domingo, junho 29, 2008

Câncio sequestrada!

Leio Fernanda Câncio quando me quero fustigar inutilmente! Talvez porque estes dias de calor torturante convidassem ao sacrifício, confesso que li Fernanda Câncio. A ideia que tenho de Câncio atemoriza-me – penso que ela não me deixaria nascer, mas se conseguisse nascer, quando fosse muito velhinho, poderia decretar que o meu tempo expirou! Mas Câncio surpreende, Câncio compreende o drama dos senhorios que foram empobrecendo enquanto os inquilinos prosperavam. Câncio descobriu que a expressão proprietário tem no nosso país uma conotação pejorativa, que a lei acompanha e penaliza. Câncio contra a corrente condena o congelamento das rendas, o que é um bom princípio.
É sempre assim, quando esperamos o pior de alguém, enganamo-nos, e pode haver salvação. Por isso subscrevo Câncio:

“(…) Quando uma pessoa que paga 50 euros por uma casa onde pagou durante quase cinquenta anos uma renda ínfima se acha no direito de exigir/sugerir a realização de uma obra que custa pelo menos o equivalente a dez anos de rendas futuras e corresponde a práticamente todo o ‘bolo’ das rendas que pagou desde o início, surge óbvia a conclusão de que, para essa pessoa o senhorio é um serviçal. Condenado a servi-lo em penitência eterna por ter alguma vez sonhado que um investimento podia ter proveito, que ser proprietário podia ser rentável. O mais grave, porém, é que este delírio não pertence a um excêntrico isolado, mas a uma cultura generalizada e autorizada pela lei. Uma cultura que arruinou o centro das cidades e empobreceu milhares de famílias. Pudessem elas tombar os prédios nas estradas e paralisar o País, outro galo cantaria. Assim, resta-lhes servir a pena – e ter sentido de humor.”

Nem mais.

Fonte: “O sequestro dos senhorios” de Fernanda Câncio in DN de 27/06/08.

sexta-feira, junho 27, 2008

A dignidade da justiça

A dignidade dos tribunais é outra coisa. A segurança nos tribunais, outra coisa é. A justiça de fachada, os palácios da justiça, mesmo pronunciados em latim, são coisas deste género. Portanto, se percebi o alarido que por aí vai, é necessário proteger os juizes das cadeiradas dos réus, mas também é preciso proteger os portugueses da justiça que temos!
Neste ponto suscita-se um incidente para que o poder judicial possa endossar responsabilidades ao poder executivo, que naturalmente as endossará ao poder legislativo. O presidente da república fará então um discurso arbitral e apaziguador!
Mas nada disto tem a ver com a dignidade da justiça, essa conquista-se com outras armas, está no subconsciente dos cidadãos, é independente, e por isso não tem órgãos de recurso político-pártidários; é responsável, e por isso não se enreda num processualismo kafkiano; é rápida, e por isso vai a tempo de fazer justiça.
Sem justiça (ou com justiça à portuguesa) nenhuma sociedade pode evoluir e desenvolver-se. E se queremos realmente sair deste atoleiro precisamos de reformular todo o sistema político. Numa palavra, mudar de regime.
Aproveitem o centenário.

quarta-feira, junho 25, 2008

Moda de vanguarda

De vez em quando aparece um Antunes na televisão, são as elites que temos, aquelas que conquistaram o poder às outras, que o perderam, onde eu me revia, provávelmente pelas mesmas razões que levam agora os Antunes à televisão.
A história das sociedades humanas é assim, o mérito existe apenas na memória, no mais é luta pelo poder e a violência que isso custa.
Este preâmbulo tem a ver com a actual vanguarda europeia e com a sua indiferença pela vontade dos povos! Aliás a palavra ‘povo’ adquire neste contexto o seu verdadeiro significado: povo sou eu, porque não conheço nenhum Antunes e não tenho, por isso, qualquer possibilidade de alterar o que quer que seja. E mesmo que me deixem votar, hão-de obrigar-me a votar as vezes que forem necessárias até eu pronunciar um exausto sim!
De que vale então este escrito? Para quê resistir à inevitável ‘construção europeia’, processo aristocrático por excelência, como todos os processos históricos conhecidos?!
Vendo o meu peixe ao melhor preço: a sensação que tenho é que estas elites não fazem caminho para ninguém, estão deslumbradas pelo poder, não arriscam nada. As outras, ao menos arriscaram a cabeça! E perderam-na.

Nota Básica: Nada contra a família Antunes. O apelido é um mero exemplo.

segunda-feira, junho 23, 2008

O brilho da política

“Falhei, falhámos… há-que dizê-lo” e estas palavras ecoaram na sala de congressos com a grandeza das coisas simples! Angelo Correia ressuscitava a política e eu que olhava distraídamente para o televisor fixei-me no discurso de despedida do velho tribuno social democrata: “Saio de palco… mas não saio da política… continuo no PSD… ‘não viro casacas’… e se nos próximos combates precisarem de mim… chamem-me que eu vou… é disso que eu gosto”!
O congresso emocionado, eu também, a política sem emoção não é política.

sábado, junho 21, 2008

A geração dos euros

“Logo ao abandonar o estádio de Basileia, Cristiano Ronaldo disse aos jornalistas: “As possibilidades de ir para o Real Madrid são grandes.” Digo-lhe eu: “Nas tintas!” A última coisa que me apetece saber no enterro de um amigo é que um vizinho arranjou um emprego (ou uma namorada) do caraças. Nos enterros podem contar-se anedotas, para desanuviar, mas é de bom tom não falar de felicidades próprias. Mais, é de um grande topete! Já há dias, o seleccionador francês Raymond Domenech tinha escolhido os minutos a seguir à derrota da sua equipa para dizer, virado para as câmaras, à sua namorada: “Estelle queres casar comigo? Mas o que é que subiu à cabeça destas estrelas? Pensam que somos tansos que gravitam à sua volta? Não! Nós somos tansos que gravitam à sua volta enquanto eles pairarem nas alturas. Na hora da derrota esperem só duas atitudes: dos melhores de nós, um aborrecimento respeitoso; dos piores, um despeito e vontade de vos morder as canelas. Não esperem que com a alma amarfanhada abanemos a cauda de contentamento: “Olha, perdemos o Europeu mas o Cristiano lá vai para o Madrid!” Cristiano Ronaldo: dê-me uns dias para voltar a estar fascinado com o seu sucesso. Hoje, não estou.”

Com a devida vénia – Ferreira Fernandes in Jornal ‘O Jogo’ de 21/06/08.

sexta-feira, junho 20, 2008

Quartito azul…

“Quartito azul de mi primero amor…” são versos de um tango antigo, história de amor verdadeiro que guardamos sem saber. Corre veloz pensamento estrada fora como outrora e se o dia prometer não te esqueças de sonhar veleiros à beira rio viagens à beira mar!

quinta-feira, junho 19, 2008

“Por um dia fui irlandês!”

"A Europa do pensamento único não se pode queixar. Tem o que merece. A Irlanda-modelo, sempre referenciada como uma via de desenvolvimento a imitar, virou Irlanda-pesadelo. Neste referendo, os irlandeses disseram "não" à batota. Sim, porque é de sofisticada batota que se trata, depois de tantos e variados expedientes ao longo dos tempos. Aquando do "não" dinamarquês a Maastricht e do "não" da Irlanda a Nice, foi institucionalizada a prática do referendo pós-referendo, de maneira a dar uma nova e generosa oportunidade ao povo de se penitenciar perante o directório europeu. Tudo isto porque os eleitores do "não" (ao contrário dos do "sim"...) nunca estão suficientemente esclarecidos e por isso é necessário "educá-los" com mais referendos. Com a Constituição Europeia chumbada na Holanda e em França, a táctica mudou. Já não eram a pequena Dinamarca ou a Irlanda a bater o pé, mas a grande e soberba França. Por isso, em vez de um novo e punitivo referendo de resultado imprevisível, a solução foi um "novo" tratado, com a garantia de não se voltar a cometer a imprudência de dar voz aos eleitores. Por azar esqueceram-se não dos gauleses, mas dos irlandeses que, coitados, teriam que votar por obrigação constitucional. De início, a "Europa Única" estava descansada perante tão confortável margem das sondagens. Até se dizia, tranquilamente, que não havia plano B para um improvável "não" (em bom rigor, um plano C, pois que o B já se havia esgotado na esperteza de um tratado travestido). Finalmente, os irlandeses, que nunca foram militantemente eurocépticos como os ingleses e já haviam votado seis vezes antes sobre a Europa (cinco vezes "sim" e uma vez "não") tiveram a ousadia de rejeitar o tratado, numa consulta popular que ultrapassou em afluência todos os anteriores actos (cerca de 53%). Não deixa de ser espantosa a reacção dos grandes países e da Comissão. Dizer-se que o tratado não está moribundo é, em primeiro lugar, desrespeitá-lo, pois o que lá está escrito é que ou é assinado por todos ou não avança. Dizer-se que menos de dois milhões de eleitores não podem condicionar a vontade dos europeus é uma falácia, pois os outros povos não foram ouvidos e seria até provável que em alguns países se viesse a chumbar o tratado. Sentenciar-se que nestas consultas se vota mais a pensar na política nacional que na Europa é o argumento habitual para interpretar um "não", que todavia jamais vi referido para interpretar um "sim". Aliás, neste caso irlandês a quase totalidade das forças políticas no governo ou oposição estavam do lado do "sim" e nem se pode falar de um voto de protesto quanto à política interna. Inqualificável foi também a reacção de alguns líderes europeus (a começar pelo hegemónico eixo franco-alemão) ao repreender a Irlanda (recordam-se de algum puxão de orelhas aos franceses por ocasião do seu "não"?). A verdade é esta: o Tratado de Lisboa não exprime, ética e politicamente, um contrato envolvente, transparente e responsabilizador com os cidadãos. O tratado é uma charada quase indecifrável de remissões, excepções, alterações e repristinações que lhe retira um carácter desejavelmente comum e amigável. É um rendilhado técnico que introduziu 356 emendas aos 413 artigos do Tratado da UE e do Tratado sobre o funcionamento da UE, contém 13 Protocolos anexos com valor idêntico ao próprio tratado, mais 65 Declarações de Estados-membros relativas às disposições dos tratados! Uhf! Gostava de saber quantos deputados em Portugal terão lido tão vasta documentação aquando da ratificação parlamentar...Por tudo isto, a Europa do pensamento único não se pode queixar. Tem o que merece. Um voto "sim" numa consulta desta natureza implica uma explicação cristalina, transparente, acessível do que vai mudar. Na ausência de tudo isto, o "não" aparece como legítimo e natural. Com a agravante, na Irlanda, de ser perceptível que o Tratado de Lisboa favorece os Estados mais populosos e retira influência aos países mais pequenos.Um pouco de sensatez e humildade ficaria agora bem à ortodoxia europeia, de maneira a enxergar que afinal o problema europeu não é irlandês. É europeu! E, ironia das ironias, a Irlanda porta-estandarte do projecto de progresso, paz e democracia na Europa é agora quase convidada a uma separação. Tudo por causa do... povo se pronunciar livremente sobre um projecto de tratado que, no preâmbulo, refere a necessidade de "uma União cada vez mais estreita com os povos da Europa em que as decisões sejam tomadas ao nível mais próximo possível dos cidadãos" e no seu artigo nono que "a cidadania da União acresce à cidadania nacional, não a substituindo". Por medo, cobardia, apoplexia tecnocrática, diletantismo ou atestado de inferioridade conferido aos povos, o "gravy train" europeu não gosta definitivamente de dar voz aos cidadãos! Em Portugal, o Governo também mandou às malvas a sua promessa de "referendo popular, amplamente informado e participado"...Por tudo isto, e independentemente da minha posição de princípio pró-europeia, por um dia fui irlandês!"

António Bagão Félix
(Ex-Ministro das Finanças)

Fonte: Jornal ‘Público’ em 19/06/08.

terça-feira, junho 17, 2008

Eu alienado me confesso…

Confesso que nunca tinha assistido a um programa tão alienante e ao mesmo tempo tão divertido como aquele! E só não resisti à terceira parte porque achei o prolongamento desnecessário e sem qualquer influência no resultado final!
O tema era a selecção de “Madaíl e Scolari” e a proposta do ‘prós e contras’, destinava-se a averiguar se esta ‘selecção’ deve ser considerada um elemento de coesão nacional ou de alienação nacional!!! Ou assim, assim!
Antes de qualquer reflexão sobre o assunto é preciso dar os parabéns ao programa (e à sua apresentadora) porque cumpre na íntegra a função para que terá sido criado - relativizar e empacotar os problemas, ou seja, ‘fazendo média’ como dizem com muita graça os nossos irmãos brasileiros!
Outra questão prévia diz respeito aos convidados, uma selecção de luxo, aliás dentro daquilo a que o programa já nos habituou! Do lado dos alienados estavam o incontornável Daniel de Oliveira, sportinguista farto de bandeira (como eu o compreendo!), lado a lado com Salgado de Matos, sociólogo, confuso, e aparentemente sem clube! Em frente estavam os coesos, um optimista impossível de travar (e aturar) e um advogado do Porto, incréu, mas cheio de fé na selecção! Para treinadores de bancada, escolhidos a dedo, vieram o Miguel Gaspar dos jornais; uma senhora que eu não conheço, e dois jovens mais ou menos sábios. Pelos emigrantes falou um cônsul. Ou seria embaixador!
Passou um dia e se me perguntarem o que retirei do programa, eu respondo: nada.
Se insistirem muito eu talvez consiga dizer que a selecção de hóquei em patins do estado novo também servia para a coesão e para a alienação nacionais desse tempo. E servia para mais coisas, por exemplo, para ver jogar bom hóquei em patins, para incentivar o gosto pela prática da modalidade, para aumentar a competitividade cá dentro… do hóquei em patins.
E aqui está uma diferença substancial em relação a esta selecção (de futebol): ela não tem (não teve até agora) o condão de melhorar o futebol (e as coisas do futebol) cá dentro. Aparentemente está desligada e isolada para que nada de mal lhe aconteça! Não é a ponta de uma pirâmide, é apenas um instrumento de ilusão. Um brinquedo que não sabemos quanto custa!
Não era bem este o tema em discussão!…

sexta-feira, junho 13, 2008

Irlanda não é porreira!

Tudo leva a crer que o 'não' vença hoje na Irlanda deixando os tratantes de Lisboa à beira de um ataque de nervos.
Mal vista pelos ‘porreiros/pá’ nesta sua insistência (e obrigação constitucional) em referendar o Tratado, a Irlanda não quer ser empestada pelos abortos, eutanásias e casamentos homossexuais, o que para os burocratas de Bruxelas, para a esquerda unida e afins, é considerado um pecado mortal. E já vão avisando que o processo de ratificação ‘para lamentar’ irá prosseguir normalmente nos restantes estados da união, porque para os ‘porreiros’ a democracia tem que ser bem utilizada, ou seja, o povo só deve votar se ganharmos alguma coisa com isso.
Nesta base, a Irlanda está orgulhosamente só!

terça-feira, junho 10, 2008

Amanhã

Amanhã é o dia da raça lá em casa
Quem faz anos é a mãe da raça lá de casa
Amanhã somos todos da mesma raça
Falta o pai p’ra lembrar qual é a (t)raça

Neste dia pão e vinho concerteza
Quem vier tem lugar à mesma mesa
(Amanhã é o dia da raça lá em casa)
Porque a casa é da raça portuguesa.

(Variações sobre a ‘casa portuguesa’ nas vésperas do onze de Junho)

domingo, junho 08, 2008

Sobre a amizade

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem de gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir a falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo.. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o enorme vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo, para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
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Vinicius de Moraes - 'Procura-se um amigo'

quinta-feira, junho 05, 2008

“Benfica dentro Porto fora”

Este título explica tudo, escusam os juristas de se debruçar, os analistas de se justificar, os políticos de se conter (a segunda circular de se esconder) porque a verdadinha está toda ali. O resto é conversa de milhões e quanto toca a cada um.
Resulta daqui que a almejada justiça vai ter que esperar por melhor oportunidade, estamos apenas a assistir a mais um episódio da campionite norte/sul, que sobe de tom à medida que os ‘subsídios’ da UEFA se tornam decisivos para mascarar a falência técnica dos três ‘clubes do estado’. Curiosamente (e ninguém quer reparar nisso!) estes subsídios têm o mesmo efeito perverso (em Portugal) que os outros subsídios europeus, a saber: os da UEFA cavam o fosso entre clubes grandes e pequenos; os da UE cavam o fosso entre ricos e pobres!
Sendo assim, subscrevo-me parafraseando um conhecido ditado popular: por morrer um batoteiro a batota não acaba.

Registo de interesses: Azul sem riscas mas com memória.

Fonte: Título do jornal Record de hoje.

terça-feira, junho 03, 2008

Fico velho…

‘Não posso estar parado, fico velho…’ é letra de música portuguesa, talvez de um grupo chamado ‘além-mar’, que não corresponde, porque fui entretanto surpreendido pelo tempo e confesso alguma incapacidade para compreender tanto alarido. O segredo deve estar no movimento, ou na falta dele!
Por exemplo, o que leva cem mil pessoas a ouvir uma garça ‘cantareira’ que tropeça pelo palco! E é essa a noticia! A preço alto! Num país que vive (quase) exclusivamente do orçamento de estado, quem terá pago aqueles bilhetes? Pois, pois, o preço da gazolina e do arroz, já te dou o arroz…
Mudando de campo, qual será a vida daqueles milhares (milhões, se contarmos com a televisão) de portugueses que seguem o autocarro da selecção para toda a parte! Que dão vivas incessantes à selecção com medo que ela morra! E logo outra dúvida me assalta - como seria a sua existência se não houvesse selecção? E os emigrantes, coitados, que são tantos, meu Deus! O que seria deles sem o calor da selecção! Sem poderem encarar o patrão belga ou suíço com aquela convicção infantil – a minha selecção é melhor que a tua, bem feita.
Afinal qual é o teu problema?! São as cores da bandeira?! Não ligues, é feita na China e pelas cores deve ser chinesa. É por causa da alienação?! Que importa isso agora, se não fosse esta era outra. Olha, passou agora um autocarro laranja (que raio de cor!) vamos lá apoiar a selecção. Não podes estar parado, ficas velho...