domingo, dezembro 31, 2006

Ano Novo

Foi só para mudar o frontispício, dando lugar a uma mensagem com outra esperança, que desanuvie os espíritos que se inquietam com o desconforto dos nossos dias.
Pois que seja um ano novo, e que a simples transposição dessa linha imaginária, ao som de doze badaladas, tenha o efeito de uma descoberta, o tal caminho que procurámos em vão neste ano que finda.
Bem, isto está bem escrito, um pouco rebuscado, é certo, mas serve perfeitamente para introduzir o reveillón! Calma, ainda é cedo para abrirem o ‘raposeira’, para mim é meio-seco, se fazem favor. O pessoal do champagne francês vai para a outra sala.
Já perceberam concerteza que o Interregno está a fazer todos os possíveis para que os frequentadores desta casa tenham umas boas entradas.

sábado, dezembro 30, 2006

Os anjos da morte

Eles dizem sempre que são os outros, porque os bons, os pacíficos, as vítimas, são eles! Quem faz explodir cidades e vidas em poucos segundos são eles, mas os outros é que não podem possuir armas nucleares, porque é perigoso! Eles são eles e os seus amigos israelitas, coitados, povo eleito e sofredor, o que seria do mundo sem eles!...
O Iraque, anteriormente um mar de chamas, um inferno, agora, com a democracia a caminho por oleoduto, mas já sem Iraque, é uma maravilha! Tempestade no deserto, missão cumprida, hurrah!
Nas palavras de um jovem iraquiano, possivelmente sunita, a execução de Saddam Hussein foi um crime irano-americano. Mas a América tem as costas largas, podemos precisar a objectiva, e o que vemos! Os mesmos bárbaros que saquearam Roma, os mesmos ladrões de diligências no far-west, os mesmos criminosos que abateram os índios! O supra sumo da civilização, faróis da humanidade, que nos guiam. Para onde?
Perguntem à estátua da liberdade com letra pequena.
Deves pensar que sou anti-americano, mas não sou.
I was, mas já não era.
Eu chamo-me Poncio Pilatos e repito a frase que vai da esquerda à direita – era um ditador, um torcionário, mas nós somos contra a pena de morte!
Somos?!

sexta-feira, dezembro 29, 2006

O regime da tirania

Se uma efémera maioria assim o ditar, terás finalmente o desejado poder absoluto sobre o teu corpo! No segredo de uma nova clandestinidade e durante dez semanas, nem mais nem menos, ninguém ousará interferir com essa vontade soberana, podes dar à luz ou matar, para os outros será indiferente, a decisão cabe-te.
No primeiro momento a glória de uma conquista encherá de esplendor a tua fronte, a terra há-de parecer pequena para tamanho poder, será porém bem curto o teu êxtase.
Porquê?!
Não se decreta a morte impunemente. Ninguém se atreve sozinho, sem dividir essa decisão com outrem, nem que seja com o remorso do pecado ou com o álibi do crime!
Mas assim, no isolamento obrigatório de uma só consciência, esse poder já não é absoluto, passou a ser tirânico e como tal sofrerá as consequências que o futuro reserva aos tiranos.
A sombra dos que não nasceram e a vigília dos sobreviventes eternamente gratos, tudo isso há-de pesar como chumbo nos teus ombros frágeis, e traçará um destino. Sempre pronto a realizar-se, à mínima falha, ao menor sinal de fraqueza.
“Quem com ferro mata, com ferro morre”, ditado antigo.
Um presente envenenado para quem não o pediu!

terça-feira, dezembro 26, 2006

Boas leituras

"Instaurar a república para restaurar o reino e sonhar o V Império", para ler "Sobre o tempo que passa".
Ver o link na coluna dos Blogs, é o penúltimo.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Presente de Natal

Os novos hábitos não contemplam a missa do galo e a consoada já não reúne a família. Por causa disso reduzimos o presépio e fizemos crescer a árvore de Natal. Os portugueses exageram sempre – a maior da Europa, tinha que ser!
Apetece blasfemar: quem acabou com o morgadio, acabou com a família. Lembro-me então que não sou o mais velho, o primogénito! Deixá-lo, regras são regras.
Deixei tudo para a última hora, faltam três presentes, verifico a verba, vamos aos livros! Há bons e baratos, para todos os paladares. Estou numa grande superfície comercial.
Carolina, estava a ver que não estavas aqui, mas estás, por todo o lado, é agora ou nunca, vais escondida no meio dos outros, só a menina da caixa é que há-de sonhar com o teu romance. Detecto entretanto um problema: e lá em casa, como é que justifico a Carolina! Digo que me enganei? Que estava em promoção! Não pega, não acreditam. Se disser que foi o vizinho que me pediu para comprar, desconfiam, e o vizinho não me vai perdoar a denúncia infame.
Mudo de táctica, enquanto finjo que escolho, leio o livro. Comecei por desarrumar a prateleira para construir um castelo: coloquei estrategicamente alguns livros de grande lombada à volta da frágil criatura, livrando-a assim de olhares indiscretos. E passei à fase seguinte – com a Carolina no meio e um livro insuspeito à mão de semear, desfolhei vagarosamente, uma a uma, cada folha daquela explosiva história de amor… e maldizer. Fui até ao fim. Quando levantei os olhos encarei com um funcionário complacente que se limitou a sorrir e a abanar a cabeça.
Já sei que estão cheios de curiosidade para saber como é!
Se querem que lhes diga, o livro lê-se bem, tem muitas fotografias alusivas, e tomadas as devidas precauções, consegue-se. A posição não é famosa, temos que estar em pé, e de sobreaviso, por exemplo, os carrinhos de compras com miúdos lá dentro, são um perigo! Os miúdos querem sempre tudo e mais alguma coisa, e os papás não resistem. Houve uma altura em que tive que me desviar e nesses segundos intermináveis a Carolina ficou completamente desprotegida. E temos ainda os curiosos que vagueiam por toda a parte, e os maçadores que aparecem para comprar livros, e logo ali!
Enfim, tem as suas dificuldades, mas posso garantir que é uma experiência única! Um último conselho: não façam isto fora da quadra natalícia, porque pode acontecer que os funcionários não sejam tão compreensivos, principalmente naquela fase em que temos que desarrumar as prateleiras.
Boas Festas.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Azambuja encerra pelo Natal

A fábrica da Opel na Azambuja, que ainda há uns meses foi considerada um modelo dentro do Grupo General Motors, vai a encerrar lançando no desemprego mais de mil e quinhentos trabalhadores. Uma deslocalização, é o termo técnico utilizado, e não vai para longe – Saragoça, aqui ao lado!
Não valem portanto razões de mão-de-obra mais barata, a que normalmente associamos estes movimentos que seguem a lógica do mercado, devem ser outras as razões ponderosas, e poderosas podemos talvez acrescentar.
O Governo lamenta, o ministro diz que fez tudo para evitar o desenlace, mas não há nada a fazer, é o progresso que nos toca, coisas que o comum dos portugueses não percebe, e por isso nunca passarão de portugueses comuns!
Afinal o que se está a tornar comum é esta febre do abre e fecha que percorre o país de lés a lés, numa cadência a que nos vamos habituando, sem querer! Fazemos as contas: são mil e quinhentas pessoas, não sei quantas famílias, um certo alarme ressoa dentro de nós, mas logo sossegamos, pensando, vão para o Fundo de Desemprego concerteza, ‘está-se bem’!
À noite ouviremos a voz suave dos políticos, veremos o rosto da nomenclatura que se diverte, tanta gente que não podemos deslocalizar, infelizmente.

domingo, dezembro 17, 2006

“A voz do cidadão”

É um programa que pretende assegurar alguma compatibilidade entre aquilo que a televisão pública transmite e a receptividade que obtém junto dos telespectadores. Quem o dirige, Paquete de Oliveira, esforça-se por dar resposta às inúmeras sugestões que lhe vão chegando, mas na verdade, seja pela falta de sentido crítico dos portugueses, seja pela intervenção pouco audaciosa do Provedor, as coisas não têm melhorado. Estou a referir-me não apenas aos conteúdos mas simplesmente a algumas escolhas obviamente erradas e deseducativas.
Centremo-nos numa área de grande audiência como é o futebol, que para além de ser uma actividade já de si problemática, se transformou naquilo que todos sabemos e alguns persistem em não saber: um biombo para a corrupção.
Nestas condições seria natural que a televisão pública, através da sua Direcção de Programas estivesse mais atenta ao fenómeno contribuindo ela própria para a resolução do problema.
Como?
Esbatendo tanto quanto possível o enorme tempo de antena concedido pelos canais privados aos três clubes chamados grandes e pautasse a sua intervenção informativa nesta área, por alguma sobriedade e bom senso. Mas não é nada disso que se passa!
Sem qualquer explicação aparente, a nossa RTP acha necessário e obrigatório preencher todos os telejornais com propaganda daqueles três clubes, existam ou não notícias relevantes sobre eles, numa deriva ‘soviética’ como se estivéssemos perante verdadeiros ‘clubes do Estado’!
Ora bem, numa actividade que tem uma componente desportiva não se percebe qual é a ideia do canal público! Será acentuar ainda mais o fosso entre clubes grandes e pequenos? Ou pretende-se pura e simplesmente extinguir todos os outros, para que fiquem só três?
Tem a palavra o Provedor.
E se o Director de Programas da Televisão não perceber, eu explico melhor.
Saudações belenenses.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O mistério do mrpp

Pode parecer insólito que este interregno ainda se lembre de coisas que já ninguém quer lembrar, que ainda estabeleça ligações fantasiosas entre o país real e o país esquecido, que se mantenha agarrado a algumas interrogações que ficaram por decifrar!
Mas pergunto eu – de que é que estavam à espera, neste espaço e deste desmancha-prazeres?!
É curioso notar que sempre que queremos encontrar uma pessoa com créditos firmados nas mais diversas áreas e acima de qualquer suspeita, a busca e respectivo recrutamento recaiem nas hostes dos antigos maoístas, aqueles que na sua juventude militaram no mrpp ou nos seus arredores!
Como se o passaporte para a honestidade e para a firmeza, já não digo para a inteligência, tivessem obrigatoriamente que passar pela leitura do livro vermelho, por todas as arruaças, pelos assaltos às embaixadas, ou pela ideia peregrina de transformar o país numa espécie de Cambodja! Enfim, por todos os complexos e loucuras de uma mocidade mal-educada!
Mas parece que sim, e esta nomeação de Maria José Morgado confirma o que atrás se disse. Tal como a União Europeia não teve dúvidas em escolher Durão Barroso para dirigir os seus destinos, assim como a fiscalidade se inclina perante a opinião de Saldanha Sanches, também agora o bom êxito das investigações no “Apito Dourado”, parecem depender desta escolha!
Um verdadeiro mistério!
Ou será apenas a confissão de uma sociedade que deixou de acreditar em si própria e assim se entrega a quem ainda acredita, ou acreditou, em alguma coisa! Ainda que essa alguma coisa fosse um completo disparate!
Para pensar.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Um português, um livro

Num país vencido pela ignorância, que apenas lê o jornal desportivo da sua cor clubista, não se percebe muito bem este furor publicista que desagua invariavelmente em livro de memórias!
Faço parte da dúvida, pois tenho eu próprio que justificar, postal atrás de postal, a razão de tamanho ímpeto confessional. Que não chega a livro… por enquanto.
Pois bem, se conseguir explicar-me, talvez consiga explicar o enigma.
Provavelmente será falta de catequese, falta da prática da verdadeira confissão, daquele momento concreto concebido para remissão dos nossos pecados. Mas não posso enveredar por um discurso ininteligível para os contemporâneos, maioritariamente ateus ou simplesmente alheios, terei que tentar explicar isto de outra maneira.
Com efeito em todas estas memórias, que mais não são que confissões, o que ressalta, para além do aspecto justificativo, é o arrependimento! Uma enorme necessidade de compreensão, ou até de perdão, para o que se tenha feito de errado ou duvidoso. E onde coexiste um grande empenho em fazer melhor.
Uma confissão pública, até mais exigente que a verdadeira, se for sincera, mas a imagem que permanece é a de uma absoluta desorientação e falta de Deus.
E uma solidão invencível!
Não chegam os telemóveis que a cada segundo nos põem em comunicação com o próximo, não bastam as grandes concentrações de pessoas, gritando, ou simplesmente “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”! Nada consegue preencher o sentido deste dia, e do outro que chega amanhã!
Falta Deus, mas já se nota algum arrependimento.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Enfim, tesos

“ A tendência geral da humanidade é a de os mais pobres aspirarem ao nível de vida dos mais ricos. A diversidade nacional de moedas tende a diminuir as diferenças de desenvolvimento económico, e a prazo a igualizar a situação económica dos países entre os quais o comércio é livre. A unicidade da moeda, pelo contrário, tende a perpetuar as diferenças de riqueza entre as nações”.
Estava eu a reler esta passagem de um interessante artigo de Pedro Arroja, publicado em 1989 na revista “Portugueses”, quando me ocorreu o desabafo que serve de título ao postal!
“Talvez que eu seja um caso isolado”, como diz a canção, mas estou certo que “não sou o único a olhar o céu”. Neste caso o inferno do quotidiano, que atinge em cheio o bolso de uma grande maioria de portugueses, por enquanto mais ou menos silenciosos.
O texto chama a atenção “que para os países mais pobres da Comunidade, a criação de um Banco Central comum e de uma moeda única seria um factor impeditivo do progresso, perpetuando a sua pobreza relativa, face aos países mais prósperos da Comunidade. Que o Banco Central Europeu contribuiria para aniquilar a diversidade cultural da Europa, centralizando o poder político nas nacionalidades relativamente mais numerosas e ricas do norte, com consequências difíceis de antecipar”.
Hoje já não há muito para antecipar: agarrámo-nos à união europeia pelos piores motivos, ou seja, na tentativa de escaparmos às nossas responsabilidades históricas; fugimos “sem vela e sem navio”, e por isso fomos incapazes de tirar partido da situação, como outros tiraram; pensámos, e ainda há quem pense, que aquilo foi feito para nós, e para sempre! Limitámo-nos a receber e a gastar o preço da nossa independência.
No meio da desorientação geral ouvem-se agora estranhas vozes aconselhando a pista marroquina!
E continua a prometer-se o futuro a quem renegue o passado!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Já sabíamos

“A Monarquia sai mais barato”, pode ler-se no DN de hoje, que por sua vez transcreve uma notícia do jornal espanhol “El Economista”.
“O jornal espanhol fez as contas e chegou a uma conclusão: a Monarquia sai mais barata que a República. (…) De acordo com os valores recolhidos pelo jornal, que representa um estudo comparativo, baseado em números redondos, a Monarquia espanhola exige incomparavelmente menos dos contribuintes que a Presidência da República francesa…Traduzido em números, a Coroa espanhola gasta em termos globais cerca de 25 milhões de euros/ano. Um valor muito abaixo dos 56,3 milhões de euros anualmente concedidos à Coroa Britânica e muito próximo dos 23,4 milhões atribuídos ao Principado de Mónaco.
Quando se olha para a França, pelo contrário, os números disparam em matéria de custos relacionados com a Presidência da República: “Aqueles que conseguiram decifrar a complexa contabilidade do Eliseu” escreve o jornal espanhol, “calculam que o seu custo se situe nos 90 milhões de euros/ano”!
E depois, digo eu, a monarquia tem outras vantagens: poupa os contribuintes a alguns desabafos irreprimíveis, como por exemplo – “ sou de centro esquerda”!
Com efeito não vislumbro a possibilidade de expressões semelhantes, quer da parte da Rainha Sofia de Espanha, quer do Príncipe Filipe de Edimburgo.
Sai mais barato e é outro sossego.

Maria centro esquerda

Antigamente dizia-se: “pai rico, filho nobre, neto pobre”, uma sequência lógica em três gerações, reflexo de tempos que não são difíceis de identificar.
Hoje a coisa complica-se mas vai dar ao mesmo: “pai do Olhanense, mãe do centro esquerda, filho do Sporting ou do Benfica, e neto da extrema-esquerda ou da extrema-direita. E toda esta minha gente tem uma particularidade: vive e quer continuar a viver do Orçamento de Estado.
Escrevo esta reflexão sociológica ao correr da pena, num café, contemplando o escaparate dos jornais. Lá estava a vossa Maria a comunicar ao mundo: “sou do centro esquerda”.
Eu complementaria a legenda com a seguinte informação: e fui eleita, perdão, parece que o meu marido é que foi eleito, com os votos daquela direita que também é do centro-esquerda.
Saudações monárquicas.

domingo, dezembro 03, 2006

O calendário das trevas

Estragaram-me a data, lixaram-me o dia, e no próprio dia da independência, celebraram todas as dependências!
Trocaram-me o céu pelas doenças da terra, apagaram heróis em nome do medo, faltou apenas declarar, universal, o dia do umbigo final!
Contaram-me os ossos e todas as vísceras, e tanto mexeram e remexeram, que do meu corpo, nada sobrou!
Dezenas de preservativos falaram de preservativos e de outros instrumentos de culto, a saber, sexo seguro, salas de chuto, mas sobretudo, falaram muito de comportamentos de risco! Qual risco? O de não usar preservativo ou o risco do próprio comportamento himself? Perdoe-se-me a redundância bilingue.
Quiseram justificar estilos de vida, e acabaram nos inocentes, como é costume!
E aqueles, meu Deus, gritaram sem acreditar na expressão! Os que foram infectados sem querer, os que tinham tudo para ser felizes e adoeceram!
Mataram o tempo sem falar das causas. Perderam-se no tempo das consequências!
Um comportamento de risco, e não há preservativo que lhe valha.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Hoje

Hoje, podia fazer-te simplesmente um poema, uma canção de gesta, um mosaico florido, um hino de glória.
Podia oferecer-te uma história de amor, um livro de aventuras, que nada seria, comparado com o destemor desse dia!
Contra a corrente, a favor da esperança, pela independência!
Foi senha de fidalgos, coragem de portugueses, senhores do seu destino!
Quantas vozes avisadas para desistirem? Quanta indiferença igual a hoje?!
Tão poucos eram, quarenta, aprendi no livro da quarta classe!
Foi hoje, em 1640.
Ainda te lembras?

quarta-feira, novembro 29, 2006

Droga-te com cuidado

Evita as doenças, eu ajudo-te a consumir nas melhores condições, é uma pena que isso te faça mal à saúde! Saúde física, bem entendido, aos dentes, ao fígado, aos pulmões, à pele, tens aqui seringas, vou ali buscar heroína e já venho, passarei por aqui todos os dias e conversaremos sobre a tua vida, não queres um prato de sopa?! Até amanhã.
Este diálogo existe, eu não posso julgá-lo, nem sequer criticar quem assim procede. Muita gente de boa fé acorre na tentativa de combater um estranho mal que tomou conta do mundo, que não conseguimos atribuir aos nossos hábitos, aos valores que abandonámos, porque isso, sim, seria doloroso, estávamos a pôr em causa tudo aquilo em que hoje acreditamos!
Mas se esta atitude ainda se pode compreender em termos individuais, já não é aceitável que o Estado permaneça cego perante o erro, ocupando o discurso com a ‘redução de danos’, prova insofismável de conformismo, ao mesmo tempo que envia para a sociedade uma mensagem terrível – a droga só é um mal porque não te faz bem à saúde!
E não se diga que todas as ajudas são boas, porque algumas acabam por inviabilizar ou anular outras, bem mais condizentes com a dignidade da pessoa humana.
Ainda por cima, sem êxito: o aumento do HIV e das suas consequências, como a tuberculose, espelham o fracasso desta política!
Neste contexto, é lícito perguntar: mas porque não muda o Estado, ou o Governo, de política?!
Porque isso seria refutar a filosofia triunfante, obrigaria a rever conceitos, a recuperar valores entretanto postergados, com consequências tremendas para os senhores do regime.
Não vejo outra explicação.

terça-feira, novembro 28, 2006

A descoberta

Próximo de Badajoz, Sócrates olhou pela primeira vez a Península e descobriu imediatamente que havia ali um destino comum. Tudo se conjugava para o efeito, desde logo a geografia, a diversidade das regiões e dos seus habitantes, a origem da língua, também o gaz e a electricidade, o tgv, apenas a história se afastava deste padrão uniforme, desta lógica identitária!
Nada que não se resolva, pensou. Não vamos é alimentar este divisionismo ridículo, obra de ingleses ou excesso de virilidade do primeiro Afonso. Não nos podemos esquecer que já vivemos semelhante tentativa, estou a pensar nos Filipes, pois claro.
Foram sessenta anos de felicidade abruptamente interrompida por um punhado de fidalgos incapazes de compreender o sentido da modernidade, a inevitável inclusão. Tudo aconteceu num primeiro de Dezembro de 1640!
Tentaremos pois de novo, mas com uma variante: é preciso manter uma falsa independência, fictícia em tudo, menos nos cargos públicos. Continuaremos a fingir que somos um país, elegeremos os nossos deputados, o primeiro-ministro serei eu, por muitos e bons anos, sem esquecer que um presidente da república faz sempre parte da fachada.
A população apertará o cinto durante o período de adesão que nos for imposto por Madrid, mas a ‘cenoura’ do salário castelhano, o prometido desenvolvimento e outras vantagens futuras, hão-de por certo amaciar os portugueses.
Portugueses que, perdidas as colónias, já pouco têm em comum.
E depois, é uma enorme alegria trabalhar com Zapatero, um homem atirado para a frente como eu!
Ainda estou admirado como é que ninguém reparou na evidência: a Península Ibérica afinal é só uma!

segunda-feira, novembro 27, 2006

Sampaio Não

Mas parece que Sampaio sim!
O ex-presidente de todos os portugueses, estatuto de que beneficia e lhe vale um conjunto de mordomias e prebendas, com direitos e deveres incluídos, veio a terreiro anunciar o seu envolvimento na campanha pelo sim ao aborto!
Pergunto-me: Por onde andará a tão celebrada ética republicana?
É que não fica bem manter o estatuto de ex-presidente da República, sustentado por todos os portugueses, e ao mesmo tempo participar politicamente em campanhas que inevitavelmente dividem a sociedade.
Mas então, como poderia o cidadão Jorge Sampaio, sem comprometer aquele estatuto, exprimir-se nesta relevante questão?
Simples, fazendo como a grande maioria dos portugueses, ou seja, votando no referendo.
E mais não digo para não instrumentalizar a vida de ninguém.

sábado, novembro 25, 2006

Um dia de Comandos

Hoje paguei a bica ao Inácio. Ainda trazia a boina encarnada na mão, tinha vindo da Amadora, onde vai todos os anos para relembrar com os antigos companheiros de armas o dia 25 de Novembro de 1975.
Ele foi um dos muitos desmobilizados que acorreu à chamada e que participou nas operações que deram o triunfo à república que temos hoje.
Nada de especial, disse-me a brincar, para quem arriscou a vida, sempre disponível para defender a Pátria, como já tinha feito em Angola e Moçambique! À mesa do café, na minha frente, estava um soldado português!
Em poucas palavras disse-me o que a memória ainda guarda: frente ao portão fechado da Força Aérea em Monsanto, o Jaime Neves deu três minutos para se renderem, mas ao fim de dois minutos o portão abriu-se, estava toda a gente perfilada, e as armas empilhadas no chão. Em todos os outros locais sucedeu o mesmo, ou quase o mesmo, os cabecilhas fugiram, as forças oposicionistas renderam-se. Na Ajuda caíram dois Comandos atingidos cobardemente pelas costas.
O Partido Comunista, que manobrou sempre na sombra, fingiu-se de inocente e foi poupado no fim.
Enfim, digo eu, mas uma bica foi pouco.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Uma biografia do Duque de Bragança

O livro, “D. Duarte e a Democracia – Uma Biografia Portuguesa”, da autoria de Mendo Castro Henriques, foi ontem apresentado ao público, em concorrida sessão de lançamento.
O autor, professor da Universidade Católica e nosso companheiro de armas no “Duas Cidades”, lembrou que o biografado representa a “pátria com rosto humano” aludindo à necessidade de “estarmos preparados para o eventual regresso da monarquia”.
Registe-se que a data de lançamento desta biografia, coincidiu com o dia de anos da Senhora Dona Isabel de Herédia, Duquesa de Bragança.
O Interregno não pôde estar presente neste acontecimento, sem dúvida importante para a causa monárquica, mas pelo que soube através da comunicação social e do que leu na blogosfera, sente-se em condições de dizer que constituiu motivo de surpresa para uns, aplauso para outros, e de repúdio para muitos, o facto de Manuel Alegre estar entre os convidados.
Coincidindo com a minha posição de fundo e de sempre, não faço comentários nem teço críticas que possam envolver SAR o Duque de Bragança. É uma questão de princípio. No que diz respeito à prossecução dos objectivos que me norteiam no reencontro de Portugal com a sua história, basta-me repetir o lema da minha cruzada: os republicanos que fizeram o nó que o desatem. Como é que entendem fazer isso, é com eles. A mim cabe-me apontar o erro e chamá-los à razão, nada mais posso nem devo acrescentar.
A história há-de julgar-nos a todos.
Saudações Monárquicas.

quarta-feira, novembro 22, 2006

O argumento

Quando a coisa aquece, quando o banqueiro do povo, leia-se Garcia Pereira, tenta convencer a Banca a transformar-se na Santa Casa, eis que surge o argumento decisivo:
- Mas de que serve atacarem a banca se somos um dos sectores que mais se modernizou, um dos mais competitivos e aquele que melhores resultados obtém! Que o Governo se preocupe com as actividades que não souberam acompanhar os tempos, com essas entidades deficitárias que por aí pululam!
Se ouvi bem, este argumento de João Salgueiro era para mim, pior, era contra mim. Entidade deficitária me reconheço, os meus pobres euros nunca chegam ao fim do mês! Já envergonhado, ponho os olhos na banca, e pergunto: onde é que eu falhei? Porque me atrasei desta maneira!
Recobro a memória e lembro-me de semelhante discurso pronunciado pelos donos da bola! Valentim Loureiro, também ele pedia justiça para o futebol, essa laboriosa actividade perseguida pelo fisco, a contas com a mesma justiça, e que tão bons resultados tem obtido lá fora, o orgulho de uma nação!
Acordo para a realidade e verifico que a maior parte dos grandes negócios deste mundo assentam em organizações de excelência, difíceis de abater, e também elas com graves problemas com a lei!
Aprendo tardiamente uma lição de vida!

segunda-feira, novembro 20, 2006

Humor Oficial

Já tínhamos os bonecos da “Contra-informação”, temos agora que acrescentar o quarteto do “Gato Fedorento”! Na televisão pública, acho um bocadinho demais, não havia necessidade…
Sobre os bonecos, já em tempos me pronunciei. Quanto aos tarecos, referi na altura, que a política de admissões de funcionários públicos não devia passar pelos ‘entertainers’. Mas pelos vistos, passa!
E acontece o inevitável – as gracinhas têm a mensagem da propaganda oficial, e por conseguinte, para além de ser batota política, contribuem para estupidificar a população. Ah, mas a malta gosta, diz um dos tarecos.
Resposta: a malta também gosta de outras coisas que o Estado não deve fornecer ou proporcionar.
Ah, mas o Estado fornece e proporciona algumas dessas coisas.
Resposta: pois então que se revejam as funções do Estado, eu é que não sou obrigado a pagar a propaganda do regime.
É claro que o diálogo prosseguia, e eu perdia no fim. Ainda assim assiste-me o direito de protestar, neste espaço que é meu, por enquanto relativamente livre, excepto da minha própria censura.
Mas isto percebe-se melhor com exemplos.
A gracinha da noite era “uma teoria da conspiração” e adivinhem contra quem? Santana Lopes, pois claro. São tantos os candidatos antílopes, uns mais ornamentados que os outros, que chego a pensar, perfidamente, na frase atribuída a Adolfo Hitler – “Digam bem de mim, digam mal de mim, mas falem de mim”!
Uma coisa eu pergunto: porque será que nunca se lembram de parodiar, achincalhando, algumas das vacas sagradas do regime? Ou o próprio regime enquanto tal?
Bem sei que isto é muita areia para a camioneta dos tarecos, duvido até que saibam o que é o regime, mas eu explico: porque não se lembram de caricaturar ou ridicularizar o regime republicano?
Estão a ver: era giro.
Outra pergunta que se impõe é a seguinte: tencionam os tarecos aplicar a receita humorística ao processo da Casa Pia, por exemplo, ou a outros processos que ao poder fáctico interessa desacreditar?
Lá está, outro tema para entreter o pagode.
Termino com a habitual sugestão ao Governo: se, para emagrecer a despesa, tanto se aplicam em despedir funcionários públicos, comecem por estes tarecos.
Ah, e não se esqueçam dos bonecos.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Manias

Intimado pela ‘Torre a expor intimidades, não fujo ao desafio, com perdas e danos incluídos. O maior risco é perder noiva, outro, não menor, envergonhar amigos. Pois que seja:
Manias, tenho muitas, são mais do que as cinco permitidas, e a maior delas já conhecem – quando vou a qualquer lado, tomo rumo no Restelo! Mas não é para a Índia que sigo, a via marítima tem-se limitado ao barco da Trafaria.
Tenho dificuldade em livrar-me das coisas, e assim vou guardando e arrumando objectos, que estou certo, nunca utilizarei.
Sobre livros, custa-me ultrapassar as primeiras páginas, que vou lendo e relendo, na vã esperança de por esse caminho chegar ao fim!
Fui columbófilo assanhado e enquanto esperava nervosamente o regresso dos pombos, entretinha-me sem querer a trincar a ração dos animais. Para quem não saiba, devemos ter à mão um pouco da mistura de sementes para fazer com que os concursistas entrem rápidamente no pombal, ganhando assim minutos preciosos na classificação.
Sou supersticioso a jogar, seja qual for o jogo, e por aí enredo uma série de coincidências favoráveis ou desfavoráveis. Muitas vezes jogo contra mim e houve tempos em que só me deitava, depois de fazer determinada paciência.
Sonhar, é uma mania como outra qualquer, e eu habituei-me a sonhar.
E pronto, cumpri os mínimos. Mas estou convencido que quem me conhece não terá dificuldades em identificar manias bem piores.
Saudações monárquicas.
Há quem pense que é mania!

Post-scriptum:
- A ‘Torre’, é ‘A Torre de Ramires’, ver link na coluna dos blogs.
- Atendendo à minha solidão blogosférica, não posso nomear subsequentes.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Breve

“Não foi para isto que o PS ganhou as eleições”!
Quem o diz é a presidente da Caixa de Previdência dos Jornalistas perante a ameaça do corte de regalias!
Para situar a questão, esclarece-se que a senhora presidente, é a mãe do Ministro Costa, que por sua vez é irmão de outro Costa, o Ricardo, subdirector de informação da SIC. Parece que havia a garantia por parte do ministro da tutela, o amigo Vieira da Silva, que o dito subsistema de Saúde passaria incólume à uniformização em curso! Afinal, não foi possível garantir esse estatuto de excepção e por isso se compreende a reacção indignada da senhora presidente.
Portanto, ficámos a saber que não foi para isto que o PS ganhou as eleições!
Está bem.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Eco ponto

Acordei ao som de gemidos.
Veiga, que já foi do Porto e agora já não é do Benfica, o mesmo que passou pelo Estoril, está a contas com um banco do Luxemburgo. Foram-lhe à casa e tiraram-lhe tudo, até o tapete, oiço na telefonia.
Vieira, seu companheiro de armas, não aceita a demissão, gesto honrado que visa poupar o Benfica a algum dissabor. Danos colaterais dizem os entendidos em gramática.
Os jornais da especialidade foram mais uma vez apanhados de surpresa, pois quem acompanhou o assunto em directo foi a TVI, e já se murmura uma cabala contra o Benfica, a nossa Instituição de referência.
Espera-se, esperamos todos, pela onda de fundo, um movimento nacional de desagravo que possa reconduzir o injustiçado Veiga ao lugar que merece. Já se fala em recorrer ao Tribunal Constitucional, pois é para isso que ele serve.
Vamos aguardar com a serenidade possível pelo desaguar dos acontecimentos. Não é preciso puxarem pelo autoclismo, o saneamento básico e a lei da gravidade encarregam-se da ocorrência.

domingo, novembro 12, 2006

Um discurso alternativo

Não há despedimentos para ninguém.
O Estado não é uma empresa, não faz reduções de pessoal ou despedimentos colectivos. Também não pode encerrar ou deslocalizar-se, assim como não deve pensar em sueco ou finlandês porque os portugueses não percebem. Não há aqui demagogia, mas o simples cumprimento de um princípio: quando o Estado se responsabiliza pela admissão de alguém, esse alguém, desde que cumpra, não pode ser atirado pela janela para a terra de ninguém. Seria um absurdo que a entidade que tem como objectivo combater o desemprego, se proponha promovê-lo!
Ainda por cima quando não há supranumerários em Portugal!
Ficámos a saber que temos poucos funcionários públicos no conjunto da população activa – 17,6% – uma das taxas mais baixas da união europeia! Se estão bem dirigidos, se a organização e a eficiência correspondem às exigências, isso é outra coisa.
De qualquer modo, dizem-nos e acreditamos que o Estado está muito gordo, que a despesa é excessiva, que atrapalha o desenvolvimento!
Se o problema é a obesidade, faz-se dieta, e uma boa dieta é o exercício, não é preciso eliminar ninguém!
Há mil maneiras de fazer bacalhau: reduzindo a gordura de alguns salários, impondo tectos, limitando assessorias, bastando para tal acabar com os ministros político-partidários que por não perceberem nada das respectivas pastas, são obrigados a rodearem-se de especialistas para tudo. Neste capítulo parece que batemos recordes na Europa – a Côrte de cada ministro anda em média por 136 pessoas!!!
Quanto às dietas que passam pelo exercício, nada melhor que aproveitar o local e o posto de trabalho!
Mas há mais.
A solidariedade não se decreta, não se impõe pela força, e neste sentido é um erro manter o módulo republicano da guerra civil permanente! Não podemos andar a estabelecer diferenças artificiais entre as pessoas, dividindo e hostilizando aqui para obter ganhos ou popularidade acolá! E no fim esperar uma mobilização geral para o objectivo proposto! Não há milagres na despesa sem a boa vontade de todos os portugueses.
E já que estamos com a mão na massa, uma nova política de admissões na função pública também podia ajudar a reduzir a despesa: em primeiro lugar, acabando com o escândalo da via-verde partidária, fonte de corrupção, despesismo e incompetência; em segundo lugar, valorizando a experiência, sem limite de idade, em futuras admissões. O Estado aproveita quem já provou ser útil no privado, poupa na formação, e contribui para a redução do desemprego, dando uma oportunidade a tantos e tantos portugueses que o mercado deitou fora, como se de lixo se tratasse.
Um bom exemplo de solidariedade e melhor utilização dos impostos.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Imagens do Orçamento

Já não é a primeira vez que esta discussão me transporta para o interessante mundo da tauromaquia numa associação de imagens impressionante! Faço-o sem qualquer maldade, no maior respeito pela festa brava e naturalmente pelo orçamento. Mas é irresistível, olho para o hemiciclo e lembro-me do redondel, olho para o orçamento e lembro-me do animal! Bem servido de cornos, visto de longe, tem boa aparência, mas quando a gente se aproxima é uma desilusão! O bicho está aventado, balofo, não tem músculo, aquilo é só gordura. Também é fraco de artelhos, ajoelha ao primeiro capotazo e pior, dá sinais de mansidão. Sonha com as tábuas!
Que fazer? Devolvê-lo aos chiqueiros? Mandar entrar as chocas? Não podemos, a casa está passada, não há um bilhete, o inteligente que dê início à função.
A lide conta-se em poucas linhas:
O maestro e a sua quadrilha brindaram a faena, à banca e a outras instituições de beneficência.
Mas quem levou com as bandarilhas foram os funcionários públicos.
E quem vai pegar o animal somos todos nós!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Nuvens de Outono

Hoje tenho a certeza que nenhum holocausto existiu e hei-de sepultar essa verdade comigo. Guardo outras mil certezas impossíveis, impronunciáveis, que me podiam valer o cadafalso. Conheço bem os vencedores da guerra, sei dos heróis que nos contaram, e dos vilões que nos mentiram.
Para quê?
Queimem em todas as bandeiras, a falsa liberdade, a opressão denodada, a raiva nos dentes da hiena. Escondam de mim esses aliados sem vergonha nem fé, que abanam a cauda no silêncio cúmplice.
Vai morrer um homem, um criminoso, um amigo, um monstro, um deus.
Para quem não saiba do que falo, vem no jornal, um tribunal escolheu a vítima ao acaso, mas podias ser tu, descendente rapace que espalhas o ódio com virtude, que trocaste a cara pela tua máscara. Cumpre o teu destino.
E que o sangue dos inocentes esteja sempre contigo.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Impróprio

Leio a sentença que pesa sobre a vida de Saddam Hussein – morte por enforcamento.
Depois disto o meu espírito desliza sem querer para a barbárie do nosso tempo, para os julgamentos políticos de Nuremberga, dos oficiais japoneses por terem perdido a guerra, para tantos e tantos actos justiceiros do homem todo-poderoso que tem a arma letal na sua mão, só por isso.
Mais bárbaros que os bárbaros.
‘Ai dos vencidos’ – esta exclamação do gaulês Breno quando recusou aos romanos a clemência que lhe pediam, tinha ainda assim mais nobreza que a frase do presidente americano que se congratula com a decisão do tribunal iraquiano!
Pena de Saddam?
Pena sobretudo dos seus carrascos e de quem compartilha a mesma crueldade.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Os passa-culpas

O truque é infantil mas tem surtido efeito porque os incautos são imensos e mordem o isco com tal força que ficam agarrados ao anzol!
Se a vida afinal não se referenda para quê tanta celeuma? Se o estado de direito não é o céu, nem coisa que se pareça, para quê invocá-lo?
Mas se a questão se resume a sentar ou não sentar uma mulher que aborta no banco dos réus, podemos tranquilamente falar sobre isso. Mas nunca colocando no prato da balança a vida de ninguém!
No dia em que isso acontecer, independentemente do número de semanas da criatura, quando a comunidade decidir que os que podem nascer são propriedade de alguém, seja esse alguém, uma pessoa, várias pessoas ou o próprio Estado, nesse dia acabou a maternidade, a palavra mãe deixou de fazer sentido, será mais justo chamar-lhe reprodução assistida.
A partir daqui ficou instituída a lei do mais forte em todas as relações humanas! O critério que permite nascer será o mesmo que permite matar. No caso da vida intra-uterina, depende da vontade dessa nova deusa da procriação – a mulher. Que será omnipotente dentro dos prazos legais!
Se soubesse que a minha vida depende apenas de um acto de generosidade de uma pessoa a quem chamo mãe, o mundo ruiria sobre a minha cabeça. Se soubesse que afinal não faço parte desse transcendente que a maternidade aceitou mediar sem reservas, preenchendo o mistério que me liga ao Criador, então a minha vida e a dos meus semelhantes passaria a ter um valor meramente utilitário.
E agiria em conformidade: o que me agrada ou não me incomoda pode viver; o que me desagrada e me incomoda pode morrer. A fórmula de manifestação desta vontade é indiferente, voto secreto ou braço no ar, sorteio ou roleta russa, fica à escolha de quem detém a força. A fragilidade jamais terá perdão!
Um longo intróito para dizer que não foi a transcendência da vida que se debateu nos ‘prós e contras’ da televisão pública. Ninguém ousou faze-lo!
Nestas condições o debate resvalou inevitavelmente para uma discussão, mais ou menos partidária, de equívocos e mentiras.
A mentira da despenalização não resistiu a uma simples pergunta: e depois das dez semanas, a mulher que aborta vai ou não sentar-se no banco dos réus? E mesmo que a lei institua um crime sem pena, é ou não crime abortar fora do prazo legal?
Mas teria sido importante colocar outras questões aos defensores da liberalização do aborto, por exemplo: Que sinal é que este referendo acaba por transmitir à população? Será um sinal de defesa da vida? De protecção dos mais frágeis? Ou será o império da vontade a ditar a sorte dos indefesos?
O equívoco também atingiu os partidários do ‘não’ quando se recusaram a responder se a defesa da vida intra-uterina inclui ou não os que podem nascer de um acto de violação? A vida de um inocente pode remir o crime da concepção?
Esta pergunta não pode ficar sem resposta.
Termino ditando para a acta uma certeza incómoda e que pode frustrar alguma contabilidade duvidosa: quando há sentimento de culpa, o aborto é sempre clandestino. Não depende da lei, do dinheiro ou da eficiência da clínica.
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Post Scriptum: Publicado também no blog colectivo - "Pela Vida".

segunda-feira, outubro 30, 2006

Assim vai o mundo

Lula ganhou a segunda volta das eleições e mantém-se como Presidente da República do Brasil. A vitória, incontestável, dividiu mais uma vez o país em duas partes, tantas quantos os candidatos, ou seja, em cada dez brasileiros que votaram, seis apostam no Lula, e quatro gostam mais do candidato com nome difícil.
A divisão estende-se ao próprio território, pois sabemos que o Nordeste votou maioritáriamente no tucano, enquanto que Lula obteve a maioria dos votos na região onde nasceu.
No seu discurso, o vencedor dividiu a população entre mais carenciados e menos carenciados, prometendo mais atenção aos primeiros.
Finalmente e para que tudo acabe em beleza, as previsões indicam que os brasileiros vão continuar a emigrar para a Europa e Estados Unidos em busca de melhores condições de vida!

No Iraque, a violência prossegue, abrindo caminho para a democracia! Uma bomba rebentou ontem em Sadr City vitimando cerca de sessenta pessoas e ferindo mais de uma centena. A origem do atentado não se conhece mas os iraquianos não têm dúvidas – a culpa é dos invasores americanos.

Em França, os ‘jovens’, insatisfeitos com ‘não se sabe bem o quê’, continuam a incendiar viaturas e a assassinar pessoas inocentes. O primeiro-ministro francês, que gosta de comemorar a tomada da Bastilha, ameaça agora prender todos os que prosseguirem com estes actos criminosos.

A Europa sitiada de Durão Barroso, quer uniformizar o mercado da energia, única maneira, disse, de fazer frente aos sitiantes.

Em Portugal, o Belenenses ganhou na Vila das Aves aproximando-se assim dos clubes da segunda circular, que por sua vez não foram felizes nas respectivas deslocações. Assinale-se que no jogo das Antas, o brasileiro Andersson fracturou o perónio, vítima de uma entrada muito dura do benfiquista Katsouranis, lance que não foi sancionado pelo árbitro e que a comunicação social se encarregou de escamotear!

quinta-feira, outubro 26, 2006

Sócrates, esse desconhecido!

Não existem razões para duvidarmos de Sócrates.
Sócrates é um cidadão honrado, não faz mais porque não pode, não devemos ser injustos para com este homem.
Confesso que desconfiei da sua eleição, imaginei um enorme biombo articulado, capaz de esconder vários processos judiciais incómodos para o regime. A composição do governo não me sossegou, vi os amigos do injustiçado Ferro, vi os rostos das escutas!
Mas Sócrates é por certo um homem honrado e animou-me com a promessa dos alka seltzers fora das farmácias, frustrando assim esta azia duradoura!
Tem sido infeliz na propaganda, e porque a realidade é feroz, as más notícias chegam todos os dias a casa dos portugueses: nas reformas sobe a idade e não o valor; as taxas moderadoras renascem; a electricidade é práticamente um imposto; as ‘scuts’, afinal, pagam portagem; o programa eleitoral não é bem assim; etc. etc.
Mas Sócrates é por certo um homem honrado.
É ele o engenheiro-chefe ou arquitecto deste promissor país de emigrantes e imigrantes!
Portugal está na moda – não há africano, ucraniano ou sul-americano que não nos procure, e com eles, vem o necessário investimento em segurança, saúde, habitação, mais subsídios, mais etc. e etc.
É o que podemos chamar uma imigração de incentivos – que nos obriga a gastar, sem destino ou fim à vista! E como os portugueses não conseguem viver com os salários que pagam a estes imigrantes de luxo, lá teremos que continuar a emigrar para países mais desenvolvidos que o nosso!
É uma verdadeira transfusão populacional, último grito em modernidade e bem-estar, o milagre do pleno emprego, os imigrantes para cá e os portugueses para lá!
Mas Sócrates é um homem honrado e nesse sentido já fez aprovar legislação que nos coloca entre os países mais evoluídos do mundo – refiro-me às salas de chuto, onde o estado português se propõe ajudar os dependentes a permanecerem dependentes!
E para quem o acusa de proteger a imagem, ei-lo que dá sinais de vida para anunciar o empenhamento pessoal na próxima campanha pelo ‘sim’ ao aborto!
Fica claro que ninguém pode, em consciência, duvidar dos propósitos de Sócrates!
Por isso, portugueses, a pergunta é simples – o que fazemos com este homem que apenas se engana e nos engana?
Vamos continuar a sustentar as suas manhas, a astúcia com que se esconde da verdade, a propaganda com que assola os justos?
A decisão é vossa.

terça-feira, outubro 24, 2006

A factura

A factura de electricidade que aterrorizou o país veio à televisão falar com Fátima. Usa barba, é uma sumidade, e afinal é amigo do consumidor!
Explicou que só representa 25% do total da factura e que o grosso da coluna diz respeito à produção (65%), valor inelutável porque assente em contrato com o Estado.
Também ficámos a saber que os restantes 10% nada têm a ver com os custos da electricidade! São verbas para benefício de várias entidades, como câmaras municipais, energias renováveis, algumas rubricas difíceis de descodificar, até a taxa de televisão lá foi parar!
Para que tudo ficasse mais claro, o Deco de serviço ainda confirmou que estes ‘subsídios’, que saem directamente do bolso do consumidor doméstico, têm vindo a agravar-se nos últimos tempos!
Estou esclarecido, mas Fátima não. A cada intervenção só se lembrava da calote antárctica a derreter e da imperiosa necessidade de pouparmos electricidade! Mas para quê, se mais de 75% da factura é independente do consumo final!
Ou seja, por mais que eu poupe, a factura aumenta sempre!
Foi neste estado de espírito que resolvi poupar-me poupando energia. Desliguei a televisão.

domingo, outubro 22, 2006

O véu socialista

Nada tenho contra o véu islâmico, respeito, gosto de ver, ou seja, de não ver, o mistério que ele encerra sempre me fascinou! Também não quero integrar ninguém pelos meus hábitos, esperando apenas a reciprocidade de não me obrigarem a usar turbante. Aliás, integrar, para mim, significa aceitar o outro, não própriamente obrigar o outro.
Feito o intróito analisemos a mistificação socialista, serapilheira a fingir de véu, serradura para os meus olhos, que recomeçou com esta lei agora aprovada sobre a “interrupção voluntária da gravidez” até às dez semanas. Reparem que escrevi ‘ivg’ e não aborto, porque a sociedade infantil e mal-educada que estamos a construir, é muito sensível!
Eu é que continuo pouco disponível para enfiar barretes! Vou enfiando alguns mas nada de exageros.
Passando ao largo de outras questões, sem dúvida importantes, vejamos o que se esconde sob ‘o manto diáfano da fantasia’:
Não foi por acaso que o ministro Correia de Campos veio a público dizer que o Serviço Nacional de Saúde estava preparado para responder às consequências da lei! Isto deve significar que já não existem doentes em listas de espera para intervenções cirúrgicas, e sendo assim as tais ‘gravidezes indesejadas’ podem então ocupar os hospitais públicos ou subsidiados para corresponderem aos pedidos de ‘ivg’! A gravidez ainda não é uma doença, para lá caminhamos, mas enquanto não for, santa paciência, não quero acreditar que um verdadeiro doente possa continuar em fila de espera enquanto se fazem abortos pagos por todos os contribuintes!
Mas, o véu de serapilheira esconde ainda outra manobra real:
Não é também por acaso que já se fala em alterar o código deontológico dos médicos, por certo para eliminar um último obstáculo à consumação do aborto legal – refiro-me naturalmente à ‘objecção de consciência’ que hoje protege os médicos de praticarem homicídios contra a sua vontade. Está por certo na forja um novo conceito de “acto médico” que assim inviabilize qualquer recusa em realizar intervenções cirúrgicas, que por serem legais, passam a condicionar o citado código deontológico.
Palpita-me que o próximo referendo é só mais um passo. Uma coisa é certa, estes camaradas laicos, republicanos e socialistas que gostamos de eleger vão continuar a violentar a nossa consciência.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Doce canto furibundo

Doce canto furibundo, desta noite sem luar, és capaz de ser poeta, leva o canto até ao mar...
Do mar venho eu, quem pode ser arrais de tal embarcação!
Ponho o pé em terra e logo sou assaltado – sinto a mão pesada no meu bolso leve, grito, não é ninguém, se protesto ainda oiço – é para teu bem!
Triste sina, negro fado, deste canto furibundo, és capaz de ser poeta, leva o canto até ao fundo...
No fundo estou eu, quem me acode!
Puseram ontem um cavalo na cidade, um cavalo de pau, nada de novo.
De lá saíram como antigamente um grego e um cartaginês. Aníbal estava hirto e tisnado pelo sol. O grego era Sócrates mas não era filósofo.
Cavaqueavam.
O que combinaram não sei, ficou no segredo dos deuses. O grego parecia determinado e tomou rapidamente conta da situação. O truque, o mesmo de sempre: trazia um ramo de oliveira numa das mãos e uma boina na outra. Prometeu um chouriço a quem lhe desse um porco e a população, conformada, aceitou!
Aníbal ainda ajudou, deu uma volta com a boina e satisfeito acenou.
Doce canto furibundo, minha rosa sem jardim, és capaz de ser poeta, leva a cruz até ao fim...
Mas que mal fiz eu ao mundo para merecer sorte assim!

quinta-feira, outubro 19, 2006

“O Aborto”

“Aproximando-se uma nova consulta popular sobre a liberalização do aborto, importa a este jornal tomar uma posição sobre a matéria. Que só pode ser uma – opor-se a toda a forma de violação do Quinto Mandamento: não matarás.
Mas impõe-se também que como seu Director eu aqui especifique e fundamente a orientação que nesta matéria, imprimo no jornal.

O Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa disse, há dias, que este referendum “não é um problema religioso”.
E não é. Os problemas religiosos dirimem-se entre a consciência do crente e o seu Deus. Não em diplomas legais ou consultas populares.
Assim, a legalização do aborto é um problema de cidadania a resolver num Estado Laico. Mas sendo esse estado laico formado por milhões de cidadãos cristãos, natural é que estes projectem nas suas opções de voto uma idiossincrasia que tem como intocável o valor da vida humana. São opções pessoais que não se podem confundir com intromissões do plano religioso com o plano pessoal.

Filho e produto da chamada cultura ocidental de raiz greco-latina (caldeada, é certo por uma transmissão judaico-cristã), assumo orgulhosamente todas as conquistas da civilização resultante dessa cultura, nomeadamente o direito à vida, a defesa dos mais fracos e dos sem voz e uma concepção de Estado defensor destes valores e seu porta-voz.
Por isso sou contra a morte de seres humanos. Estejam eles onde estiverem: dentro ou fora do ventre materno ou (por maioria de razão) comprovadamente inocentes, como são todos os nascituros. Por razões culturais e não confessionais.

Quero eu dizer com isto e para que tudo fique claro:
Se, por absurdo, a Igreja permitisse o aborto, eu continuaria, em nome da cultura e da civilização ocidental, a considerá-lo um homicídio de inocentes indefesos. E a pugnar para que o Estado de que sou cidadão (e não hóspede) assegure a sua defesa e impeça os atentados. Não é a punição dos culpados que me move. É a defesa dos inocentes e dos indefesos.

Por isso vou abrir as páginas deste jornal às pessoas que – com estas ou outras razões – entendem que o aborto é homicídio. Mas vamos parar de dizer que esta questão é religiosa”.

Com a devida vénia – Jornal “A Ordem” de 19/10/06
M. Moura Pacheco – Director

quarta-feira, outubro 18, 2006

Lições de unidade

“A formação do Estado Imperial Brasileiro remete à colonização portuguesa que diferentemente da colonização do seu vizinho ibérico, une numa só nação todas as capitanias gerais. Em 1825, o Brasil, não mais uma colónia, conta com 18 províncias, as quais, após o desfecho da Confederação do Equador, compõem um único país. Em oposição, a colónia espanhola possui à época quatro vice-reinados e quatro capitanias gerais, que se transformam, ainda no século XIX, em 17 países independentes entre si”.

Um excerto lido ao acaso sobre a formação da grande nação brasileira, que me fez lembrar um dia da independência:
Celebrávamos o 1º de Dezembro num jantar de ‘conjurados’ e já no fim, na hora dos discursos, o deputado brasileiro Cunha Bueno, que tinha sido convidado para o evento, quis falar e virando-se para o Duque de Bragança ali presente, agradeceu ao Rei D. João VI, seu trisavô, a unidade e grandeza do Brasil! Uma lição de história que não esqueço.
Nesta hora em que mais uma vez se joga o destino daquele grande país, só me ocorre repetir o que peço para Portugal:
Deus guarde o Brasil.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Lusofonia da crise

Decorrem em Macau os Jogos da Lusofonia.
Passaram trinta anos sobre a revolução de Abril e subsequente descolonização!
Que sentimentos estamos a viver? São bons ou são maus?
Lusofonia é bom mas é curto.
O que se vive em Macau é mais do que lusofonia, ali a maioria dos habitantes não fala português, mas talvez subsista o laço da convivência secular. Essa convivência é que permitiu a realização dos jogos.
Os jogos não fabricam lusofonia, a convivência sim.
A convivência tem por base um destino comum, uma qualquer convergência de interesses, interesses diversos assentes numa garantia de perenidade.
Sabemos quem garantiu essa convergência no passado, foi a Instituição Real.
Quem pode hoje dar essa garantia?
Saudações monárquicas.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Dúvida fatal

Estou de facto indeciso sobre o tema!
Temos os discursos da corrupção na tomada de posse do Procurador. Temos o ataque à Madeira. Temos uma série de coisas sem importância!
Também podia estar quieto, não escrever nada, poupava-se tempo e paciência, mas fui apanhado em falso.
Ouvi aquilo outra vez, a pergunta fatal: então meninos quem foi o maior português de todos os tempos?! Traduzi para o melhor, porque à primeira vista, não me pareceu uma questão de centímetros.
Era o som familiar da sociedade recreativa dos comemorativos, era a primordial impotência que se apresta para mais um concurso da televisão! São os nossos óscares e não fazemos a coisa por menos – vale tudo, desde o Afonso Henriques até ao Sócrates português. Também valem os naturalizados, como por exemplo o Obikvelu. Se não estiver bem escrito não faz mal.
O tema tem de ser este.
O que me faz espécie, é a ideia em si, de onde terá partido, o que pretende obter! Será uma ingenuidade, uma parvoíce, ou querem embalsamar algum contemporâneo! Ou será simplesmente mais uma manifestação de nacionalismo bacoco!
Preciso de investigar e começo por uma hipótese: os autores de tão estupenda ideia devem ter em mente um arquétipo de qual seria o português ideal, e esse perfil não se pode afastar muito dos seus heróis do quotidiano.
Podemos imaginar: - o género não interessa, masculino ou feminino desde que não seja convicto; há-de votar pelo aborto; será laico e republicano; mora no bloco central; é democrata desde pequenino; europeu até à medula; divorciado ou mãe solteira; benfica ou sporting; etc. e etc.
Se não me enganei, podemos eliminar oito séculos de história, para fixarmos a nossa atenção nos vultos da república!
Mário Soares ou Maria Elisa?
Amália Rodrigues era católica e do Belenenses, não serve.
Afonso Costa é grande candidato e responde práticamente a todos itens! Só não sei se era divorciado!
Mas pode acontecer uma surpresa contra curricular, e então talvez ganhe Salazar.
Convenhamos que face à concorrência não é difícil.
Saudações monárquicas.

sexta-feira, outubro 06, 2006

A república de Cavaco

Bem, antes de começarmos, diz-me lá uma coisa, votaste no homem? Sim, tu que te dizes monárquico ou pelo menos, dás a entender que não és completamente jacobino, responde, votaste no homem?
O melhor é não dizeres nada, já chega de desgraças! Olha, a única consolação que tiro deste cinco de Outubro, sabes qual é?! Ainda não envelheci o suficiente para não me irritar, para não me apetecer atirar com o apara-lápis contra a televisão, afinal sou novo, estou vivo, agradeço a esta república de imbecis (e mentirosos), este súbito e periódico rejuvenescimento!
E a ignorância! Meu Deus, incomensurável, maior que a palavra! E o Cavaco sentadinho cá fora, no Largo da Câmara, mais republicano que os republicanos, no trono, à espera de adesão popular que felizmente não aconteceu. Valha-nos isso, a população está intoxicada mas já não ressaca.
Pode alguém fazer-me o encarecido favor de levar uns recados para o professor de Boliqueime? É por bem.
Então é assim, na expressão feliz da nossa ignorância:
A um maçon assumido como Soares, ou encapotado como tantos outros, admitimos que goste de celebrar a republica como forma de justificar erros passados, afinal, tem as suas referências na carbonária, no regicídio, nas perseguições à Igreja Católica, o ídolo é Afonso Costa, a média são três governos por ano, equivalentes a outros tantos golpes ou revoluções, etc.etc!
Mas com franqueza, quanto mais não seja por respeito à sua base eleitoral de apoio, convinha que o professor Cavaco fosse mais discreto e sobretudo mais inteligente. O senhor quer ser o presidente de todos os portugueses e ontem passou o dia a criar divisões, a insultar a memória de muitos de cuja herança se vangloria! É um contra senso, e o senhor ainda não percebeu.
Não percebeu que quando comemora a vitória da república sobre a monarquia, para além do acto absurdo de estar a celebrar uma guerra civil, não percebeu que está a transmitir a mensagem que o regime monárquico foi mau para os portugueses! Não acha que isso corresponde a uma tremenda estupidez, o que era o menos, se não tivesse consequências deseducativas sobre a população, muito em especial sobre os mais jovens, hoje, cada vez mais arredados da política!
Então Portugal não se fez em monarquia? O senhor que é professor, não pode dar de si próprio uma imagem tão infeliz! Os portugueses esperam de si esclarecimento, nunca confusão, ainda menos propaganda enganosa.
O que poderia então ter feito?
O regime republicano tem defensores e argumentos, o senhor pode naturalmente ser republicano e uma vez empossado na chefia de Estado também pode, com toda a frontalidade, exprimir a convicção de que neste momento, a república, é o regime que melhor serve os interesses de Portugal. O que não pode é participar em festins comemorativos de uma das repúblicas, a primeira; ignorar a segunda por conveniência de serviço; e tudo isto, com o ar triunfal de quem tem as quotas em dia, da terceira. Isso não pode, nem deve.
Porquê?
Porque se esqueceu da minha representação e porque Portugal não começou em 1910. Mas pode acabar, se continuar assim.
Saudações monárquicas.

Notícias do Condado

Aqui, na região autónoma portucalense, está tudo bem.
O projecto, iniciado no dia 5 de Outubro de 1910, tem vindo a cumprir todas as etapas previstas e quando faltam apenas quatro anos para o centenário, podemos afirmar com segurança, e porque não, com alguma satisfação, que o objectivo final será alcançado em pleno!
Não vos vou maçar com detalhes mas recordar apenas as linhas mestras que nortearam tão brilhante tarefa:
Eliminado o Rei, como calculam o grande obstáculo ao desenvolvimento do projecto, foi então relativamente fácil descaracterizar a população, retirando-lhe referências, até entrar num processo irreversível de perda de identidade.
Houve resistências compreensíveis que tiveram o apoio de forças retrógradas como a Igreja Católica, houve também a necessidade de refrear algumas reformas durante a ditadura, mas nunca tivemos dúvidas sobre a certeza do caminho traçado.
Hoje, e é para isso que quero chamar a vossa atenção, resolvida a questão colonial, e sujeitos aos beneficios de Bruxelas, conseguimos finalmente o efeito redutor que sempre desejámos, ou seja, estamos reduzidos à nossa expressão mais simples! É com isso que nos devemos regozijar, juntando a nossa voz à voz daqueles portugueses, e já são muitos, que querem ser espanhóis!
E pasmem, ironia das ironias, não se importam de ser monárquicos desde que o próximo Rei se chame Filipe!
Viva a república.

quarta-feira, outubro 04, 2006

A Mónica arrependida

Aquilo era um ritual para além do ordinário da Missa! No adro da Igreja de São Mamede esperávamos a saída das ‘Mónicas’, e lá vinham aquelas miúdas giríssimas, sempre acompanhadas pelos pais, ele, um senhor distinto, a mãe, uma senhora linda! Era um momento para ver passar a beleza.
Passaram mil anos e estou a ver uma delas na televisão. Está a confessar-se! Ou estará a justificar-se?
Penso que entrou decididamente nessa fase da vida em que a lucidez vai tomando conta dos nossos erros, vai desarrumando umas coisas que pareciam arrumadas e vice-versa. É natural.
Mas ainda hesita, não consegue assumir as suas origens, ainda tem vergonha de alguma coisa e por isso expulsa demónios com endereço errado!
Sem saber, este produto do Salazarismo, critica Salazar onde o ditador acerta! Sabemos hoje que quis contrariar o sistema mas que teve medo de perder o poder nessa guerra. Filomena Mónica não percebeu. Aliás, na crítica generalizada que faz a Portugal e aos portugueses denuncia as más companhias! Assemelha-se aos intelectuais queirosianos que diziam mal de tudo e de todos! Que também tinham vergonha das suas origens. E como praticavam a inacção, ai de quem se atrevesse a fazer alguma coisa.
Esta filha de Rousseau, escreveu ‘Os filhos de Rousseau’, uma crítica à educação de Abril, como já tinha criticado a educação do Estado Novo! Não percebeu que somos todos jacobinos, e por causa disso, a direita e a esquerda não se distinguem. Também por isso somos todos republicanos. A Filomena Mónica também é.
Fica provado que a beleza não chega para superar complexos.
Mas haja esperança, é uma pessoa inteligente, e vai por certo vencer os desafios que ainda a atormentam, o maior dos quais nunca conseguiu disfarçar naquela espécie de monólogo – a reconciliação com a Igreja Católica, de que faz parte, como eu próprio testemunhei na minha juventude.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Meu Brasil, brasileiro...

“Uma vez mais o povo brasileiro é chamado a tomar decisões que irão afectar de forma crucial a vida do país...”, releio num ‘guia’ do plebiscito que em 21 de Abril de 1993 decidiu pela permanência da república contra as expectativas da monarquia.
Escolheu, está escolhido, não há lugar para lamentações, apenas uma crítica ás perguntas então feitas, que confundiram, mais que esclareceram os eleitores!
Lembrei-me deste acontecimento porque sou monárquico, porque estou convencido que os brasileiros perderam aí uma oportunidade de ouro para acertarem contas com a história, para se tornarem de novo um país de topo no concerto das nações, como aconteceu no tempo de D. Pedro de Alcântara, o seu último imperador.
Hoje há eleições no Brasil, eleições que provávelmente não irão decidir absolutamente nada: ganhe um ou outro dos candidatos, o Brasil vai continuar a ser um país com ouro, petróleo e outras matérias-primas essenciais; com espaço imenso e um enorme potencial de desenvolvimento, mas os brasileiros vão continuar a ter que emigrar; as gritantes desigualdades sociais vão acentuar-se também; a insegurança e a violência, não vão diminuir!
Estas são certezas que se abrigam no íntimo de cada eleitor!
Por isso daqui de Portugal te lanço o desafio:
Acorda Brasil, puxa pela memória, afasta a propaganda enganosa, regressa à tua tradição monárquica. Precisas de um símbolo de unidade, um árbitro acima das facções, que bem poderia ser o Rei de Portugal se ele existisse, (se Portugal existisse!), mas não existindo, escolhe um Príncipe do Grão-Pará na Casa de Vassouras ou na de Petrópolis, e prepara então esse jovem para as futuras tarefas da Chefia de Estado.
Se o fizeres Brasil, verás que o futuro será brasileiro.

quinta-feira, setembro 28, 2006

28 de Setembro contra o inevitável!

A história é escrita pelos vencedores que uma vez chegados ao poder justificam o lance com a inevitabilidade dos acontecimentos! A ideia é perigosa e pretende fazer crer que o dia de amanhã será sempre melhor que o de ontem! Assim, e no limite, só para citar dois exemplos, a bomba de Hiroshima tornou-se inevitável e a invasão do Iraque também! E o mundo ficou melhor, conclui o mesmo raciocínio!
Contra esta lógica, contra os chamados ‘ventos da história’, se rebelaram num dia 28 de Setembro de 1974 muitos portugueses, a maior parte eram jovens, que não queriam abdicar do sonho de um Portugal ultramarino. Por serem jovens não pensavam em si, sentiam-se responsáveis pelas populações africanas, temiam uma catástrofe. Só isso.
Foram a jogo e perderam.
Ganharam os que hoje se sentam no Parlamento, os que ocupam as magistraturas, os que ao longo de trinta anos se instalaram em Belém.
O mar foi trocado por Bruxelas; as inevitáveis guerras civis aconteceram em todos os territórios que administrámos durante séculos; e até naqueles, como Timor, onde não existia a sombra de qualquer conflito, conseguiram os vencedores de Setembro de 74, ali semear a guerra e a discórdia!
África é hoje um continente assolado pela fome e pela destruição...sem fim à vista! As populações que foram enganadas, ou pura e simplesmente obrigadas a aceitar as ‘actuais independências’, abandonam o continente em massa, arriscando a morte na viagem!
Era também contra isto que aqueles jovens se manifestavam, agrupando-se para o efeito em pequenos partidos de que hoje poucos se lembram, que o tempo injustamente esqueceu.
Nada tenho contra o desenvolvimento, contra a verdadeira independência, mas pergunto, se era este o inevitável desfecho daquele dia em que lutámos contra o ‘inevitável’!

terça-feira, setembro 26, 2006

Portugal – Espanha

Começaram os jogos ibéricos!
O primeiro a entrar em campo foi Sócrates protagonizando em Madrid um confronto de estilos entre a moda italiana do corte e costura e a mesma linha, mas sem costura, de Zapatero. Um empate.
Preparado o terreno foi então a vez de Cavaco.
Uma deslocação difícil à vizinha Espanha, sem corda ao pescoço porque desnecessária, mas em comitiva comercial com o objectivo de surpreender a Dinastia dos Bourbon, com um GPS português!
E de que serve ao Rei um GPS, perguntam Vocês! Não faço a mínima ideia, mas sempre deu para mostrar que pode contar com a região autónoma portucalense na área das tecnologias de ponta.
Os jogos prosseguiram ontem à noite com a visita do antigo primeiro-ministro das Espanhas, José Maria Aznar, que revelou estar em magnífica forma! Devolveu com grande á vontade todas as bolas que a nossa Fátima lhe atirou. Relatemos alguns dos lances mais emocionantes:
- Depois de repetir o que todos sabemos, que governou a Espanha como se mais ninguém existisse na Ibéria, porque de facto não existia, Aznar deixou no ar a ideia de que essa política era para continuar, e independente do sono profundo em que jaz o vizinho do lado. O Atlântico (e arredores) é ou vai ser espanhol!
- Respondeu Portugal por intermédio de Ernãni Lopes explicando isso mesmo: se não valorizarmos de imediato as vantagens específicas que a História nos legou, estaremos condenados a servir de passadeira aos interesses estratégicos de nuestros hermanos, em terras de África e de Vera Cruz. E viva o velho!
A plateia agitou-se. Estavam lá quase todos os responsáveis pela divergência que todos os dias se acentua, estavam bem dispostos e nutridos, vê-se que a vida lhes tem corrido bem.
O resto do encontro foi irrelevante desde que se percebeu que a diferença entre o avanço espanhol e o atraso português, era uma questão de regime, mas que não se podia dizer isso!
Já no prolongamento, houve um último momento de excitação na plateia: Fátima divulgou o resultado de um inquérito que afirmava que 27% dos inquiridos admitiam que era melhor sermos todos espanhóis.
Os jogos prosseguem em Almeirim em data a definir.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Na estrada real

“Mas o Rei está apenas oculto, na ilha de encantos que é cada um de nós, e espera que a ele nos submetamos para que surja e salve; basta que acorde na alma de um de nós, para que também desperte nas almas que se perdem de tristeza e de dó pelas aldeias da Península, pela savanas de África, pelos palmares da Índia, pelas favelas de Paris ou pelas avenidas da Alemanha. Basta que num se erga; o Povo é ele e dele. Forças nenhumas se lhe poderão opor se ele próprio não provocar a batalha e se toda a sua coragem se concentrar, não em agredir, mas em se afirmar e em ser pacientemente, mas sem concessões, persistentemente, mas sem dureza, todo na tarefa, mas sem interesse seu, o guia que se espera, heróico e lúcido, ousado e calmo, aventureiro e lento. Todos em el-rei, el-rei em todos; e sem Rei nenhum, que o não precisamos para nada, pois o Rei o somos”.

Agostinho da Silva, in ‘Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira I’.
(Lido no - “Viva a República! Viva o Rei!”, de Tereza Sabugosa)

terça-feira, setembro 19, 2006

Postal de Setembro

Falavas da primavera sem saber, no tom dos teus olhos azulados, nas certezas impossíveis, na juventude da tua boca expressiva, nos dentes brancos do teu sorriso, mas querias dizer outra coisa que só eu ouvi no silêncio das palavras inocentes!
É assim...disseste, e não era assim concerteza.

Que sabes tu da primavera, da marcha inexorável do tempo, do fim do amor!
O que sabes desta estação descendente, que desce sem apelo nem agravo!

Mas o que interessa isso agora!

Coração ao alto, vou nascer amanhã, quem viver verá, no provérbio certeiro, na frase batida, a escrita fingida... de um sentir verdadeiro.

domingo, setembro 17, 2006

O fim de um princípio

O Sumo Pontífice deve representar a concórdia e a paz universal, é esse um princípio do Cristianismo, que os homens tentam prosseguir no sobressalto dos séculos.
Uma Paz Justa.
Por isso Bento XVI veio explicar o sentido das suas palavras quando evocou um episódio antigo, ocorrido em Bizâncio, onde o Imperador Manuel II, da dinastia dos Paleólogos, criticava a ‘conversão pela espada’.
Nada mais do que isto e logo se levantaram clamores do lado do Islão exigindo desculpas e retratações! Ridículas e encomendadas, por certo.
Já hoje, e a seguir à intervenção de Sua Santidade, desfeito o equívoco, a Irmandade Muçulmana do Egipto apressou-se a encerrar o assunto aceitando as explicações do Papa.
No entanto, penso que podemos tirar duas ilacções deste acontecimento:
Em primeiro lugar, uma clara advertência da Igreja Católica ao mundo muçulmano, repetindo que não aceita a violência como método, nem a conversão por esse método.
Em segundo lugar, e sossegando esse mesmo mundo muçulmano, repete também a necessidade de combater o ateísmo ocidental, com todas as suas consequências.
Afinal, a verdadeira Cruzada apostólica que Bento XVI definiu como prioridade do seu Pontificado.
Ámen.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Governo ou semi-reboque?

Administrar é prever, dizia o professor numa aula qualquer da minha juventude. E prosseguia, um bom governo deve antecipar-se à crise, mas se ela inadvertidamente chegar, tem que ser firme e resoluto.
São recordações pessoais, nada disto tem a ver com o Governo que temos.
O primeiro-ministro ganhou esporas por ser teimoso (alguns viram ali firmeza), quando foi ministro do ambiente, mas onde verdadeiramente se notabilizou, usando com mestria o poder da televisão, foi como comentador benfiquista. Aliás, as relações entre o futebol e a política, melhor, entre tudo aquilo que gira à volta do futebol e tudo aquilo que gira á volta da política, não podem escapar ao conhecimento do engenheiro Sócrates na medida em que esteve no centro da candidatura de Portugal ao Euro 2004.
É para além disso, um confesso adepto do Benfica e a sua pública declaração de interesses, pouco mais regista que uma série de acções do mesmo clube!
Isto não envolve qualquer suspeita mas a constatação de um facto: o nosso primeiro-ministro não pode alegar ignorância do fenómeno nem dos seus perceptíveis contornos ou desvios e por isso estranha-se que só agora, com a casa arrombada, apareça a tomar medidas num frenesim tão evidente quanto disparatado!
Descobriu o Governo alguma coisa de novo? Não eram do seu conhecimento e do seu interesse, os fortes indícios de corrupção que todos admitem existir à volta de uma actividade que movimenta milhões, que serve de biombo para traficar tudo e mais alguma coisa!
Foi então apanhado de surpresa!?
E agora, perante reveladoras escutas telefónicas, face à evidência dos factos, o que tenciona fazer?
Fazer mais leis? Acabar com as escutas, afinal para muitos, o verdadeiro busílis do problema?! Proibir os magistrados de fazerem parte de associações de mau porte?
Ou será que estamos na presença, mais uma vez, da ponta do iceberg, onde a corrupção desportiva aparece como a má da fita, quando a outra, a que está por baixo e bem escondida, é muito maior!
Não adianta fazer pactos, mudar leis ou proibir pessoas, é preciso corrigir o sistema que perpetua situações para além do que é admissível. É preciso indagar como se escolhem as pessoas para os cargos e não andar à procura de virtudes e defeitos nas mesmas pessoas.
Chega de propaganda.
Não existe gente séria, quando o regime não é sério. E se existir, afasta-se, não participa em jogos sujos.
Estou a falar da política, não estou a falar de futebol.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Levanta-te e chora

Um país, se quiserem, um regime, quando chega à fase das anedotas por atacado, diz-me a lembrança, que está vazio por dentro e por fora, esgotou-se. Mas não é bem disso que quero falar, o que me anda a incomodar ‘long time ago’, são aqueles bonequinhos da ‘contra – informação’, um sucesso piadético da nossa praça, mas que a mim não me enganam.
Pronto, ‘eu sei que sou chato, que este meu samba é mesmo muito chato’, riam à vontade com os bonecos, desliguem o blog, divirtam-se!
Que eu não deixo de protestar.
Isto aqui chama-se ‘interregno’, para quem não perceba, é um espaço de oposição a este regime decadente e estúpido, que nos empobrece, que nos esvazia a memória, em suma, que nos infantiliza. Há quem não dê importância a isso, eu dou.
Voltando aos bonecos afirmo: estão ao serviço da situação, branqueiam, limpam aqui, sujam além, utilizam o nacional-porreirismo para inocentar este e aquele, nunca criticam o governo, nunca criticam verdadeiramente o compadrio reinante.
Exemplo:
Que dizer do prosseguimento da bonecada com os falsificadores de resultados, Valentim e companhia, senão um claro intuito de banalizar a batota e os batoteiros! Que mensagem transmitem para fora?
Normalidade de condutas! Pouca gravidade dos factos! Sim, porque estamos a falar de factos comprovados em escutas telefónicas autorizadas.
O que pretende o canal público de televisão com esta farsa?
Aceito que deve provocar gargalhadas alvares a muita gente, mas não podemos deixar de considerar como uma tentativa para esvaziar o conceito de delito que está indiscutivelmente presente nos factos que têm vindo a público!
O exemplo está dado e termino: o humor verdadeiramente crítico não funciona assim, tem outras asas e outras premissas.
Isto é o nacional-porreirismo no seu melhor...e sem qualquer graça.

terça-feira, setembro 12, 2006

Virar de página

Estamos mal, vivemos cada vez pior, a propaganda não chega para as necessidades da população. As pessoas evitam olhar a realidade de frente, fingem que não percebem que o futuro é uma parede fechada – não há passagem! Refugiamo-nos nas prateleiras do supermercado, nas viagens de sonho, nos pequenos nadas transformados em momentos de glória.

A crise de valores existe por toda a parte, é certo, a sociedade securitária confirma que a vida humana não vale um vintém!
Onde é que nos perdemos?
O senhor da terra apareceu na televisão a explicar que está a construir um novo ‘gulag’! Absolutamente necessário, disse. Os argumentos são convincentes – os terroristas existem e reproduzem-se, o que é que podemos fazer!? Não posso adiantar mais nada.
Segredo de justiça.

sábado, setembro 09, 2006

O Pacto Mateus

Mateus, jogador de futebol angolano, contínuo amador nas horas vagas, mal sabias tu que serias o responsável pelo fulminante ‘pacto de silêncio’ que PS e PSD resolveram celebrar, com o louvável intuito de distrair a opinião pública e fingir que algo vai mudar na republica dos compadres.
Estás a ver Mateus, porque é que és tão importante!? Na tua ingenuidade, diz-me lá uma coisa – que País é que aguenta, que Governo é que tem estômago para assistir impávido à permanente notícia de que Portugal é um palco de batota, com direito a desmentidos que são autênticas confissões de fraude organizada, um espectáculo transmitido em directo pela televisão, a bater recordes de audiência!
Tens que admitir que era preciso acabar com a tua novela (e a do apito ressuscitado) para dar um cheirinho de seriedade a tudo isto.
É claro que ‘isto’ não é fácil de compreender e digerir por quem tenha a memória a funcionar. Tu não te lembras, Mateus, mas este ‘pacto de justiça’ era uma velha ambição dos políticos, incomodados com as escutas e a possibilidade, felizmente evitada a tempo, de poderem ser incomodados pela justiça. Mas havia na altura procuradores desavindos, juízes desalinhados, jornalistas abelhudos, não era portanto possível fabricar qualquer pacto, até porque o povoléu andava desconfiado que tal acordo se destinava a abafar processos, como o da Casa Pia, e os figurões não se atreveram a avançar.
Agora que esses processos repousam em paz, era o momento propício para dar um sinal à população de que a república está atenta e que pretende pôr a justiça a funcionar.
Não percebi, Mateus – Estás a perguntar-me se não concordo com a necessidade de uma reforma profunda na justiça portuguesa?! Se não concordo com a redução substancial das dilações processuais?! Com a redução de admissibilidade de pedidos por dívidas comerciais?! Com a reorganização dos tribunais?! Com garantias de separação de poderes que o Tribunal Constitucional não dá?!
Claro que concordo, Mateus.
Mas tu acreditas, que sem uma mudança de regime, sem a introdução de um árbitro que não faça parte dos compadres, que será possível mudar alguma coisa nesta terra?!
Estás a ver, Mateus, tu também não acreditas.

quarta-feira, setembro 06, 2006

A nossa selecção

Esta é a nossa selecção, aquela pela qual vale a pena gritarmos, estamos com ela em todos os momentos, há imenso tempo, dá gosto vê-los actuar! Analisemos o seu desempenho, um por um, os seus pontos fortes, os pontos menos fortes, não pensem em pontos fracos, porque efectivamente não existem! Vamos lá então:
Valentim está de parabéns, é o delírio da pequenada, fez o seu número de forma irrepreensível e a culpa não é dele se votam nele. Descobriu-se e desuniu-se um pouco quando insistiu na recomposição da Comissão Disciplinar da Liga, querendo fazer passar a ideia de ilegalidade (ou seria deslealdade!) por parte de Adriano Afonso. Compreende-se que esteja de alma e coração com o juiz Gomes da Silva, seu colega no ‘apito’, assim como se compreende que não lhe faça confusão que o filho de um dirigente do Gil Vicente possa votar em causa própria! Esteve igual a si próprio.
Sobre Madaíl já não sei o que dizer! A FIFA deve ter a mesma opinião. Para a história, fica o contrato entre Scolari e a Federação, onde existe uma cláusula de rescisão por parte de Scolari, no caso de Madaíl deixar de ser presidente da Federação!!! Será que Madaíl vai enveredar pela carreira de seleccionador, ou dá-se por satisfeito, mantendo-se como adjunto de Scolari?!
O Secretário de Fafe, perdão, de Estado, é um homem bem intencionado mas com muito azar! Quis dar um puxão de orelhas em Madaíl e Valentim, mas o major rufião virou-lhe o dente e quem acabou por levar nas orelhas foi o Laurentino! De resto, este promissor secretário, fez o que lhe competia: arredondou o discurso, teve uns arrufos de soberania, mas nada de grave.
Já o empertigado Arnaut, também não deve trazer grandes preocupações à FIFA e por uma simples razão: ele é desta e da contrária. Patriota nato, está com Bruxelas de alma e coração, e não admite por isso quaisquer limitações à nossa soberania por parte da FIFA! Madaíl ainda quis protestar, explicar, mas ninguém prestou atenção.
No fundo, este Arnaut é um pândego! Está preocupado com o exagero das sanções da FIFA, provávelmente a pensar no Sporting, mas o Madaíl lá teve a caridade de lhe explicar que não são sanções, é sanção, e consiste em excluir um dos seus filiados, neste caso a Federação Portuguesa de Futebol, quando este filiado não cumpre as normas a que está obrigado!
Não sei se o Arnaut a esta hora já percebeu!
Claro que a selecção não está completa, falta gente do norte, andam mais ariscos ultimamente, talvez alguma lesão difícil de cicatrizar, quem sabe!
Em contrapartida, quem aparece sempre é o Vieira! Desta vez ao telefone, para confirmar o seu permanente apoio ao Major Valentim. Uma constante no passado recente, nada de confusões.
A mim é que me faz uma certa confusão a súbita omnipresença deste Vieira, coincidindo, só pode ser coincidência, com as notícias sobre o misterioso ‘caso Mantorras’! De facto, não há dia nem sítio onde o sujeito não apareça!
E assim termina mais um programa sobre a nossa selecção.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Pobres e mal agradecidos

O exercício de público maquiavelismo que o professor Marcelo vem exibindo, a partir do canal público de televisão, sobre o famigerado ‘caso Mateus’, tem apenas um nome e apelido no vocabulário corrente: um mau exemplo.
Para quem o viu recentemente na Alemanha, cachecol ao pescoço, pelos vistos pouco apertado, frequentando alegremente uma prova organizada pela FIFA, não pode deixar de concluir que há indivíduos em que não podemos confiar. E a confiança, é como se sabe, a base de uma qualquer competição desportiva, desde o berlinde ao futebol.
Marcelo saberá de leis, e eu não, será um génio nesta capoeira de galinhas, onde eu nem milho posso comer, mas sempre me convenci que a verdadeira inteligência tem de aproximar-se da humildade, assim como deve afastar-se da vaidade e do oportunismo. Por isso entendo que o Direito deve estar ao serviço do bem comum, não é uma ideologia, nem tão pouco pode prestar-se a engenhosas elucubrações para subverter princípios sem os quais seria impossível dar um passo, sem termos de imediato um recurso à perna.
O desporto, ao contrário de outras actividades, não tolera a batota, não sobrevive muito tempo com ela, e o Gil Vicente fez batota, facto indiscutível. Admito, como já escrevi, que o professor Marcelo não tenha a noção do que é fazer batota, muita gente não tem, admito por isso que esteja convencido que o acto de inscrição de um jogador, impedido pelos regulamentos de o fazer, possa ser entendido como um acto meramente administrativo, sem qualquer influência no desenrolar da competição desportiva. Admito que labore nesse erro tremendo porque não tem aquilo a que chamo ‘espírito competitivo’, mas não admito que não tenha a humildade de delegar nas competentes instâncias desportivas, ao menos, a definição do conceito sobre o que é ou não é – ‘estritamente desportivo’! Não admito, por ofender a inteligência comum, que insista em colocar essa decisão nas mãos de um qualquer juiz, sempre diferente, e sem a necessária preparação para entender a especificidade do fenómeno desportivo. Isso não admito, nem entendo.
Por fim e prova real do que defendo, usar o canal público, para sistematicamente, fazer a apologia das pretensões de uma das partes contra as pretensões e interesses da outra ou das outras, é simplesmente...batota.
Como será batota querer participar, de bandeirinha e cachecol, nas provas organizadas pela FIFA, mantendo processos de intenção sobre as respectivas regras!

sexta-feira, setembro 01, 2006

Maré-cheia

Umas curtíssimas férias, belíssimos dias, as tardes na praia, anos de vida, e poucas notícias como convêm. Apenas uma curiosidade fugaz pelo ‘caso Mateus’, que fecha ao rubro a época balnear.
Sou parte nesta história, herança belenense que não desarma, e dir-se-á que o tema não reúne elevação suficiente para um interregno, pois é questão estritamente desportiva, e como tal deve ser tratada nos locais próprios e pelos órgãos competentes. Como se vê é impossível escapar-lhe, e sem querer vou repetindo argumentos, pois de argumentos se constrói esta terra... sem argumentos que lhe valham, para além da consabida vontade de uns quantos, mais teimosos e perseverantes do que nós.
Os telejornais abrem com o ‘caso Mateus’, em que todos se ameaçam e ameaçam ter razão, mas nós já sabemos como tudo vai acabar: pela surra, de fininho, sem grandes estragos, o Gil Vicente vai para a Liga de Honra, com a necessária compreensão pela sua luta estóica contra a maldade do mundo que a própria FIFA encarna! E pronto.
Se pudéssemos passar sem ela, não me refiro à vaidade, mas á FIFA, se pudéssemos passar sem a selecção das bandeirinhas, sem os três clubes do estado, sem as grandes finais em que vamos todos, sem a glória das medalhas que a FIFA nos dá! Se pudéssemos organizar por aqui, uma FUFA ou uma FOFA, à nossa maneira, com as regras que a gente gosta, a ganhar sempre, não queríamos saber da FIFA para nada, seríamos os primeiros a trair esta prepotente organização a que só pertencemos porque nos dá jeito.
Muito bem, e que outras novidades perdi?!
Nada de importante a não ser este problema de última hora relacionado com a nossa participação na força internacional que vai para o Líbano: então não querem lá ver que serão os castelhanos a comandar o nosso minúsculo contingente!
Isso nunca, quando vamos a algum sítio, nem que seja um português sozinho, só aceitamos ser comandados pelos ingleses, até porque já estamos habituados.
Mas a praia, repito, estava óptima.

sábado, agosto 26, 2006

“Sobre o nosso entendimento dos deveres do Estado”

“O Estado existe, não para proteger os vícios pessoais, mas para promover o bem de todos, porquanto o seu dever mais elevado está ligado justamente ao preceito da caridade: ajudar os débeis, defender os oprimidos, fazer o bem àqueles que vivem em dificuldade (...). A ordem natural baseia-se sobre o extermínio recíproco ou, no melhor dos casos, sobre uma mútua limitação dos homens. A ordem moral é baseada na recíproca solidariedade e a expressão primeira e mais simples de tal ordem é a ajuda gratuita, a beneficência desinteressada.”

Vladimir Soloviev

“...O mundo inteiro indiferente com a desgraça daqueles dezanove anos. O primeiro dever da civilização é evitar que fiquem os desgraçados pelo caminho!
Os desgraçados são a vergonha da humanidade, são a desonra da civilização!
Mas a vida passava-se lá muito acima disto tudo, ocupada com a vida de todos, indiferente á vida de cada um.”

Almada Negreiros


Salas de chuto

“Parece ser um problema nascido mais da imaginação das juventudes partidárias e do BE do que da atenção à realidade;
O partido do Governo parece estar mais comprometido com compromissos tácticos do que convicto da bondade de tal medida;
Se as Salas de Chuto pretendem diminuir os riscos de contágio com o HIV+ erram o alvo. Os eventuais dependentes contagiáveis pretenderam outra coisa que não ser elencados e identificados. Entre os toxicodependentes que eventualmente se encontrem disponíveis para frequentar as Salas de Chuto contam-se sobretudo os já doentes com HIV+;
Por outro lado pensar que assim se consegue trazer para a rede de saúde os mais degradados é esquecer que faz parte da sua própria atitude aproveitar-se da rede de saúde pública para não sair. Dos bairros degradados saem os que são perseguidos pela delinquência associada à sua marginalidade e não os que o Estado ajuda a serem marginais;
Pode-se suspeitar que existam interesses corporativos associados às estruturas técnicas do Estado que pretendam ver avançar esta hipotética nova frente de trabalho;

Sugestão:

Estude-se qual seria efectivamente a eventual população que frequentaria as Salas de Chuto através de um organismo independente das estruturas estatais (por exemplo, através de Gabinetes de Estudo das Universidades);”

Com a devida vénia, pela oportunidade e interesse que o assunto merece, o Interregno volta a publicar parte de um texto da autoria da Associação Vale de Acór, comunidade terapêutica para o tratamento de toxicodependentes.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Jardim cercado

Nos Açores é diferente, a descontinuidade territorial, as muitas ilhas com as suas rivalidades, perdem unidade e são mais fáceis de domar. A Madeira e o seu cacique é que são o problema desta terceira república que em má hora se lembrou das regiões autónomas, com tudo o que isso acarreta de independência e desenvolvimento.
Estão visivelmente arrependidos.
O homem é inconveniente, não faz vénias ao continente, exige e ameaça com o nosso dinheiro, nosso é uma força de expressão, talvez não seja nosso, mas dele não é concerteza!
E agora que o país está quase na linha, domesticado, sobrevivente em euros sem poder reclamar, sem alternativa, disponível para se sacrificar até ao fim por este caminho sem rumo que lhe foi generosamente traçado, não podemos tolerar dissidências.
Sigamos pois no cerco ao relapso madeirense, arremedo de feudalismo que nunca tivemos nem podemos ter, ele bem sabe a nossa sina, por isso vamos em frente, retiremos-lhe os meios com que se pavoneia, que lhe têm valido vitórias atrás de vitórias!
Vamos sufocá-lo, será obrigado a render-se.
Nessa tarefa patriótica, feita em nome da nossa velha república unitária, contamos com apoio generalizado da população continental, até de sectores insuspeitos, de outras áreas políticas, nas direitas, no centro, entre os chamados independentes, porque ninguém tolera a independência do líder da Madeira!
Afinal que argumentos tem o homem? Qual a razão de tanta popularidade entre os seus?
Aplicou bem o dinheiro que lhe deram? Talvez, atendendo a que a Madeira passou a ser considerada em termos europeus uma região mais desenvolvida e por consequência com o acesso ao crédito mais dificultado. Tanto pior para ele! Os relatórios internacionais também parecem confirmar um forte ritmo de crescimento que se tem verificado.
Mas isso que interessa comparado com o prejuízo que representa para a república a estridência enervante desse sujeito. Um mau exemplo para os desertificados ‘distritos’ do continente.
Resta-nos sonhar, acordar a imaginação, e que saudades, a consolação que teríamos se em lugar de um cacique, tivéssemos vários como este, espalhados por esse império perdido, a reclamar insistentemente mais e mais verbas, vergastando o continente pelos seus erros, desconfiando do poder central, mas com plena confiança da sua gente!
Sinal de que tínhamos merecido a herança...e que ainda tínhamos mão nela.

Post-scriptum: ‘Cacique’ significa chefe independente.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Sebastianismo do Sertão

“Daqui de cima, no pavimento superior, pela janela gradeada da Cadeia onde estou preso, vejo os arredores da nossa indomável Vila sertaneja. O sol treme na vista, reluzindo nas pedras mais próximas. Da terra agreste, espinhenta e pedregosa, batida pelo Sol esbrazeado, parece desprender-se um sopro ardente, que tanto pode ser o arquejo de gerações e gerações de Cangaceiros, de rudes Beatos e Profetas, assassinados durante anos e anos entre essas pedras selvagens, como pode ser a respiração dessa Fera estranha, a Terra – esta Onça-Parda em cujo dorso habita a Raça piolhosa dos homens. Pode ser, também, a respiração fogosa dessa outra Fera, a Divindade, Onça-Malhada que é dona da Parda, e que, há milénios, acicata a nossa Raça, puxando-a para o alto, para o Reino e para o Sol.

Daqui de cima, porém, o que vejo agora é a tripla face, de Paraíso, Purgatório e Inferno, do Sertão. Para os lados do poente, longe, azulada pela distância, a Serra do Pico, com a enorme Tapeorá, cuja areia é cheia de cristais despedaçados que faíscam ao Sol, grandes Cajueiros, com seus frutos vermelhos e cor de ouro. Para o outro lado, o do nascente, o da estrada de Campina Grande e Estaca-Zero, vejo pedaços esparsos e agrestes de tabuleiro, coberto de Marmeleiros secos e Xiquexiques. Finalmente, para os lados do norte, vejo pedras, lajedos e serrotes, cercando a nova Vila e cercados deles mesmos por Favelas espinhentas e Urtigas, parecendo enormes Lagartos cinzentos, malhadas de negro e ferrugem, lagartos venenosos, adormecidos, estirados ao Sol e abrigando Cobras, Gaviões e outros bichos ligados à crueldade da Onça do Mundo.
Aí, talvez por causa da situação em que me encontro, preso na Cadeia, o Sertão, sob o sol fagulhante do meio-dia, me aparece, ele todo, como uma enorme Cadeia, dentro da qual, entre muralhas de serras pedregosas que lhe servissem de muro inexpugnável a apertar suas fronteiras, estivéssemos todos nós, aprisionados e acusados, aguardando as decisões da Justiça, sendo que, a qualquer momento, a Onça-Malhada do Divino pode se precipitar sobre nós, para nos sangrar, ungir e consagrar pela destruição”.

Do romance “A Pedra do Reino” de Ariano Suassuna.
In Revista “Portugueses” (Maio/Junho 1989)

sábado, agosto 19, 2006

Um país pequeno

Abri e fechei a televisão, demorei-me uns segundos, talvez um minuto a olhar para a entrevista memorial sobre Marcelo Caetano. Até poderia ter interesse, Ana Maria Caetano explicava, a uma atenta e serviçal Judite de Sousa, algumas das peripécias vividas por seu pai nos momentos subsequentes ao 25 de Abril de 1974.
Mas aquela pequena tentação de revelar um distanciamento político entre Marcelo Caetano e o Almirante Américo Tomás, seu companheiro de exílio e infortúnio, a palavra ‘ultras’ ao de leve pronunciada, foi o suficiente para desligar a televisão e perder de vista o rosto ainda bonito da filha do último primeiro-ministro do Estado Novo.
Que raio de país, que raio de gente, incapaz de se manter solidária na hora da derrota, sempre pronta a saltar para o carro dos vencedores!
Quando nem sequer há vencedores, mas uma longa lista de traições, deserções, de gestos que a história não vai lembrar quanto mais dignificar, tão parecidos que parecem irmãos gémeos de outros golpes que passam por revoluções na posterior propaganda.
A própria entrevista é disso prova e argumento. Então não havia ninguém convencido do que estava a fazer! Da bondade do caminho trilhado! Estavam todos contrariados?
E do outro lado, do lado de Abril, a necessidade de expiar o embuste, de alargar responsabilidades, de justificar alguns excessos imprevistos, o pecado da descolonização a comprometer tudo e todos, e a confirmar essa realidade inelutável: não há oposição em Portugal!
Ela só parece existir enquanto não nos aproximamos o suficiente do orçamento de estado, depois, segue-se oportuna reciclagem e o início de uma viagem vertiginosa até ao outro lado da barricada...Que afinal não é barricada nenhuma!
Um país a fingir, cada vez mais pequeno, que não consegue fazer justiça a ninguém.
E que sem perceber mantém o hábito das conversas em família, no canal público, aos Domingos, a cargo de um afilhado de Marcelo Caetano!