segunda-feira, fevereiro 21, 2022

A servidão das nações

 

Quando a democracia serve para arrancar raízes com séculos de história, ou subjugar a vontade das nações à usura dos empréstimos, pode dizer-se que o liberalismo venceu em toda a linha e a escravidão veio para ficar.

Bastam dois exemplos para ilustrar o que afirmo.

O exemplo da descolonização portuguesa, irresponsável e criminosa, a troco da caridade de terceiros que assim pagam a nossa dependência e irrelevância. Uma dependência que não muda de figura pelo facto de haver outros na mesma situação.

E o outro exemplo estamos a vivê-lo em directo e a cores na Ucrânia, com o alto patrocínio da comunicação social. A Ucrânia que historicamente fala russo, que já deu czares à Rússia, está à beira de uma guerra consigo própria da qual será a primeira vítima!

Os grandes obreiros desta possível tragédia estão identificados: - a chantagem da união europeia acenando com promessas de mundos e fundos; a irresponsabilidade da NATO que não desiste de cercar a Rússia; e a habitual subserviência europeia, quer da NATO quer da união europeia.

O instrumento deste plano sinistro é como sempre a democracia liberal elevada à categoria de divindade! A receita é colocar na mesma balança a vontade de gerações e gerações de ucranianos com a vontade expressa de uma maioria fugaz numa fugaz decisão. E está feito. Quem vier atrás que feche a porta.

E já que falamos de receitas, a servidão das nações acompanha muito bem com a servidão das pessoas.

 

Saudações monárquicas

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

'A conspiração contra o patriotismo'

 

'As instituições em Portugal são “pilhérias organizadas funcionando publicamente”, escrevia Eça em 1871. Evito, em princípio, generalizar excessivamente sobre Portugal e os portugueses, mas confesso que há momentos em que a coisa é irresistível e por estes dias a frase de Eça parece-me tão sólida e inabalável como uma demonstração matemática.

Vejamos. Oitenta por cento dos votos dos portugueses que habitam em outros países da Europa foram directamente das urnas para os caixotes de lixo. Tudo começou com PS e PSD a acordarem entre si uma ilegalidade: os votos da Europa seriam válidos mesmo que não acompanhados de uma fotocópia do cartão do cidadão. Acontece que a lei estipula expressamente que os votos não podem contar sem a tal fotocópia. O PSD depois voltou atrás. Mas já era tarde demais. Oitenta por cento dos votos, com ou sem fotocópia, tinham sido depositados nas mesmas urnas e era impossível distingui-los. Houve protestos. O Ministério da Administração Interna emitiu um comunicado onde manifestava, sem mais, a sua melancolia. Perante a enormidade do disparate, o Tribunal Constitucional decidiu unanimemente que a votação deverá ser repetida, atrasando por meses a tomada de posse do novo Governo. Prevê-se uma abstenção enormíssima nesta nova votação.

A Assembleia da República prepara-se aparentemente para negar ao Chega a vice-presidência a que ele constitucionalmente tem direito. Inventam-se rodriguinhos para justificar a ilegalidade do acto. Os rodriguinhos passam por uma litania de superioridade moral que torna pestíferos os eleitores do terceiro partido mais votado nas eleições. A Assembleia da República irá portanto, através deste procedimento discriminatório, negar, com virtuosos sentimentos e auroral boa consciência, a legitimidade da representação.

A Polícia Judiciária captura, no seu quarto, um miúdo de dezoito anos, que, segundo informação do FBI, havia confessado nas “redes sociais” a intenção de matar indiscriminadamente vários colegas na Universidade. Sucedem-se versões contraditórias sobre os planos e sobre o “arsenal” de armas que guardaria no seu quarto e questiona-se legitimamente se a intenção era real ou apenas a fantasia de um miúdo com problemas. Não importa. A comunicação social declara, ufana, que temos “terrorista”. Não um terrorista de extrema-esquerda, com provas dadas, como os das FP-25, nem um terrorista islâmico, como vários que por cá passaram ou por cá nasceram. Upa! Upa! Um terrorista “à americana”. O júbilo de ter um “terrorista” assim não se conta. As televisões enchem-se de uma chusma de psicólogos que explicam o verosímil perfil do miúdo, o João. O país mergulha, atónito, à pala do João, no oceano da terminologia psiquiátrica. É sempre bom aprender.

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género acusa um concorrente do “Big Brother dos Famosos”, o antigo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, de “violência doméstica” contra uma outra concorrente do programa, a Liliana, aparentemente sua namorada. Uma influencer, autodesignada por “A Pipoca Mais Doce”, apoia energicamente a denúncia, no que é acompanhada por Joana Mortágua, do Bloco, que vê no programa “machismo e o pior do capitalismo” (uma pessoa pergunta-se o que é que para ela é o melhor – acontece-me a mesma coisa quando o PC fala de “capitalismo de casino”: que outro capitalismo recolhe os favores do PC?). De qualquer maneira, eu já tinha antecipado um triste fim para o Bruno, quando, num zapping, tinha apanhado, há uma ou duas semanas, uma discussão entre ele e outros concorrentes em torno do misterioso tema “quem fez o arroz?”. Os sinais não podiam enganar-nos quanto ao destino do homem que outrora era acusado de comandar um bando de terroristas e cujas conferências de imprensa, longas de horas, ocuparam, durante mais de um mês, todas as televisões. A decadência é assim, e por cima disso, lá veio para a televisão a habitual chusma de psicólogos com a nobre missão de escalpelizar o seu carácter. A ERC já se meteu ao barulho e ameaça investigar a TVI, que emite o tal Big Brother.

O Presidente da República recebeu a nossa vitoriosa selecção de Futsal e aproveitou para nos instruir, como só ele sabe, sobre os mistérios da portugalidade. Segundo a sua voz autorizada, forte de estudos históricos e etnográficos, apesar de “em Portugal, ao primeiro desaire, a ideia [ser] mudar tudo o que se pode”, há momentos em que os arcanos da alma portuguesa se revelam no seu imaculado fulgor. Quais são eles? Quando chega “o instante decisivo onde se ganha ou se perde. Aí [somos] muito portugueses, heróicos nos momentos cruciais”. Cesse, de facto, o que a musa antiga canta. Ele próprio, de resto, nos dá frequentemente o magnífico exemplo desta nossa excelsa virtude, quando, por exemplo, num jantar de gala no Eliseu, canta, acompanhado por vários artistas integrados na sua comitiva, o peito ilustre lusitano, sob a forma da “Grândola, vila morena”. O momento foi oportuno e a escolha musical foi judiciosa, até porque, se a sua opção tivesse o nosso hino, os franceses poderiam pensar que era a Marselhesa mal cantada.

Francamente, esta sucessão de episódios grotescos parece-me a confirmação plena da afirmação de Eça segundo a qual as instituições em Portugal são “pilhérias organizadas funcionando publicamente”. Pilhérias, além disso, que servem como instrumento de uma conspiração generalizada destinada a destruir sistematicamente tudo o que possa sobrar de patriotismo em Portugal.'

Paulo Tunhas, in Observador (17/02)


Comentário do Interregno: Parabéns ao autor! Artigo certeiro e claro! 

Começando pelo fim: - 'o patriotismo do hóquei em patins transformado em futsal'; desde 1820 que o hino oculto é a marselhesa;

Bruno de Carvalho, 'Romeu na ilha de Lesbos' enfurecendo ilhéus e ilhotas; e obviamente a 'comissão não sei das quantas'; o resto são audiências; 

O 'João terrorista' e o provincianismo português; sem esquecer que Eça também sofria do mesmo mal; 

O Chega ainda não chegou mas vai chegar. Durante séculos chegámos sempre primeiro, agora chegamos sempre tarde;

A anulação/repetição do voto dos emigrantes é mais um episódio do elefante que temos no meio da sala mas que ninguém quer ver ou mudar porque dá jeito a todos. O elefante é a constituição mais extensa do universo, que se mete em tudo e não resolve nada mas sempre que é preciso segura o regime.

Uma pergunta final ao autor: - mas que portugueses é que esperava encontrar nos dias de hoje para que Portugal fosse diferente do que é? A 'raça dos navegadores' de que falava Pessoa já era uma saudade! E sem aquele espírito o patriotismo dissolve-se.

Saudações monárquicas

quarta-feira, fevereiro 16, 2022

Bruno e Putin os homens de quem se fala!

 

O mundo suspenso das manobras de Putin e Bruno de Carvalho, a oeste da Ucrânia, a fazer disparar audiências em paixão ardente! Ela que se afirmava lésbica, apaixonou-se por ele, e ele que sempre se afirmou homem, apaixonou-se por ela, indícios mais que suficientes para a ‘Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género’ intervir acusando Bruno de violência doméstica. Um beijo fora dos cânones precipitou os acontecimentos. Repentino e arrebatado Bruno agarrou-a pelo pescoço e beijaram-se num dos corredores do Big Brother. O vídeo tornou-se viral. Mais tarde confrontada com as imagens ela disse que gostou e gosta de ser amada assim. Foi aí que as coisas pioraram. Enfurecidas e desafiadas as organizações que zelam pelo pensamento único televisivo expulsaram Bruno do programa separando assim os namorados. Os portugueses votaram disse a apresentadora. E o país idiota respirou de alívio.

Este postal não tem a ver com Putin nem com Bruno de Carvalho embora sejam dois personagens com quem simpatizo. Não se comparam, mas têm algo em comum. Bruno de Carvalho é odiado por uma série de pessoas que detesto. Putin, idem. E às vezes isso basta para começarmos a simpatizar com alguém.

domingo, fevereiro 13, 2022

Zita Seabra sabe do que fala!

https://sol.sapo.pt/artigo/762133/zita-seabra-parecemos-um-museu-ainda-temos-um-partido-comunista

Em entrevista ao jornal 'Sol' Zita Seabra abre o livro da sua vasta experiência política e faz uma análise ao nosso sistema partidário, lançando ao mesmo tempo uma perspectiva sobre o futuro. Do seu ponto de vista PCP, Bloco, PSD e CDS, ou estão mortos ou à beira disso. E na actual conjuntura só o PS, IL e Chega têm condições para representar quer as aspirações quer a insatisfação eleitoral.

Uma bela entrevista!



quinta-feira, fevereiro 10, 2022

As nossas cores

 

Quando em tempos escrevi uns versos sobre as cores de Portugal referia-me à bandeira do Fundador, ao azul e branco que permaneceu durante séculos até que em outubro de 1910 nos foi imposta a bandeira verde rubra da Carbonária. Organização terrorista, braço armado do partido republicano que assim chegava ao poder.   

Mas não é dessas cores que vos quero falar agora, muito embora seja verdade que no momento em que negamos os símbolos ancestrais e tentamos reescrever a história, as coisas nunca ficam por aqui. Por isso foi sem surpresa que assisti na televisão a um curioso debate sobre a cor da pele dos portugueses!

O mote foi dado por um deputado do Chega que disse o óbvio – os portugueses são brancos. Caiu o Carmo e a Trindade! Provávelmente terá cometido um erro, terá ido muito atrás, deveria ter-se limitado à história que se aprendia na antiga quarta classe. Aos momentos constituintes do que é ser português.

E aí teria sido mais fácil explicar que Afonso Henriques e a sua mãe, apesar das desavenças, eram brancos, que o Condestável era branco, e que os navegadores ou conquistadores quando desembarcaram pela primeira vez em terras remotas também eram brancos.

Outra coisa são as cores do império. E esse, sim, teve e tem muitas cores, e com as quais convivemos por mais de quinhentos anos. E não terá sido uma convivência difícil para durar tanto tempo!

Portanto, da pseudopolémica o que sobra? Que se não forem os portugueses a defenderem a sua herança não estou a ver quem a possa defender.

Saudações monárquicas

sábado, fevereiro 05, 2022

Para que não restem dúvidas...

 

Para que não restem mais dúvidas, a direita não pode ser representada por um partido social democrata. Isto tem acontecido em Portugal há tempo demais e prova o embuste em que temos vivido. 

 Saudações monárquicas

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

Um país a fingir

Corre por aí um vídeo jocoso onde um jornalista americano se vê em sérias dificuldades para descrever as eleições portuguesas. E são tais as incongruências que desiste de informar os seus leitores, supostamente  do New York Times.  E a verdade é que a anedota  retrata na perfeição a triste realidade política em que vivemos: 

Um partido socialista vencedor absoluto, que há muito meteu o socialismo na gaveta, e se comporta como um partido social democrata moderado; um partido social democrata duplicado, irmão gémeo do vencedor, mas que se habituou a representar uma direita que é mais social democrata que direita; um partido comunista ultrapassado, teoricamente estalinista, mas que só quer sobreviver à sombra da democracia burguesa; um partido liberal que ao contrário dos congéneres europeus quer alinhar com a suposta direita que afinal é de esquerda, e assim até bate certo; um partido de nome Chega que nasceu para combater o socialismo que não há; e finalmente um partido popular que pelos vistos não é popular pois não conseguiu eleger nenhum deputado!

Enfim, um resumo verdadeiro que pode fazer rir mas que devia envergonhar um país a sério.


Saudações monárquicas 

terça-feira, fevereiro 01, 2022

Entre a realidade e a aparência!

Aparentemente Portugal está em contra ciclo com a Europa o que, sendo desagradável, não é propriamente uma novidade. Mas deixemos as aparências porque a realidade não é aquilo que se vê! Isto parece um paradoxo mas não é. E não é porque é impossível alguém, em seu perfeito juízo, admitir que Portugal cumpriu finalmente os desígnios de Abril transformando-se num país socialista! Se assim fosse não teria banido o Bloco e atirado com o PCP para os cuidados intensivos. Nem teria votado alegremente nos liberais ou resistido estoicamente à feroz campanha anti-Chega! Isto é elementar.

Mas então o que aconteceu para acordarmos no dia seguinte com o rectângulo pintado de rosa?!   

Há três hipóteses:

- Ou os portugueses ainda têm saudades de Sócrates e não podendo ter o original contentam-se com o seu antigo número dois.

- Ou Ventura tem razão e a subsidio dependência, primeiro externa e depois interna,  não deixa espaço a qualquer outra escolha política.

- Ou é uma combinação das duas hipóteses anteriores com os riscos inerentes.


Nestas condições o novo governo de Costa terá de governar à direita sem conseguir agradar à direita e será naturalmente detestado pela esquerda que lhe deu a maioria. Um berbicacho que explica o pouco entusiasmo dos socialistas por uma vitória tão retumbante. Na verdade, terão de fazer uma coisa que detestam e estavam à espera que fosse Rio a fazer - as inevitáveis reformas para sairmos da cauda da Europa.


Saudações monárquicas