sexta-feira, setembro 28, 2007

Crónica cor-de-rosa

Quarta-feira, à noite, não foi a minha primeira vez!
Muito antes da floresta arder sem rodeios, muito antes das trapalhadas que surgiam diáriamente na comunicação social, quando ainda não se desconfiava do diploma do engenheiro, já o interregno apontava algumas qualidades ao herói do momento. Mas sem exageros. Nós não sofremos da depressão da orfandade, também não procuramos na terra a divindade, a bola para nós é competição, não é salvação. Mas porque um homem é um homem, e um rato é um rato, quando um homem se porta como um homem, quando faz aquilo que deve ser feito, não o idolatramos por isso, registamos o facto sem adjectivos.
Preocupante é o sentimento geral, misto de surpresa e admiração, só porque Santana fez aquilo que ninguém teve coragem de fazer até agora – dizer basta!
Um sorriso maléfico transfigura-me o rosto, e constato - nessa noite muita gente foi obrigada a perder a virgindade!

terça-feira, setembro 25, 2007

Diário de um céptico

Em nome do código, dizem-me que na melhor das intenções, acrescentaram-se mais garantias à defesa dos arguidos, inocentes enquanto a sentença não transitar em julgado… etc.
E eu não acredito enquanto não vir um político no banco dos réus. Porque é matematicamente impossível que em trinta anos, e ainda que se reconheçam as maiores virtudes aos eleitos, que ao menos um deles não tenha prevaricado! Mesmo sem querer!

Em nome da vida, dizem-me que na melhor das intenções, liberalizaram o aborto para poupar as mulheres ao enxovalho da prisão.
E eu não acredito porque assim se diminuíram drásticamente as garantias de defesa a quem gostaria de nascer! Aqui a sentença transita rapidamente em julgado e as vítimas nem arguidos são!

Em nome da saúde, dizem-me que na melhor das intenções, para diminuir o risco de contágio pelo HIV, será implementada a troca de seringas dentro das prisões!
E eu não acredito em medidas avulsas porque enquanto não se tratar a causa, ou seja, a droga, não diminuem os seus efeitos. Os comportamentos de risco associados à droga acontecem porque alguém se droga. A troca de seringas nas prisões não é portanto um primeiro passo para nada, é um passo atrás, e mais um sinal de permissividade dado pelo poder político, de quem se esperaria outro exemplo.
Mas ainda há alguém que acredite neste poder político?!
Eu não acredito.

segunda-feira, setembro 24, 2007

O fado do bastonário

Andava eu enganado na vida
Pensava eu que o cargo era alto
Naquele tempo sonhava acordado
E quis um dia ser bastonário.

Mas afinal o lugar era baixo
Num vão de escada fiz o meu escritório
A noite veio e com ela o cansaço
Começa aqui o meu purgatório!

Em sobre humano esforço diário
No futebol busquei salvação
Já nem me lembro que sou bastonário
E só me vejo na televisão.

Até que um dia bateram á porta
Chapéu de coco e traziam na mão
A confiança na velha Aliança
Disse que sim… para não dizer não!

Repete e termina

A confiança na velha Aliança
Um bastonário nunca diz que não…

Consoante o fadista, fica bem em fado maior ou menor.

sábado, setembro 22, 2007

Os três candidatos

O melhor é assumirmos de vez a nossa realidade, poupa-se tempo e dinheiro, poupa-se a paciência das pessoas, poupam-se os esforços inúteis, quantas vezes com o sacrifício da própria dignidade, em suma, sejamos poupados! Mas de que falo eu? Explico: está à vista de todos que o presidente honorário dos sociais-democratas portugueses é o Engenheiro Sócrates, pela pose, pelo discurso ambíguo, pela eterna indefinição, por tudo aquilo que distingue um político multipartidário! Mas que fazem então Mendes e Menezes! Que temível batalha travam? Que lugar almejado disputam?
Discutem naturalmente o segundo e terceiro lugares do pódium. Qual é a dúvida!
A direita segue dentro de momentos.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Oposição precisa-se

Terminou há pouco o debate que o Governa leva mensalmente à Assembleia da República e como vem sendo hábito, Sócrates venceu facilmente. Era o primeiro debate com novas regras parlamentares, supostamente para dar maiores possibilidades à oposição de fazer valer os seus pontos de vista, mas essa vantagem não foi utilizada porque simplesmente não existe oposição! Oposição adulta, incidindo sobre as fraquezas governativas, sobre questões concretas que interessam aos portugueses, e não esta oposição a fingir, que apenas pretende substituir-se nos cargos e nas benesses.
O Governo chamou naturalmente para a discussão o Plano Tecnológico e por muito que isso custe a alguns, que gostariam de ser eles a distribuir computadores ou telemóveis pela população, a verdade é que não são estas as medidas criticáveis do Governo. São outras, por exemplo, o Código de Processo Penal que entrou em vigor de rompante e com normas a preceito para liquidar investigações a processos de ‘colarinho branco’, ou amordaçar escutas inconvenientes. Mas pergunto eu, como é que a Assembleia poderia discutir uma matéria em que os maiores partidos da dita oposição, ou votaram favoravelmente tais reformas ou se abstiveram!!!
Sócrates estava a jogar em casa.

terça-feira, setembro 18, 2007

Coincidências

Correm hoje os novos dias da Bastilha, homicidas e violadores preparam-se para ser libertados em nome dos direitos dos arguidos, complexo apelido onde cabem os mesmos homicidas e violadores. O risco para as verdadeiras vítimas existe e não é de desprezar, mas na assembleia pontificam o medo e a cumplicidade, ela é soberana, nela não se vislumbra oposição!
Arautos bem situados asseguram que o descanso dos portugueses será igual à paz… dos cemitérios!

No mesmo tempo e lugar prepara-se a trasladação dos restos mortais de um escritor para o denominado Panteão Nacional. “Arguido” de ser promotor do crime de regicídio, ou conivente com os regicidas, não deixa de ser uma triste coincidência a sua elevação à categoria de vulto nacional!
Os mortos devem descansar em paz, mas neste caso, são os vivos que não deixam descansar ninguém.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Cantar e cumprir

A propaganda enganosa conta sempre com a imbecilidade alheia mas conta sobretudo com a desigualdade de meios, forma expedita de calar a boca aos adversários. A primeira república, por exemplo, tentou convencer os portugueses que o regime monárquico era mau, e não fora isso, em vez de chegarmos à Índia teríamos chegado à Lua! Já a segunda república (leia-se Estado Novo) foi mais subtil, promoveu o silêncio eliminando sumáriamente a discussão sobre o assunto. No que respeita à república de Abril, não podendo evitar que nos primórdios se falasse de tudo, tem vindo a adoptar uma postura mista, por um lado ignora a questão, mas se alguém a levanta faz crer que se trata de um regime ultrapassado, próprio de países atrasados! Semelhantes atoardas, mil vezes repetidas, acabam por produzir o efeito esperado, ou seja, embrutecem a população, e por isso não é de estranhar que a grande maioria dos portugueses não consiga perceber quais são as verdadeiras causas da sua decadência, ou dito de outra maneira, porque é que em quase cem anos de regime republicano, Portugal não conseguiu, nem consegue, aproximar-se dos níveis de desenvolvimento, já não digo de países como a Holanda ou a Bélgica, mas de regiões vizinhas, como a Galiza ou a Catalunha!
Estranho, não acham?!
Sem procurar desculpas esfarrapadas, parece-me que o segredo está no hino, por ínvias razões outra vez na moda – “levantai hoje de novo o esplendor de Portugal”! Quem o canta sabe, ou desconfia, que no tempo da monarquia éramos mais independentes e estávamos melhor classificados no ranking europeu.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Justiça em segredo

É sempre bom que as coisas fiquem claras, registadas, para saber quem é quem, para que amanhã não se desdiga o que se disse hoje. Relembremos a polémica norma do Código de Processo Penal, aprovado com os votos do PS e PSD, e promulgado por Cavaco Silva, para entrar amanhã em vigor! Reza assim o artigo 88, número 4:

“Não é permitida, sob pena de desobediência simples, a publicação, por qualquer meio, de conversações ou comunicações interceptadas no âmbito de um processo, salvo se não estiverem sujeitas a segredo de justiça e os intervenientes expressamente consentirem na publicação”.

Aqui está o resultado de um laborioso ‘pacto de justiça’ entre os partidos que nos têm governado desde a revolução dos cravos, a tal que invocava os valores da liberdade, da justiça, da separação dos poderes, em suma, da transparência que gera a confiança entre governantes e governados. Aqui está a cereja que faltava no bolo da terceira república.
A partir de agora vai ser um descanso, processos como o da Casa Pia, Portucale, Apitos, qualquer que seja a cor, e outros, nem do ovo saem, ficam no segredo dos deuses, com letra pequena. Primeiro está o bom nome das pessoas. E assim é que deve ser, porque como diz o ministro da Justiça – “as escutas são para a investigação, não para a divulgação”! Só faltou dizer – confiem em nós!

quinta-feira, setembro 13, 2007

A anatomia de um jogo

Os patriotas da selecção já descobriram o seu bode expiatório, é o tio Scolari, o mesmo que em tempos não muito recuados pôs o país em ‘verde e rubro canto’! Se fosse romano diria como o Cipião – ‘ingrata pátria, não possuirás os meus ossos’! E de citação em citação, ou excitação em excitação, Alvalade encheu-se para ver ganhar a selecção – esse mítico conjunto de emigrantes, tudo o que nos resta para vingar as frustrações diárias, o antigo hábito das derrotas, o império perdido... ou a independência a esvair-se. Para alicerçar o sonho, a comunicação social que temos (e somos) garante em cada noticiário, ou em mesas redondas organizadas para o efeito, que Cristiano Ronaldo ou Quaresma irão reduzir a escombros qualquer adversário que lhes apareça pela frente! Nestas circunstâncias o estádio está em ponto de rebuçado, 50.000 almas que pouco percebem de futebol, exigem a vitória ou a cabeça do seleccionador! Mas ninguém se lembrou (salvo Scolari) que a Sérvia pertence a uma escola de futebol (individual e colectivo) superior à nossa, dispõe também de grandes jogadores, que são titulares nos melhores campeonatos da Europa, e que nestas condições o jogo seria sempre muito complicado de vencer. No final, um gesto irreflectido de Scolari pode ter comprometido a sua continuidade à frente de uma selecção que tem na sua capacidade de liderança o seu ponto forte.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Contra os bretões…

Era este o verso original do hino que incitava os portugueses a marchar contra os bretões, desagravando assim a humilhação sofrida com o ultimatum. Por conveniência de serviço passámos posteriormente a marchar contra os canhões não fossem os bretões ofender-se! Nada que nos espante sabendo como é volátil o patriotismo republicano. Esquecido o ultimatum, habilmente explorado contra o rei e a monarquia, obtiveram dos bretões (leia-se ingleses) o necessário consentimento (e apoio) para implantarem a república; esquecido o mapa cor-de-rosa, porção territorial entre Angola e Moçambique, onde não existia ou vivia qualquer português, empandeiraram sob a forma de ‘descolonização exemplar’, Angola, Moçambique… e o que mais houvesse. Preparam-se agora para leiloar em Bruxelas (ou em Lisboa) o que resta da nossa secular soberania. Mas gostam de cantar o hino.

terça-feira, setembro 11, 2007

Regresso e vingança

De regresso às lides, constato que o interregno acertou no desfecho de algumas conhecidas telenovelas da vida portuguesa! Assim até dá gosto!
Se não vejamos:

O interregno previu que Costa, mais o Zé do túnel, haveriam de arranjar maneira de dar sequência às pretensões urbanísticas do Sporting, e aí está, o acordo foi hoje firmado, e para que não subsistam dúvidas quanto ao futuro, uma oportuna ‘comissão arbitral’ encarregar-se-á de libertar o edil do incómodo dos detalhes – densidade de construção, espaços verdes (para além das cores das camisolas), etc.

O interregno também previu que o processo penal teria que ser revisto para garantir que situações desagradáveis como a Casa Pia não voltem a suceder. Para isso, os partidos que governam o país desde Abril de 1974, entenderam-se e assinaram um ‘pacto de justiça’ resultando daí um novo Código de Processo Penal. Porém, e ao que se sabe, o texto final submetido a aprovação pelo Parlamento contém uma norma que não tinha sido previamente acordada por ambos os partidos! Metida à socapa, quer a norma quer o Código foram naturalmente aprovados pela maioria socialista. Apanhados assim de surpresa, e porque a disposição em causa estabelece grandes limitações à divulgação pública das escutas telefónicas, os sociais-democratas reagiram e Paulo Rangel não podia ter sido mais explícito: - “parece uma norma desenhada para a Casa Pia”!

Por fim, o interregno também acertou no “apito dourado” ou “encarnado”, como lhe queiram chamar! Para lá do espesso manto de silêncio que entretanto caiu sobre tão mediático caso, notícias frescas confirmam que o livro “Eu Carolina”, considerado pela generalidade como um importante elemento de investigação, parece que sofreu alterações na sua versão original, por forma a incriminar uns e deixar outros de fora! O actual silêncio compreende-se!

Dir-me-ão que eram coisas fáceis de adivinhar. Pois sim. E de escrever?

domingo, setembro 09, 2007

Gritos de alma

Quem não se lembra do grito de Tarzan, afirmado a plenos pulmões enquanto se baloiçava nas compridas lianas! Quem não se entristeceu com o suspiro do mouro, forçado a abandonar a doce Granada! E o grito de guerra clamando por Santiago! Mais tarde substituído por São Jorge, quando os Lencastres trouxeram a divisão à peninsula! Mas os gritos que agora me interessam são mais prosaicos, ouviam-se na pequena praia que frequentei durante uma escassa semana, eram frases soltas, sem sentido, entre o desânimo e a esperança de umas férias impossíveis de alcançar. Eu conto: no toldo que me abrigava do sol inclemente, estabeleci sem querer uma intimidade exagerada com a vizinhança e mesmo que fechasse os olhos para me concentrar num pensamento mais longínquo, era invariávelmente acordado pelo toldo da direita, que mantinha o hábito ancestral de decidir tudo em conclave. Gente do norte, com acentuado sotaque portuense, desta vez o assunto prendia-se com uma pequena alteração na ementa: o marido desafiava a mulher a substituir a caldeirada de tamboril pela massada do mesmo! Ele encarregar-se-ía dos bifes. Passado este momento crucial, voltei-me para o toldo da esquerda para apreciar o esforço do chefe de família na tentativa de manter o agregado em paz e sossego. Missão ingrata porque duas graciosas criancinhas, cheias de imaginação, não lhe davam tréguas! Eram daqui que partiam os gritos de alma. Na última manhã a promessa de uma ida aos caranguejos estava em cima da mesa, o sol apertava, as rochas ficavam distantes, mas os miúdos exigiram o cumprimento da pena sem contemplações. O pai olhou em volta desesperado, encolheu os ombros, levantou-se, pegou no balde e rumou ao deserto atrás das radiantes criaturas.
Naquele instante pensei fazer alguma coisa, mostrar alguma solidariedade, mas fiquei preso à cadeira, enquanto a expedição se afastava. E fosse imaginação ou remorso, a verdade é que passado algum tempo me pareceu ouvir um grito vindo do lado das rochas, em tudo semelhante ao silvo das baleias perdidas na imensidão dos oceanos! O nosso homem devia estar com os pés em brasa e os caranguejos pelos cabelos!
As férias de sonho não existem, são um grito de alma.