Acabaram
este Domingo os Jogos Olímpicos do Japão e para a história o que
fica são as medalhas. Em Portugal, atendendo à proverbial escassez
do produto, qualquer medalha ainda por cima de ouro é recebida em
alvoroço e o seu autor imediatamente erigido a herói nacional.
Não
foi própriamente o caso de Pedro Pablo Pichardo, cubano naturalizado
português, com muita gente a questionar a legitimidade da medalha.
Isto apesar das juras de amor, do hino cantado, e da bandeira verde
rubra enrolada ao corpo!
Mas
afinal de quem é a medalha?! Num breve exercício, e com a sabedoria
que dispomos levantam-se algumas hipóteses:
À
luz do quinto império a medalha é garantidamente portuguesa como
são portuguesas todas as medalhas que caibam no sonho sebastianista.
À
luz de Tordesilhas a questão é diferente e seria provávelmente
atribuída a Castela.
À
luz da revolução cubana, a Fidel o que é de Fidel, e o mais certo
é termos que a devolver um dia.
À
luz do mercado a medalha é de quem contratou os serviços do atleta
embora essa seja também uma questão controversa. Em princípio terá
sido o Benfica de Vieira mas pelo que vamos sabendo dos calotes é
bem possível que a medalha pertença ao Novo Banco. E voltamos ao
princípio com a medalha a sair directamente do bolso do contribuinte
português.
Finalmente,
com tanta luz deixei na sombra o direito natural e nessa medida a medalha
é do Pedro Pablo Pichardo que voou no triplo salto para a medalha de
ouro.
Quanto
a Portugal estacionámos no ecletismo dos anos cinquenta do século
passado e as modalidades continuam aprisionadas nos clubes de futebol
profissional! Mais uma originalidade portuguesa. Para termos uma
ideia do nosso atraso não tivemos nestes jogos nenhum atleta no
meio fundo e fundo masculino (1.500, 3.000, 5.000, 10.000 e maratona)
provas onde já demos cartas! Depois, é claro, para haver medalhas
que sirvam a propaganda da república temos que as importar.
Saudações
monárquicas
Nota: Reportei-me naturalmente ao atletismo modalidade rainha dos Jogos Olímpicos e onde ganhámos as únicas medalhas de ouro que possuímos. Nas modalidades mais técnicas e que exigem formação a sério é melhor nem falar. Quanto às modalidades onde tínhamos alguma tradição (vela e hipismo) a tradição já não é o que era. E o remo está em vias de abandonar o rio Lima para se estabelecer no lago do campo grande!