareceu. Não há memória de um discurso organizado e claro, que tenha tido sobre a opinião pública um efeito profundo e duradouro. A Assembleia é um clube privado que, de quando em quando, a televisão mostra a um país mais do que indiferente.
O "debate" sobre o "Estado da Nação" da última quinta-feira exibiu involuntariamente o país como ele é: a indigência intelectual, a mesquinhez de propósito, a irresponsabilidade política. Daquela gente não se pode esperar nada.
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Com a devida vénia - Vasco Pulido Valente in jornal Público de 12 de Julho 2008.

O meu estado

Estou melhorzinho obrigado mas não foi o ‘pacote dos combustíveis’ que me aliviou. Posso até dizer que me passou completamente ao lado! Sabe vizinha o tempo da escola e do passe escolar já lá vai... Vivo em casa alugada, o IMI portanto não me diz nada. E pelos mesmos motivos não beneficio do aumento das deduções no IRS. Mas acabo por ter sorte: imagine a vizinha se eu era accionista daquela empresa que foi assaltada pelo Robin dos Bosques!
Visto assim, não foi chito!

quinta-feira, julho 10, 2008

Gémeos

São gémeos, são gémeos, gritava alvoraçada a jovem de peitos generosos que passa a vida na Assembleia da República! Mas ninguém se alvoraçou, as bancadas permaneceram indiferentes, já estão habituadas, não é a primeira vez que a mãe desta democracia desata aos gritos no Parlamento! Quem também falou nas parecenças entre os dois partidos que se revezam no poder, foi o analista político Joaquim Aguiar, afirmando que este facto impede a resolução dos problemas e agrava a doença nacional. Há quem conclua que o melhor seria admitirem as afinidades e fundirem-se (ou alguém que os funda) dando assim oportunidade à diferença (oposição) que os portugueses já merecem. Parto difícil, vícios antigos, e enquanto não se decidem assistamos ao eterno debate – o déficit é teu; não, não, o déficit é teu!
Saudações monárquicas.

terça-feira, julho 08, 2008

Conversas em família

Sempre foi assim, dirão os resignados! É verdade mas tem vindo a piorar como aliás era inevitável que acontecesse – só existem adeptos de três clubes, a comunicação social só fala de três clubes, o bolo das receitas televisivas vai quase todo para os três clubes, o poder público e o orçamento de estado apoiam escandalosamente estes três clubes e como o campeonato português, reduzido a três clubes, só pode dar prejuízo, a única salvação é o dinheiro da UEFA. Mas como cada vez temos menos hipóteses (e menos lugares de acesso) às competições europeias o dinheiro já não dá para os três, se calhar nem chega para dois, vai daí a guerra tremenda de sobrevivência, em que vale tudo e envolve todos. Uns por querer, outros sem querer.
A corrupção começa e acaba aqui.
Alguém está interessado em mudar isto?! Se estivesse… mudava primeiro o resto.

segunda-feira, julho 07, 2008

É a monarquia…

Não quero ofender ninguém mas afinal qual é a diferença entre Elvas e Badajoz, entre o Nadal e os tenistas que não temos, entre os Ronaldos que vamos tendo mas que só conseguem evoluir fora do país! Directos ao assunto, qual foi a diferença entre a ditadura de Franco e a ditadura de Salazar! E a diferença no salário mínimo…! Porque será que em cada dia que passa nos atrasamos em relação aos nossos vizinhos! Vizinhos que partiram para a normalização constitucional depois de nós! Vizinhos que deram um impulso decisivo na importância da cultura e da língua espanholas! Vizinhos que conseguiram impor o castelhano (sem acordos ortográficos) em todo o mundo!
E nós?! Porque estamos sempre de cócoras, divididos, irreconciliáveis, incapazes de nos organizarmos e progredirmos! Quem pode afinal mobilizar este país! E de onde vem esta desconfiança, esta baixa auto-estima que vai corroendo os melhores e só encontra saída… na emigração! Andamos a dar respostas vazias a estas questões há tempo de mais. O discurso dos ‘coitadinhos’ já só engana quem gosta de ser enganado, na minha opinião é um mero expediente para fugir à realidade, para não fazer nada, para manter uma cultura (e uma política) de irresponsabilidade.
O tamanho da Espanha também não serve de explicação porque a Espanha já tem esta dimensão na Europa há muitos séculos e a diferença de tamanho nunca foi embaraço para os portugueses, ao contrário, foi sempre motivo e incentivo para nos superarmos.
Qual é a diferença afinal? Porque correu Nadal a abraçar os seus pais e logo de seguida o Príncipe das Astúrias!
Porque sentem eles este calor, esta força! Porque os espanhóis têm algo em comum, que os une e mobiliza, chame-se a isso monarquia, rei ou dinastia, que é de todos… porque não é de nenhum.
É essa a diferença.

terça-feira, julho 01, 2008

‘Menino de ouro’

Foi lançada uma biografia de Sócrates (não confundir com o curriculum) escrita pela jornalista Eduarda Maio e estiveram na apresentação o ex-comissário Vitorino e o ex-ministro Dias Loureiro, que não pouparam elogios ao biografado. Fala-se que outras biografias se seguirão completando a vida e a obra do actual primeiro-ministro.
Não sei quando começaram as biografias de Salazar vivo, mas parece-me que já levava uns anos de chefe do Governo e alguma obra feita. Sei que a sociedade sem eternidade reclama a estátua em vida, não vá a eternidade esquecer-se e sabemos que para a celebridade hoje, basta ser célebre e depois logo se vê! Apesar de tudo continuo a achar um exagero tanta celebridade e prefiro que seja o tempo a encarregar-se de biografias e celebridades.
Feitios.