segunda-feira, dezembro 31, 2007

Mensagem aos Romanos

Peço-vos que acreditem, que tenham fé na vida eterna, porque só assim podereis valorizar as vossas vidas, só assim haveis de evitar que numa esquina traiçoeira ou numa viela sombria, por uma ninharia, cheguem ao fim os vossos dias. Ou que numa praça qualquer, mais concorrida, vos façam explodir em nome de causas que nada têm a ver com Deus nem convosco. A democracia de César igualou as vidas mas não as valorizou, bem pelo contrário, veja-se como retirou Deus do calendário, para aí colocar um homem ou um cavalo! Isso não traz esperança nem convence, seria o mesmo que estabelecer um limite a quem sonha com o infinito. Nem o facto de se apregoar que só temos uma vida concorreu para a valorizar! Deste modo ela passou a ter um carácter exclusivamente utilitário e será essa a sua cotação.
Por isso, para vosso bem, e ainda que não acreditem, acreditem que só Deus pode amaciar o coração dos homens.
Sei que haverá entre vós quem não aceite a sugestão da crença, baseada em meras contrapartidas, como as razões securitárias que invoco! Esta mensagem não é para esses, porque essa relutância já é um sinal de eternidade.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Ontem, antes de emigrar…

Saboreio a castanhada longamente… de acordo com a tradição o açúcar deve estar em ponto pérola, a cor castanho escura, consistente e vítrea, reconheço-te, doce companheira do Natal! Fecho os olhos para me lembrar do gosto antigo! Ando muitos anos para trás… meu Deus como o tempo passou de repente, os olhos ainda fechados vêem a sala de jantar, a salamandra, a mesa oval… e lá estava a castanhada, castelo erguido com fiapos de chantilly!
A casa vai ficando vazia, deixou de ser o lugar do encontro de outras eras, e por isso esta noite terei que emigrar em busca da família dispersa! A memória regressa ao evangelho de Lucas, ao imponente decreto de César… que ‘mandou recensear toda a terra’! Na Missa do Galo o celebrante comentou o mal-estar que este texto infunde ao nacionalismo judaico, mas a verdade é que nestes dias, que seriam de paz e sossego, também nós andamos num virote, porque ninguém tem terra ou aldeia a que se possa acolher, presépio onde possa nascer!
Que sabedoria a do velho adro da Igreja onde se davam as boas festas a todos, em simultâneo, sem necessidade de mais intermediários! Que saudades de uma vida lógica, com referências e raízes!
Vogamos ao sabor de decretos sem utilidade ou grandeza. E sabemos tanto de César que pouco sabemos de Deus!

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Um Bom Natal

É o meu desejo para todos os viajantes que aqui passam, seja por amizade ou simples curiosidade, por afinidade ou engano, e com a sua presença vão dando alguma vida a este interregno, que se tem prolongado sem explicação aparente! Em sentido estrito e lato!
Mas não é tempo de balanço, é tempo de boas festas, momento de paz, de trégua nas divergências, é altura de presentes e árvores enfeitadas, de férias para alguns, de frio e tristeza para outros, mas é sobretudo a celebração do nascimento de Cristo, Deus vivo para os que acreditam, facto histórico que vai passando um pouco ao lado dos acontecimentos!
Sinais dos tempos, dirão os sábios, mas o planeta é redondo e o homem que o habita não mudou assim tanto em dois mil anos. Por isso é natural que os que agora se afastam retornem mais tarde ao presépio.
Maior que as palavras é a intenção destes votos.
Um Bom Natal.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Dom Duarte

"Dom Duarte veio à Terceira inaugurar as novas instituições da AMI. À noite houve um jantar promovido pela Real Associação da Ilha Terceira. Estive presente no jantar e é sobre o que lá se disse que vale a pena falar.
Primeiro percebi melhor o sentido da obra de Fernando Nobre. Não há dúvida que tem capacidade para mobilizar meios financeiros, materiais e humanos para o serviço social. O segredo que terá é o de adaptar a cada sítio aquilo que é aí necessário. Providenciar dormida aos familiares de pessoas doentes que são internadas em São Miguel é dar resposta a uma necessidade que se fazia sentir de forma crescente, aliás como já comprovavam as iniciativas de alguns municípios mais remotos que tinham apartamentos disponíveis para os seus munícipes em Ponta Delgada. Em Angra essa função já estaria preenchida por outras instituições ou então a política de saúde regional tratou de subalternizar o Hospital de Angra. O facto é que a AMI preferiu orientar a sua actuação para a distribuição de medicamentos e para o apoio aos mais desfavorecidos. A Igreja pode-se ressentir desta intromissão civil naquilo que costuma ser a sua esfera de actuação social mas a verdade é que quem não é contra nós é certamente por nós. De qualquer forma foi bom ter assistido à ligação entre a AMI e a Casa Real.
O segundo aspecto que importa falar tem a ver com o discurso de Dom Duarte, em complemento das palavras de boas vindas proferidas por Valdemar Mota. Do que me lembro disse três coisas importantes. Disse que estavam em preparação as comemorações do assassinato de Dom Carlos onde se iria relembrar a vida e obra daquele marcante rei de Portugal que – conforme disse Dom Duarte – se fosse conhecido pelos assassinos, certamente não o teriam morto. E como os assassinos de Dom Carlos somos de facto todos nós, que vivemos em República e que ainda não pedimos desculpas por termos morto o Rei, o que Dom Duarte quis dizer foi que, se conhecêssemos a monarquia certamente não a teríamos morto. Disse também que fazia pouco sentido criticar as edificações de muitos construtores civis quando basta uma assinatura de um arquitecto conhecido para destruir o ambiente urbano de uma cidade histórica. Basta olhar para a nossa Caixa Geral de Depósitos ou para a famigerada frente marítima de Angra para todos entendermos a mensagem do nosso rei. Terá dito também, assim interpreto, que a Monarquia pode coexistir com a República, aliás como demonstra o seu testemunho de décadas. Bastaria que os Presidentes da República fossem mais seguros da sua posição para que pudessem solicitar e estimular o desempenho do monarca. Mas a verdade é que só conseguem isso no fim dos mandados e na assunção de que ficaram aquém do que conseguiriam fazer em complemento da Casa Real.
O terceiro aspecto que aqui vos reporto já se passou sem o Senhor Dom Duarte. Lamentavam os meus companheiros que a Terceira estava a perder peso para São Miguel, que Angra se estava a transformar numa vila, que qualquer dia nem teríamos o Representante da República, nem Bispo nem Secretarias Regionais. Naturalmente que constatei essa tendência mas demonstrei que a culpa era em grande parte dos terceirenses. Têm um Bispo mas não saem à rua em dia de procissão como fazem em São Miguel. Têm uma Universidade mas nunca se identificaram com ela, a ponto de não haver qualquer placa a indicar o caminho; existe a placa para os Montanheiros, para o Instituto disto e daquilo mas nada sobre a Universidade. Tiveram o porto mais importante dos Açores mas fizeram tudo para o fechar. Têm o melhor aeroporto das ilhas mas admitem que o seu uso seja condicionado para uso militar mesmo quando não há guerra. Têm possibilidade de ter cursos de jornalismo, de arquitectura, de governança e de paisagismo mas preferem condicionar a sua criação. Estão no centro do arquipélago mas preferem a defesa provinciana e inútil da ilha."

Tomaz DentinhoJornal “A UNIÃO” de Angra do Heroísmo – Açores, em 20/12/2007.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Pai Natal

Saco ás costas, barba branca, começo por distribuir presentes aos mais necessitados:

Aos franceses – órfãos de pai há tanto tempo… que se agarram ao primeiro padrasto que lhes dê ou traga alguns momentos de glória! Não precisa de ser francês! Foi assim com o corso, é agora com o húngaro Sarkozy, homem teatral, sempre à procura dos holofotes para aí encenar a virilidade da política! E não só…
Os franceses adoram ser conduzidos e também adoram estes romances! Que vão intercalando com as revistas cor-de-rosa sobre o Principado… outro sinal de orfandade, outro acto falhado de que não se dão conta!
O melhor presente que se pode dar a um francês é um manual sobre a adopção. Explicando obviamente que a família biológica existe… embora possa ter sido guilhotinada.

Aos portugueses – ofereço este postal para que descubram as diferenças, mas sobretudo para que comparem as enormes semelhanças.

Boas Festas.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Sobre o Tratado Reformador

Na parte que diz directamente respeito ao Tratado Reformador assinado em Lisboa, transcrevo a posição institucional de SAR o Duque de Bragança, incluída na “Mensagem do 1º de Dezembro de 2007”:

“ (…) Como herdeiro da Casa Real, e daí com especial responsabilidade na preservação do património histórico do povo português, tenho orgulho em comemorar hoje a restauração de 1640 e sinto que, no futuro, essa independência deve ser cada vez mais bem aproveitada. É no passado que ela tem as suas raízes, mas é no futuro que a devemos projectar.

No nosso país, tem faltado debate sobre as vantagens que nos outorga a independência. Em alguns sectores da sociedade, faz-se correr que a soberania é um conceito esgotado e que, com a globalização e iberização dos mercados, só teríamos vantagens na subsequente união política com a Europa.

Se queremos conduzir a bom porto o nosso país, acho que devemos reflectir com independência, antes de prestar ouvidos a tentações e oportunismos políticos.

Neste preciso contexto está o Tratado Reformador Europeu previsto para ser assinado em Lisboa em Dezembro e cujo processo de ratificação começará nos próximos meses.

Começo por saudar o esforço dos diplomatas portugueses que, honrando a tradição da Secretaria dos Negócios Estrangeiros, criada por D. João V, conseguiram que Portugal saísse prestigiado do modo como conduziu a negociação do Tratado de Lisboa.

A sua ratificação deveria preservar a diversidade e a riqueza cultural dos Povos Europeus. Em Portugal, como noutras nações europeias, as personalidades e os partidos debatem se essa ratificação deve ter lugar por referendo ou aprovação parlamentar.

Seja qual for a decisão, deve haver debate para ficarem claras as principais alterações introduzidas, que ficaram por explicar. O modelo da Europa a adoptar deve ser objecto de uma profunda discussão!

Espero que a introdução do Presidente Europeu, a eleger pelo Conselho, não vá minando a diversidade das nações. A verdade é que ao darem-se passos para uma entidade de tipo federal, os Governos nacionais perdem poder.

É minha firme convicção que a melhor resposta dos Portugueses ao Tratado Europeu é trabalharmos para termos um soberano verdadeiramente independente de todas as forças económicas, políticas e regionais. O Estado dá cada vez mais indícios de estar refém de “interesses especiais”. Engordou. Está flácido. É necessário reafirmar a sua autoridade e separar o seu papel central, que tem a ver com as funções de soberania, das outras funções que pertencem à sociedade. Ao assinarmos o Tratado queremos dizer que “Pertencemos à Europa”. Termos um rei será dizer que “Portugal continua a pertencer aos portugueses”.

Excerto da “Mensagem do 1º de Dezembro de 2007”.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Dia Treze

Dia histórico, dia em que a união europeia assina um tratado para falar a uma só voz, o dia em que os designados países pequenos e médios se submetem aos grandes, única forma de terem força, dizem, e porque não têm alternativa! Porque o mundo mudou, e a europa não percebeu (!), nem tem responsabilidades nisso (!), mas mudou, o muro caíu, o comunismo falhou, as torres gémeas caíram também, o terrorismo afinal é idêntico, não pode ser incensado em áfrica e condenado na américa do norte. Por isso, porque o inimigo é global, só o venceremos se estivermos unidos e a unidade impôe cedências, ou como questionam alguns: - para que serve a soberania virtual de cada país face ao poderio dos gigantes emergentes!
Mas a justificação para tal empresa teria de ter outra solidez, tinha que se erguer acima da matéria, e não pode reduzir-se às ambiguidades democráticas. Mas é precisamente o que se passa, daí a indiferença dos povos europeus, enquanto uma legião de burocratas sonha com impérios e legiões a partir de Bruxelas!
Outra utopia e outro muro para cair.

sábado, dezembro 08, 2007

Festa em Lisboa

Para quem se identifica com uma história sem interrupções, faz-lhe alguma confusão ter que emprestar a sua casa para convidar os amigos para um fim de semana em Lisboa!
Mas valeu a pena, explicámos à europa e ao mundo que quinhentos anos de experiência continuam a fazer a diferença! Num excesso patriótico vi o mapa cor de rosa desfilar à minha frente... e o convite a Mugabe vingou o ultimatum! Com os africanos nos entendemos, não precisamos de intermediários para nada.
Falta agora lancetar o abcesso provocado pelas ideologias serventuárias dos vários socialismos, estranhas a África, e que lançaram o continente na miséria e na indignidade. Aqui já não estou tão certo das actuais capacidades portuguesas, serão precisos homens de ambos os lados que assumam sem complexos a história comum, incluindo nela todas as vicissitudes, o bom e o mau de uma presença impossível de apagar e que à vista da festa de Lisboa, ninguém quer apagar. Ainda se fala muito de petróleo e dinheiro, mas sente-se que existem coisas mais importantes para falar. Há sinais de esperança e o dia de hoje é um desses sinais – celebra-se a Senhora da Conceição, Rainha e Padroeira de Portugal!

quarta-feira, dezembro 05, 2007

A Câmara

Câmara de pedintes, sem mistério, à vista do cheque não há partidos para ninguém, venha ele que é para gastar. Luís Filipe bem tentou evitar as obras que hão-de projectar o Costa para a reeleição, em vão, outros valores mais altos se levantam!
Patusca a história das dívidas, não acham?! Que as dívidas não são dele, correspondem a edilidades anteriores!!! Será que não é sempre assim, ou o Costa queria entrar logo a contrair dívidas?! Pois claro que queria e assim fez!
Mas é para uma boa causa, já se esqueceram que temos aí o centenário! Tem que lá estar um que seja da cor! Da cor de Outubro, obviamente.
Depois, aquilo não é uma câmara, é uma ante câmara. Dá saída para tudo, dali pode sair um primeiro-ministro, um presidente da república, um candidato a qualquer coisa, tem sempre prémio.
E ainda havia gente com medo que eles não se entendessem!
Lisboa é Lisboa e o resto é paisagem!

sábado, dezembro 01, 2007

Dia da Independência

Peço imensa desculpa por vir quebrar o sossego da nação, por vir lembrar uma data que os livres pensadores se esforçam por esquecer, que a grande maioria da população desconhece porque era esse o objectivo, mas tenham paciência, eu demoro pouco, meia dúzia de linhas no máximo.
Quando no primeiro de Dezembro de 1640 decidimos dar fim à união ibérica, reino unido de Portugal e Espanha, união europeia a que aderimos voluntariamente, quando os quarenta fidalgos souberam interpretar os desígnios da Pátria, reconduzindo-a ao trilho Fundador, quando tudo isso aconteceu… estávamos mais ou menos na mesma encruzilhada em que hoje nos encontramos!
Ontem como hoje e a troco da independência política, também nos foram prometidos mundos e fundos! Também embarcámos nas guerras dos outros, em armadas invencíveis, também quebrámos velhas alianças, também trocámos princípios por coisas, e parece que ao princípio a coisa corria bem… e também não havia alternativa!...
A única diferença é que a antiga adesão foi votada em Cortes, e aprovada, com a honrosa excepção do procurador por Lisboa, de seu nome Febo Moniz!
Sessenta anos depois, porém, reconhecido o erro, veio o tal dia 1 de Dezembro de 1640!
O Dia da Independência.

quinta-feira, novembro 29, 2007

REN por toda a parte!

O sítio de que vos falo esteve outrora coberto de vinhas, dava bom vinho, algum azeite, ainda hoje existem vestígios de adegas e lagares, e um velho moinho que já deu pão atesta que por ali sopra vento antigo.
O primeiro choque, a primeira agressão a que assisti sem perceber, veio do poder central: a segunda república entendeu subsidiar o trigo sem cuidar dos danos colaterais. Os rendeiros agradeceram e arrancaram as vinhas, teriam menos trabalho e não teriam que dividir os frutos com o proprietário. Mas naquelas quintas e courelas o trigo nunca seria viável, o vinho era… e seria. Não adianta agora carpir mágoas, o erro está feito e oferecem-se alvíssaras a quem descobrir uma cepa nas freguesias da Caparica e Trafaria.
O segundo choque veio com o poder local! Alheios à região, os eleitos curavam de ser eleitos e nessa tarefa se consumiam! Em nome do voto ou da disciplina partidária tudo consentiram, a floresta de betão cresceu muito e desordenadamente, os bairros clandestinos são o verdadeiro emblema de trinta anos de ditadura autárquica. Apesar de tudo, nesta ponta ocidental do concelho de Almada houve quem resistisse á especulação imobiliária, houve quem conservasse, com maiores ou menores dificuldades, património legado, e por isso a paisagem ainda mantém algum equilibrio e beleza.
Mas o terceiro choque aí está, um choque eléctrico a cargo das todo poderosas empresas públicas! A história visível conta-se em poucas linhas: - a EDP deu à luz uma filha chamada REN, cuja actividade consiste em semear um leque variado e profuso de postes e torres metálicas de alta e altíssima tensão transformando este pedaço de Portugal num gigantesco paliteiro! E não se incomoda muito com o plantio, tanto pode espetar um poste em cima de uma capela setecentista, como de um moinho milenar, pode ser rente a uma escola ou perto das casas dos moradores, é onde lhe calha! Entretanto, face aos legítimos protestos dos habitantes, que correm o sério risco de virarem lâmpadas fluorescentes, a edilidade acordou finalmente do seu longo torpor para clamar em uníssono - aqui d’el rei! Que ‘este progresso’ não justifica tudo.
Será que ainda vamos a tempo?!

segunda-feira, novembro 26, 2007

Bons sinais

Uma notícia aqui, uma opinião ali, um evento que se anuncia para amanhã, começamos a descobrir que andávamos a ser enganados, que a verdade histórica estava subtilmente amordaçada, mal contada, ou simplesmente esquecida! Também li o artigo de Pulido Valente, ele próprio um dos desenganados, afinal o Rei Dom João VI foi um estadista notável, não o imbecil que Junqueiro e as repúblicas, de um lado e do outro do Atlântico, se esforçaram por fazer crer. O Rei que Napoleão não conseguiu destituir ou prender, mantendo assim a independência do Reino, o Rei que fabricou o Brasil, unificando o maior e mais poderoso País da América do Sul, dando-lhe o estatuto de Reino, que teve o talento e a previsão de sonhar o Reino Unido de Portugal e Brasil, que ainda hoje é desígnio maior de quem ainda sabe sonhar, esse Rei só merece a nossa gratidão e homenagem. E quando digo nossa, refiro-me naturalmente a portugueses e brasileiros.
Os manuais escolares anti-portugueses e anti-brasileiros ainda insistem que fugiu para o Brasil cumprindo instruções dos ingleses! Seria caso para indagar se era do interesse de Portugal que Dom João VI fosse preso e humilhado pelos franceses como aconteceu com o Rei de Espanha, destituído sumariamente por Bonaparte! Claro que não era, e daí também a diferente designação que espanhóis e portugueses dão à mesma realidade bélica que constituiu a expulsão dos invasores: enquanto os espanhóis lhe chamam ‘guerra da independência’, porque de facto a tinham perdido quando perderam o seu rei, os portugueses chamam-lhe ‘guerra peninsular’ porque mantivemos a independência, uma vez que o nosso Rei continuou livre e a dar as suas ordens a partir do Rio de Janeiro.
Mas Pulido Valente tem razão quando reconhece a tentativa de silenciar e menorizar a guerra que travámos contra o invasor jacobino: - “… Porque sucedeu isto? Por causa da subordinação cultural de Portugal à França e ao mito da França como ‘libertadora da humanidade’ (que não se adaptava bem à razia de Bonaparte). E por causa do republicanismo, que nunca desculpou à Igreja, ao ‘Antigo Regime’ e à própria Monarquia liberal a defesa do país contra a ‘revolução’, mesmo sob a forma de império napoleónico. O homem da época passou a ser Gomes Freire de Andrade, um traidor que lutou até ao fim pelo inimigo. Quando por aí a inconsciência política resolve apelar ao patriotismo, nunca me esqueço da omissão e distorção da nossa guerra da independência contra a França. O Portugal moderno nasceu torto. Como, de resto, se viu no PREC”.

Fonte: Jornal Público de 23/11/07.

sexta-feira, novembro 23, 2007

A lógica orçamental

Do orçamento retenho um momento do ministro das Finanças… que me fez sorrir! Dizia ele que em Portugal, ao contrário de outros países, ainda se considera um feito digno de nota, fugir ou defraudar o fisco. Por isso garantiu que o combate à evasão e à fraude fiscal vai continuar e com vigor acrescido, política que sustentou no seguinte pressuposto: - se os incumpridores pagassem os impostos que não pagam, mas deveriam pagar, o IRS de cada português poderia ser desagravado em cerca de 38%! Ouviram-se palmas. Foi neste momento que sorri. Naturalmente que o Ministro sofre, como todos nós, da falta de um raciocínio lógico, a mesma deficiência que explica o insucesso escolar de muitos dos nossos jovens! Então se os portugueses confiassem no Governo, se tivessem a garantia de uma correspondência tão linear entre o seu gesto cumpridor, e o benefício que lhes adviria com uma previsível baixa de impostos, se tivessem a certeza, ou ao menos a esperança, de um futuro melhor, acha o Senhor Ministro que não seriam os primeiros a cumprir os seus deveres fiscais, ou pensa que deixariam sem censura quem não o fizesse também!
A questão é diferente e vai para além deste orçamento: - porque será que em determinados países os respectivos habitantes ‘sentem’ que fugir ao fisco é um acto quase patriótico?! Ou dito de outra maneira, porque será que esses povos não confiam nos seus governantes?!
Ora aqui está um problema que pode servir para exercitar o raciocínio lógico.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Pobres e mal agradecidos

Desde que o homem chegou que não falhamos uma fase final, situação que nunca vivemos no passado, foi também ele que incendiou o ardor patriótico que envolve a selecção, que faz sonhar um povo descrente, em crise de identidade, que apenas se revê naqueles onze rapazes a correrem atrás de uma bola, e espera deles a absolvição de todos os pecados! Tudo isto se deve ao ‘tio’ Scolari.
Mas como na fábula, já se sabia que ‘quem semeia ventos colhe tempestades’. Não adianta explicar aos portugueses que a selecção não é tão extraordinária como eles imaginam, ou como os media diáriamente nos impingem. Temos de facto dois ou três jogadores acima da média, titulares indiscutíveis em grandes clubes europeus, mas que podem estar lesionados ou em melhor ou pior forma, porque os restantes são apenas bons jogadores, semelhantes a muitos que se encontram por esse mundo fora. Scolari bem nos avisa, mas o povo não quer saber, avança para o estádio plenamente convicto de que os ases lusitanos infligirão a desolação e a derrota a quem se atreva desafiá-los. Ronaldo e Quaresma hão-de trespassar as defesas com fintas humilhantes, a goleada é obrigatória!
Quando finalmente verificam que os adversários resistem, e que para chegar ao próximo Europeu foi preciso sofrer a bom sofrer, os ‘patriotas da selecção’ não se conformam, desatam num berreiro, e vá de zurzir no pobre seleccionador nacional! É caso para perguntar: - o que teria acontecido se não têm conseguido o apuramento?!
Scolari deveria ter falado comigo antes de aceitar tal tarefa, este pesadíssimo fardo de aturar uma nação alienada, que não tem onde se agarrar, que não vislumbra horizonte… ou então, se o homem insistisse, citaria os romanos quando por aqui passaram: - “não se governam, nem se deixam governar”!

sexta-feira, novembro 16, 2007

O organismo independente

Alvíssaras!
Algures, no meio desta floresta de enganos, plena de suspeições, onde a justiça tarda e a culpa morre solteira, aqui, nesta nesga do paraíso irreal, foi proclamado o seguinte edital: existe uma entidade, um organismo, completamente independente, acima de qualquer suspeita, imune a pressões, e que não se desvia um milímetro das suas excelentes razões! Razões técnicas, naturalmente, ou outras, se for caso disso.
O nome do organismo? – LNEC
Porque foi convocado? - Para arbitrar o jogo entre a OTA e ALCOCHETE, equipas que disputam árduamente a localização do futuro aeroporto de Lisboa. Ou será um novo aeroporto estratégico para o país?!
Seja o que for, ficámos a saber que tínhamos um organismo com esta qualidade e calibre, o que ía levando o governo a demitir-se de funções entregando-lhe a responsabilidade da escolha! O governo já desmentiu, assegura que lhe cabe a palavra final, mas foi por um triz!
Não sei o que pensar! Fico triste e contente ao mesmo tempo: contente, porque foi com alívio que vi o governo recuperar o seu estatuto; triste, porque afinal se temos uma entidade assim, que não se deixa manipular por ‘lobies’ e partidos, deveria ser ela a governar, e quem sabe, encarregar-se de outras tarefas bicudas, por exemplo, nomear os árbitros do futebol, eu sei lá!
Saudações monárquicas.

quarta-feira, novembro 14, 2007

O caminho de Tordesilhas

Advertência ao leitor – este não é um texto sério no sentido comum do termo, desvia-se do padrão, é um sonho que acordou na recente cimeira Ibero-Americana, em que foi visível… a invisibilidade luso-brasileira. Diga-se que sem proveito nem glória, porque enfraqueceu simultaneamente o mundo hispânico e o universo lusíada.
Não estou a imaginar fórmulas mais ou menos sofisticadas de neo-colonialismo, nem quero recuar no tempo, mas apenas constatar que é do interesse de todos os ibero-americanos reconstruir um entendimento sólido em torno de uma história comum, entendimento assente no respeito mútuo, e que salvaguarde a duplicidade das respectivas raízes ibéricas. Mas tem que ser um acordo útil, que consiga fazer frente à clara hegemonia anglo-americana, que vem ditando as suas leis e não está por certo interessada no ressurgimento de uma forte concorrência. Aquela que traz à memória Tordesilhas! Para o efeito conta com a pulverização das repúblicas sul-americanas, fomenta o divisionismo, e não aprecia nada a capacidade representativa da monarquia espanhola. Conta também com a fragilidade lusitana, incapaz de assumir e corporizar um projecto que inclua os interesses e as aspirações da lusofonia. Daí a pobreza participativa na cimeira, que acabou naturalmente por afectar também o Brasil. Penso aliás que Portugal deveria propor outro equilibrio para as próximas cimeiras: por um lado, considerando o peso relativo do Brasil face ao bloco hispânico, quer em termos territoriais, quer em termos populacionais, por outro lado, tendo em conta a capacidade representativa portuguesa em termos de ‘ponte’ para o continente africano.
Claro que estas propostas e este tipo de protagonismo só fazem sentido e só são exequíveis com uma monarquia. Daí a advertência inicial.
Saudações monárquicas.

terça-feira, novembro 13, 2007

Futebol a quanto obrigas…

A televisão pública deve estar atenta aos fenómenos que ocupam e preocupam os portugueses e um desses fenómenos é sem dúvida o futebol. A alienação está identificada e denomina-se “deslocação de interesses”. Persiste endemicamente no terceiro mundo, e no continente europeu, é uma herança das ditaduras. Uma das bolsas mais resistentes na Europa é o caso de Portugal, onde o futebol assume a condição de desígnio nacional, abre e fecha telejornais, suporta três jornais desportivos diários, ocupando ainda espaço e tempo mediático em proporções que raiam o insuportável.
Apesar de todo este entusiasmo e interesse, o nosso principal campeonato sobrevive em falência técnica, depende exclusivamente de receitas extraordinárias e dos vastos subsídios, encapotados ou não, provenientes do orçamento de estado. É um campeonato reduzido a três clubes, que há mais de meio século disputam, praticamente sem concorrência, os primeiros lugares, clubes esses que congregam a simpatia de mais de noventa por cento dos adeptos, outra peculiaridade portuguesa que concorre para a sua insustentabilidade competitiva e financeira.
Curiosamente não foi sobre esta realidade que os ‘prós e contras’ de Fátima Campos Ferreira se debruçaram, o que poderia ser curial e interessante! Não, a grande preocupação nacional versa sobre a arbitragem e sobre as tecnologias que a poderão auxiliar a diminuir os erros… no tal campeonato em que ganham sempre os mesmos!!!
Dizem que o ridículo mata, acredito, mas não em Portugal.

sábado, novembro 10, 2007

“Quem tem medo do raciocínio lógico?”

É este o título de uma pequena crónica assinada por SAR o Duque de Bragança, na revista “Magazine Grande Informação”. Na sua dupla qualidade de pai e raiz (composição que transforma a terra em país), o Senhor Dom Duarte vem incentivar os portugueses a corrigirem comportamentos ilógicos, por certo adquiridos nos últimos séculos, e que poderão estar na origem do nosso constante declínio. Enquanto lia não pude deixar de relacionar a oportunidade do tema com um recente relatório do governo suíço que colocava a escolaridade da comunidade portuguesa no fim da escala em termos de resultados. Seremos portanto congenitamente estúpidos?! Ou somos estúpidos porque queremos ser estúpidos?!
O Duque de Bragança responde: “Estudos demonstram que a inteligência média dos portugueses é semelhante à dos outros europeus, embora com uma grave deficiência ao nível do raciocínio lógico. Mas a inteligência lógica adquire-se com uma educação apropriada, e a falta desta na escola está na base da maioria dos nossos problemas. Sabemos o que queremos, mas frequentemente não actuamos em conformidade – os ‘verdes’ não votam nos partidos ecologistas, os cristãos não votam nos partidos de inspiração cristã, e por aí fora. Relativamente ao ensino em Portugal os governos colocam entraves à liberdade de escolha pelos pais…Seria bom que os eleitores se organizassem e obrigassem os Deputados a legislarem no sentido de dar liberdade de escolha às famílias. Mas talvez nos falte a lógica necessária para usar os instrumentos da Democracia de modo adequado…”.

Fonte: MGI de Novembro/Dezembro.

terça-feira, novembro 06, 2007

Beato Nuno de Santa Maria

Entro no café habitual, convoco o jornal da casa, e disparo na direcção certa: pode um homem que andou a matar castelhanos ser canonizado santo ou beato pela Santa Madre Igreja?! Apanhado de surpresa o dono do café reagiu afirmativamente: - matar ou expulsar castelhanos que nos invadem a terra para nos tirar a independência e o pão, não só não é pecado como é um dever. E reza a história que Nuno Álvares foi sempre magnânimo para com os vencidos. Concordei e lastimámos a falta que nos faz um Condestável à altura das circunstâncias. Por certo que um homem desses, capaz de abdicar da glória terrena para se recolher a um Convento, seria sempre um exemplo para qualquer sociedade. Ainda mais para a nossa, desmoralizada, sem confiança, nem rumo.
A bica é por conta da casa, insistiu o patrão.
Hoje o calendário religioso assinala o dia do Beato Nuno de Santa Maria.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Sol de Outono

O Belenenses resolveu animar o campeonato e foi ao Porto arrancar um empate. Quem continua a jogar para o empate e pode perder é o edil de Gaia. Ao apostar na ratificação do Tratado de Lisboa deixa o campo livre para que Sócrates arrisque cumprir promessas eleitorais, viabilizando o referendo. É um palpite deste interregno.
Catalina Pestana continua a incomodar a paz podre que reina na república. Vai avisando que as vítimas de abusos sexuais na Casa Pia podem vir a ser silenciadas definitivamente. Porque sabem demais. O que todos sabemos é que neste país a justiça não julga a nomenclatura. E tudo começa a fazer sentido: as eleições forçadas para levar ao poder o partido acossado no processo de pedofilia; a substituição de Souto Moura; a inexistência de oposição, prisioneira de pactos de justiça, e de outras trocas e favores, e quem sabe, a própria eleição presidencial.
Os Bispos queixam-se do governo e da excessiva influência da maçonaria nas decisões políticas. Mais vale tarde do que nunca, porque é este o caminho que a Igreja deve seguir em Portugal: demarcar-se claramente desta república, dita laica e socialista, sigla que esconde o seu verdadeiro e permanente desígnio – substituir a religião católica por uma religião de estado.
Termino com a curiosa opinião de Saraiva, director do semanário “Sol”, sobre as causas do declínio do BCP: “…A grande lição a retirar do caso do BCP é que, quando o capital é muito fragmentado, tem de haver um núcleo duro estável com condições para exercer o poder de uma forma coerente… se esse núcleo duro não existir, o banco – por mais dinheiro que ganhe – é sempre vulnerável…Aliás a História de Portugal é um exemplo disso: poucos países da Europa viram passar pelo seu território tantas fortunas. As fortunas de três impérios – no Oriente, no Brasil e em África. E, no entanto, Portugal é hoje um dos países mais pobres da Europa”.
Não era esta a intenção do cronista, mas não pude deixar de pensar no núcleo duro e estável que a Instituição Real sempre representou, garantindo assim as condições de sobrevivência e independência nacionais.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Dia de Todos os Santos

Nesta guerra das datas, conspiração surda (e suja) que pretende apagar da nossa memória a memória cristã, apagando ao mesmo tempo a nossa identidade, lembrei-me de reproduzir um excerto de um postal, escrito há mais de um ano, a que chamei – “A guerra dos dias”:

“ É uma espécie de contra-cruzada lançada de longe pelas forças ocultas que não se conformam com a herança Católica, que não se conformam com o calendário gregoriano, nem se conformam com a história!
Se pudessem eliminar o dia de Natal, o seu significado religioso, não hesitavam.
Não se trata, infelizmente, de mais uma teoria da conspiração, porque já tentaram fazê-lo explicitamente a seguir à Revolução Francesa, mudando o nome dos meses, apagando os dias santos, com o objectivo de edificarem uma religião de estado…”.

Não me parece que tenham desistido.
Hoje, ainda é Dia de Todos os Santos.

terça-feira, outubro 30, 2007

Honrosas excepções

Nem tudo está perdido, ainda existem autarcas que desafiando o legalismo estrito em que algumas empresas públicas se movimentam, não têm dúvidas de que lado é que está a razão! Fátima Campos, presidente da junta de freguesia de Monte Abraão soube distinguir entre o interesse concreto que representa a saúde dos habitantes que a elegeram e o denominado interesse geral que a REN anuncia em abstracto. Para levar a sua avante enfrentou a paralisia da Câmara de Sintra, o Supremo Tribunal Administrativo, que decidiu a seu favor, e ainda, a enorme inércia nacional.
Esta vitória jurídica pode ajudar noutros casos e noutras lutas.

Outro exemplo de reacção proveniente da sociedade civil surge em Almada, mais propriamente no Lazarim: “ O Colégio Campo de Flores começou esta semana a efectuar medições do campo electromagnético através de um medidor idêntico ao que a REN utiliza e que custou 15 mil euros. O director da escola explicou ao DN que o aparelho está ligado e que os dados serão disponibilizados na Internet. As medições estão a ser feitas junto ao local onde vai passar a linha de muito alta tensão que irá ligar a subestação da Trafaria a Fernão Ferro, Seixal. Apesar da linha passar a oitenta metros da escola, João Almeida acredita que quando for ligada, em Março, os valores serão respeitados. As medições são uma medida preventiva para descansar quem aqui trabalha e quem aqui tem filhos, mas vamos imputar os custos à REN, assegura”.

Fonte: DN de hoje.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Memória

Ainda não é tarde para a memória, ainda vou a tempo de deixar no interregno uma lembrança do outro tempo em que privei e aprendi com João Carlos Camossa Saldanha. Foi nos anos que se seguiram à revolução de Abril, na luta política travada dia a dia, às vezes, hora a hora, nas discussões que corriam pelas madrugadas, na ilação surpreendente… Não possuo méritos nem envergadura para escrever sobre João Camossa, mas descobri um texto muito bonito nos ‘cadernos do partido popular monárquico’, da autoria de Tereza Martins de Carvalho, que poderia ter sido escrito por ele:

“Comuna foi a palavra lançada a desfavor dos ventos e marés dos socialismos abundantes depois do 25 de Abril e eis que ficou enigmática e brilhante como estrela nova em céus desvendados, portadora de múltiplas ressonâncias, tanto revolucionárias como longa e medievalmente tradicionais.
E esta palavra, assim aparentemente paradoxal que sugere subversão, parece acordar também o eco longínquo de certa liberdade julgada há muito extinta no altar das massas e do Estado: a liberdade de cada um.
Ao mesmo tempo desperta em nós o desejo e as forças de um amor comum por algo de comum, ainda indefinido mas perto de nós, alcançável, interpretado e açambarcado por sistemas e partidos mas que os ultrapassa sempre, os gasta e corrói porque nasce a cada momento da liberdade de cada momento.”

quinta-feira, outubro 25, 2007

Semelhança

Entre passadeiras encarnadas
Dois presidentes, e atrás
Duas bandeiras descoroadas,
Renegam
A praia da descoberta
E outro ultraje
Que podes sentir no Hermitage.

terça-feira, outubro 23, 2007

Pobres

Reflectir sobre a pobreza, quando ela nos passa ao largo, é uma actividade interessante, a nossa televisão debruça-se muito sobre o tema, e ontem, sem querer, lembrei-me de um dos personagens do escritor russo Nicolau Gogol. Era o homem rico da terra, que à saída da Missa e no adro da Igreja gostava de se inteirar sobre o estado de pobreza dos seus conterrâneos! Muito meticuloso nas perguntas, aprofundava o assunto até ao ponto de saber exactamente o que lhes faltava para deixarem de ser pobres. Depois, despedia-se até ao próximo Domingo.
Mas a primeira parte do programa, especialmente a intervenção de Bruto da Costa, acabou por clarificar a questão dos números: somos dois milhões de pobres, ou seja, 20% da população, e desses dois milhões, 80% são pobres porque trabalham ou estão reformados! Ficámos também a saber que para esta maioria esmagadora não existe qualquer política especial, nem para ela são canalizados quaisquer fundos para além de complementos de reforma para esconder uma indignidade maior.
Outra verdade impossível de escamotear sentencia que se trata de um problema que em trinta anos nenhum governo de Abril conseguiu sequer atenuar!
Com estas informações desligámos o televisor incapazes de assistir ao massacre da pobreza aliviada… de um pobre deste país.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Porreiro, pá!

Seguiu-se um abraço, veio depois o champagne. Foi assim que Sócrates e Durão Barroso selaram o acordo entre os 27 estados e que ficará conhecido como o Tratado de Lisboa. Os artistas são portugueses, não vale a pena acrescentar mais nada. Do oito ao oitenta, parecem longínquas as verdades de Salazar que dizia - “Portugal não é só uma nação europeia e tende cada vez mais a sê-lo cada vez menos”. Hoje as caravelas viajam pela europa, dobram tormentas, para trazer especiarias sob a forma de fundos comunitários, provávelmente as últimas antes de caírmos na realidade.
O que é curioso no meio desta euforia, é que ao contrário da maior parte dos outros estados, Portugal não regateou nada para si, basta-lhe a assinatura do tratado para poder levantar o cheque. O argumento português é imbatível:- uma união europeia forte é garantia de que não seremos despedidos. Os donos da união estão contentíssimos, nunca viram empregados tão dedicados, e tão competentes, mais europeus que a própria europa!
Cá em baixo, alheios, os portugueses preparam-se para mais um fim de semana a contar os tostões.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Quatrocentos

É apenas um número e corresponde ao número de postais que levo escritos neste interregno, um caminho que se aproxima a passos largos dos três anos de idade e quem sabe, do seu limite. Olhando para trás tenho a sensação que passei o tempo a escrever o mesmo postal! E com um único título – “Deus, Pátria, Rei”.
Relembro que o interregno é essa ausência, a ausência de Deus na cidade dos homens, que reduz a dimensão (e o valor) da vida humana à economia dos seus aspectos utilitários, onde não entra a noção de eternidade. A apregoada separação entre a Igreja e o Estado esconde afinal o divórcio entre o homem e Deus. Nestas circunstâncias deixam de existir valores permanentes, tudo é efémero, e os poucos que resistem, porque não têm representação adequada, relativizam-se e tornam-se descartáveis. Assim a Pátria é hoje uma vaga memória colectiva, susceptível de ser vendida ou alocada, de acordo com a melhor oferta. Não admira que o Príncipe tenha sido expulso ou assassinado, ele era a figura humana da Pátria, a sua defesa, a sua representação política, portanto, um empecilho para os apetites das grandes potências, um alvo a abater pelos traidores. É preciso esclarecer que a Pátria não é um hino, ou um monumento ao passado, é a vida da própria comunidade, a sua história, a sua cultura, é território, é independência conquistada em mil batalhas, e em outros tantos gestos de nobreza!
Nem todos os povos ou nações conseguiram construir pátrias livres e independentes, faltou-lhes por certo algum dos pilares que enunciei, faltou-lhes sobretudo a vontade que hoje nos vai faltando.

terça-feira, outubro 16, 2007

O zero absoluto existe

Andava à procura de um título que definisse o programa de prós e contras que a televisão pública emitiu ontem à noite, encontrei-o com a ajuda de alguém a quem recorro nestas emergências e que me sugeriu que conjugasse o verbo existir com o “Z” daquilo que não existe, não fui tão longe, mantive o “X” que retrata bem este país empatado, incógnito, de pais incógnitos e cuja memória se reduz à cantoria do hino!
Na plateia estavam combatentes do Ultramar, estavam alguns patriotas, muitos traidores, estavam refugiados, estava um guerrilheiro da Frelimo, um ministro da Guiné, estavam comissários de Abril para bater palmas, a irresponsabilidade era o mote, a justificação do injustificável o objectivo. Cabia à moderadora levar o programa até ao fim dentro das baias do politicamente correcto, que consiste afinal em relativizar tudo para que todos tenham razão! Um outro objectivo, exterior ao debate mas que foi patente ao longo da emissão, teve a ver com a publicidade a uma ‘série’ que a RTP vai transmitir em breve, cujo tema é a última guerra que travámos em África. Segundo o autor, a obra destina-se especialmente à juventude que não conheceu a ‘guerra colonial’. Fico a aguardar e só espero que não se transforme em mais uma campanha de alfabetização.
Tentando sair do zero absoluto confirmo aquilo que sei: cumprimos o serviço militar obrigatório na convicção de estarmos a defender a Pátria, independentemente do regime que vigorava na altura; estávamos também a defender as populações que em nós confiavam e não se sentiam minimamente representadas pelos chamados movimentos de libertação; fomos vencidos e esbulhados de territórios que estavam à nossa guarda e isto aconteceu no jogo das grandes potências, durante a guerra-fria, e não soubemos ou não conseguimos resolver a tempo os desafios políticos que esse mesmo tempo nos colocou; resta-nos a dignidade de assumir a derrota sem procurar extrair daí quaisquer vantagens ideológicas ou partidárias, e pelo respeito que nos merecem os que se bateram, não nos devemos enganar com vitórias morais.
Uma nota final com vista ao futuro: como monárquico, mas sobretudo como português, sempre senti que o regime republicano não tinha capacidade para agregar e desenvolver uma comunidade de estados ou autonomias em redor de um projecto comum. Projecto esse que tem na língua, mas principalmente na vivência secular a sua trave mestra. Hoje, face às dificuldades que o mesmo regime tem em lidar com as autonomias regionais, a anterior convicção reforçou-se. Portanto, o espectáculo de recriminação mútua que todos os dias as sucessivas repúblicas nos oferecem, é inútil e aproxima-nos cada vez mais do zero absoluto.

Fim de semana...

Continuou com o congresso do PSD onde pela voz de Manuela Ferreira Leite ficámos a saber o que já sabíamos: que as diferenças entre o PS e o PSD são apenas de natureza táctica. E como tal, para que este rotativismo mantenha a ilusão da mudança é necessário que mudem as moscas. A matriarca deu até alguns conselhos ao impulsivo pretendente mas este foi mais ousado e haveria de surpreender os congressistas (os que não estavam a dormir) com algumas propostas que podemos subscrever! É certo que não resistiu à tentação de invocar a revolução francesa, ninguém se chama Luís Filipe por acaso. É certo que parece acreditar numa quarta república, e numa nova constituição, mais curta e menos ideológica, onde caibam portanto mais portugueses, e acredita que esse facto possa trazer outra confiança e apaziguar a comunidade. Também aposta num regime mais presidencialista julgando assim resolver a guerra entre dois galos legitimados pelo voto popular! Mas independentemente das suas crenças, é evidente que o fim do tribunal constitucional (uma instância de natureza político-partidária) é um enorme contributo à causa da justiça, hoje completamente descredibilizada. Como é importante o seu pragmatismo face à regionalização que não tem que ser implementada ao mesmo tempo em todo o território, mas de forma selectiva, e em nome da coesão nacional, nas regiões mais desertificadas e menos desenvolvidas do país.
Apesar da bondade destas promessas os monárquicos não podem esperar muito de um homem que invoca a revolução francesa e espera da república aquilo que nenhuma república lhe pode dar – liberdade, igualdade e fraternidade.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Fim-de-semana com Rousseau

Começou com o terramoto de Catalina Pestana ao “Sol” que confirma tudo o que toda a gente sabe ou desconfia: - “…Quando se fizer a história deste processo (Casa Pia), todos verão que, se houvesse legislação que permitisse investigar tudo o que foi dito a mim, à Polícia Judiciária e ao Ministério Público, o terramoto teria consequências devastadoras…”. Perante tal abalo o regime republicano tinha não apenas de abafar mais este escândalo (afinal cada republica tem o seu ballet) como tinha que tomar providências para não ser apanhado outra vez… “com as calças na mão”. Perdoe-se-me o plebeísmo. Assim, num toque a rebate, cada um fez o que tinha que ser feito: os partidos desavindos uniram-se (quem é que não tem rabos de palha...) a comunicação social domesticou-se, a maçonaria e outras forças ocultas manobraram na sombra, o governo mudou, mudaram os códigos, o tempo passou e o processo encravou. Mas um terramoto tem sempre as suas réplicas e elas aí estão a mostrar à saciedade como funciona a trilogia de Rousseau: liberdade… para ocupar o estado e colocá-lo ao serviço de interesses inconfessáveis; fraternidade… para sair impune contando com a ajuda dos irmãos e compadres; a igualdade fica para o próximo capítulo.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Profetas do presente

Não gostam de olhar para o passado, a vida resume-se à utilidade e bem-estar que desfrutam e querem lógicamente que se eternize. Cientes da eternidade desatam a fazer as profecias mais convenientes. Usam espantalhos conhecidos como o fascismo, a inquisição, a intolerância religiosa está sempre presente, e quando lhes forçam a mão atrevem-se a recriminar o comunismo. Mas o tom de voz baixa claramente. São laicos, expressão confusa que descodificada significa a separação entre a religião e o estado, mas são hipócritas porque querem apenas varrer do espaço público, primeiro, quaisquer práticas e símbolos religiosos, depois, e quando for possível, hão-de varrer da consciência de cada um quaisquer vestígios de religiosidade. E são republicanos porque a monarquia portuguesa é indissociável dos princípios católicos em que foi fundada. São também dissimulados e oportunistas. Quando acossados recuam e recebem os Bispos; quando se trata de preservar a imagem, vão a Fátima.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Sucessão republicana

Quando já nada existe em comum, para além do ritual dos gestos vazios, quando a língua em que nos entendemos é apenas uma facilidade de comunicação caída do céu, o regime republicano não tem outro remédio senão disfarçar-se numa sucessão de repúblicas sempre novas e sempre gastas. Faz isto por querer e sem querer, e assim todos os elos se desfazem e vão desaparecendo. Sem querer, porque não consegue perceber aquilo que é elementar, que cada comemoração do dia da república corresponde a um juizo negativo sobre o regime monárquico que nos deu o ser e construíu toda a nossa identidade. Por querer, quando promove regicidas, quando atenta contra a vida dos indefesos, quando quer afirmar uma ‘religião’ laica contra a tradição do catolicismo, quando finalmente se demite do esforço colonizador e missionário, serviço universal que nos justifica como pátria livre e independente. Porque todos estes princípios são diáriamente denegridos e postos em causa pelo poder republicano, deixámos de acreditar no passado, e também por isso não confiamos no futuro, por mais simpáticos que sejam os dois primeiros-ministros que elegemos. Numa previsão breve e com pouca margem de erro a quarta republica que se adivinha, apenas difere da terceira porque para manter as aparências precisa de mais autoridade e menos liberdade. Portanto é sem surpresa que assistimos à governamentalização da justiça, ao controle dos media, à ausência de verdadeira oposição no Parlamento, em suma, vamos ter uma quarta república que promete ter todos os defeitos do salazarismo sem as virtudes de Salazar! Este tinha uma ideia para o país coisa que os actuais proprietários do poder não têm, nem querem ter. A união europeia que nos governe. Quando ela acabar e quando acabar logo se vê! Entretanto Sócrates e Cavaco vão dourando a pílula... que temos de engolir.
Saudações monárquicas.

domingo, outubro 07, 2007

Variações sobre a degenerescência

“Maria Albertina como foste nessa de chamar Vanessa à tua menina! …Maria Albertina não é um espanto, mas é cá da terra, tem outro encanto…”.

Lembro-me de António Variações, e hoje, perante o interesse que desperta, dou comigo a pensar nas razões submersas da sua popularidade! Não tinha grande voz, nunca estudou música, o seu destino trágico, igual a outros ícones do seu tempo, contribuiu sem dúvida para compor a personagem, mas parece-me que a sua aura mergulha em águas mais profundas.
“Para a frente não havia nada…”, diria numa das canções que são afinal a história da sua vida. Segue recordando, passo a passo, a partida, a aventura da emigração, a vida difícil do deslocado, a alma que não cabia dentro do corpo, “só estou bem onde não estou…”, os erros assumidos sem a facilidade da justificação, ”cabeça que não tem juízo, o corpo é que paga…”! A ética ficou sempre de pé e nunca renegou a tradição. Tradição no único sentido conhecido: – sou um herdeiro, não renegarei a herança.
É por aqui que eu vou, é por aqui que a sua mensagem permanece – assumir a herança significa, por exemplo, não ter vergonha de usar o nome dos antepassados, significa não ter a petulância e a vaidade de escolher nomes por catálogo, sem significado, só porque estão na moda, ou simplesmente porque sim. A tradição é caminho comum, o contrário da tradição é degenerescência. Alguns chamam-lhe o homem novo, e a história ri-se.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Cinco de Outubro

Feriado nacional!
Não vou pactuar com o disfarce geral, com a ausência da data na primeira página do jornal!
Nem me vou contentar com outras efemérides, por mais relevantes que sejam. Não.
É em nome da verdade que o faço, a minha memória recusa-se a ignorar o implante!
A prótese jacobina e anti-cristã, ferro cravado no coração da pátria…agonizante.
É preciso que a nação saiba o que vai celebrar, a saber:
O Regicídio.
O terror carbonário, que até os seus liquidou.
A guerra civil permanente que nunca mais acabou.
O símbolo presidencial da divisão em cada nova eleição.
A exemplar descolonização.
A ditadura de mais de meio século de indecisão.
E ainda: o velho condado convertido em euros e a próxima união… filipina ou não!
Resultado de cem anos de rendição!
Pois, pois, a globalização!
Exactamente – dependente, independentemente!
E agora, o que vais cantar meu menino?
O hino?

quinta-feira, outubro 04, 2007

Ainda o tratamento por tu

"Creio que o tratamento dos pais por 'tu' corresponde a um desejo de maior proximidade e comunicação na família, o que eu mesmo considero estimável. Todavia, o mesmo resultado poderia ser alcançado doutros modos... No entanto, parece-me que seria importante considerar que tratar os pais por 'tu' esconde, ou falsifica mesmo, a realidade, que os colocou (aos pais e aos filhos) em patamares de responsabilidade diferente. Assim, o 'tu', que indicia 'igualdade', é uma formalidade que depois irá ser desmentida no uso da legitima autoridade paternal, que, se o for, não é nunca um exercício de 'igualdade'. A diferenciação de tratamento, que JSM nos convida pertinentemente a reflectir no seu post, apenas pede que se acolha a realidade: há papeis diferentes, nomeados diferentemente. Parece-me que esta questão tem ainda que ver com duas outras: o medo que o tema 'autoridade' evoca na mentalidade dos educadores, estereotipadamente democráticos, e algum eco de sentimentalismo 'roussouniano/marxista' que sugere uma sociedade sem classes (coisa que sempre resvalou para uma sociedade sem classe...). Lembro, aliás, que segundo Zita Seabra, todos os camaradas tratavam Cunhal por 'tu' e ele, na volta, agradecia e mandava 'democraticamente' neles todos - sob farsa da igualdade, a ditadura do mais forte. As pessoas que conseguem fazer distinções são sempre as pessoas que se distinguem - da música à ciência, do desporto à escolha dos vinhos. O cristianismo ensina, promove e multiplica as distinções: Deus/homem; céu/terra; Liturgia/vida de trabalho; Amor/ascese. E cada uma destas 'realidades' tem nomes, farda, formalidades próprias. Não por 'formalismo' mas por desejo de unidade, que é uma coisa muito diferente desta moda ideológica da igualdade que teima em tratar similarmente o que por natureza é diferente."
.
Com a devida vénia, transcrevo sobre o mesmo tema um texto mais claro, mais profundo, e mais bem escrito que o meu. A excelente análise está assinada por ‘Pope’, no “Fora de Estrutura”.

segunda-feira, outubro 01, 2007

O tratamento por tu

Nos povos primitivos a linguagem era primitiva, foi portanto com muito esforço que conseguimos sair do ambiente das cavernas, das pinturas rupestres, dos primeiros sinais de escrita, que podiam significar muitas coisas ao mesmo tempo, até chegarmos à actual riqueza vocabular e verbal. As relações humanas, cada vez mais complexas, exigiam uma linguagem e uma gramática cada vez mais complexa. É portanto fácil distinguir o grau de civilização de um povo pela sua riqueza vocabular, índice seguro de que passaram por muitos e variados cabos de esperança e de tormenta!

Felizmente que os portugueses têm verbos e expressões para tudo e mais alguma coisa, ao contrário de outros povos que medem a sua grandeza apenas pelo tamanho dos obuses! Para dar dois exemplos, os franceses têm poucos verbos e assim “avoir” pode querer dizer duas coisas – ter e haver! Nos ingleses, “you”, significa ao mesmo tempo ‘tu’ e ‘você’! Ou seja, os ingleses praticam e entendem-se actualmente numa linguagem primitiva! A simplificação, neste caso, não corresponde a nenhum avanço civilizacional no campo das relações humanas, que se tornam menos claras, mais pobres em termos de significado, o que constitui um indubitável retrocesso.

Mas a linguagem é a expressão da realidade e por isso não admira que “com orgulho e erro” assistamos à tentativa de justificar procedimentos deseducativos e rudes, à luz de uma ideia de falso progresso, como se fosse tudo “igual ao litro”! Assim, os pais aceitaram que os filhos os tratassem por ‘tu’, porque é moderno, para encurtar distâncias geracionais, porque acham que pais e filhos são a mesma coisa, ou por outro motivo ainda mais obscuro! Outros tratamentos, que marquem a distinção, a diferença, a cerimónia, tendem a ser abolidos, em nome do igualitarismo dominante, em que vale tudo, inclusivamente a falta de respeito pelo outro. Pelo próximo.

E assim vai o mundo… e a barbárie.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Crónica cor-de-rosa

Quarta-feira, à noite, não foi a minha primeira vez!
Muito antes da floresta arder sem rodeios, muito antes das trapalhadas que surgiam diáriamente na comunicação social, quando ainda não se desconfiava do diploma do engenheiro, já o interregno apontava algumas qualidades ao herói do momento. Mas sem exageros. Nós não sofremos da depressão da orfandade, também não procuramos na terra a divindade, a bola para nós é competição, não é salvação. Mas porque um homem é um homem, e um rato é um rato, quando um homem se porta como um homem, quando faz aquilo que deve ser feito, não o idolatramos por isso, registamos o facto sem adjectivos.
Preocupante é o sentimento geral, misto de surpresa e admiração, só porque Santana fez aquilo que ninguém teve coragem de fazer até agora – dizer basta!
Um sorriso maléfico transfigura-me o rosto, e constato - nessa noite muita gente foi obrigada a perder a virgindade!

terça-feira, setembro 25, 2007

Diário de um céptico

Em nome do código, dizem-me que na melhor das intenções, acrescentaram-se mais garantias à defesa dos arguidos, inocentes enquanto a sentença não transitar em julgado… etc.
E eu não acredito enquanto não vir um político no banco dos réus. Porque é matematicamente impossível que em trinta anos, e ainda que se reconheçam as maiores virtudes aos eleitos, que ao menos um deles não tenha prevaricado! Mesmo sem querer!

Em nome da vida, dizem-me que na melhor das intenções, liberalizaram o aborto para poupar as mulheres ao enxovalho da prisão.
E eu não acredito porque assim se diminuíram drásticamente as garantias de defesa a quem gostaria de nascer! Aqui a sentença transita rapidamente em julgado e as vítimas nem arguidos são!

Em nome da saúde, dizem-me que na melhor das intenções, para diminuir o risco de contágio pelo HIV, será implementada a troca de seringas dentro das prisões!
E eu não acredito em medidas avulsas porque enquanto não se tratar a causa, ou seja, a droga, não diminuem os seus efeitos. Os comportamentos de risco associados à droga acontecem porque alguém se droga. A troca de seringas nas prisões não é portanto um primeiro passo para nada, é um passo atrás, e mais um sinal de permissividade dado pelo poder político, de quem se esperaria outro exemplo.
Mas ainda há alguém que acredite neste poder político?!
Eu não acredito.

segunda-feira, setembro 24, 2007

O fado do bastonário

Andava eu enganado na vida
Pensava eu que o cargo era alto
Naquele tempo sonhava acordado
E quis um dia ser bastonário.

Mas afinal o lugar era baixo
Num vão de escada fiz o meu escritório
A noite veio e com ela o cansaço
Começa aqui o meu purgatório!

Em sobre humano esforço diário
No futebol busquei salvação
Já nem me lembro que sou bastonário
E só me vejo na televisão.

Até que um dia bateram á porta
Chapéu de coco e traziam na mão
A confiança na velha Aliança
Disse que sim… para não dizer não!

Repete e termina

A confiança na velha Aliança
Um bastonário nunca diz que não…

Consoante o fadista, fica bem em fado maior ou menor.

sábado, setembro 22, 2007

Os três candidatos

O melhor é assumirmos de vez a nossa realidade, poupa-se tempo e dinheiro, poupa-se a paciência das pessoas, poupam-se os esforços inúteis, quantas vezes com o sacrifício da própria dignidade, em suma, sejamos poupados! Mas de que falo eu? Explico: está à vista de todos que o presidente honorário dos sociais-democratas portugueses é o Engenheiro Sócrates, pela pose, pelo discurso ambíguo, pela eterna indefinição, por tudo aquilo que distingue um político multipartidário! Mas que fazem então Mendes e Menezes! Que temível batalha travam? Que lugar almejado disputam?
Discutem naturalmente o segundo e terceiro lugares do pódium. Qual é a dúvida!
A direita segue dentro de momentos.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Oposição precisa-se

Terminou há pouco o debate que o Governa leva mensalmente à Assembleia da República e como vem sendo hábito, Sócrates venceu facilmente. Era o primeiro debate com novas regras parlamentares, supostamente para dar maiores possibilidades à oposição de fazer valer os seus pontos de vista, mas essa vantagem não foi utilizada porque simplesmente não existe oposição! Oposição adulta, incidindo sobre as fraquezas governativas, sobre questões concretas que interessam aos portugueses, e não esta oposição a fingir, que apenas pretende substituir-se nos cargos e nas benesses.
O Governo chamou naturalmente para a discussão o Plano Tecnológico e por muito que isso custe a alguns, que gostariam de ser eles a distribuir computadores ou telemóveis pela população, a verdade é que não são estas as medidas criticáveis do Governo. São outras, por exemplo, o Código de Processo Penal que entrou em vigor de rompante e com normas a preceito para liquidar investigações a processos de ‘colarinho branco’, ou amordaçar escutas inconvenientes. Mas pergunto eu, como é que a Assembleia poderia discutir uma matéria em que os maiores partidos da dita oposição, ou votaram favoravelmente tais reformas ou se abstiveram!!!
Sócrates estava a jogar em casa.

terça-feira, setembro 18, 2007

Coincidências

Correm hoje os novos dias da Bastilha, homicidas e violadores preparam-se para ser libertados em nome dos direitos dos arguidos, complexo apelido onde cabem os mesmos homicidas e violadores. O risco para as verdadeiras vítimas existe e não é de desprezar, mas na assembleia pontificam o medo e a cumplicidade, ela é soberana, nela não se vislumbra oposição!
Arautos bem situados asseguram que o descanso dos portugueses será igual à paz… dos cemitérios!

No mesmo tempo e lugar prepara-se a trasladação dos restos mortais de um escritor para o denominado Panteão Nacional. “Arguido” de ser promotor do crime de regicídio, ou conivente com os regicidas, não deixa de ser uma triste coincidência a sua elevação à categoria de vulto nacional!
Os mortos devem descansar em paz, mas neste caso, são os vivos que não deixam descansar ninguém.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Cantar e cumprir

A propaganda enganosa conta sempre com a imbecilidade alheia mas conta sobretudo com a desigualdade de meios, forma expedita de calar a boca aos adversários. A primeira república, por exemplo, tentou convencer os portugueses que o regime monárquico era mau, e não fora isso, em vez de chegarmos à Índia teríamos chegado à Lua! Já a segunda república (leia-se Estado Novo) foi mais subtil, promoveu o silêncio eliminando sumáriamente a discussão sobre o assunto. No que respeita à república de Abril, não podendo evitar que nos primórdios se falasse de tudo, tem vindo a adoptar uma postura mista, por um lado ignora a questão, mas se alguém a levanta faz crer que se trata de um regime ultrapassado, próprio de países atrasados! Semelhantes atoardas, mil vezes repetidas, acabam por produzir o efeito esperado, ou seja, embrutecem a população, e por isso não é de estranhar que a grande maioria dos portugueses não consiga perceber quais são as verdadeiras causas da sua decadência, ou dito de outra maneira, porque é que em quase cem anos de regime republicano, Portugal não conseguiu, nem consegue, aproximar-se dos níveis de desenvolvimento, já não digo de países como a Holanda ou a Bélgica, mas de regiões vizinhas, como a Galiza ou a Catalunha!
Estranho, não acham?!
Sem procurar desculpas esfarrapadas, parece-me que o segredo está no hino, por ínvias razões outra vez na moda – “levantai hoje de novo o esplendor de Portugal”! Quem o canta sabe, ou desconfia, que no tempo da monarquia éramos mais independentes e estávamos melhor classificados no ranking europeu.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Justiça em segredo

É sempre bom que as coisas fiquem claras, registadas, para saber quem é quem, para que amanhã não se desdiga o que se disse hoje. Relembremos a polémica norma do Código de Processo Penal, aprovado com os votos do PS e PSD, e promulgado por Cavaco Silva, para entrar amanhã em vigor! Reza assim o artigo 88, número 4:

“Não é permitida, sob pena de desobediência simples, a publicação, por qualquer meio, de conversações ou comunicações interceptadas no âmbito de um processo, salvo se não estiverem sujeitas a segredo de justiça e os intervenientes expressamente consentirem na publicação”.

Aqui está o resultado de um laborioso ‘pacto de justiça’ entre os partidos que nos têm governado desde a revolução dos cravos, a tal que invocava os valores da liberdade, da justiça, da separação dos poderes, em suma, da transparência que gera a confiança entre governantes e governados. Aqui está a cereja que faltava no bolo da terceira república.
A partir de agora vai ser um descanso, processos como o da Casa Pia, Portucale, Apitos, qualquer que seja a cor, e outros, nem do ovo saem, ficam no segredo dos deuses, com letra pequena. Primeiro está o bom nome das pessoas. E assim é que deve ser, porque como diz o ministro da Justiça – “as escutas são para a investigação, não para a divulgação”! Só faltou dizer – confiem em nós!

quinta-feira, setembro 13, 2007

A anatomia de um jogo

Os patriotas da selecção já descobriram o seu bode expiatório, é o tio Scolari, o mesmo que em tempos não muito recuados pôs o país em ‘verde e rubro canto’! Se fosse romano diria como o Cipião – ‘ingrata pátria, não possuirás os meus ossos’! E de citação em citação, ou excitação em excitação, Alvalade encheu-se para ver ganhar a selecção – esse mítico conjunto de emigrantes, tudo o que nos resta para vingar as frustrações diárias, o antigo hábito das derrotas, o império perdido... ou a independência a esvair-se. Para alicerçar o sonho, a comunicação social que temos (e somos) garante em cada noticiário, ou em mesas redondas organizadas para o efeito, que Cristiano Ronaldo ou Quaresma irão reduzir a escombros qualquer adversário que lhes apareça pela frente! Nestas circunstâncias o estádio está em ponto de rebuçado, 50.000 almas que pouco percebem de futebol, exigem a vitória ou a cabeça do seleccionador! Mas ninguém se lembrou (salvo Scolari) que a Sérvia pertence a uma escola de futebol (individual e colectivo) superior à nossa, dispõe também de grandes jogadores, que são titulares nos melhores campeonatos da Europa, e que nestas condições o jogo seria sempre muito complicado de vencer. No final, um gesto irreflectido de Scolari pode ter comprometido a sua continuidade à frente de uma selecção que tem na sua capacidade de liderança o seu ponto forte.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Contra os bretões…

Era este o verso original do hino que incitava os portugueses a marchar contra os bretões, desagravando assim a humilhação sofrida com o ultimatum. Por conveniência de serviço passámos posteriormente a marchar contra os canhões não fossem os bretões ofender-se! Nada que nos espante sabendo como é volátil o patriotismo republicano. Esquecido o ultimatum, habilmente explorado contra o rei e a monarquia, obtiveram dos bretões (leia-se ingleses) o necessário consentimento (e apoio) para implantarem a república; esquecido o mapa cor-de-rosa, porção territorial entre Angola e Moçambique, onde não existia ou vivia qualquer português, empandeiraram sob a forma de ‘descolonização exemplar’, Angola, Moçambique… e o que mais houvesse. Preparam-se agora para leiloar em Bruxelas (ou em Lisboa) o que resta da nossa secular soberania. Mas gostam de cantar o hino.

terça-feira, setembro 11, 2007

Regresso e vingança

De regresso às lides, constato que o interregno acertou no desfecho de algumas conhecidas telenovelas da vida portuguesa! Assim até dá gosto!
Se não vejamos:

O interregno previu que Costa, mais o Zé do túnel, haveriam de arranjar maneira de dar sequência às pretensões urbanísticas do Sporting, e aí está, o acordo foi hoje firmado, e para que não subsistam dúvidas quanto ao futuro, uma oportuna ‘comissão arbitral’ encarregar-se-á de libertar o edil do incómodo dos detalhes – densidade de construção, espaços verdes (para além das cores das camisolas), etc.

O interregno também previu que o processo penal teria que ser revisto para garantir que situações desagradáveis como a Casa Pia não voltem a suceder. Para isso, os partidos que governam o país desde Abril de 1974, entenderam-se e assinaram um ‘pacto de justiça’ resultando daí um novo Código de Processo Penal. Porém, e ao que se sabe, o texto final submetido a aprovação pelo Parlamento contém uma norma que não tinha sido previamente acordada por ambos os partidos! Metida à socapa, quer a norma quer o Código foram naturalmente aprovados pela maioria socialista. Apanhados assim de surpresa, e porque a disposição em causa estabelece grandes limitações à divulgação pública das escutas telefónicas, os sociais-democratas reagiram e Paulo Rangel não podia ter sido mais explícito: - “parece uma norma desenhada para a Casa Pia”!

Por fim, o interregno também acertou no “apito dourado” ou “encarnado”, como lhe queiram chamar! Para lá do espesso manto de silêncio que entretanto caiu sobre tão mediático caso, notícias frescas confirmam que o livro “Eu Carolina”, considerado pela generalidade como um importante elemento de investigação, parece que sofreu alterações na sua versão original, por forma a incriminar uns e deixar outros de fora! O actual silêncio compreende-se!

Dir-me-ão que eram coisas fáceis de adivinhar. Pois sim. E de escrever?

domingo, setembro 09, 2007

Gritos de alma

Quem não se lembra do grito de Tarzan, afirmado a plenos pulmões enquanto se baloiçava nas compridas lianas! Quem não se entristeceu com o suspiro do mouro, forçado a abandonar a doce Granada! E o grito de guerra clamando por Santiago! Mais tarde substituído por São Jorge, quando os Lencastres trouxeram a divisão à peninsula! Mas os gritos que agora me interessam são mais prosaicos, ouviam-se na pequena praia que frequentei durante uma escassa semana, eram frases soltas, sem sentido, entre o desânimo e a esperança de umas férias impossíveis de alcançar. Eu conto: no toldo que me abrigava do sol inclemente, estabeleci sem querer uma intimidade exagerada com a vizinhança e mesmo que fechasse os olhos para me concentrar num pensamento mais longínquo, era invariávelmente acordado pelo toldo da direita, que mantinha o hábito ancestral de decidir tudo em conclave. Gente do norte, com acentuado sotaque portuense, desta vez o assunto prendia-se com uma pequena alteração na ementa: o marido desafiava a mulher a substituir a caldeirada de tamboril pela massada do mesmo! Ele encarregar-se-ía dos bifes. Passado este momento crucial, voltei-me para o toldo da esquerda para apreciar o esforço do chefe de família na tentativa de manter o agregado em paz e sossego. Missão ingrata porque duas graciosas criancinhas, cheias de imaginação, não lhe davam tréguas! Eram daqui que partiam os gritos de alma. Na última manhã a promessa de uma ida aos caranguejos estava em cima da mesa, o sol apertava, as rochas ficavam distantes, mas os miúdos exigiram o cumprimento da pena sem contemplações. O pai olhou em volta desesperado, encolheu os ombros, levantou-se, pegou no balde e rumou ao deserto atrás das radiantes criaturas.
Naquele instante pensei fazer alguma coisa, mostrar alguma solidariedade, mas fiquei preso à cadeira, enquanto a expedição se afastava. E fosse imaginação ou remorso, a verdade é que passado algum tempo me pareceu ouvir um grito vindo do lado das rochas, em tudo semelhante ao silvo das baleias perdidas na imensidão dos oceanos! O nosso homem devia estar com os pés em brasa e os caranguejos pelos cabelos!
As férias de sonho não existem, são um grito de alma.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Transgénicos atacam transgénicos

À vista da seara o ódio extravasou-se, os adoradores da terra precipitaram-se em fúria sobre o inferno verde que crescia à sua frente, ceifaram tudo, cortaram o mal pela raiz! De nada valeram os protestos do agricultor, a passividade dos guardas, porque o pecado será banido da face da terra. Porém, se Deus não existe, se é esta a última morada, não se percebem as preocupações com o futuro, nem as lágrimas pelo paraíso perdido, resta a saudade dos antepassados rupestres, e por isso querem a todo o transe reconstituir a caverna, o sílex, e a pederneira! Órfãos, arrancados à tradição, filhos ilegítimos de um mundo ilegítimo, revoltam-se contra o milho ilegítimo, única e última vingança que fazem a si próprios. São afinal monárquicos que se desconhecem!
Entretanto convinha aplicar-lhes o devido correctivo, coisa que os papás se esqueceram de lhes aplicar na altura devida.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Assunto nacional

“Toda a informação a seguir a um curto intervalo…” esclarecia o pivot do canal público de televisão ao fim de quase uma hora de noticiário! Deixou a promessa de voltar com o rescaldo da notícia que vem alarmando o país – Fernando Santos já não é treinador do Benfica! Será substituído, ao que tudo indica, pelo espanhol Camacho! Mas rebobinemos a sequência noticiosa: Benfica despede treinador; Berardo falha OPA no Benfica; furacão Dean incomoda portugueses (parece que são imensos!) que queriam passar férias nas Caraíbas; Cavaco não gostou do ataque ao milho; relato de alguns incêndios como se não existissem… e as restantes notícias da actualidade internacional.
Veio a segunda parte, uma loira repórter procurava nas imediações do estádio da Luz os tais adeptos cujas vidas irão certamente mudar face ao afastamento de Santos, mas nada, tinham ido para a praia dar um mergulho na crise, ou estariam recolhidos em suas casas à espera do pior! O pivot remediou a situação ouvindo o sexólogo encarnado Júlio Machado Vaz! Este, menos descontraído do que é costume, e quando esperávamos que fizesse alguma referência ao balneário, disse apenas estar preocupado com o timing! Já o deputado benfiquista Manuel Santos invocou a instabilidade para justificar o despedimento.
O telejornal entretanto acabou, eu estava exausto, e curiosamente, acabei por ficar também preocupado!

sexta-feira, agosto 17, 2007

A minha selecção – O segundo anel

“Jesus tem convite”
“O treinador do Belenenses Jorge Jesus foi convidado pelo presidente da SAD, Cabral Ferreira, a prolongar pelo menos por um ano, o contrato que o liga ao clube até ao final da época. A resposta ainda não surgiu, uma vez que o técnico pediu algum tempo para pensar, mas os dirigentes do Restelo estão optimistas…”
Fonte: Jornal “Record” de 17/08/07.

Comentário: Jorge Jesus parece talhado para o Belenenses e essa empatia é mais importante que muitos atributos que se queiram contabilizar. Jesus vive o futebol com paixão, gosta de semear para colher, e embora seja um treinador com grande leitura de jogo, é um corredor de fundo, não se satisfaz com intervenções cirúrgicas na busca do êxito imediato. Por outro lado, a frontalidade e uma auto estima acima da média, são qualidades pouco apreciadas nos clubes onde existe muita gente a mandar, e onde a pressão de ganhar a qualquer preço é enorme. Não é esse felizmente o caso do Belenenses. Por fim e baseando-me nas declarações que diversas vezes tem proferido penso que Jorge Jesus gostaria de ficar ligado a um projecto de futuro e com futuro. Se é assim, aí está o casamento perfeito.

“Paulo Duarte deixa críticas à televisão”
“Senti-me português de segunda. Fui enxovalhado. Como unionista, estou orgulhoso pelos meus jogadores. Mas como patriota senti-me desiludido. A União de Leiria não representa nada para Portugal. Andam a dar torneios e jogos amigáveis que não contam para nada e nós, que estamos numa competição europeia, não merecemos atenção…”!
Fonte: Jornal “Record” de 17/08/07

Comentário: Sem comentários.

“Apito Encarnado”
Fonte:
www.sendspace.com/file/tmrb2o

Comentário: Li o dossier e comentarei oportunamente.

Saudações azuis.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Dia de Missa

Desta vez não falhei o encontro, dia da Assunção de Nossa Senhora, meti-me ao caminho e lá fui. Entre cânticos suaves medi o arco e as colunas demorei-me na Cruz de Santiago que enfeita o púlpito, quase adormeci. A luz do entardecer e poucas horas de sono, confesso que foi um momento difícil. Recompus-me para ouvir a homilia, simpatizo com o sacerdote, explica bem as coisas, confronta a vida dos fiéis, em profundidade, isso traz-me sempre algum desconforto, mas não é por isso que falto, são outras coisas. É mais cómodo guardar uma distância conveniente do serviço religioso, o dragão que ficou á porta da Igreja, o mesmo que me vai devorando, também precisa de viver. Despertei definitivamente quando rezámos pelo Iraque – morreram hoje duzentas pessoas, vítimas inocentes de uma guerra que ninguém consegue explicar. Como lembrou o celebrante, “o Iraque vive uma violência brutal como é também brutal a indiferença do Ocidente”!
Quem são os homens (seremos mesmo homens!) que consentem tamanha barbaridade!
Salvé Rainha, rogai por nós.

Abertura

É só para aves migratórias, mas o jejum é tanto que hoje disparo a tudo o que mexe, rolas, pardais, aves de capoeira, cucos, com pena, sem pena nenhuma. Sem me esquecer também das aves de rapina, espécie muito protegida entre nós!
Ora vejamos, se bem me lembro, tinha eu aventado a hipótese de que tínhamos o apito entornado a partir do momento em que todas as baterias apontavam a norte esquecendo lamentavelmente que as melhores perdizes se caçam a sul, e que a capital sempre foi o local de nidificação de muitos passarões! Também apontei em devido tempo o erro fatal cometido pela procuradoria, e pela procuradora adjunta, ao utilizar como elemento de prova um livro e uma personagem de romance barato.
Por isso, quem aqui vos escreve, verificou sem espanto que existe um novo dossier secreto para consulta dos interessados. Nele se conta que o “marido de Morgado trabalhava para Filipe Vieira” e mais à frente informa que “ Luís Filipe Vieira é acusado de pagar elevadas quantias a várias pessoas – entre as quais, Carolina Salgado, Fernando Seara e a Saldanha Sanches, marido da procuradora Maria José Morgado. Em 26 páginas com o timbre aparentemente original da Directoria Nacional da Polícia Judiciária, os autores do dossier dizem ser elementos da PJ, que não querem por agora identificar-se, para não colocarem as carreiras em risco. Afirmam ter como provas imagens, sons e documentos. Entre as várias acusações, dizem que Luís Filipe Vieira, ainda como presidente do Alverca, pagou a Fernando Seara cerca de 100 mil contos para que o clube satélite do Benfica ficasse na 1ª divisão, numa jogada que prejudicou o Gil Vicente…”! As revelações prosseguem envolvendo os nomes de Maria José Morgado, Saldanha Sanches, Carolina Salgado, Leonor Pinhão, etc.
Afinal também existe um apito encarnado e andava tudo a apitar para o lado, e se formos justos, também haverá por certo um apito verde, porque como tenho inúmeras vezes denunciado a verdadeira e única suspeição está há muito definida, tem mais de meio século, “em Portugal ganham sempre os mesmos” e como isso não se verifica em parte nenhuma do mundo, é por aí que a procuradoria e a procuradora têm que começar a investigação. Não adianta investigar um e deixar os outros dois de fora.
Depois, e com método, hão-de verificar que o poder político está comprometido com a popularidade e com a visibilidade gerada pelo futebol o que obsta a que possa fiscalizar o autêntico biombo em que se transformou a chamada indústria da bola, para onde têm convergido ultimamente homens de negócios, construtores civis, advogados, magistrados, e tantos outros arrivistas, tanta gente repentinamente apaixonada pelo futebol... que já estou como o poeta – “são tantos que não podem ser tantos”!
Como se vê matéria para investigação não falta.

Fonte: Jornal “24 horas” de 15/08/07.

sábado, agosto 11, 2007

Miguel Torga

“Esperança

Tão fiel que te fui a vida inteira,
E deixas-me na hora da verdade!
Eras a minha própria liberdade,
O meu anjo da guarda vigilante.
E quando, confiante,
A namorar o mundo na paisagem
E a ver em cada verso a tua imagem
Sorridente,
Eu porfiava em alcançar a meta
Do longo e penitente
Caminho de poeta
A que fui condenado,
Sinto-me de repente
Abandonado.
Sem a razão
De ter inspiração,
Traído,
Desmentido
E desesperado.”

Coimbra, 30 de Janeiro de 1986

In “Diário”

quarta-feira, agosto 08, 2007

Silêncio

Silêncio que as palavras pouco dizem
Surpresa mas a palavra não é justa
Silêncio e fica tanto por dizer
O nome diz-me sempre tanta coisa
Ígnea e incandescente criatura
A dureza na crueza de uma vida
A cada um a sua sepultura
Melhor será lembrar a tua gesta
Bem longe dos trilhos e da glória
Morreste sem o cheiro do capim
Mas podes no silêncio destes versos
Ouvir o último toque do clarim.

À memória de Inácio Beja.

terça-feira, agosto 07, 2007

O próximo socialista

Democrata dos quatro costados, começou por ser indiferente, na juventude alistou-se numa esquerda qualquer, preferia ter sido social democrata mas não havia vagas para a direcção, foi parar aos socialistas, singrou, defendeu calorosamente a independência para as colónias, nada de parcerias ou outras associações com a mãe pátria, bateu-se a seguir e com igual vigor pela associação da mãe pátria com outros estados, declaradamente mais fortes e mais ricos, embrenhou-se entusiasticamente nessa excitante aventura, e a cada novo avanço, por cada tranche recebida, acreditou mais e mais nesse projecto. Da sua boca só se ouviam frases pouco perceptíveis mas optimistas, a diplomacia passou dos gabinetes para o laboratório, experimentou a realidade entre tubos de ensaio e retortas de alquimista. Por fim, vislumbrou a garantia de uma constituição ao fundo do túnel, saiu-lhe um tratado, menos mau! Bem se esforçou por se agarrar ao pelotão da frente, sacrificou a nação inteira a essa quimera, sobrecarregou-a de burocracia e impostos, falhou, hoje a carga fiscal não a deixa sequer pedalar, mexe as pernas mas não se mexe, atrasa-se cada vez mais. Para cúmulo e de onde menos esperava surgiram os esticões decisivos, um húngaro envergando a camisola tricolor decretou explicitamente que a concorrência quando nasce não é para todos! Na sua roda seguem os favoritos do costume, a volta é deles e não há volta a dar. A nossa bicicleta tem remos nos pedais, foi feita para navegar. Desesperado, sabe que não pode desistir, seria o seu fim. Além do mais, habituou-se ao poder, precisa das luzes da ribalta, e se não lhe oferecerem um emprego na europa, a europa pode esperar! Ele sabe para onde sopra o vento. Sarkozy abriu um caminho, também saberei percorrê-lo.
Serei o próximo socialista, verde ou encarnado, adivinhem!

quinta-feira, agosto 02, 2007

O direito de resistência

Trata-se em primeiro lugar de saber se vivemos ou não num país ocupado, ocupado ideologicamente, se o conteúdo das leis afronta ou não afronta, de forma sistemática, a base da ‘lusitana antiga liberdade’, único conceito que pode justificar todos os outros. Trata-se em segundo lugar de investigar se a constituição e as leis da república confirmam aquele princípio ou se através de um capcioso entendimento do direito de representação não têm emigrado para o seu interior um conjunto de aleivosias completamente alheias à nossa identidade como povo independente e soberano. Em reforço desta suspeita concorre a doutrina oficial que atribui carácter absoluto ao sufrágio, espécie de dogma religioso com força de lei, desprezando todas as outras fontes de direito, como sejam o costume e a tradição. Mas a maior suspeita reside no facto dos portugueses nunca se terem pronunciado em concreto sobre a adesão à união europeia! Nem sobre nenhuma das suas decisões que afectam o dia a dia de todos os portugueses e também o seu futuro!
Para quem só retira consequências dos votos, é pelo menos estranho que tenha tanto medo do voto dos portugueses e se refugie tanto no instituto da representação, fórmula de mandato que corresponde quase sempre a um cheque em branco passado às direcções partidárias!
Para dar um exemplo concreto, sabiam os portugueses que durante a recente presidência alemã, a chanceler Ângela Merkl decidiu alargar aos restantes membros a lei do ‘delito de opinião’ o que significa que não podemos discutir livremente a verdade oficial imposta pelos vencedores da segunda guerra mundial! Em sentido contrário compreendemos e aplaudimos a declaração do novo primeiro-ministro Gordon Brown que sossegou os ingleses dizendo que não seria necessário referendar o próximo tratado porque os interesses da Inglaterra seriam intransigentemente defendidos! Que contraste com o nosso governo que faz passar a mensagem infantil e ridícula que os interesses da Europa se confundem com os interesses de Portugal!
É neste quadro que faz sentido exigir mais autonomia para as autonomias, que faz sentido pensar na criação de novas regiões autónomas, áreas libertadas, imunes à ocupação ideológica que o par franco-alemão persiste em manter, contando para isso com a proverbial ‘hospitalidade’ portuguesa!
É também neste sentido que faz sentido falar em direito de resistência.

segunda-feira, julho 30, 2007

Quem promove a dependência?

Não há muito tempo a pergunta seria – quem são os traidores?
Agora não se pode falar assim, é extremamente incorrecto, o que se pode dizer agora é que estamos envolvidos num processo muito avançado de interdependências, essenciais para o desenvolvimento de uma comunidade da qual fazemos parte. E é preciso frisar a seguir que não estão em causa nem a nossa independência como estado, nem a nossa autonomia como vontade própria.
Posto isto, a realidade dos pequenos gestos e a política em concreto, vão revelando o contrário!
A verdade é que todos os dias promovemos a dependência, por querer ou sem querer não interessa, todos os dias se faz passar a ideia que não existe alternativa a esta união europeia, quando toda a gente sabe ou devia saber que vivemos oito séculos a desmentir essa ficção! Mas não existe melhor exemplo para aferir do estado mental de dependência em que vivemos do que assistir a um telejornal da televisão pública! Aí, sem sofismas de qualquer espécie, parece existir a obrigatoriedade de falar sempre no Benfica, Sporting e Porto, existam ou não notícias relevantes sobre os mesmos! Dos outros concorrentes não se fala, é como se não existissem! E tudo isto acontece perante a aprovação geral da nação! Quando se chega a este conceito redutor, quando se atinge este ponto, qualquer pessoa medianamente inteligente percebe que já não temos condições sequer para organizar um campeonato nacional de futebol! Até para um torneio de sueca… falta um parceiro! Claro que podemos continuar a fingir, a justificarmo-nos com as audiências, com a globalização, com a China…mas sabemos que são meros expedientes para não enfrentarmos a nossa realidade.
Por isso soam a falso as preocupações daqueles que temem pela não aplicação da lei da república no arquipélago da Madeira. Quem não promove a sua própria autonomia é sempre suspeito de querer arrastar os outros para a mesma situação.

sábado, julho 28, 2007

No limite

Vivi hoje o primeiro dia da clandestinidade, alistei-me no exército de todas as autonomias, a táctica da guerrilha é o regionalismo. Só assim conseguiremos escapar ao destino fatal, que nem sequer estava escrito nas estrelas, tão óbvio é o seu desenlace. Não precisámos de Saramago para o antecipar, basta olhar para a nação, rendida, relativizada, vazia e descerebrada! E o que ela gosta de trair, de ser possuída, tão contente e distraída. Inventa doutrinas para ser escravizada!... E não precisa! Basta continuar a rever o conceito de ‘lei da república’, o Vital ensina... como e quando convém! Será agora do Minho à Madeira?! E a seguir, até onde vai? Ou já não começa no Minho, mas em Tuy!
Se querem ser todos do mesmo partido, ou do mesmo clube, pois que sejam! É uma opção, avante camaradas, eu prefiro a diversidade, a multiplicidade, para garantir o desenvolvimento e a coesão, para me defender das teorias deslizantes, globalizantes, a vinte e sete, a trinta e oito, a passo de cavalo cansado.
Não estou à venda, quero viver segundo os valores em que acredito, não estou para ser perseguido pela ‘lei da república’, que sistemáticamente os nega ou ignora! Separemo-nos a bem, as autonomias servem para isso, para coexistir sem dramas nem prepotências do governo central.
Um rei há-de assegurar a unidade.
“E outra vez conquistemos a distância, do mar ou outra, mas que seja nossa”.

quarta-feira, julho 25, 2007

O bode expiatório

No Dia da Expiação dois bodes eram presentes ao altar do Templo e um deles era escolhido para ser sacrificado. O outro tornava-se o bode expiatório e nesse sentido o sacerdote punha as mãos sobre os cornos do animal e confessava os pecados do povo de Israel. De seguida o bode era solto, levando consigo os pecados de toda a gente.

Numa ousada transposição lembro-me dos actuais padecimentos de Vale e Azevedo desde que perdeu as eleições para a presidência do Benfica. Os que entretanto o substituíram não perderam tempo a acusá-lo de todas as patifarias possíveis e imaginárias, sendo nessa tarefa apoiados pela generalidade da comunicação social.
Neste enredo, e com a concordância universal, o Benfica aparece como vítima inocente não obstante tais ‘patifarias’ terem sido praticadas no desempenho legítimo do cargo de presidente do clube! O argumento, é que terá lesado o Benfica com a sua gestão e que tudo o que fez foi em benefício próprio! Dentro desta lógica terá contratado jogadores, valorizado e desvalorizado terrenos, falsificado documentos, chegando ao ponto de rasgar os contratos com a Olivedesportos!
Há alguém que acredite nisto?! E ainda que assim fosse, agiu em representação do Clube, era o presidente incontestado, eleito e apoiado por uma larga maioria de associados. A não ser que o sufrágio e os votos sirvam, ao contrário do que se pensava, para isentar e irresponsabilizar as pessoas colectivas!!!
Curiosamente, ou talvez não, estamos agora a assistir a um conjunto de acções, de legalidade duvidosa, e que são uma cópia fiel daquilo que Vale e Azevedo tentou fazer no sentido de se libertar da tutela audiovisual da Olivedesportos! Desde falsas ‘opas’, especulações bolsistas, que se fossem intentadas por outras entidades já teriam sido severamente punidas, vale tudo, menos …Vale e Azevedo!
É a velha tradição do bode expiatório!

Post-Scriptum: Não conheço Vale e Azevedo, e na altura denunciei a arrogância e todas as manobras a que se permitia, a coberto da presidência do Benfica No entanto, sempre estive convencido, e ainda estou, que tudo o que fez foi a pensar no Benfica. Fica a sensação que o único erro que cometeu foi ter perdido as eleições!

segunda-feira, julho 23, 2007

Morgado no país dos futebóis

Tenho alguma simpatia pela Procuradora-Adjunta, vêm-me à memória os tempos conturbados da Faculdade de Direito, em que ser do MRPP significava ter alguma coragem para não ser do PCP ou de algum dos seus múltiplos satélites! Claro que esta simpatia estudantil não desculpa (nem desculpava) os excessos cometidos, nem faz ou fazia esquecer as absurdas utopias que transportavam nas suas bandeiras! Entretanto acalmaram, cresceram, reciclaram-se, mas não perderam o hábito de se julgarem acima de qualquer suspeita, abrigando também nesse manto impoluto todos os seus colaboradores! Trata-se a meu ver de uma manifestação de superioridade moral e cívica que não abona em favor da humildade ou de outra virtude conhecida. As palavras não são minhas e li-as onde toda a gente as pode ler – “ a minha equipa de investigação está acima de qualquer suspeita”! E sugeriu que o mesmo poderia não se aplicar a outros intervenientes no processo!
Pois bem, há muito que o chamado apito dourado passou a apito envenenado, nomeadamente desde que aceitou analisar com intuitos probatórios um livro escrito por uma amante desavinda, que no furor da vingança se mudou de armas e bagagens para o clube rival. No mesmo sentido seguiu o processo, tornando-se, sem querer, num instrumento da rivalidade futebolística entre o Porto e Lisboa, ou numa acepção mais abrangente e perigosa, entre o norte e o sul!
A Procuradora, que afinal não é infalível, cometeu entretanto um erro fatal e que há-de sepultar todo este processo: sentindo-se ofendida com as declarações da outra gémea Salgado, anunciou processá-la! Face à desigualdade e à desproporção de meios será sempre uma vitória de Pirro, e que quanto maior for, pior será a derrota.
É preciso não esquecer que estamos no país dos futebóis.

sexta-feira, julho 20, 2007

O inquilino de Belém

Um dia havia de ser e aproveitando alguma polémica gerada pela ‘nação carente’ aqui fica o meu pensamento sobre os direitos e deveres dos inquilinos do Palácio de Belém. A ideia é no entanto mais abrangente e estende-se ao respeito pela herança, à relação entre o ocupante e o proprietário legítimo.
Não temos dúvidas que se trata de uma ocupação republicana em sentido estrito, visando apropriar-se de algo que julga ser seu por ser do povo, domínio público que deve ser nacionalizado. Tem o sabor ou o travo de uma desforra perante o inimigo vencido, foi com a mesma índole que se transformaram em quartéis antigos Conventos e Capelas. É um episódio de guerra civil, é a vida nos países ocupados, mas não deveria ser assim nas comunidades que se reclamam da mesma herança! Que gostam de cantar o mesmo hino! O problema é que não gostamos nem desgostamos, e porque somos incapazes de receber condignamente a herança, de a integrar no dia a dia das nossas vidas, somos também incapazes de transmitir seja o que for, refiro-me aos valores que conformam a identidade de um povo!
Mas voltemos ao Palácio de Belém para dizer que o proprietário legítimo não é o povo, mas a história desse povo, que deve também incluir os vindouros, se quisermos que a história continue, vindouros que têm naturais e justas expectativas em relação à herança que nós já recebemos. E a herança não é um museu, ao contrário do que muitos praticam, é antes sinal de vida, sinal de futuro.
O pensamento já vai longo e não queria terminar sem deixar também aqui um sinal de esperança, e por isso espero que não tenhamos que chegar à conclusão que seria mais prático e mais pacífico construirmos uma residência de raiz para os presidentes da república, residência que não teria naturalmente Capela, sem os riscos portanto de ser profanada, nem a tentação de ofender os católicos.

quarta-feira, julho 18, 2007

Sampaio e Rego

E toda a “Nação Carente” revisitada numa ode que só poderia ter sido escrita por alguém que não se resigna 'a esta apagada e vil tristeza’!
Parabéns e obrigado.

terça-feira, julho 17, 2007

Natureza e Nação

São ainda os ecos da “Marselhesa” que resolvi trazer para a luz do dia – “Saudações a todos os que repôem a verdade histórica, e omitem silenciosamente o facto de que a União Europeia continua a manter a paz, coisa que o Santo Nacionalismo nunca conseguiu fazer – mas enfim, como já Julius Evola dizia que a guerra é que é bom...”!
Por isso respondi – ‘Paz na terra aos homens de boa vontade! Mas Glória a Deus nas alturas!
Limpa primeiro a tua casa e a seguir ajuda na dos outros. Não se trata de santificar o nacionalismo mas de estabelecer uma ordem de prioridades. E quando abdicares dos teus princípios, fá-lo com a coragem da totalidade.
Houve e há guerra na Europa, se pensarmos que na europa se contêm os Balcãs. No condomínio fechado que erguemos, de facto, ainda não houve. Mas o preço dessa paz, para nós portugueses, foi e é altíssimo. Abandonámos todas as colónias deixando para trás a desolação e a guerra. Rasgámos tratados, desonrámos e traímos povos que esperavam mais da nossa nobreza. Nobreza, palavra estranha, sem uso corrente!
E já sabemos (já sabíamos) onde irá desembocar a nossa união europeia. Será uma nova experiência de união ibérica. A anterior, dizem os entendidos, foi desastrosa para os nossos interesses. Claro que poderemos sempre questionar se Portugal tem interesses próprios’.