sábado, outubro 31, 2015

Cavaco Silva só indigita Costa se quiser!

Neste último discurso, sem querer (ou talvez não), Cavaco Silva deu uma ajudinha às negociações do Costa! O regozijo do Galamba, logo a seguir, não deixa dúvidas. Ao ser tão meticuloso nas linhas vermelhas da estabilidade, da credibilidade e, muito importante, da coerência, o presidente da república encostou o Bloco e o PCP às cordas. Estes, obviamente, não gostaram do discurso. O ‘acordo’ está agora mais periclitante.

Mas deixemos o ‘acordo’ que há-de justificar o assalto ao poder, acordo que nem sabemos se existe, fixemo-nos antes no plano urdido na sombra para lá chegar! Estou a falar da campanha de intoxicação que degrau a degrau estabeleceu um facto quase consumado. O facto quase consumado de que Costa e a sua coligação negativa têm legitimidade para governar. Falta o quase, está nas mãos de Cavaco, e corresponde ao título deste postal.

Primeiro foi preciso ultrapassar esse pequeno (grande) obstáculo, a saber: - a vontade expressa pelos eleitores nas urnas!
Discutiu-se a muito a questão, a maior parte das vezes com grande sobranceria, estabeleceu-se que a legalidade se sobrepunha à legitimidade, vingando por fim a tese (extraordinária!) que a constituição ‘acomodava’ uma solução que (todos) os eleitores desconheciam e que portanto nela não votaram! Este foi o salto mortal que nos obrigaram a dar, com a conivência, como sempre acontece, de alguns ingénuos e muitos espertalhões.

A partir daqui nada mais interessa. Acordo assim ou assado, gestão boa ou má, são tudo trocos, moedas de tostão. Pois se a vontade dos eleitores não conta, pois se constituição serve para tudo e para nada, só um acto individual de grande coragem pode evitar a fraude que se perspectiva. Não chegam linhas vermelhas, isso não vai resgatar as eleições. Ser chefe de estado tem os seus riscos…


Saudações monárquicas

sexta-feira, outubro 30, 2015

O dilema do regime

Como tenho afirmado joga-se nestes dias o destino do regime, entendendo por regime, a terceira república, a respectiva constituição e o seu semipresidencialismo. Para além de outros desastres anunciados. Não é por acaso que Mário Soares se tem mantido num prudente silêncio!

Expliquemo-nos. O semipresidencialismo português tem resultado graças a um conjunto de circunstâncias irrepetíveis, a saber: - todos os presidentes constitucionais, à excepção de Cavaco Silva, ou foram protagonistas da revolução ou têm um passado esquerdista. Esse facto, em momentos crise, tem proporcionado um razoável relacionamento com a assembleia da república. Assembleia onde predomina o pensamento de esquerda, incluindo nessa esquerda os sociais-democratas espalhados pelo PS e pelo PSD.

Surge agora um primeiro momento de grande fricção constitucional e que vai pôr á prova o famoso semipresidencialismo. E não tenho dúvidas, trata-se de mais uma máscara de Abril que está prestes a cair. Só há semipresidencialismo quando convém. Desde logo nas interpretações literais da constituição como se ela fosse um corpo morto à nascença. Pois se está morta enterrem-na!
Depois todo esse coro de comentadores que todos os dias limitam os poderes presidenciais, e a respectiva capacidade de manobra! Como se ele fosse um autómato, um boneco articulado!

E termino com um repto à Jerónimo de Sousa – Cavaco Silva só dará posse a António Costa se quiser!
Se não o fizer defenderá o regime, fará jus ao semipresidencialismo constitucional, que só é entendível à luz de um acordo entre a vontade do presidente e a vontade da assembleia. Não basta dizer que se aceita a indigitação de Passos Coelho para logo a seguir rejeitar o seu programa de governo. Porque quem votou Passos também votou para ele governar.


Saudações monárquicas

quinta-feira, outubro 29, 2015

Fronteiras da decência - o suplício

Se vier a acontecer, como era inevitável que acontecesse, teremos obviamente que suportar uma série de dislates, incongruências, verdadeiras aberrações, que farão desta terceira república (nos mesmos termos que a primeira) um exemplo a não seguir. Durará meia dúzia de anos, nem tanto. Mesmo assim é demasiado. Neste intervalo o maior suplício será conviver com a indecência, com a idiotice, com a traição.

Sem ir á questão de fundo - a previsível banca rota, o acirrar da guerra civil permanente, a queda do que resta de uma comunidade com história – limitando-me apenas aos efeitos epidérmicos, será ainda assim um suplício!

Podemos desligar a televisão, deixar de ler os jornais, fingir que estamos contentinhos, que a memória, e o espírito que nunca adormece, irão trazer-nos as imagens que repudiamos. Exemplos: - o dedinho espetado de Catarina Martins a dar lições de moral a quem a queira aturar; o sorriso golpista do Costa; a sua comitiva de desempregados públicos a bolsar banalidades e mentiras. Imagens difíceis de apagar. Serão o nosso suplício.


Saudações monárquicas

quarta-feira, outubro 28, 2015

Os últimos dias…

As últimas frases

As palavras ocas

Os rostos sombrios

A traição latente

Cem mil artefactos

Os mil candidatos

A vergonha ausente

Não tenho a certeza

Se é da natureza

Mas é indecente!

segunda-feira, outubro 26, 2015

Política doméstica

‘(…) Cabe aos deputados decidir se o governo deve assumir as suas funções em plenitude (…) ‘. Eis o enigma do discurso presidencial!

A partir daqui, e como já foi salientado por alguns comentadores, podemos concluir que Cavaco Silva, no caso do programa de governo ser chumbado, ainda terá alguma margem de manobra. Pondo de parte por ora a hipótese (possível) de um governo de iniciativa presidencial, cenário que Cavaco sempre excluiu, o que se afigura mais provável é a seguinte alternativa:-

- O presidente chama de novo os partidos a Belém e volta a indigitar Passos Coelho para formar novo governo. Um governo que inclua personagens (europeístas) próximas do PS. Governo que se for também chumbado, poderá então permanecer, não em plenitude de funções, mas em gestão até novas eleições. Cumprindo-se assim a ‘ameaça’ que Cavaco terá feito aos deputados na frase acima citada.

É claro que falta aqui uma condição essencial, a saber: - Passos (e Portas) terão que aceitar esta solução. Em nome dos superiores interesses do país.
Aceitarão?!



Saudações monárquicas

domingo, outubro 25, 2015

O fim do centrão

Adeus fonte luminosa, adeus Mário Soares, adeus partidos de alterne, irmãos gémeos a enganarem os clientes, adeus, adeus. E tudo isto graças a um Costa, da linhagem dos Costas, num ‘país de costas’ como dizia pejorativamente o poeta!

A ‘fonte luminosa’ já poucos sabem o que significa. Foi o grande lance de Mário Soares, que lhe deu fama e glória, e que à época evitou uma deriva de esquerda, uma nova ditadura a seguir ao 25 de Abril.

Mas o 25 de Abril acabou. Portugal é hoje um estado exíguo, completamente dependente dos fundos europeus e das regras dos credores. O problema de fundo (e de fundos) é esse. E nesse problema, o centrão, os dois partidos de alterne, têm grandes responsabilidades.

São essas responsabilidades que devem agora ser encaradas de frente. Sem derivas nem subterfúgios. Para ao menos encerrarem o regime de uma forma digna. Antes do adeus. Os portugueses merecem isso.



Saudações monárquicas 

sexta-feira, outubro 23, 2015

Cavaco trava assalto ao poder!

Mais duro, mais claro que o habitual Cavaco Silva fez aquilo que tinha que fazer: - indigitar Passos Coelho para primeiro-ministro de Portugal. E disse aquilo que tinha que dizer: - disse que desconfia de uma solução governativa inédita, oportunista, e que não foi a votos.

A dita solução, dizem os seus promotores, baseia-se num acordo, mas a verdade é que até á data ninguém conhece esse acordo! Não o conhecem as bases dos respectivos partidos, não o conheciam os respectivos eleitores! Isso não impede que o referido ‘acordo’ continue a ser ‘noticiado’ e ‘discutido’ por entusiásticos comentadores como se fosse a pedra de toque, o milagre que há-de salvar o país! Este secretismo, esta marca leninista, também diz muito sobre o golpe e sobre os golpistas.

Por tudo isto e muito mais, o presidente da república avisou os portugueses, avisou os deputados, que não estava disponível para viabilizar uma solução governativa nestas condições. E fez bem.
Já não ficou tão claro se manterá o governo de Passos Coelho em regime de gestão no caso de ser rejeitado pela ‘coligação negativa’ que entretanto se implantou na assembleia da república.

Pela minha parte penso que é a melhor solução. Porque é aquela que tendo os seus custos devolve a palavra aos portugueses.
Mas afinal quem tem medo das eleições?!


Saudações monárquicas

quinta-feira, outubro 22, 2015

Governo de gestão ou fraude eleitoral?! (Prós e contras)

Passos será indigitado, não tenho dúvidas, formará governo e se, como tudo indica, cair com base numa moção de rejeição, as hipóteses que restam ao presidente da república são apenas duas: - ou manter o governo de Passos em gestão até ser possível convocar novas eleições, ou dar posse a um governo minoritário do PS, encabeçado por António Costa e apoiado no parlamento pelo PCP e pelo Bloco de esquerda.

A favor da primeira hipótese o argumento decisivo prende-se com a legitimidade eleitoral. Os eleitores votaram sem que lhes tenha sido apresentada previamente a solução governativa que está agora a ser desenhada. Trata-se de uma ‘frente de esquerda’, uma proposta original, que em quarenta anos de democracia nunca foi apresentada, havendo por isso a forte convicção de que se o fosse, os resultados eleitorais seriam diferentes.

A outra vantagem de um governo de gestão seria garantir, com um mínimo de custos, que todo o esforço de contenção orçamental e todos os sacrifícios pedidos aos portugueses nestes últimos quatro anos não iriam por água abaixo.

Finalmente e ainda no campo das vantagens, não fica mal lançar aqui um argumento maquiavélico: - se António Costa desdenha e afasta sempre a hipótese de um governo de gestão… então é porque o governo de gestão não deve ser assim tão mau.  

Os inconvenientes de um governo de gestão são conhecidos: - não pode prolongar-se por muito tempo, além da usura que inevitávelmente provocaria na coligação em termos eleitorais.

A favor da segunda hipótese apenas se vislumbra a sobrevivência política de António Costa. A clarificação do leque partidário, essa, ficou feita a partir do momento em que Costa preferiu aliar-se à sua esquerda. É uma vantagem para o futuro mas não pode servir para comprometer o presente.

Inconvenientes são vários e todos eles graves. Em primeiro lugar enganar os eleitores desta maneira não é coisa de somenos. É o próprio regime democrático que está posto em causa. Quanto à solução governativa, ela é tudo menos estável. Pode durar mas sempre á custa do aumento da dívida pública. Será um governo reaccionário, incapaz de fazer qualquer reforma e por isso, o ‘monstro’ a que chamamos estado, tornar-se-á cada vez maior.

Tem a palavra Cavaco Silva…


Saudações monárquicas

quarta-feira, outubro 21, 2015

Boas e más notícias

A boa notícia é a clarificação do espectro partidário, ou seja, a partir de agora o PS passa a ocupar o seu verdadeiro lugar. Um partido socialista, com poucas hipóteses de pescar ao centro, cabendo-lhe sim, federar e liderar os pequenos partidos à sua esquerda. Isto quer dizer que terá que assumir as grandes causas até agora entregues ao Bloco e ao PCP. Escuso-me de as enumerar, mas passam pelo aumento da despesa pública e pelo aumento do estado. No que toca aos compromissos europeístas, Costa encarnará em Tsipras. O discurso é conhecido – a Europa é que tem que mudar, tem que nos ajudar para podermos convergir.

As más notícias neste caso serão naturalmente para o PCP e para o Bloco. O PS tenderá a ser o depositário do voto útil e aqueles dois partidos verão a sua base de apoio cada mais reduzida.

Boas notícias para um futuro partido de direita, nacionalista à portuguesa, eurocéptico quanto baste. Partido que há-de cativar os votos que a Coligação, demasiado europeísta, deixa fugir para a esquerda e para a abstenção.

Más notícias para a Coligação, que terá a breve prazo de se clarificar também. Tornando-se num grande partido conservador com objectivos para além do défice. Para isso terá que deixar cair os tiques sociais democratas. Que são de esquerda.



Saudações monárquicas


Nota básica: Quando me refiro a boas e más notícias não estou a caucionar a trapaça eleitoral que se vem desenvolvendo às claras e está a deixar os eleitores estupefactos. Estou apenas a dizer que, aconteça o que acontecer, nada será como dantes no que toca ao xadrez partidário. 

terça-feira, outubro 20, 2015

Ingenuidades, esperanças vãs…

A estratégia revolucionária de base estalinista está escrita, não existem dúvidas a esse respeito. O imperativo é chegar ao poder a qualquer preço. Nesse sentido haverá disponibilidade para tudo, para todas as concessões. Suslov, um dos últimos ideólogos soviéticos resumia o assunto da seguinte maneira: - ‘haverá propostas electrizantes e depois esmagá-los-emos com o punho cerrado’. Costa pode ser o instrumento que faltava para fechar o puzzle. Há gente na direita que desvaloriza a perfomance de um governo do PS apoiado (ou integrado) por comunistas e radicais de esquerda. Pode ser um engano. Contam com as dificuldades colocadas pela união europeia, pelas regras do euro, mas esquecem a lição de Tsipras. Contam com a desunião das esquerdas, com a fractura do PS, com a reacção dos mercados, mas esquecem que o poder é fonte de união e apaziguamento. E subestimam as capacidades de Costa. Há uma pergunta que fica no ar: - terá Costa condições para submeter o PCP aos seus desígnios?! Para responder teremos que dar resposta a outra pergunta: - terá o PCP mais alguma oportunidade para sobreviver politicamente face aos avanços à sua esquerda?!
Uma vez no poder Costa restituirá os feriados à população, devolverá os cortes à função pública e aos pensionistas, congelará todos os processos judiciais que possam prejudicar a classe política, preparando uma larga amnistia que a todos satisfaça. O défice subirá mas enquanto houver a almofada que a coligação amealhou, isso não se fará notar. E quando se fizer notar já Costa garantiu a sua sobrevivência política. Que é o que lhe interessa.


Saudações monárquicas

segunda-feira, outubro 19, 2015

A ‘operação marquês’ e as coincidências!

Se o PS chegar ao governo seja através do convite (excessivo) da coligação, seja pela via tortuosa de uma ‘frente popular’ de última hora, é minha convicção que alguns processos judiciais podem sofrer sérios contra tempos. Digo ‘contratempos’ para não ser, também eu, excessivo.

Baseio as minhas dúvidas na experiência do passado, nomeadamente no que aconteceu ao processo da Casa Pia, mas também porque vejo, no presente, os mesmos personagens à volta de Costa!

Poderá, repito, ser coincidência, como pode ter sido coincidência a ascensão de Sócrates ao poder e coincidência maior a gratidão de que o mesmo é alvo por parte de alguns notáveis socialistas. Pode ser.

Porém, suceda o que suceder, espero que a procuradora geral da república se mantenha, como espero que se mantenham nos seus lugares e funções quer o procurador Rosário Teixeira quer o juiz Carlos Alexandre. Espero finalmente pela acusação o mais breve possível.

A bem da justiça.



Saudações monárquicas 

sexta-feira, outubro 16, 2015

Cavaco, sim ou sopas!

Depois de ter errado no discurso, depois de ter dito que já tinha estudado todos os cenários, outro erro, cabe agora a Cavaco Silva não errar outra vez. Porque se volta a errar ficará na história como o responsável pelo enterro da terceira república e da constituição que tanto jura defender.

E por falar em constituição, ela que tem servido para tudo, que serve por exemplo para manter um estado completamente desproporcionado em relação à riqueza produzida, apesar de tudo nunca serviu para alterar o sentido de voto dos portugueses. Essa interpretação, que eu saiba, nunca foi defendida por ninguém. Maiorias aritméticas que se juntam após as eleições, para, renegando os respectivos princípios programáticos, renegando o que prometeram na campanha eleitoral, conseguirem alçar-se ao poder, isso a constituição não prevê. Nem apoia. Porque se apoiasse nunca mais poderia ser invocada para coisa nenhuma.

Assim, tal como a constituição, Cavaco também não pode colaborar com o desvirtuamento absoluto da vontade da grande maioria dos eleitores. Eu diria até, de todos os eleitores. Dar posse a António Costa, seja em que circunstãncia for, sem que os eleitores se pronunciem previamente sobre tal cenário, seria colaborar numa farsa, seria participar numa fraude eleitoral. Era preferível demitir-se.

Por fim, vêm as coincidências, e que podem explicar a teimosia de Costa e a traição aos princípios democráticos! Já passámos por isto aquando do processo da Casa Pia e curiosamente alguns dos personagens são os mesmos. Aproxima-se a hora da verdade sobre Sócrates. O que aconteceu à Casa Pia sabemos nós. O que acontecerá à ‘Operação Marquez’ não sabemos ainda. Mas se Costa chegar ao poder, podemos imaginar.

Saudações monárquicas



Nota: Tem-se falado pouco nos resultados eleitorais da emigração. Porque será?! A verdade é que traduzem mais uma derrota estrondosa de António Costa e do Partido Socialista.  

quinta-feira, outubro 15, 2015

Maioria de esquerda – um equívoco!

Aos que querem ganhar a qualquer preço, tudo lhes serve, o contra-argumento de ontem é o argumento de hoje!
Dizem-nos agora que há uma maioria de esquerda no parlamento e que portanto é a ela que cabe ditar as regras do jogo democrático!

Lamento desiludir os crentes mas maiorias de esquerda na assembleia sempre houve. Desde o 25 de Abril para que conste. Mais precisamente desde que o PPD passou a PSD (partido social democrata). Basta aliás perguntar a qualquer social-democrata se ele é de direita ou de esquerda e ouvirão a resposta.

A direita em Portugal não tem representação parlamentar. Anda diluída e dispersa por quase todos os partidos nomeadamente pelo maior de todos que é o partido da abstenção. É por isso que é inútil reclamar vitórias à esquerda, como é proibido e nunca ninguém reclamou vitórias à direita. O CDS, único partido que votou contra a constituição socialista que temos, o máximo que conseguiu sozinho foi chegar aos dois dígitos em termos de percentagem de votos.

Por aqui se vê que terá de ser outra a argumentação para empossar um governo saído destas eleições.


Saudações monárquicas


Nota: Políticas de direita isso é outra coisa. São opiniões, subjectividades, podem até ser práticas de governo, práticas que qualquer governo condicionado pelas metas do défice terá que adoptar. Não tem a ver com esquerda ou direita.

quarta-feira, outubro 14, 2015

Manual de sobrevivência

Se, depois de todas as manobras efectuadas, ainda assim não conseguir ser indigitado primeiro-ministro, não votarei nenhuma moção de rejeição e deixarei passar o orçamento da coligação. Fico entretanto na expectativa que o governo renuncie por falta de condições. Se não renunciar teremos de o ajudar a cair na primeira oportunidade. Num primeiro erro que cometa. 

O presidente da república há-de então intervir e não podendo convocar eleições, das duas uma: - ou mantém o governo em gestão até Abril/2016 ou deixa-me governar com a garantia de completar a legislatura. Para isso conto com as juras do PCP e do Bloco e com o patriotismo da coligação. Se o presidente anuir, o meu futuro está garantido.

No princípio adiarei todas as medidas que possam fazer faísca à esquerda. Farei isso até onde me for possível. Depois sossegarei os mercados e o país com uma forte guinada à direita invocando os compromissos europeus que sempre disse respeitar. A coligação será então obrigada a apoiar-me e porei em prática a política que consta do documento facilitador. Ouvirei insultos de traição à esquerda e de oportunismo à direita, mas num ´país de costas', Costa sou eu!

Portanto a única opção que me poderá tramar a vida será o presidente manter o governo em gestão até ao próximo acto eleitoral. Aí temo que o confronto eleitoral entre uma frente esquerda e uma coligação de direita, seja desfavorável à esquerda. E mesmo que não fosse seria má para o PS. Era o fim da terceira república.


Saudações monárquicas

segunda-feira, outubro 12, 2015

Costa Tsipras

Parece que não me tenho enganado sobre o curso que as coisas vão tomando. Com efeito, tudo leva a crer que Costa vai copiar o percurso de Tsipras não se importando para isso de esfrangalhar o PS e comprometer o seu futuro.

O plano é conhecido, trata-se de ganhar o partido em referendo interno, afastar depois os incómodos e fazer tudo isso com a garantia de uma indigitação para formar governo.
Beneficia para tanto do lapso presidencial, que querendo ser tão claro e objectivo no seu discurso pós eleitoral, acabou por se tornar obscuro. É normal em Cavaco.

É pois Cavaco quem vai ter que descalçar a bota quando Costa lhe apresentar uma solução governativa dentro do quadro desenhado pelo próprio presidente da república! Estamos a falar de um governo minoritário do PS, com a garantia de apoio parlamentar maioritário da CDU e do Bloco de Esquerda. Governo que espera ter também os votos (patrióticos!) da coligação naquilo que for ditado de Bruxelas e que o PS (coitado!) terá de cumprir. Nem Maquiavel conseguiria urdir um plano assim!

Mas, como tudo na vida, aquilo que se torna demasiado complexo, acaba por ter uma solução simples. Para além do absurdo, da instabilidade e até da desconfiança que tal solução geraria, Cavaco nunca poderá empossar Costa como primeiro-ministro. Isso seria ir contra a vontade dos portugueses. A estas eleições, e por muita retórica que se gaste, concorreram apenas dois candidatos a primeiro-ministro – Passos Coelho e António Costa. Se os portugueses quisessem que fosse Costa teriam votado nele e no PS. Mas não, votaram em Passos Coelho e na coligação. O resto é conversa.

Quanto aos votos que foram parar ao Bloco de Esquerda, a leitura também é simples – são votos ‘gregos’! Não querem sair do euro mas também não querem cumprir as regras do euro. Por muito que Catarina Martins se esganice, são votos inconsequentes.

Saudações monárquicas


Nota: É óbvio que faz falta em Portugal um partido eurocéptico de direita. Um partido nacionalista dentro da nossa tradição multicultural. Esse partido tiraria muitos votos quer ao PCP quer ao Bloco de esquerda. E também à abstenção.

sexta-feira, outubro 09, 2015

Torturar a democracia!

Quando a união europeia decidiu manter a Grécia no euro a qualquer preço, aceitando para tal uma série de estratagemas pouco democráticos, contraditórios entre si, e que apenas visavam garantir um novo empréstimo e salvar a face de Tsipras, pode dizer-se que ficou aberta a porta a todos os oportunismos democráticos e a todos os democratas oportunistas!

Não é pois de espantar que surjam agora em Portugal vários candidatos com perfil grego! Ontem eram críticos de Bruxelas, queriam sair do euro, não queriam pagar aos credores, perderam as eleições a gritar esses slogans.

Hoje é outro dia, meteram os chavões na gaveta, os eleitores que se lixem, afinal estão disponíveis para governar, para viabilizar um governo que lhes mantenha o tacho e o poder.

Parvos é que não são! Sabem que Bruxelas se já aceitou as cambalhotas de Tsipras também há-de aceitar as contradições portuguesas. Porque no final ninguém quer sair do euro. Pois se há tantos refugiados nas fronteiras da Europa a quererem vir para o euro!

Quanto á democracia, essa já saiu de nós, tal como o euro há-de sair.


Saudações monárquicas   

terça-feira, outubro 06, 2015

Passos, o bloco e o partido dos animais

A grande revelação eleitoral foi indiscutivelmente a vitória de Passos Coelho, quase uma vitória pessoal, contra ventos e marés, contra uma comunicação social hostil, contra tempestades internas, seja a demissão de Gaspar ou a irrevogabilidade de Portas, uma vitória contra o tribunal constitucional, contra as greves corporativas, uma vitória apesar das inevitáveis medidas de austeridade! Finalmente uma vitória que deixou a esquerda em estado de choque!

A outra revelação da noite eleitoral não foi revelação nenhuma. Com Trotski escondido na gaveta, distribuindo sorrisos e demagogia a torto e a direito, cheias de holofotes, as estrelas do bloco de esquerda conseguiram de facto uma votação expressiva. Não é tão grande como elas pensam, mas sempre podem sonhar. Sonham evidentemente com o poder e com  única via para o conseguir - pedir namoro ao PS. No fundo seguem a estratégia do seu grande mentor e ídolo - o grego Tsipras. Cambalhotas é com eles. Pelo poder fazem o que for preciso. Assim o PS esteja pelos ajustes.

A terceira revelação tem a ver com o deputado eleito pelo (PAN) vulgarmente conhecido pelo partido dos animais! Uma surpresa logo desfeita quando reparei no contentamento do piloto, o meu cão, que provavelmente já sabia da novidade. Pronto, já tem quem o defenda no parlamento, porque a ração continua ser comigo.

Saudações monárquicas

segunda-feira, outubro 05, 2015

O cinco de Outubro…

Esta é uma data triste para Portugal e festiva para quem vai destruindo a sua identidade. É uma data partidária que os herdeiros do velho partido republicano, e a maçonaria que lhe está na base, festejam cada vez com menos sentido e cada vez com mais dificuldade. Dificuldade em explicar os êxitos de um regime que em apenas um século reduziu o território nacional a menos de um terço e reduziu a soberania a zero.

Durante a segunda república, Salazar, percebendo que as celebrações eram um pretexto para exaltar os assassinos do Rei, e seria sempre uma data de divisão entre os portugueses, tentou limitá-la aos cemitérios onde Buiças e Costas eram então homenageados. Mas verdadeiramente nunca pôs o dedo na ferida. Nunca enfrentou a questão.

A terceira república por seu turno retomou a tradição regicida e divisionista e tem celebrado o cinco de Outubro com pompa e circunstância. Nesse dia, o presidente da república em exercício desloca-se ao varandim da Câmara Municipal de Lisboa e ajuda a içar uma bandeira com as cores da carbonária! Bandeira que os republicanos impuseram aos portugueses como símbolo nacional.

Cavaco Silva não vai este ano aos festejos e justificou a ausência com o facto de estarmos em época eleitoral e a presença de um chefe de estado numa autarquia, naturalmente com cor partidária, poderia representar uma interferência no processo. Em sua defesa, lembrou igual comportamento, nas mesmas circunstâncias, de anteriores presidentes.

Concluindo, por razões prosaicas o cinco de Outubro já não é feriado, razões que justificaram também a abolição do primeiro de Dezembro, dia em que celebrávamos a independência. Mas deixando agora de parte a questão dos feriados, penso que Cavaco Silva aduziu argumentos plausíveis para a sua ausência, esquecendo-se no entanto do mais importante, a saber: - enquanto repetir que é ‘presidente de todos os portugueses’ não lhe fica bem afrontar os monárquicos. Como não lhe fica bem comemorar guerras civis. Este é que é (ou devia ser) o argumento.


Saudações monárquicas

sexta-feira, outubro 02, 2015

Risco eleitoral

Um dos cenários que o próximo Domingo pode trazer será uma vitória curta de Passos Coelho e a possibilidade do PS insistir em formar um governo minoritário apoiado na esquerda parlamentar. Esta opção reabriria o processo do 25 de Abril com todas as suas consequências. E para quem sabe, repetiria o processo histórico que aniquilou a primeira república.

Bem sei que os tempos são outros, a união europeia vai existindo, o euro também, mas duma ‘crise grega’ não nos livrávamos.

A outra conclusão que este cenário permite retirar, é que a paz social e a continuidade da terceira república dependem da vitória de Passos Coelho e da demissão de António Costa! Demissão que deixaria caminho aberto a uma liderança socialista mais colaborante.

E eu pergunto-me: - o que deve fazer um monárquico que ambiciona ardentemente o pior para a república e (por conseguinte) o melhor para o seu país: - votar em Passos e viabilizar assim a terceira república, ou não votar em ninguém e esperar que a história se repita?!
Triste dilema.


Saudações monárquicas