sexta-feira, outubro 26, 2007

Memória

Ainda não é tarde para a memória, ainda vou a tempo de deixar no interregno uma lembrança do outro tempo em que privei e aprendi com João Carlos Camossa Saldanha. Foi nos anos que se seguiram à revolução de Abril, na luta política travada dia a dia, às vezes, hora a hora, nas discussões que corriam pelas madrugadas, na ilação surpreendente… Não possuo méritos nem envergadura para escrever sobre João Camossa, mas descobri um texto muito bonito nos ‘cadernos do partido popular monárquico’, da autoria de Tereza Martins de Carvalho, que poderia ter sido escrito por ele:

“Comuna foi a palavra lançada a desfavor dos ventos e marés dos socialismos abundantes depois do 25 de Abril e eis que ficou enigmática e brilhante como estrela nova em céus desvendados, portadora de múltiplas ressonâncias, tanto revolucionárias como longa e medievalmente tradicionais.
E esta palavra, assim aparentemente paradoxal que sugere subversão, parece acordar também o eco longínquo de certa liberdade julgada há muito extinta no altar das massas e do Estado: a liberdade de cada um.
Ao mesmo tempo desperta em nós o desejo e as forças de um amor comum por algo de comum, ainda indefinido mas perto de nós, alcançável, interpretado e açambarcado por sistemas e partidos mas que os ultrapassa sempre, os gasta e corrói porque nasce a cada momento da liberdade de cada momento.”

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