sábado, maio 30, 2020

O desconfinamento eleitoral


Há tanto tempo confinado perdi a noção do tempo. Guio-me então pelas estrelas e o sol é a maior que conheço. Um sol que ilumina e aquece e permite aos portugueses sonharem com a praia como última fronteira da felicidade!
Esta obsessão nacional é relativamente recente já que antigamente a população preferia um picnic no campo debaixo de uma sombra que a protegesse da canícula. Outros tempos e outras imagens. Hoje o que temos é um presidente da república a mergulhar em Cascais e um primeiro ministro a bronzear-se na Caparica. Sem luta de classes.
Porém uma nuvem negra ameaça o desconfinamento eleitoral. Em Lisboa e Vale do Tejo, capital e arredores, o contágio agrava-se e fica provado que a pronúncia do norte não tem a ver com o vírus. Há outros factores. O mais provável é ter que ver com o facto de cerca de três milhões de portugueses habitarem na área metropolitana de Lisboa e ainda com um pormenor que tem escapado à maioria dos opinadores – o coronavírus não está em campanha eleitoral!

sexta-feira, maio 22, 2020

Os lobos


Escrevo sabendo que não existe hoje um pensamento monárquico, uma proposta nesse sentido, e por isso seria muito difícil que houvesse um meio de comunicação social que reflectisse aquilo que não existe. E não há, cumprindo-se assim o que disse Marcelo Caetano há mais de meio século: – que não existe um problema de regime em Portugal! Frase que lhe valeu uma reprimenda de Salazar, não pela frase em si mas porque não se podia dizer isso naquela altura, pois frustrava o apoio que os monárquicos de então concediam à segunda república.

Como se vê o país não mudou muito, tornou-se apenas mais pequeno ao ponto de já não haver monárquicos, não havendo portanto quem se ofenda com frases daquele género. O que verdadeiramente temos hoje é uma república tribal, espécie de alcateia dependente da mesma gamela mas principalmente de quem lá põe a ração. Como o dono é estrangeiro as únicas lutas pelo poder resumem-se a quem fica com os melhores nacos e isso obedece às leis ancestrais das alcateias. Está tudo na constituição, só é preciso saber ler. 

Mas para quem não saiba pode verificar que a realidade não mente - os partidos são iguais no essencial, haver um ou mais que um vai dar no mesmo, ter duzentos e cinquenta deputados ou não ter nenhum também não muda nada, até porque o regime se implantou como verdade irrevogável. A única esperança, para quem possa ainda ter esperança, reside na certeza, ditada pela natureza das coisas, que quando o dono estrangeiro muda (ou morre) também podem mudar as relações de poder na alcateia. E o macho alfa pode vir a ser substituído por outro mais do agrado do novo dono.

Concluindo, sem oposição ao regime, a nossa organização política é afinal bem simples de decifrar. Como diria o Eça – às vezes mudam as moscas, outras vezes nem tanto.

Saudações monárquicas


quarta-feira, maio 20, 2020

Portugal antigo e moderno



O presidente da república aparece num supermercado de máscara e calções e a imagem torna-se viral! Somos todos iguais pensará o povoléu! Eu não penso nada mas acho isto tão pobrezinho como criar galinhas em São Bento. Ou ir à Brasileira desconfinar o Chiado sabendo que tem um batalhão de microfones atrás. É teatro puro à conta da pandemia que ambos aproveitam para garantirem espaço televisivo e votos. Temos aquilo que merecemos... e gostamos tendo em conta a popularidade dos personagens.

Noutra vertente o país está quase todo nacionalizado faltava apenas apertar a coleira à comunicação social. Não era preciso porque ela já conhecia a voz do dono mas assim é mais seguro. Uns milhões tornam tudo cor de rosa. O mote já tinha sido dado pelo presidente quando sugeriu uma ajuda excepcional para compensar os media pela perda de publicidade. O governo concordou e distribuiu o bolo de acordo com o seu alto critério.
Coincidência ou não, alguns programas mais desagradáveis de investigação jornalística foram entretanto suspensos. E até o Ventura foi despedido! Critérios editoriais, dizem.

Saudações monárquicas


Nota básica: No caso do André Ventura fizeram-lhe um favor, sem querer. Isto se ele souber aproveitar o ensejo. O programa 'Pé em riste' em que participava na CMTV não presta para nada. Mas é ele que tem que perceber isso. 

sexta-feira, maio 15, 2020

Um incidente eleitoral


Enquanto regimes políticos, a grande e decisiva diferença entre a monarquia e a república, é a lógica republicana de estar sempre em campanha eleitoral. Daqui resulta que as repúblicas raramente tomam as medidas necessárias mas sim aquelas que lhes podem render mais votos. E nesta luta diária pelo poder, uma novela que o povo já não dispensa, vão gastando as energias da nação.

Foi assim que numa oficina de automóveis o presidente republicano aproveitou a oportunidade para recuperar alguns votos perdidos no 25 de abril e no primeiro de maio, ensaiando aquele número de ser contra os (novos) bancos! Número que o Costa já havia ensaiado no parlamento mas que ninguém levou a sério. O réu desta história, ronaldo para uns e tio centeno patinhas para outros, não se ficou e ía arranjando um sarilho. Entretanto telefonemas nocturnos, reuniões tardias, juras de amor, promessas de lugares e no dia seguinte regressámos todos ao covid. É a república portuguesa concerteza.


Saudações monárquicas


Já agora ouvimos a Amália!

https://www.youtube.com/watch?v=RU-Z0SiQKgU

segunda-feira, maio 11, 2020

As palavras dos outros!


O PCP é hoje um dos side show (o outro é a “extrema direita”) que disfarçam a verdadeira questão da democracia portuguesa: o peso crescente do Estado numa sociedade cada vez mais fragilizada, e a identificação desse Estado com um partido, o PS. O poder socialista, com as suas clientelas, faz-se sentir em tudo, até na barragem de fogo contra Rodrigo Guedes de Carvalho, pela suposta irreverência com que entrevistou a ministra da Saúde. Não, na Alameda não esteve o PCP. Ou antes, só esteve o PCP, porque estiveram o PS e a presidência da república, que criaram a excepção, e o PSD, cuja influência nos acontecimentos consiste cada vez mais em não ter influência nenhuma.


(Rui Ramos no Observador)




E as notícias da nossa TV:
  1. (Notícia de abertura) - Consta que Bolsonaro tenciona participar num churrasco com mais de cem pessoas.
  2. (Dia seguinte) - Bolsonaro, pressionado pelos media, desmarca churrasco com mais de cem pessoas.
  3. (Terceiro dia) – Trump telefona a Bolsonaro e também quer ir ao churrasco com mais de cem pessoas.
  4. (Quarto dia) – Trump... etc. etc.


Saudações monárquicas



sábado, maio 09, 2020

Ainda os ciganos...


A um texto Abecassis que corre no Observador pespeguei-lhe o seguinte comentário:
Primeira questão: - a comunidade cigana é ou não uma realidade para além dos indivíduos que a compõem?! Parece que sim. Segunda questão: - é ou não verdade que por parte da dita comunidade existe um incumprimento generalizado das normas sanitárias que se destinam a combater a pandemia?! Parece que sim. Terceira questão: - nestas condições o deputado André Ventura fez bem em levantar o problema em defesa da saúde pública?! Parece que sim. Sendo assim não deveria ao mesmo tempo apontar uma solução?! Parece que sim. Última questão: - então qual é o problema de quem o critica mas não aponta nenhuma solução?! É um problema antigo, um problema que atravessa toda a sociedade, responsável pelo nosso atraso, um problema de coluna, e não tem nada a ver com os ciganos.

Nota: O melhor sinal de respeito pela cultura das minorias é tratá-las por aquilo que são.

 https://www.youtube.com/watch?v=molS32Vbi00


Adenda: E para quem gosta do Paco Bandeira aqui fica uma implacável (e brilhante) crítica ao nepotismo. Que vem sempre a propósito.

https://www.youtube.com/watch?v=CvydtQgHPLk

quinta-feira, maio 07, 2020

Ventura e as causas perdidas


'Falem bem de mim, falem mal de mim, mas falem de mim'! Esta é uma conhecida frase que assenta bem a André Ventura e à sua imparável popularidade. Neste momento há quem o critique por desviar o foco das atenções para os ciganos numa altura em que existem suspeitas de negócios menos claros por parte do governo, ou de alguns governantes. É um argumento que não convence. Cada coisa no seu lugar. Se há um problema sanitário para resolver com algumas minorias, e parece que há, sejam ciganos ou refugiados, então deve ser resolvido. Da mesma maneira que as suspeitas de corrupção devem ser apuradas.

Os problemas do Ventura são outros e esses é que podem enfraquecer a sua causa. Dou alguns exemplos:
  • Quer ser o paladino do combate contra a corrupção mas insiste em ser comentador de 'futebol' em programas onde apenas se faz apelo a um facciosismo primário e rasca. E o futebol não sai dali nem mais transparente nem menos suspeito. Acresce que a sua visível antipatia em relação ao denunciante Rui Pinto é ela própria pouco plausível para quem quer combater de facto a corrupção. A corrupção em geral e não uma corrupção selectiva.
  • Aliás e já que falamos de selectividade André Ventura que recentemente queria acabar com uma série de Fundações fictícias ou redundantes, iniciativa com a qual concordo, esqueceu-se de incluir no lote a Fundação Benfica e outras do mesmo jaez! O André Ventura acha mesmo que os clubes de futebol estão vocacionados para albergar fundações no seu seio?! Ou universidades?! E porque não um movimento político?! E a seguir um estado totalitário?!
  • Outra das fragilidades de André Ventura tem a ver com a sua mania das castrações químicas e molduras penais exageradas. Devia bater-se para que as penas actuais se cumpram minimamente o que já seria bom. Bem sei que esta tecla irrita bastante a esquerda mas nem tudo o que irrita a esquerda é mau.
  • Finalmente a quarta república que ele propôe e espera. Lamento desiludi-lo mas a quarta república já chegou, só não foi ainda oficializada. Faltam uns acertos que é a parte mais difícil. Será sempre um presidencialismo à portuguesa, cheio de truques e alçapões. E no fim das contas em vez de ser o presidente a mandar no executivo é o executivo que manda no presidente. Já tivemos isto.


domingo, maio 03, 2020

Domingo de opiniões


(Dia da mãe)
Detesto os dias disto e daquilo mas a ter de escolher um dia para celebrar a maternidade seria o mesmo em que se celebra a Senhora da Conceição. E que não é hoje.

(A Igreja e o estado)
Deus nos livre da Igreja do Afonso Costa ou do Lenine onde os bispos e os padres eram trabalhadores ou funcionários públicos. Já não gostei de ver o Patriarca a apadrinhar a república de Abril e muito menos gostaria de ver a Igreja a toque de caixa do governo. Temos memória e sabemos que a história de Portugal e a da Igreja se confundem numa parceria duradoira, mas isso foi há muito tempo. Nos tempos que correm o estado trata a Igreja no mesmo plano de outras actividades 'com porta aberta para a rua'. Uma realidade que a Igreja independente já conhece, e irá ultrapassar seguindo o Evangelho. Como sempre fez.

(Marcelo quer salvar a imprensa livre)
Ora aqui está um objectivo bem difícil de alcançar! Era preciso que houvesse imprensa livre, e não há, porque a liberdade em Portugal tem um preço inacessível. Mas eu percebo o Marcelo, um político fabricado pelo Expresso e mais tarde pela televisão. Ele quer jornais com opiniões diferentes sobre todas as coisas excepto no que diz respeito à sua pessoa. E isso também não temos. Seria preferível fazer como noutros tempos em que havia os jornais do estado, e os outros. E para saber ao certo o que se passava tinhamos sempre a jeito, tal como hoje, a BBC.

(Trump serve para tudo)
E termino com Trump inimigo de estimação nacional, com direito a horas e horas de maledicência, cumprindo todo o anedotário universal. No entanto se por acaso telefona para Portugal e faz um elogio de circunstância, esse mesmo elogio abre todos os telejornais! Enfim, é o país que temos.


Post Scriptum:

A propósito das relações entre a Igreja e o Estado remeto para as considerações finais do Padre Pedro Quintela na Missa deste último Domingo. Paróquia do Monte da Caparica - Quarto Domingo depois da Páscoa (youtube). Está lá tudo, sem meias palavras, um bom guia de orientação geral.

https://www.youtube.com/watch?v=VnWDrKCx0Xc

sábado, maio 02, 2020

Não se pode elogiar...


Ontem depois de ver as imagens dos 'trabalhadores' concentrados na Alameda arrependi-me de ter elogiado o governo. E já agora todos aqueles que nos querem fazer de parvos. E não vale a pena tentar justificar o injustificável, incluindo o esforço patético de transformar uma manifestação de massas numa aula de ginástica do Inatel. Tratou-se de um decisão política, uma excepção sanitária, tal como havia acontecido com o 25 de Abril e provávelmente vai acontecer com a entrada em cena do outro pilar do regime, o nacional futebolismo. A bater certo com a doutrina de 'pão e circo' própria dos regimes que não se recomendam. Onde não há pandemia que os trave.

Hoje voltamos à cerca sanitária e o 'serviço policial de saúde' cumprirá zelosamente a sua tarefa assegurando que não haja ajuntamentos e proibindo os portugueses comuns de sairem dos seus concelhos. A mesma polícia que ontem aceitou passivamente que camionetes apinhadas de comunistas atravessassem concelhos para irem festejar o 'dia do trabalhador'. Que é como quem diz. Eu sei que foi tudo legal, havia uma alínea a sustentar a excepção, mas é precisamente por isso que tudo se torna mais grave. É o país que temos, que não é nosso, tem dono, e se quiseres saber quem são os donos podes vê-los nas datas de excepção. Tudo o mais é medo e submissão.

sexta-feira, maio 01, 2020

Os mais velhos e o futebol de vida ou de morte!


Hoje é dia de elogiar o governo a propósito do prometido desconfinamento. E dizer que a fórmula encontrada – dever geral de resguardo – é feliz, não discrimina ninguém, e ultrapassa algumas tentações totalitárias visando transformar a velhice numa condenação perpétua.

Mas se o governo ali teve discernimento e coragem já no que toca ao futebol voltámos á mesma. E voltámos a dar razão àquele título do New York Times – 'O clube de futebol como estado soberano'! Um título que envergonha qualquer país que se preze. No caso referia-se ao Benfica mas o jornalista americano se indagasse melhor saberia que são três os clubes do estado e não apenas um. E quando está em causa a respectiva sobrevivência financeira, no quadro artificial e megalómano em que vivem, não há governo que resista. Assim e contrariando todo o racional expectável abre-se um precedente para o futebol profissional, e só o de primeira, que francamente não percebemos! Endossando, ainda por cima, a última palavra para aquela senhora da direcção geral que não gosta de máscaras. Enfim, veremos o que acontece.