sexta-feira, agosto 27, 2021

Carta de São Paulo aos talibãs!

 

Contei pelo menos três: - uma Maria João excitada Marques, um não menos excitado comentador do FC Porto, e a moderadora da estação que dirigia o interrogatório. No banco dos réus estava um jesuíta a tentar convencer os infiéis que a carta, embora escrita há dois mil anos, não perdera o sentido e por isso era lida e explicada regularmente nas Missas de Domingo.


O centro da revolta foi a palavra 'submissão' o que para uma sociedade tão dependente quanto a ocidental causa até alguma estranheza! Porém o que terá exasperado as redes sociais foi por certo a submissão da mulher ao marido! Fiquei aliás com a ideia que se a carta propusesse a insubmissão, ou até a punição exemplar do marido por ser marido, não teria havido qualquer problema.


Daí a pergunta: - estes talibãs que todos os dias nos entram em casa através da televisão não serão muito piores que os genuínos?! Pelo menos aqueles não enganam ninguém.

terça-feira, agosto 24, 2021

Poemas com memória



 Para Além da Trafaria - António Gedeão

- Minha mãe, haverá mundo

para além da Trafaria?

- Não sei, meu filho. Não sei.

Tudo aquilo que sabia

já no meu sangue te dei.

- Que serras são estas, mãe,

que não nos deixam ver nada?

- São rugas que a Terra tem.

Não maces a tua mãe.

Deixa-me estar descansada.

- Ó mãe, que rio é aquele?

Onde nasce e onde morre?

- Ó filho, é Deus que o impele.

Entretém-te a olhar para ele.

É um rio. Tem água. Corre.

- Quando eu for crescido, mãe,

quero saber e entender.

- Ó filho, o supremo bem

é cada qual, com o que tem,

resignar-se e agradecer.

Deus faz tudo pelo melhor.

Não se engana nem se esquece.

De todo o mal, o maior,

seria sempre pior

se Deus assim o quisesse.

Ninguém foge ao seu destino.

Está tudo determinado.

Não penses com desatino.

Dorme, dorme, meu menino.

um soninho descansado.

terça-feira, agosto 17, 2021

As 'irmãs' de Varoufakis!

 

Varoufakis, para quem não se lembra, foi ministro das finanças do Syriza, uma espécie de Bloco de Esquerda grego que chegou ao poder com aquele discurso que já todos ouvimos um dia: - os ricos que paguem a crise. No altura referia-se à Alemanha. Personagem muito mediático, mas de hábitos pouco proletários, apareceu ontem a condoer-se com o destino das suas 'írmãs' afegãs face à reconquista de Cabul. Um tratamento ridículo como é ridícula a participação do ocidente em toda esta história. Mas qual é o problema de Varoufakis?!


As suas 'irmãs' afegãs já não podem usar mini saia nem dar-se ao desfrute?! Vão deixar de desfilar na passerelle e já não podem emagrecer com comida vegan?! Ou será a fidelidade conjugal que preocupa Varoufakis?! E aquela vida doméstica insuportável a tratar dos filhos quando o estado faz esse serviço muito melhor que as mães! E as mães, coitadas, naqueles trajes horríveis que podem assustar as criancinhas! Ou é a democracia destes últimos vinte anos?! Embora ninguém tenha dado por ela! Ou é o progresso destes últimos vinte anos?! Embora ninguém tenha dado por ele! Ah, claro, são as mesquitas e a religião em vez da religião do Corte Inglês! E as ciclovias que os talibãs vão destruir?!

Perante tamanha catástrofe só não se percebe porque é que não houve resistência nem oposição! E essas sim são questões que deviam preocupar gregos e troianos.*



Saudações monárquicas



*Quem destruiu a monarquia afegã que assegurava a paz entre as tribos e na região?!

Quem quer impor a 'primavera' aos outros quando na sua terra vive em pleno 'inverno'?!

terça-feira, agosto 10, 2021

O triplo e a medalha de ouro!

 

Acabaram este Domingo os Jogos Olímpicos do Japão e para a história o que fica são as medalhas. Em Portugal, atendendo à proverbial escassez do produto, qualquer medalha ainda por cima de ouro é recebida em alvoroço e o seu autor imediatamente erigido a herói nacional.

Não foi própriamente o caso de Pedro Pablo Pichardo, cubano naturalizado português, com muita gente a questionar a legitimidade da medalha. Isto apesar das juras de amor, do hino cantado, e da bandeira verde rubra enrolada ao corpo!


Mas afinal de quem é a medalha?! Num breve exercício, e com a sabedoria que dispomos levantam-se algumas hipóteses:


À luz do quinto império a medalha é garantidamente portuguesa como são portuguesas todas as medalhas que caibam no sonho sebastianista.

À luz de Tordesilhas a questão é diferente e seria provávelmente atribuída a Castela.

À luz da revolução cubana, a Fidel o que é de Fidel, e o mais certo é termos que a devolver um dia.

À luz do mercado a medalha é de quem contratou os serviços do atleta embora essa seja também uma questão controversa. Em princípio terá sido o Benfica de Vieira mas pelo que vamos sabendo dos calotes é bem possível que a medalha pertença ao Novo Banco. E voltamos ao princípio com a medalha a sair directamente do bolso do contribuinte português.


Finalmente, com tanta luz deixei na sombra o direito natural e nessa medida a medalha é do Pedro Pablo Pichardo que voou no triplo salto para a medalha de ouro.


Quanto a Portugal estacionámos no ecletismo dos anos cinquenta do século passado e as modalidades continuam aprisionadas nos clubes de futebol profissional! Mais uma originalidade portuguesa. Para termos uma ideia do nosso atraso não tivemos nestes jogos nenhum atleta no meio fundo e fundo masculino (1.500, 3.000, 5.000, 10.000 e maratona) provas onde já demos cartas! Depois, é claro, para haver medalhas que sirvam a propaganda da república temos que as importar.



Saudações monárquicas


Nota: Reportei-me naturalmente ao atletismo modalidade rainha dos Jogos Olímpicos e onde ganhámos as únicas medalhas de ouro que possuímos. Nas modalidades mais técnicas e que exigem formação a sério é melhor nem falar. Quanto às modalidades onde tínhamos alguma tradição (vela e hipismo) a tradição já não é o que era. E o remo está em vias de abandonar o rio Lima para se estabelecer no lago do campo grande!