Padre Pedro Quintela
Já lhe conhecia a voz dos seus tempos da TSF. Agora, sempre que oiço no carro a Antena2, com o desejo, sem mais, de ouvir música clássica, sai-me sempre ao caminho essa mesma voz, facilmente reconhecível pela contínua ambição de debitar opinião sobre tudo. E se lhe falta o génio dos mestres transborda-lhe na voz o sentido doutrinário/sanguinário própria dos reaccionários de esquerda: propaganda dos seus, obnubilamento dos outros (para quando musica de Arvo Part, Penderecki, Gorecki?, porquê o apagamento da biografia dos compositores das suas convicções religiosas, dos antigos a Stravinsky e Falla?), referências continuamente venenosas e ácidas no que se refere à Igreja Católica. Hoje excedeu-se. Sobre um cónego do Porto, músico afamado neste país pequeno, tratou de dizer logo, com todas as letras, que é suspeito de pedofilia. E pronto, está lançado o anátema. Sem sequer o caso estar a ser julgado em tribunal, eis que o juiz da Antena2 lançou o seu veredicto. Daí o meu convite. Não a que se eleve à altura das coisas do espírito, que só são belas, perduravelmente belas, se o são no espírito de verdade. Não apenas a que refira, ou convide os seus correligionários a referir, com igual gosto e languidez os nomes de toda a rapaziada envolvida no processo da Casa Pia, oficiais do estado e outros. Mas parece-me que seria saudável, no entanto, para sabermos com que linhas nos cosemos, que se referisse às dificuldades de Eugénio de Andrade, nome maior da sensibilidade pederasta da nossa terra, ou de Lagoa Henriques – esse da estátua do Pessoa no Chiado - que se divertia com os seus modelos meninos, ou ainda uma palavrinha sobre o João César Monteiro e o seu documentário sobre a Sophia, e o modo obcecado como filma a criança sua filha (à venda na FNAC!) ou à literatura pedófila do Partido Radical Italiano, inspirador dos rapazes do Bloco. Que cite, ainda, Daniel Cohn-Bendit, avatar da cultura libertária de 68, inimigo vencedor do perigoso católico Rocco Buttiglionne na primeira equipa de Barroso (lembram-se?), dinossauro do actual parlamento europeu, e os seus elogios das suas próprias praticas pedófilas. Ou então, se quiser ser mais cosmopolita, ele que nos fale dos passeios de Roland Barthes, esse do Estruturalismo e da Semiótica pela Africa sariana em turismo sexual avant la lettre, ou das aventuras de Paul Bowles na Tanger da sua depravação, mais a Beat Generation sua convidada para o calor marroquino. Que desenvolva os tópicos do Michel Foucault justificando a libertação de todas as censuras sexuais burguesas, e que nos fale ainda do Gide mentor de toda a cultura pedófila e, indo um pouquinho mais atrás, que nos refira o barão von Gloeden e as suas celebres fotografias dos garotos da Itália pobre e, de novo, do Norte Africa apaixonante para essa gente obcecada por meninos. Gostaria também de ouvir duas palavras sobre o Presidente pedófilo Teixeira Gomes, nos 150 anos do seu nascimento, esse que também escolheu para terminar os seus dias a Argélia. E que não se julgue que são coisas perdidas no tempo. O poeta candidato a Belém escolheu para anunciar a sua candidatura a cidade de Portimão, num misto de homenagem ao Presidente escritor e à ética republicana. E pronto, se quiser ser generoso agradeceria, ainda, que nos descobrisse um pouco do mundo das artes nos dias que correm, e basta ficar por Lisboa. Ele que nos fale da gente da musica, do teatro, do cinema, e por aí fora, desses que são livres dos preconceitos cristãos.
E já agora, se quer falar dos padres pedófilos, que não se esqueça de referir que o estudo americano sobre estas misérias, o único até agora de natureza científica, aponta que 90% desses famigerados é homossexual. Sim, desse género de gente que não se deve discriminar, segundo as mais recentes conquistas da legislação portuguesa.
Poderá soar-lhe a ‘chinês’ mas, ainda assim, seria bom que ele dissesse que esses padres são gente muito longe do hábito de ir regular e fielmente ao confessionário, que não são devotos do terço, que desprezam a via sacra e a vida dos santos, que detestam e levantam a voz contra o Papa, contra o Papa do dia, e que embora um Papa suceda ao outro não sucede eles amarem o magistério e a sua doutrina. Que é gente, ainda, sem devoção à Virgem Maria e que sofrem muito por causa da proibição da ordenação das mulheres. Que tendem a considerar o celibato uma imposição antiquada e que são muito tolerantes no que se refere ao aborto. E que, se por vezes, essa gente perversa e perdida vive na Igreja, em versão reaccionária, também lhe são reconhecíveis os tiques: ritualismo extremo (=narcisismo pedante), falta de compromisso com os pobres e a missão, acusação contínua à hierarquia de ceder, eles cuja rigidez exterior revela um mundo pulsional febril. Finalmente, seria curioso que se pronunciasse sobre o facto de a pedofilia ser escandalosa ‘apenas’ no mundo cristão, na tradição cristã. Que se arrisque a fazer um prognostico sobre o que irá suceder daqui a cinquenta anos, nesta estrada estonteante que caminha de causa fracturante em causa fracturante… E pronto, por aqui ficam estas ideias soltas, sugestões escritas apressadamente, ao correr da pena, com um lamurio final: pobre de Cristo, como sempre e uma vez mais humilhado e ofendido nas traições/perversões dos seus. Gente ‘velha’ esta, tão velha como o golpe nocturno do primeiro discípulo sacerdote perverso. Pobre do vigário de Cristo, cujo coração tem de ser do tamanho católico da misericórdia de Cristo, ou o Senhor não lhe pediria tanto! Pobres de Cristo, os humilhados e ofendidos que só o poder do mesmo Senhor poderá ressuscitar de tamanha ferida. Pobres, ainda, esses pobres de Cristo – os cristãos simplesmente cristãos - que levam sobre o seu coração a dor atroz de tudo isto mas que não puderam jamais ceder aos gritos da multidão, como habitualmente aviltada e acovardada.