quinta-feira, março 30, 2006

“Entrou o Bispo”

Dizia-se quando a sopa se pegava ao fundo da panela e ficava a saber a queimado! A origem da expressão nunca a soube ao certo e por isso sempre associei a distracção e euforia que se apoderava das pessoas quando o Bispo as visitava em suas casas, cumprindo uma arreigada prática pastoral. Já se sabe, panela da sopa ao lume, toda a gente de volta do Bispo...e a dita esturricava-se!
Mas o Bispo não entrou! Passou diante do muro da quinta, terá olhado de soslaio para a imponência do portão, e seguiu em direcção ao Asilo mais próximo!
Afinal, tantos velhinhos para visitar, tantos doentes para se inteirar, que não houve tempo para a prevista passagem lá por casa.
As fatias douradas que a minha mãe fez, a ‘irmandade’ convocada, o desconsolo e a incompreensão, tudo isto... porque o Bispo não entrou!
A mensagem poderia ter ficado por aqui, a vaidade também poderia ter ficado por aqui, mas existe um outro ditado, este de origem conhecida, que reza assim: ‘Quem não se sente, não é filho de boa gente’.
E pela minha mãe, que as fatias douradas como eu, arrisco a excomunhão dizendo o seguinte:
Prior e Bispo, umas santas pessoas, mas que comungam por certo daquela deformação que invadiu a Igreja ao mesmo tempo que invadiu o mundo! A regra das maiorias! Com todos os complexos de esquerda daí derivados.
Termino com uma pergunta-resposta: Então os paroquianos não são todos iguais?
Eu acho que não. Prior e Bispo também acham que não, mas por outra razão!
Temos o caldo entornado, mas não esturricado.

terça-feira, março 28, 2006

Segunda-feira à noite

Mais uma noite de guarda àqueles que me protegem, mais uma noite de silêncio, para ouvir falar de teatro! Na televisão!
Programa com um início surpreendente! Desde o primeiro minuto rendido à expressão de Fátima, cada vez mais bela, de encarnado e bem segura! Ontem, enquanto olhava com enlevo e carinho para Manuel de Oliveira, pareceu-me a Lollobrigida!
Eu sei que o isolamento e o próprio ambiente um tanto soturno, que me rodeava, prestam-se por vezes a devaneios que a realidade no dia seguinte desmente, mas foi assim, neste estado de alma, que acompanhei a evolução dos ‘prós e contras’!
Manuel de Oliveira, confirmei-o ontem de novo, é de facto muito mais interessante que os seus filmes. Que são naturalmente obras-primas, não para ver, mas para existirem como tais. Talvez as próximas gerações as entendam...
Não me lembro de ter assistido do princípio ao fim a nenhum desses monumentos, mas fiquei com pena de não ter visto aquele que conta, ou não conta, a história do nosso desventurado Afonso VI, um Rei, que se fosse Inglês, teria direito a verso e prosa pela pena de um Shakespeare. Mas nós estamos assim, incapazes de nos distanciarmos do objecto dos nossos ódios e estimações. Incapazes de dar vida a um personagem histórico que tenha sido Rei! Ou há-de ser um herói indiscutível, ou há-de ser um vilão indiscutível!
Manuel de Oliveira teve e tem no entanto o mérito de ter tentado levar esse drama para uma tela, e será lembrado por isso.
Mas por exemplo, quem se atreveria a ir ver um filme sobre D. Sebastião?
Ou antes, que cineasta, ou que autor, estaria hoje em condições de fabricar uma obra de referência sobre tão controverso personagem? Que lhe fizesse justiça? A ele e a nós? Uma obra que imaginássemos ao mesmo tempo da carne e do osso da nossa história presente... e futura?!
Foi com este pensamento que me esqueci de Fátima, que estava agora de pé e de costas, menos favorecida, a conversar com uma Ministra da Cultura, de pescoço atlético na estreiteza dos ombros, penteado ‘à la diable’, a boca recortada no além-mar, o princípio de outro devaneio!
Tempo para o pano descer sobre mim. Estávamos no segundo acto...

domingo, março 26, 2006

A Madeira do Vosso Descontentamento

Já por mais de uma vez aqui o escrevi a letras garrafais, e repito convictamente:
Quando a história se referir a esta III Republica, iniciada em 25 de Abril de 1974, apenas registará de positivo, na coluna dos ganhos, a criação das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores!
Em termos de perdas, em lugar de grande destaque, a miserável descolonização, a que alguns traidores chamaram exemplar!
Vem isto a propósito do contínuo desgaste a que é submetido o Governo Regional da Madeira, e o seu Presidente, sistematicamente acusados de tudo e mais alguma coisa, nomeadamente de deficit democrático.
Nos Açores a situação só não é semelhante, porque tem havido alternância no Bloco Central, ou seja, entre as duas ‘famílias republicanas’ que desde sempre nos governam.
Criadas em contexto revolucionário, as Regiões Autónomas escaparam ao controle dos seus criadores, que hoje se pudessem recuariam, e daí o arrependimento e raiva, neste caso, de ambas as ‘famílias’!
Não há oposição em Portugal, e a oposição que há, é esta farsa que se repete de tantos em tantos anos, que não é alternância, muito menos alternativa, e corresponde apenas a ciclos de dominação, de uma ou outra das citadas facções.
Eu sei que há quem veja grandes diferenças entre o Estado Novo e a República de Abril! Para mim, para além de frequentarem as mesmas tascas, a democracia orgânica de Salazar, não é assim tão diferente desta democracia super corporativa em que vegetamos.
Era nisto que pensava enquanto lia um artigo de fundo no DN, da autoria do Professor António Costa Pinto, a perorar sob o título: ‘semidemocracias’!
O termo de comparação seria a República Portuguesa! A Madeira, o mau aluno e o mau exemplo! A plena democracia, aqui, na república restante! Mitigada, na ‘mexicana’ pérola do Atlântico! E os sintomas do costume – ‘no partido dominante, nem o dirigente do partido muda’!
Um duplo erro do articulista. A nossa República, globalmente considerada, também é semidemocrática, e estou a ser benevolente: os mesmos dois partidos no poder há trinta anos! A mesma Constituição antidemocrática, vagamente em vigor, com os mesmos dois partidos incapazes de a pôr de acordo com a realidade portuguesa! E aí, continuam de acordo!!!
A Madeira de Alberto João limita-se a responder em termos dialécticos à animosidade que vem do continente, carregada de sonhos de sujeição. Nada mais lógico.
Por isso, enquanto a ‘semidemocracia’ da III República vigorar, Alberto João Jardim vai continuar a ganhar eleições.
E ainda bem.

sexta-feira, março 24, 2006

Se o Iraque não existisse...

Foi uma fatalidade o Iraque...Mas que podia eu fazer? Apertado pelo castelhano, tive que ir até aos Açores!
Mas vou dar a volta por cima, e já não é a primeira vez!
Lembram-se do MRPP?
Para enfrentar os cães do Cunhal, ultrapassei-os pela esquerda. Depois foi só virar à direita e seguir o meu caminho. Fui um herói na Faculdade! A partir daí pude escolher um Partido decente. Sá Carneiro, aliás, esperava por mim, porque sabia que eu era um jovem patriota!
Não me digam que acreditaram na história do maoísmo? Só os otários!
Nasci burguês, morrerei burguês, tudo normal. Aquilo foi mais por causa da miúda... Sempre soube de que lado soprava o vento. É do outro lado do Atlântico. Os américas ajudaram-me bastante, e afinal foram eles que ganharam a guerra.
Arranjei bons amigos na direita, a minha folha de serviços permite todas as liberdades! As nódoas ainda lá estão – “nem mais um soldado, nem mais um tostão para as colónias...” – vão demorar tempo a desaparecer, mas isso já não é para a minha vida.
Quando me lembro disso, até me arrepio! Mas como é que chegava ao Ministério dos Negócios Estrangeiros? Às Colónias? Como é que dialogava com os tiranetes que lá pusemos?
Tudo junto, deu-me a União Europeia!
Aqui um parênteses de elementar justiça: toda a gente vê que eu não tenho nada a ver com aquela malta. Sou um político com outro nível, aquilo é uma cambada de jacobinos! Lembram-se do pobre Buttiglioni!
Mas o Iraque é de facto um problema... A invasão foi um crime, não tenho dúvidas, uma mentira pegada, e prejudicial para as nossas cores. Sempre falei disso com os meus botões, mas ainda bem que eles não falam.
Aquilo é um desastre, qual democracia qual carapuça, guerra civil não tarda...
Aqueles americanos, com os ingleses à arreata, não podem andar para aí a fazer asneiras a torto e a direito! No tempo da guerra-fria eram mais comedidos. É caso para dizer que são piores sozinhos, que mal acompanhados!!!
A União Europeia não conta, quando toca a unir, vigoram como sempre vigoraram os interesses nacionais...dos grandes.
O que me preocupa é como é que eu vou sair desta história?!
A China?
Não há nada como o primeiro amor...

terça-feira, março 21, 2006

Nuno Álvares no Feijó

Sexta-feira passada, dia 17 de Março, a notícia de uma palestra sobre o Santo Condestável. Oportunidade para ouvir de viva voz o Duque de Bragança falar daquele seu ilustre antepassado! A sul do Tejo, no salão paroquial da Igreja do Feijó e por iniciativa do Corpo de Escuteiros local.
Bela iniciativa e belo pretexto.
Grande simplicidade como convém a um Santo, muita juventude, um livrinho a propósito e vamos lá reavivar os meus escassos conhecimentos:
Rompeu com a linha dinástica, soube purificar a memória, não destruiu nada, acrescentou-lhe um novo conceito – Pátria!
Deus, Pátria, Rei. Simples e eficaz!
Herói da minha juventude, outro Galaaz ou Parcifal, foi perdendo fulgor, usurpado pelo regime usurpador. Esteve para ser saneado no 25 de Abril!!! Com outros egrégios Avós!!! Tal foi o uso que dele fizeram, a confundirem o povo, tantas estátuas e ruas...quando ele exigiria apenas o exemplo.
Modelo para a juventude, a juventude não o conhece. Modelo de militar, os militares não o seguem. Modelo de dedicação ao próximo. O próximo que feche a porta!
A conversa seguia informal, o Senhor Dom Duarte falou da canonização em curso e do que isso representaria para Portugal. “Uma lança em África”, digo eu! Lembrando-me da sua insistência em participar, já velhote, na expedição a Ceuta!
Mas um militar que mata castelhanos pode ser Santo?
Na crueldade sem rosto do mundo de hoje, no tempo das ‘guerras preventivas’, a pergunta soa a falso. Nuno Álvares defendeu a Sua Pátria, não atacou ninguém. Poupou até ao limite a vida dos seus homens, e a dos seus inimigos! Que o respeitavam, que o admiravam.
O povo dizia que ele era Santo! Então não há-de ser Santo quem, com o mundo a seus pés, abdica de tudo e entra para um Convento! E mesmo aí, nesse Convento do Carmo, escolhe um lugar subalterno, para se dedicar totalmente aos pobres, aos que tiveram menos sorte na vida.
Por esta altura o espírito do Beato Nuno de Santa Maria já invadia o salão paroquial, os escuteiros atentos, ainda ouviram o empenho com que sempre protegeu as minorias, mouros e judeus, em testemunhos que o tempo não apagou! Uma vez mais a deixar a sua marca intemporal!
Uma última questão. E se o Condestável aparecesse de novo, se visse tantos castelhanos, tanta Europa a dar as suas ordens por aqui, como reagiria?
A pergunta está no ar e respondo eu: por muita compreensão e boa vontade que conseguisse angariar, estou convencido que Nuno Álvares Pereira, repetiria o gesto ameaçador que exibiu perante o embaixador castelhano: a cota de malha ainda ali estava debaixo do burel do monge, para o que desse e viesse. O embaixador castelhano percebeu imediatamente a mensagem.
E entre nós, alguém percebe alguma coisa?

sábado, março 18, 2006

As Cores de Portugal

Interpelado por um ilustre visitante, que não conheço, mas que demonstra preocupação e sapiência sobre a simbologia que presidiu à escolha das ‘cores nacionais’, regresso ao assunto, que por manifesta falta de espaço, não cabe, nem coube, na caixa de comentários do postal anterior.
Já me referi a este tema no ‘Portugal no arco-íris’, mas agora pretendo ser mais explícito.
Quais são, afinal, as cores de Portugal?
A própria dúvida, assim colocada, já indicia uma triste realidade: um dos objectivos do partido republicano foi atingido – ninguém tem certezas, estamos divididos, fomos enganados, já não sabemos quem somos. Os republicanos falsificaram a história, adulteraram os nossos símbolos. Não adianta ver o que não está visível, o que não se entende. O que não está lá, porque foi retirado, de propósito.
Retiraram a Coroa do Fundador, símbolo da Realeza e portanto da Independência, introduziram o ‘verde e encarnado’, seja da União Ibérica, seja da carbonária italiana, símbolo da dependência!
O Branco, onde tudo se pode inscrever, onde inscrevemos o sinal da nossa Missão, a CRUZ, esse caíu! O Serviço que justificou a Independência, ‘o aumento da pequena Cristandade’, aparece apenas, de forma velada, na formação dos escudos e quinas!
O Azul das Terras de Santa Maria, o Azul de Nª Senhora da Conceição, Rainha coroada na Restauração, também desapareceu!
O que resta?
A esfera, coroa fechada de um quinto império, onde não existe a Cruz?
A armilar que abraça o mundo, sem o símbolo Superior do Padrão dos Descobrimentos?
Onde está a Missão? O Estado separado da Nação? Cada um para seu lado?
Paremos para pensar. Existem três momentos culminantes da Independência Pátria, a saber:
Ourique, Aljubarrota e Restauração: Em todos eles se fez juz ao símbolo Fundador – o Branco e a Cruz Azul, mais tarde, o Branco e o Azul em Cruz! A Coroa, quando conquistámos a Independência.
Cabe aqui recordar, para que não existam dúvidas, que o Condestável, ao pôr em causa o direito dinástico, foi percursor, mas no sentido da tradição: ‘Se Deus nos deu uma Pátria, devemos defendê-la’.
Porém, ‘entre os portugueses, traidores houve algumas vezes’.
Assim, no lado errado da história, as datas do anti-Portugal são três também:
O jacobinismo de 1820, acentuado em 1910, e a cobardia de 1974.
Em todos eles fugimos de nós próprios, adoptámos símbolos dos outros, em todos eles trocámos independência por dependência!
Em 1820 renegámos a tradição e aprisionámos o Rei atrás das grades de uma constituição anti-portuguesa. A seguir veio o que se esperava, a guerra civil e a República. Esta, sabe-se hoje, sempre se soube, patrocinada pela Inglaterra que ambicionava as nossas Colónias, tal como as outras potências.
Em 1974, a República consumou o acto e foi altura de nos reformarmos, abdicando de ser uma Pátria Livre e Independente. Não conseguimos assinar a Constituição Europeia, mas estamos muito contentes na Europa. A Europa que nos ature!
Os símbolos seguiram naturalmente todo este percurso de dependências, várias e para todos os gostos.
A matrona de grandes seios mostra à evidência a sociedade infantil em que nos transformámos! O Regicídio, como em França, revela nova faceta infantil e doentia: um acirrado complexo de Édipo. Pelo avesso revela orfandade. Matámos o Pai e procuramos um sucedâneo em qualquer padrasto! De preferência solteiro e beato. Também escolhemos ateus. A seguir vamos a Fátima!
Haverá esperança?
Responde-me o ilustre visitante que o Interregno, não este, o verdadeiro, é ele próprio o sinal iniciático da ‘nova era’! É possível desde que a bandeira volte a ser símbolo do caminho que percorremos juntos há oito séculos. Os desvios e os erros servem apenas para nos indicar que nos afastámos.
O verde e encarnado, são desvios.
A Coroa que falta, é um erro.

segunda-feira, março 13, 2006

As nacionalizações continuam

Somos uma florescente economia de direcção central. Nacionalizamos tudo! Agora é o ‘Gato Fedorento’!
Disseram umas graças, algumas tinham graça, uns anúncios, e aí está a consagração nacional! Com mais juizinho, sem palavrões, porque a audiência é selecta!
Como se houvesse uma audiência mais ‘selecta’ no canal do Estado.
O processo já não sofre dos furores do PREC, e visto de longe parece bastante linear:
- A ‘coisa’ primeiro amadurece, estabelece-se de seguida um largo consenso, os media por sua vez fazem eco, e entre os media, a Televisão Pública chega-se à frente e nacionaliza a ‘coisa’. Fecha-se assim o circuito.
O País entretanto rejubila, mais tarde queixa-se dos impostos, dos funcionários públicos, e finalmente, queixa-se de si próprio!
Vejamos alguns exemplos de nacionalizações de sucesso:
O Benfica em primeiro lugar, esteja em que lugar estiver; o Sporting está sempre em vias de nacionalização; a Catarina Furtado fartou-se rápidamente das agruras do mercado e logo que foi possível quis ser nacionalizada; a PT é um ‘case study’, ninguém percebe se está nacionalizada ou não!
Uma característica une todas estas entidades: adoram ser nacionalizadas! E ao mesmo tempo adoram dizer o contrário!
A única privatização conhecida foi o Herman, que terá caído em desgraça.
Nesta altura quase que apetece gritar: força camaradas, a luta continua.

sábado, março 11, 2006

Uma família feliz

De mão dada, sobem a rampa do Palácio de Belém, felizes da vida, como se tivessem chegado ao topo do mundo. Cume de uma carreira política bem sucedida, um justo troféu para tanta ambição e canseira!
Rei por um dia, ou por cinco anos, talvez por dez, quem não gostaria de ser?
Escrevo estas linhas no divã da psicanálise, expurgado da inveja, do sofrimento da rejeição, dos traumas de infância, de tudo o que possa ofuscar ou diminuir este momento de glória, aquela imagem de felicidade.
Antes porém, debati-me com o meu outro eu, mais selvagem, primário, que me gritava ao ouvido uma série de disparates: que Mário Soares foi coerente ao não cumprimentar o inimigo da véspera, e que essa é uma atitude que está na lógica republicana. Para quê fingir que estou contente com a vitória do outro, se não estou, e se assim a minha neta não pode fingir de princesinha por mais uns anitos?!
O meu outro ouvido também não foi poupado! Dizia-me então a besta que habita dentro de mim: para a República, os Palácios devem ser Museus e não locais de habitação. Os Palácios não são do povo, porque eu nunca vi o povo habitar em Palácios. E continuava o maldizente: o Presidente deve tomar posse no notário e com testemunhas, não há necessidade de festividades e convites. Imagino que quem não votou nele, e ainda foram uns quantos, não deve estar virado para grandes festas, nem quer pagar a conta.
Mas como disse, isto foi antes do correctivo que o psiquiatra me aplicou. Nada de confusões, que eu até simpatizo com o homem.

sexta-feira, março 10, 2006

Um Cabo de Esperança

Quarta-feira, 8 de Março, dia de S. João de Deus.
Um passeio ao Cabo Espichel para festejar os doze anos do Vale de Acór!
Apetece repetir o verso de Camões: ‘Porém já cinco sóis eram passados, que dali nos partíramos, por mares nunca dantes navegados...
Foram mais do que doze sóis... de solidariedade e esperança para muitos, se calhar para todos, sem aritmética, recomeçando sempre, porque é preciso recomeçar sempre.
O dia era de festa mas o promontório, na sua rude majestade, impunha serenidade e limites. Pelo contrário, a memória do Santo rasgava horizontes!
Houve jogos e ensinamentos, almoço e divertimentos, um pouco de tudo.
O casario arruinado, ainda imponente, que inclui um teatro de ópera, recorda aos presentes que aquele local já foi um importante Santuário. Durante o século dezoito chegou a mobilizar vinte e sete freguesias da região saloia, que aqui vinham, em peregrinação, para oferecerem um ‘círio’ à Senhora do Cabo.
No fim, a Missa, para falar com Deus e de João de Deus.
João Cidade, assim se chamava o Santo que nasceu em Montemor-o-Novo, em meados do século XV, que desde criança serviu em Espanha, que trabalhou como pedreiro nas muralhas de Ceuta, que levou uma vida pouco recomendável, que se converteu aos gritos de “Jesus, Misericórdia!”
E que fundou a Ordem dos Irmãos Hospitalários para tratar dos pobres e doentes, e que deixou de pensar em si para pensar nos outros, e que é o padroeiro do Vale de Acór.
O passeio fez-me bem.

quinta-feira, março 09, 2006

O milagre republicano

Com pompa e circunstância cumpriu-se o ritual, Cavaco Silva foi empossado. É o décimo nono Presidente em noventa e cinco anos! O verde e encarnado em pano de fundo e muitos convidados. O Palácio parecia pequeno!
Lá estavam os adversários de ontem aos abraços, esquecidos os insultos da véspera, porque afinal somos todos amigos.
“Não se esqueçam que eu sou o Presidente de todos os portugueses, dos que votaram em mim, mas principalmente dos que não votaram em mim”!
A frase, uma vez proferida, opera o milagre: somos irmãos, estamos de acordo e vamos remar todos para o mesmo lado!
O resto são detalhes do discurso:
Em matéria de política interna, é preciso olhar pelos mais desfavorecidos, até porque eles não param de aumentar!
A construção da Europa precisa do nosso contributo, e nós precisamos do "contributo" da Europa, porque continuamos pobres!
O mar é o nosso destino, e por isso sentei os PALOP à minha mesa. Mas não estamos todos!
A NATO é a nossa defesa, e provávelmente voltaremos a ceder na questão dos Açores, se precisarem de bombardear o Irão!
Mais atentos, os mais interessados: O Príncipe das Astúrias, o Rei de Marrocos, o representante Inglês, e o pai Bush. A União Europeia com Durão e Delors.
Por fim, os ‘finalmente’: o brinde e a medalha. O brinde foi para todos, mas a medalha foi para Jorge. É caso para dizer – a Jorge o que é de Jorge!
E se isto tudo é verdade, e independente da dignidade do empossado, falta no entanto ‘a verdade de tudo isto’!
Falta a verdade da representação, falta o Rei.

terça-feira, março 07, 2006

Promoções de Inverno

Hoje é um bom dia para restaurar a monarquia.
Com Sócrates na Finlândia, entretido com os telemóveis, e Cavaco Silva próximo da investidura, estão reunidas as condições para uma revolução em Portugal!
Não se assustem, não haverá derramamento de sangue, nem transtornos de maior na circulação rodoviária. Será uma revolução tranquila.
Sócrates vai continuar a tratar do choque tecnológico, acumulando o cargo de director-geral da Nokia para o hemisfério sul, e Cavaco pode manter-se como presidente da economia e turismo do Reino do Algarve, para já, sem o além-mar.
Entretanto, uma Regência assegurará o Governo de Portugal.
Que terá como tarefas prioritárias:
Reconhecer que não basta vegetar entre a Europa e o Atlântico. É preciso ter vida própria, ter um rumo, capacidade de manobra e de escolha, o que em gíria política se chama independência.
Reconhecer que apesar dos dislates, incompetências e traições, de que ninguém está isento, as circunstâncias históricas colocaram de novo ao nosso alcance a possibilidade de reconstruir o Reino Unido de Portugal e Brasil, incluindo todas as outras antigas Colónias.
Foragidos da globalização, atirados para a miséria pela ditadura do mercado, cruzam as nossas fronteiras muitos brasileiros, africanos e asiáticos, à procura de alento e pão, para si e para os seus.
Trazem na bagagem a memória de uma longa convivência de séculos que pelos vistos deixou saudades.
Nestas condições, a Regência entende que Portugal não se esgotou, nem se esgotou tão pouco, o contributo que a comunidade internacional deve esperar dos portugueses.
Com efeito, nos territórios onde se fez sentir a nossa colonização, não existem questões raciais ou religiosas por resolver! Caso único no mundo!
Assim, e sem quaisquer complexos, podemos reafirmar que esta é a grande verdade política que mobilizará todo o mundo lusíada, e o único desígnio nacional compatível com a nossa vocação histórica.
O actual regime não tem solução e há muito que vive fora da realidade: já quis ser a Cuba da Europa! Ou o México! A Albânia não foi possível, paciência! Agora anda entusiasmado com a Finlândia e com as semelhanças entre os dois povos!
Em pano de fundo, já sabemos que a solução Filipina é sempre aquela certeza!
Ser Portugal é que está difícil!!!
É por isso que eu penso, que hoje era um bom dia para restaurar a monarquia.

quinta-feira, março 02, 2006

A minha resposta

Mulher do deserto, que desafiaste o Ocidente civilizado, que reclamaste desculpas pelo ultraje, aqui te respondo correndo o sério risco de não ser entendido entre os meus! Esta Europa dos direitos, outrora Cristã, é agora conduzida por homens sem Fé, não sabe pedir desculpas a ninguém!
Tu e a tua burka são a própria negação daquilo que conquistámos, e é por isso que não podemos garantir esse direito mais simples: o respeito pelo outro!
Sabes, quando fizeram aquela caricatura vergonhosa contra o Papa João Paulo II, os católicos, na sua grande maioria, nem reagiram, escudando-se em argumentos que denunciam fragilidade e descrença.
Em Portugal, esse cartoonista deu-se ao ‘luxo’ de publicar na edição seguinte do mesmo jornal, uma nova caricatura a ofender a Igreja Católica, e nada lhe sucedeu. Em nome da liberdade de expressão!
O Governo nada fez, não demandou o insolente, o Ministério Público ficou quedo.
A Assembleia da República limitou-se a analisar um longo abaixo-assinado que solicitava um desagravo. Nada se concluiu.
Existiria sempre a possibilidade de um pedido de desculpas à comunidade católica, por parte do dito representante de todos os portugueses, o Presidente da República. Desculpas que assim chegariam ao mais anónimo dos crentes.
Mas não, o Chefe do Estado ficou impávido.
Como vê, em Portugal, as coisas mudaram muito desde os tempos da reconquista aos mouros, que são, presumo, os seus antepassados. Posso até prever, pela Fé com que continua a defender a sua crença, que não lhe será difícil a si e ao seu povo reinstalar-se de novo aqui na península. Não encontrará grande resistência, porque os católicos estão fraquinhos e a grande maioria dos habitantes são ateus, com mentalidade de escravos.
Agora quanto ao seu assunto, eu tentava um último recurso: escreva à Rainha da Dinamarca.
Estou convencido que ela saberia pedir desculpa em nome dos dinamarqueses.