Quem não se lembra do grito de Tarzan, afirmado a plenos pulmões enquanto se baloiçava nas compridas lianas! Quem não se entristeceu com o suspiro do mouro, forçado a abandonar a doce Granada! E o grito de guerra clamando por Santiago! Mais tarde substituído por São Jorge, quando os Lencastres trouxeram a divisão à peninsula! Mas os gritos que agora me interessam são mais prosaicos, ouviam-se na pequena praia que frequentei durante uma escassa semana, eram frases soltas, sem sentido, entre o desânimo e a esperança de umas férias impossíveis de alcançar. Eu conto: no toldo que me abrigava do sol inclemente, estabeleci sem querer uma intimidade exagerada com a vizinhança e mesmo que fechasse os olhos para me concentrar num pensamento mais longínquo, era invariávelmente acordado pelo toldo da direita, que mantinha o hábito ancestral de decidir tudo em conclave. Gente do norte, com acentuado sotaque portuense, desta vez o assunto prendia-se com uma pequena alteração na ementa: o marido desafiava a mulher a substituir a caldeirada de tamboril pela massada do mesmo! Ele encarregar-se-ía dos bifes. Passado este momento crucial, voltei-me para o toldo da esquerda para apreciar o esforço do chefe de família na tentativa de manter o agregado em paz e sossego. Missão ingrata porque duas graciosas criancinhas, cheias de imaginação, não lhe davam tréguas! Eram daqui que partiam os gritos de alma. Na última manhã a promessa de uma ida aos caranguejos estava em cima da mesa, o sol apertava, as rochas ficavam distantes, mas os miúdos exigiram o cumprimento da pena sem contemplações. O pai olhou em volta desesperado, encolheu os ombros, levantou-se, pegou no balde e rumou ao deserto atrás das radiantes criaturas.
Naquele instante pensei fazer alguma coisa, mostrar alguma solidariedade, mas fiquei preso à cadeira, enquanto a expedição se afastava. E fosse imaginação ou remorso, a verdade é que passado algum tempo me pareceu ouvir um grito vindo do lado das rochas, em tudo semelhante ao silvo das baleias perdidas na imensidão dos oceanos! O nosso homem devia estar com os pés em brasa e os caranguejos pelos cabelos!
As férias de sonho não existem, são um grito de alma.
Naquele instante pensei fazer alguma coisa, mostrar alguma solidariedade, mas fiquei preso à cadeira, enquanto a expedição se afastava. E fosse imaginação ou remorso, a verdade é que passado algum tempo me pareceu ouvir um grito vindo do lado das rochas, em tudo semelhante ao silvo das baleias perdidas na imensidão dos oceanos! O nosso homem devia estar com os pés em brasa e os caranguejos pelos cabelos!
As férias de sonho não existem, são um grito de alma.
Sem comentários:
Enviar um comentário