terça-feira, abril 28, 2020

Hoje há palhaços


Temos o circo montado e um cartaz que anuncia: - família de trapezistas, malabaristas, bufões, com cem anos de experiência a entreter multidões! Aquilo está-lhes no sangue diz alguém mais atrevido. O povo aguça o ouvido e já se ouvem palhaços. Vêm aos pares e um deles faz o número dos Domingos – 163 infectados! Abismado o companheiro deixa o juízo inocente: – se o vírus dorme aos domingos, prá coisa ficar conforme... vamos fazer mais domingos!

Na plateia há gargalhadas e os animais amestrados dão a volta ao redondel. Todos cumprem um papel, basta vibrar o chicote. E uma odalisca de archote incendeia a situação. Ilusionista ou burlão, eis afinal a questão! A estrela da companhia, entra em cena de turbante, venda os olhos à plateia, diz que vai salvar o mundo! Fez-se um silêncio profundo. Ninguém tuge ninguém muge. A condição é ficarmos em casa para todo o sempre. Um suspiro renitente, desejo mal sublimado, mas o povo habituado, na canga já calejado, abana a cauda contente. Com futebol na TV e cantigas de embalar quem precisa de arejar?! E no que toca ao sustento chega o banco alimentar! O segredo desvendado, põe-se de pé a plateia, e um microfone afinado dá vivas à odisseia.

sábado, abril 25, 2020

Um discurso católico, apostólico, republicano!


Sem surpresa as celebrações da república de Abril seguiram o guião habitual. Em atmosfera reduzida, graças ao vírus, mas sem esquecer o essencial, o supremo magistrado encerrou as comemorações com um discurso de fazer inveja ao mais inflamado jacobino! E para que não restassem dúvidas elencou os quatro feriados que merecem evocação no actual regime – o dez de junho, dia da raça, de Camões, das comunidades, e do que for preciso, porque a segunda república também conta, e ele não seria quem é se não fosse assim; o primeiro de Dezembro, entretanto recuperado, para fingir que somos independentes; o cinco de Outubro, onde lhe fugiu a boca para a verdade, confundindo o regime (nunca referendado) com a ideia de pátria; e claro, o 25 de abril que a fazer fé no seu discurso corresponde à prometida felicidade terrestre! Boa oratória, terá convencido as almas mais simples, esqueceu-se dos monárquicos, não é grave, e da monarquia, apenas lembrada naquela passagem dos 'novecentos anos de história'. O Bispo terá gostado certamente, e a Igreja mantém-se paradoxalmente republicana. Seja Cerejeira ou Clemente o seu patriarca!


sexta-feira, abril 24, 2020

O campeonato covid 19!


Será talvez por excesso de noticias, apesar de serem sempre as mesmas, mas quando abro a televisão fico com duas ideias na cabeça: – que Portugal é o melhor contra o vírus, está em primeiro, antecipa medidas enquanto os outros se atrasam, e que em matéria de atrasos ninguém bate o sr. Trump e o sr. Bolsonaro! Para os media portugueses, dois autênticos apanha-bolas neste renhido campeonato viral! Diz o povo e com razão – 'mais vale cair em graça do que ser engraçado'.

É claro que aquelas ideias que inadvertidamente me entraram na cabeça, saem com a mesma velocidade à medida que vou tomando conhecimento de outras informações que escaparam á censura da república. E o caso muda de figura. Já não estamos assim tão bem, e não fora o espírito obediente e ao mesmo tempo receoso dos portugueses, que se fecharam positivamente em casa, e as coisas poderiam ter descambado. Ainda bem que assim aconteceu e só esperamos que no prometido desconfinamento gradual o comportamento da população se mantenha.

Uma última nota para a cerimónia que se vai realizar amanhã na assembleia da república, e que Rui Ramos (Observador) caracteriza de forma magistral:

'Os católicos fecharam as igrejas, e o papa apareceu sozinho. Mas as esquerdas portuguesas não se podem permitir tais despojamentos. Quem serve um deus que sabe ser falso, nunca pode dispensar o aparato de cerimónias e manifestações que sustenta as mentiras.'



terça-feira, abril 21, 2020

Ser ou não ser...


Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e flechas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? …

Uma pergunta e uma tragédia que bem podiam ser as nossas. Eu sei que correm por aí várias petições, sem dúvida louváveis, algumas até assinei, petições que se insurgem contra o mar de provocações que todos os dias sofremos. Mas dizei-me, existe ali naquela assembleia algum deputado que nos represente?! Que represente a oposição à ideologia (e à mentira) que ali se celebra?! Não, não existe. Quando muito haverá alguns que se afirmam não socialistas mas que noutros aniversários da mesma data nunca deixaram de estar presentes entre cravos e discursos. Portanto e para concluir, não existe verdadeira oposição em Portugal. Se calhar nunca existiu, ou se existiu foi sumáriamente eliminada. Como diria Luís Vaz – 'mísera sorte, estranha condição'.

segunda-feira, abril 20, 2020

O Costa das capelinhas!


Eu podia não escrever isto, podia passar por cima, mas há coisas que me ultrapassam, e uma delas é a hipocrisia. Ainda por cima mascarada de esperteza saloia.
Vem isto a propósito da fuga em frente ensaiada pelo dr. Costa para tentar branquear os excessos abrilinos do seu confrade Ferro.
Primeiro prometeu o reinício dos campeonatos de futebol, anúncio que estranhei, sabendo eu que o futebol, mesmo à porta fechada, é um jogo de contacto!
O enigma durou pouco. Durou até ser amplamente noticiado que o dr. Costa tinha ido bater à porta da Igreja! Converteu-se?! Julgo que não. Preocupado com os riscos da pandemia, terá pedido ao Bispo para encher de novo as igrejas justificando assim a festa parlamentar.

Moral da história: - Acima da saúde, da liberdade, da igualdade, acima de tudo, está a nossa fraternidade. Nossa, deles, evidentemente.


sábado, abril 18, 2020

Abril e o 'triunfo dos porcos'


Há duas formas de falar nas comemorações do chamado '25 de Abril'. Uma, mais genérica, universal, e que não precisa de pandemias, condena sempre a celebração nacional de acontecimentos que possam dividir os portugueses. E como no golpe militar de 1974 houve vencedores e vencidos, nunca é de esperar que os vencidos gostem ou sejam obrigados a gostar da sua derrota. Quanto mais celebrá-la! Isto é tão óbvio que me dispenso de mais explicações.

A outra forma é a que tem sido seguida pelo regime implantado em 1910, e que consiste naquilo que sabemos - todos os dias são bons para reabrir feridas, achincalhar os vencidos, numa sucessão de golpes e datas triunfais, que se vão anulando umas às outras, e apenas revelam a fragilidade das respectivas vitórias e da própria república.

Chamei Orwell à colação porque o seu 'Triunfo dos porcos' é a alegoria exacta para descrever o que provávelmente se irá passar na Assembleia da República no próximo 25 de Abril - uma celebração ideológica, quase confessional, cujo livro sagrado é uma constituição que na sua essência é indiscutível e imutável. A imutabilidade destina-se a perpetuar a actual clique no poder. Quem lá for nesse dia ou pertence à seita ou é conivente. Não há outra justificação e sempre foi assim. 

Se não fosse, o meu texto e o título que pedi emprestado, estariam errados.


quinta-feira, abril 16, 2020

domingo, abril 12, 2020

Páscoa

Páscoa presente
Contraditória
Que nos aparta
E aproxima
Mas já não rima
Com a memória!

Páscoa inocente
Aprisionada
Páscoa de novo
Nova jornada
A mesma Cruz
Leve e pesada!

Páscoa doente
Cheia de dor
Cheia de esperança
Que nos descansa
Na Tua vinda
Nosso Senhor!



In Memoriam de uma amizade que me acompanhou toda a vida

sexta-feira, abril 10, 2020

Rui Pinto o prisioneiro da república


Aproveitando o facto do estado de direito estar de quarentena, a justiça portuguesa viu aí a oportunidade para resolver o 'caso Rui Pinto' que tanto a atormentava. Atormentava-a porque não podia mantê-lo eternamente em prisão preventiva, tal como era seu profundo desejo; atormentava-a porque o Rui Pinto se transformou entretanto num herói nacional, sem a justiça perceber porquê; mas o seu maior tormento era o julgamento que se avizinhava! Este sim um acontecimento que convinha evitar a todo o custo.

Dizem que há males que vêm por bem. Veio o vírus, deixou de se falar em corrupção, os corruptos ficaram no desemprego, e o anúncio de um indulto generalizado deixou no ar a pergunta – então e o Rui Pinto?! Continua preso?! Havia que fazer qualquer coisa. A juíza descobriu que afinal o Rui Pinto é bom rapaz; inventou-se uma espécie de prisão domiciliária num apartamento da PJ; e fez-se aquilo que nos tinham dito que não era possível fazer! O Rui Pinto vai colaborar com a justiça mas não pode ser prejudicado por isso. Resumindo, o escândalo que o julgamento prometia, vai ser servido a conta gotas, à medida que os discos rígidos forem sendo desincriptados, e na medida em que as forças ocultas deste país forem permitindo. Depois, se houver matéria para averiguações logo se verá. Alguns dirão – é a justiça a funcionar.

quinta-feira, abril 09, 2020

O ministro holandês se calhar tem razão...

Ontem, na assembleia da república entre decretos e projectos para ajudar toda a gente, foi um fartote! E cada projecto, já se sabe, corresponde a mais dinheiro à custa dos cofres públicos, do bolso dos contribuintes, e obviamente do endividamento do estado. Um estado (ou um regime) que quer agradar a todos porque só assim conseguirá os votos para se manter à tona de água. Isto tem pouco a ver com a pandemia mas tem muito a ver com o oportunismo e com a pedinchice. Até já se pede dinheiro para cantigas! Quem não vai em cantigas são aqueles que, sendo contribuintes líquidos da união europeia, não estão dispostos a caucionar aventuras em conjunto e preferem a velha política - amigos, amigos, dívidas à parte. Como eu os compreendo. 


https://observador.pt/programas/ideias-feitas/deus-nos-ajude-o-tordo-exilou-se-em-portugal/

quarta-feira, abril 08, 2020

Serviço policial de saúde!


Já que o SNS funciona como a gente sabe, daí haver sempre uma CUF perto de si, a polícia resolveu tratar da saúde aos portugueses. Eficiente, vai cumprindo zelosamente a sua tarefa, bloqueia rotundas e artérias, aconselha os condutores a manterem-se em prisão domiciliária e pode ser que no futuro em vez do tradicional balão passe a usar zaragatoas. Damos mais um passo na irrelevância do SNS e aproveitamos a folga que a polícia vai ter. Folga que crescerá ao ritmo que o governo for soltando os ladrões. Tem lógica: - entre prender um ladrão que qualquer vírus pode soltar ou prender os portugueses em casa para se tratarem, creio que nenhum polícia hesitará.

Nota: Face à soltura anunciada lá tiveram que soltar o Rui Pinto. Mas por se tratar de perigoso cadastrado fica em prisão domiciliária numa casa cedida pela PJ. E não pode aceder à internet não vá o rapaz descobrir alguma coisa que anda por aí escondida.

terça-feira, abril 07, 2020

A curva achata ao fim de semana!

Epidemiologistas de todos os quadrantes, incluindo o matraquilho dos santos na televisão pública e os outros matraquilhos das semi-públicas, irão logo à noite debruçar-se sobre a curiosa curva portuguesa que à segunda-feira regista sempre menos casos provocados pelo vírus recomeçando depois a crescer até achatar de novo no próximo fim de semana! E ninguém consegue resolver o enigma! Eu, se não me levam a mal tenho uma teoria relativamente simples sobre o fenómeno: - estou convencido que o corona vírus fura a barreira policial e também vai de fim de semana. Se alguém tem uma explicação melhor, que se chegue à frente. Entretanto vou esperar pelas doutas análises televisivas.

Noutro registo, e atenção que isto é tudo uma questão de registo, parece que já existem estudos internacionais que estão a comparar o número de óbitos ocorridos em Portugal, durante este mesmo período, em 2019. E também parece que a diferença é muito grande. Mas as causas de morte não estão a ser atribuídas à pandemia! Afinal o que é que se passa?! 

segunda-feira, abril 06, 2020

A mentira não tem vacina!


Quando se trata de doirar a pílula, para não dar notícias desagradáveis, já sabemos que todos mentem. Mentem as super potências, mentem as pequenas potências, mentem os impotentes, e minto eu às vezes quando me quero enganar! Porém, é forçoso admitir que a tendência para a mentira aumenta muito naqueles que dependem do voto para continuarem a mentir. É dos livros.

Ora isto levanta um grande problema de confiança, e sem ela não é possível mobilizar ninguém para uma 'guerra' tão difícil como a que travamos. Explico: - passar a vida a fazer propaganda ao serviço público de saúde e ao mesmo tempo depender tanto do apoio da 'saúde privada', a mesma que era (e continua a ser) vilipendiada pela geringonça... não me parece saudável, nem ajuda ao clima de confiança que se pretende. Quem não se recorda desta ministra da saúde e da sua guerra ideológica contra os 'privados' e contra as Ordens!

É por isso que continuo dividido quanto às prioridades. Combater primeiro o vírus ou a mentira! Para o vírus há-de encontrar-se uma vacina. Para a mentira é mais difícil.

sábado, abril 04, 2020

População em cativeiro, presos na rua!


Se fosse preciso, através de uma só medida, demonstrar ao mesmo tempo a mentira em que vivemos e a incapacidade do governo, ela aí está: – soltar os presos por causa da pandemia! Ou seja, em vez de aproveitarem o facto de já estarem obrigatóriamente confinados e a partir daí estabelecerem um plano de controle do vírus, não, fazem precisamente o contrário do que aconselham os portugueses a fazer – que, infectados ou não, devem ficar em suas casas para se protegerem e tratarem*.

Ora bem, a razão desta incongruência não tem a ver com um apregoado sentido humanitário mas sim com a incapacidade de resposta à crise por parte dos serviços do estado, neste caso, os prisionais**. Porque não nos iludamos isto tem a mesma marca de incompetência e mentira com que já nos deparámos a propósito dos incêndios de Pedrogão ou da mais recente propaganda sobre a 'folga orçamental'! Que pelos vistos desapareceu rápidamente! E até valeu um insulto 'patriótico' ao ministro holandês!
Não corram com o Costa e com o seu governo familiar e vão ver onde vamos parar. Até rima.

*Mesmo esta 'história' de manter os sintomáticos ligeiros em casa, sem os testar, também me parece muito discutível. Para não dizer suspeito. Pois suspeito que transformar as casas das pessoas numa extensão do serviço nacional de saúde, sem serviço de saúde ao domicílio (médico, enfermeiro, seja o que for) só pode ser mais uma mentira. E uma fuga para a frente.

**Não é possível montar hospitais de campanha nas prisões?! Já nem falo em testes porque já sabemos que 'só chegam para a semana'.

quinta-feira, abril 02, 2020

Eanes – o Ventilador!


Deus pode-me castigar e serei talvez o próximo a precisar de um ventilador. Porém, como diz o povo, enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Além do mais o meu ventilador, se essa altura chegar, já terá sido entregue a um 'chefe de família com filhos' de acordo com a doutrina do general Eanes. Doutrina profusamente aplaudida por todos os que ainda não precisaram de um ventilador.

Agora o que eu não posso fazer é considerar heróica a sua proposta. As regras de cavalaria que definem o heroísmo aconselham a defesa intransigente dos mais fracos e vulneráveis. O contrário do que propõe a tese selectiva do general. Nesse sentido é pouco heróica, mas é muito primitiva. E deu jeito a António Costa. A escassez de ventiladores passou para segundo plano e a incompetência do governo também.