terça-feira, fevereiro 17, 2009

A minha vizinha quer casar

Por ter visto muitos filmes de cow boys a minha vizinha quer casar com o cavalo. Não é bem cavalo é uma mula mas a senhora já tem uma certa idade e não liga a esses pormenores.
Tentei dissuadi-la, já lhe expliquei que nos filmes é uma coisa e que a realidade é outra, mas não adianta, insiste, alega que estou a discriminá-la e sem mais explicações levou o assunto à dona fátima e ao seu programa de prós e contras. Que é afinal para isso que ele serve – para debater causas fracturantes, temas que o governo teime em regular e que possam distrair os portugueses dos seus problemas reais.
E assim foi, seguindo o formato habitual, convocaram-se o mesmo número de prós (os defensores do casamento da minha vizinha) e o mesmo número de contras (os que achavam que o estado não devia regular tal materia, mais os que achavam que a televisão pública deveria ter critérios mais rigorosos para gastar o dinheiro dos contribuintes, mais os que pensavam que o estado e a televisão pública deveriam reflectir os valores fundacionais, mais aqueles que acham que o casamento é uma instituição séria, fonte de vida e base da família, e ainda uns quantos que defendiam o internamento da minha vizinha, e acusavam a dona fátima, e a televisão pública, de servirem os interesses eleitoralistas do governo socialista).
Postos os contendores em igualdade de circunstâncias, foi obtido o primeiro desiderato dos defensores da minha vizinha, a saber: o seu caso não era um assunto da esfera privada mas sim um assunto de estado, e que cabia ao mesmo estado regular!
E o que a senhora reivindicava tinha afinal a grandeza dos grandes combates pela liberdade e contra a discriminação! E não faltou quem ousado e solene afirmasse que o direito da minha vizinha poderia pôr em causa, se necessário fosse, os próprios alicerces da comunidade!
Sob a imparcialíssima arbitragem da dona fátima, o debate prosseguiu, equilibrou-se, desiquilibrou-se, até à completa negação da natureza humana – para os erros da natureza cá estamos nós os homens para os corrigir!
E a minha vizinha casou com o cavalo!
Hoje em dia oiço-a relinchar infeliz, e quanto à mula, foi-se embora, disse que não foi feita para aquilo.

domingo, fevereiro 15, 2009

República de São Valentim

A jovem de seios opulentos que vive na assembleia da república anda perdida de amores por Salazar! É um clássico republicano. Para quem não saiba (e são muitos) a primeira republica (dita democrática!) não descansou enquanto não ergueu (no chão sagrado da Rotunda) uma estátua a um ditador! Ao marquez, pois claro.
Entretanto (e para retribuir o galanteio) a segunda republica sentou o António José de Almeida numa praceta das avenidas.
Mas o que nos interessa agora é este romance a prometer casório por alturas do centenário. Uma festa de família!
Entretanto o noivo aparece em tudo o que é sítio: concursos de televisão que ganha fácilmente; biografias inéditas; na pele de sedutor irresistível! Um dia talvez venhamos a descobrir que era um democrata compulsivo.
Antes assim, não se estragam duas casas.

Saudações monárquicas

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Sócrates resolve a crise

Regionalismo e casamento de homossexuais são a grande receita de Sócrates e do PS para resolverem a crise em Portugal. Uma combinação inovadora, espécie de dois em um, permite responder aos anseios amorosos de muitos portugueses e ao mesmo tempo solucionar a desertificação do interior do país. Bastando para tal encaminhar e fixar os novos casais nessas paragens ignotas. Depois é só esperar pelos frutos.
Mas não há bela sem senão! Provávelmente dessincronizado com o alcance deste projecto, o anterior ministro (socialista) da saúde ter-se-á precipitado ao fechar uma série de maternidades fronteiriças!
E agora?!...

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

O programa da cidade

Desceu hesitante pelo túnel em caracol, foi o cabo dos trabalhos para alcançar o ticket do parque de estacionamento, esticou-se, quase que saiu pela janela, estacionou finalmente e respirou fundo! Durante todo este percurso ela azucrinou-lhe os ouvidos – mais depressa… para onde é que tu vais?! Em frente. Chega-te ao parquímetro. Não há pachorra para um homem assim… Há quanto tempo não vens a Lisboa?!
Meio estonteado saiu do carro e seguiu-a até ao elevador apinhado. Subiu ao colo de desconhecidos, recompôs-se, saltou barreiras de gente, conquistou o bilhete e viu-se num filme indiano!
Antigamente era impensável ver um filme indiano! Passavam no Odeon, anunciados em grandes cartazes e contavam histórias de amor impossível. Agora já não existem filmes indianos mas filmes sobre a Índia. Onde o amor se tornou impossível!
Quem quer ser milionário?!
Este concurso universal serve de pretexto para visitarmos a realidade indiana, os tremendos contrastes de uma sociedade milenarmente estratificada, a miséria e o luxo lado a lado, onde o progresso acentuou disparidades e clivagens.
Em Munbai ou Bombaim, que foi dote oferecido aos ingleses, a vida continua incompreensível aos olhos de um ocidental! E o realizador não poupa os espectadores ao realismo da condição de milhões de seres humanos que habitam em intermináveis lixeiras como se fossem casas. E que apesar de tudo sorriem e amam. E trocariam um prémio milionário pelo sim da sua amada!
Um bom filme que escusava de acabar em arremedo de West Side Story. Mas está bem, afinal sempre é um filme indiano.
A parelha improvável ficou mesmo ao meu lado. E ela, bem mais tolerante, aconchegou-se.

sábado, fevereiro 07, 2009

A verdade

A verdade histórica não precisa que a guardem, não precisa que a imponham, que a repitam até à exaustão, e sobretudo que a defendam como se fora uma crença, um dogma, um credo. Tudo isto faz mal à verdade.
Aliás a dialéctica ensina-nos que quanto mais encarniçada for a defesa de determinada verdade, quanto mais altos os muros que a protegem, esse é o próprio sinal da sua fraqueza.
Vem a propósito o clamor levantado contra um bispo católico que ousou discordar dos termos em que é relatado o 'holocausto' dos judeus durante a segunda guerra mundial.
Segundo o prelado a dimensão da tragédia tem sido empolada distorcendo assim a verdade histórica. Tanto bastou para ser obrigado a pedir desculpas e há quem peça a sua resignação!
Por este caminho nunca encontraremos a verdade.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Detergentes da república

Quando a nódoa ameaça deixar marcas indeléveis no regime, conhecidos agentes branqueadores entram em acção e é vê-los todos os dias a ocuparem o espaço mediático, quais glutões do ‘omo lava mais branco’!
Um dos programas de lavagem a seco mais utilizado é o ‘prós e contras’ da dona Fátima! Sempre disponível para limpar e escovar os desastres da república, eternamente grata aos seus egrégios fundadores, abre a lavandaria com gosto e convida os melhores detergentes.
Há falta do ex-Vital comunista (que faz limpezas no Público) convocou o ex-bastonário ribeirinho. Igual a si próprio (lembram-se dele a propósito da Casa Pia?!) de esfregona em punho, denuncia a conspiração, para de seguida desvalorizar a denúncia, e por fim, em desespero de causa, agita o fantasma do próximo Mussolini!
Só faltou declamar Luís XV – depois de Sócrates... o dilúvio!
Que lindo!
Mas o nosso detergente está enganado, porque há nódoas que não saem nem se conseguem disfarçar. Neste sentido, a estratégia da ‘paz podre’ apenas adia um desfecho, não o evita. E já todos percebemos que com Sócrates as coisas pioraram onde não podiam piorar – a independência do poder judicial está posta em causa. E a partir daqui tudo se desmorona – ninguém confia, ninguém acredita, ninguém investe no futuro. Uma sociedade destas está condenada, não tem futuro.

Saudações monárquicas.

domingo, fevereiro 01, 2009

D. Afonso Henriques

Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção!


‘Mensagem’ de Fernando Pessoa