sexta-feira, setembro 30, 2005

Chissano ao poder

Se o próprio concordar, creio ser a alternativa mais patriótica para a próxima eleição presidencial. Não acreditam?
Vejamos, Joaquim Chissano está neste momento livre de compromissos, vive connosco há mais de quinhentos anos, já desempenhou o cargo em Moçambique, não se lhe conhecem fraquezas ou tentações de querer ser alemão, francês ou espanhol e tem hoje, uma perfeita noção do que custa ser independente! Pode portanto, pôr na ordem esta gente que nos desgoverna e conduz para abismos, já dantes navegados!
Como vêem, é o candidato necessário, nesta emergência.
Descontando o surrealismo que a proposta encerra, o que se pretende significar é que o Império, no seu interesse e de Portugal, deve manter-se atento ao rumo que as coisas estão a tomar, sendo agora a sua vez de intervir, se estiver em risco a nossa independência. Pode então gritar bem alto, que eu não me importo – “Para Portugal, e em força”!
Do Brasil a Timor, a Monarquia construiu esforçadamente, ao longo de séculos, a golpes de vontade, uma fantástica apólice de seguro para a sobrevivência da Portugalidade.
Estou certo, que todo esse esforço não terá sido em vão. E já o afirmei, em caso de necessidade, e na altura própria, serão os povos das colónias que nos “obrigarão” a ser independentes!!!
Enquanto isso, vamos continuar a aturar as brincadeiras destes republicanos, cheios de vontade de ser espanhóis ou finlandeses!!!
Haja Deus.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Onde é que estavas no 28 de Setembro?

A pergunta é para todos, e se ainda não tinhas nascido a 28 de Setembro de 1974, podes também tentar responder, imaginando qual seria a tua posição nessa ultima luta de trincheiras, que opôs a chamada “reacção”, às hordas triunfantes comandadas pelos comunistas de Cunhal.
- "A “reacção” não passará", gritaram na altura, todos os imbecis, todos os traidores, todos os apologistas da descolonização exemplar, adesivos aos montes, repetindo cenas da nossa proverbial “coragem”, que uma conhecida expressão imortaliza – “trezentos na Rotunda, trinta mil na Avenida”!
Depois, veio o “Gonçalvismo”, com o seu cortejo de nacionalizações, saneamentos, ocupações de casas e terras, roubos vários e, para nossa vergonha, que a História se encarregará de lembrar – o abandono cobarde, os compromissos rasgados, as responsabilidades coloniais atiradas ao lixo!
Este triste episódio não se confunde, nem se justifica, com outras descolonizações europeias, porque nós estávamos lá há mais tempo e prometemos mais.
Veio então a “fonte luminosa”, onde, mais lúcidos e arrependidos, lá se juntaram os “imbecis” de ontem para travar o passo aos seus inimigos recentes. Foi a “coroação” de Soares!
O 25 de Novembro de 1975, já reduzidos ao rectângulo, pouco acrescentou – foi um ajuste de contas interno entre os MFA’s, que apenas teve o mérito de arrumar Cunhal e os seus pares, no inevitável depósito da história.
Mas voltemos atrás, à tal “reacção” que não passou, mas que se tivesse passado, ainda poderia ter evitado muitos dos subsequentes desastres, nomeadamente a “descolonização exemplar”!
Era gente jovem, idealista, uma minoria que acreditou que era possível encontrar um caminho diferente para Portugal. Gente que não queria mais ditaduras, que estava, fundamentalmente preocupada com as colónias, mas que não tinha nada nas colónias a não ser o sentimento que vem da herança, e que por tudo isso, tentou a todo o transe evitar a demissão de Spínola. Vieram para a rua e enfrentaram com coragem os lacaios de Moscovo e seus satélites.
Foram presos, alguns conspiraram em Espanha, diluíram-se no tempo. Hoje, não são ministros, não são Conselheiros de Estado, nem magnatas de sucesso.
Quem hoje continua a mandar, são os tais “imbecis” e “traidores” que no 28 de Setembro travaram o passo a Portugal!

segunda-feira, setembro 26, 2005

A lógica autárquica

Se eu fosse candidato, com o Partido a “exigir-me” a vitória ou o crepúsculo na carreira, com as populações a esperarem de mim a realização de todos os seus sonhos, e sabendo que os meus adversários fariam o mesmo, eu também prometia tudo:
- Estádio de futebol, clube a subir de divisão, piscina olímpica, palco de eventos, duplicação de rotundas e, no comício de encerramento diria triunfal – ‘vamos, finalmente, pôr esta terra no mapa’.
É assim por todo o País, promessas a rodos, empreiteiros aos molhos, e, naturalmente, golpes baixos e cofres falidos. E não vale a pena abrir a caça às bruxas. Todos têm telhados de vidro, pela simples razão, de que os telhados são mesmo feitos de vidro!
E enquanto assim for...

Em texto já publicado, com o título “O Rei e os Sovietes”, esbocei algumas ideias sobre o “regionalismo terapêutico” que penso ser o remédio ideal para deixarmos de ser o “três em um”, ou seja, três países num só, a saber:
- O país interior, pobre e desertificado, o país litoral, onde está acantonada a maior parte da população, e o país dos partidos, que suga os outros dois.
Não inventei a roda. Já aplicámos com êxito esta terapia nos Açores e na Madeira, e aqui ao lado, em Espanha, é receita de sucesso – refiro-me às Regiões Autónomas!
As propriedades medicinais deste tratamento são por isso conhecidas e só alguns parasitas tentaculares vêem nele contra-indicações, e percebe-se porquê – é que o princípio activo actua duplamente, por um lado, trava a desertificação, e por outro, contém em limites razoáveis o “polvo” partidário.
Começaríamos assim pelo “país interior”, a necessitar de cuidados intensivos, recuperando um saudável “espírito regional”, que ao contrário do que dizem os tais parasitas, não enfraquece, mas antes, fortalece a coesão nacional. O que destrói qualquer coesão nacional são as assimetrias cada vez mais gritantes entre o litoral e o interior, que levam ao abandono das terras, das actividades, com as populações que restam, a procurarem resolver os seus problemas, cada vez com maior frequência, no outro lado da fronteira!
Esta é que é a realidade preocupante.
E que faz o regime para resolver a situação? Faz a única coisa que sabe fazer – reduz ou pensa reduzir!
Pensa reduzir concelhos, fechar escolas, eliminar actividades. Precisamente o contrário do que é forçoso fazer, para que seja possível voltar a nascer e a viver, com um mínimo de qualidade e esperança, numa qualquer terra do interior de Portugal.
As Regiões Autónomas podem ser a solução, e agora já ninguém tem dúvidas, mais económica e útil que a actual “partidarite” autárquica.
Fica a ideia.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Então, e agora? Ninguém se demite?

Santana volta, estás perdoado. As tuas “terríficas trapalhadas” que abalaram o país da comunicação social, situado algures entre o leninismo e o terceiro mundo, que suscitaram a análise dolorosa dos economistas, que levaram Sampaio ao discurso do Finis Patriae, eram afinal um grão de areia nesta tempestade que todos os dias fustiga a nossa triste existência!
Começam a aparecer os contornos da verdadeira cabala, a explicar a necessidade premente da conquista do poder, para abafar, para não julgar, para não interrogar, para que não se saiba nada do que se vem escondendo ao longo de décadas de corrupção do Estado, com as moscas revezando-se, ordeiramente, no banquete orçamental!
Os mesmos colunistas que te apontaram a porta da rua como incompetente, choram agora a triste situação a que chegámos, escrevem longas e curtas prosas sobre os dislates intermináveis, sobre as vergonhas descaradas, com a gravidade sempre a crescer, sem solução à vista!
Então foi para isto que te mandaram embora?
Mas calma, que nem tudo são rosas. Terás de vir sozinho, sem a ganga partidária, com as nódoas limpas, porque também tens nódoas, disponível, com a única coisa que parece distinguir-te de quase todos, um certo patriotismo ingénuo, mas ainda assim, patriotismo!
Deves levantar a questão do regime, directamente, sem medo, no sentido de darmos uma oportunidade ao povo, para decidir se quer continuar com esta República (a mesma de sempre) ou se quer regressar à Monarquia.
Faz isso, e já ficas na História.
A ideia é simples – trata-se de emendar o erro de Salazar que na década de cinquenta não quis, ou não soube, seguir o exemplo franquista instituindo uma Regência, que preparasse o regresso do Rei.
Faz como os afegãos, e em vez de ires a Roma, vai a São Pedro de Sintra, pedir ajuda ao Duque de Bragança, única entidade que ainda nos lembra que já fomos um povo verdadeiramente independente!
E não percas muito tempo a pensar.

Nota: Não conheço pessoalmente Pedro Santana Lopes e por isso o tratamento por “tu” apenas pretende transmitir outra força ao texto.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Portugal Triangular

Viram o anúncio? Vale a pena ver...somos nós, é a nossa cara chapada!
Um estádio de futebol triangular, iluminado, repleto de público (!) a vibrar, com três balizas. Uma coisa única!
Esta criatividade toda já deve ser o resultado da política de admissões da empresa, que tem dado preferência, como se sabe, a jovens talentos, descendentes de outros talentos bem conhecidos! Sim senhor, parabéns!
O projecto vê-se que tem futuro e nem é difícil prever a sequência lógica da “criatura”, pois estamos certos que vai acompanhar o perfil mental de tão inspirados criadores! O triângulo, à semelhança da inteligência, irá perdendo espessura até ficar reduzido e achatado numa apoteose unidimensional!
Visto sem perspectiva, cumpre-se um velho sonho da ditadura – um Presidente, um Clube e uma Baliza!!! E a gente a rematar todos para o mesmo lado! Então sim, haverá dias de glória, grandes “cabazadas”, e dificilmente sofreremos qualquer golo nas balizas inexistentes!
Se ainda conseguirmos sonhar, vislumbramos o grande “timoneiro”, a testa florida, e nós com as bandeirinhas agitadas a marchar ao som, por exemplo, de uma partitura vitorina, alegremente cantando, “levados, levados, sim...”
Pronto, já sei que vão dizer que eu ando sempre a bater no “ceguinho”, mas averigúem primeiro, se não é essa cambada de “ceguinhos” que anda a bater em nós?!

Nota: Escrevi em tempos um texto intitulado “Os Clubes do Estado”, que talvez elucide melhor o meu pensamento sobre esta matéria.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Febo Moniz

A história não se repete, dizem os sábios, e é bem possível que tenham razão!
Mas enquanto o homem continuar a nascer debaixo do sol e for essa criatura fácil de reconhecer quando está um espelho por perto... se a história não se repete, ele há muitas coincidências!
E tinha logo que se chamar Filipe, o futuro Rei de Espanha! E tinha logo que ser a Espanha essa potência rompante que se adivinha, enquanto o “vizinho” definha, sem resistir à rima, porque é verdade!
E tínhamos que estar sem rei nem roque, à deriva, pedindo a todos os santinhos que tomem conta de nós!
E tinha que ser neste estado de alma, sem vontade nenhuma de lutar pela nossa independência, à semelhança do que aconteceu em 1580, nas tristemente célebres Cortes de Almeirim!
Ontem como hoje, Febo Moniz votou vencido, último sopro de uma nação anestesiada e atemorizada com o futuro! A viver de mão estendida, entregando-se por um prato de lentilhas!
Filipe II foi lapidar – “Portugal?!.. Herdei-o, conquistei-o e comprei-o”.
Para nossa memória, fica o registo da patriótica alegação do procurador de Lisboa, dirigindo-se ao indeciso Cardeal-rei:

– “Se el-rei D. Filipe é cristão, não quererá mover uma guerra entre cristãos, por causa duvidosa, contra a justa sucessão; porque sendo assim, não terá bom sucesso, e Deus não será em seu favor; e quando o quisesse fazer, faremos o que sempre fizemos; bem sabemos perder a vida pela liberdade, e, posto que sejamos poucos e desarmados, e ele poderoso e apercebido, esperanças tenho em Nossa Senhora, que ajudará a efectuar uma sentença dada por um rei tão católico e tão santo e que não permitirá sermos vencidos, pois levamos a verdade e a razão por guia. Atónito estou de ver que, sendo a justiça igual, e estando ainda o parecer de Vossa Alteza tão duvidoso, se incline para Castela! Como poderá Vossa Alteza extinguir uma nação, que os reis seus antecessores trabalharam tanto para enobrecer? Não sei como Vossa Alteza poderá acabar aquelas cinco chagas, que Jesus Cristo Nosso Senhor deu por armas no Campo de Ourique a este reino?! Poder-se-ão elas, sem receio ou temor, meter entre os leões de Castela? Este negócio é maior que todos os do mundo, por árduos que sejam! Que falta é esta de amigos, que pobreza de vassalos reais? Porque não tenho por amigos do vosso serviço, nem por criados leais, quem tal coisa vos aconselha. Porque quereis que vos estale o reino nas mãos? Não vê Vossa Alteza a nódoa que põe em seu nome? Aonde se dirá que se entregou este reino a Castela, por temor de se defender do seu poder? Pelas lágrimas dos órfãos, que vivem das esmolas do reino e de seu rei natural; pelo remédio dos fidalgos, que ides entregar a um rei estranho; pelas necessidades das viúvas; pelas misérias dos pobres, peço-vos, senhor, que conserveis este reino na liberdade em que os reis vossos antepassados o puseram! Representai ante vossos olhos, que todos comigo dão vozes: a quem nos deixais, senhor? Porque nos cativais?! Aonde nos levais?! Clama o povo, clama a nossa consciência, clama a justiça e a razão, e os nossos clamores hão-de chegar ao céu! Dai-nos liberdade, e, se vos parecer que a não merecemos, tirai-nos a vida, para que com ela se acabe o nosso cativeiro: que antes queremos os verdadeiros portugueses, entregar de boa vontade a vida, do que perder a liberdade.” (*)

Seguiram-se sessenta anos de união ibérica, com graves prejuízos para os interesses de Portugal e dos portugueses.

(*) - De uma transcrição do manuscrito original feita pelo historiador Oliveira Martins.

sábado, setembro 17, 2005

Impunidade

O processo da Casa Pia continua a surpreender-nos! Denunciado em pleno Tribunal pelas próprias vítimas dos crimes que terá ou não cometido, Paulo Pedroso continua fora do julgamento!
A juíza Ana Peres, confrontada com a situação, ralha com as vítimas e diz que não pode tomar conhecimento dos crimes públicos ali relatados, porque Paulo Pedroso não consta daquele processo, não sendo por isso arguido!
Este é o terceiro mundo que nos está reservado e só podemos andar satisfeitos com os nossos estimados governantes.
Entretanto, aguarda-se a todo o momento (desde Maio de 2004!) a decisão do recurso sobre o não pronunciamento do antigo ministro da tutela da Casa Pia (o dito Pedroso), mas já se adivinha o veredicto – não existe “matéria” para o levar a julgamento!!!
O afilhado de Sampaio, delfim de Ferro Rodrigues, jovem esperança socialista, pode ficar descansado – a República Portuguesa não julga os seus políticos, pela simples razão de que são eles que fazem as leis, que se nomeiam juízes e que estão por isso acima da lei.
Podem descansar também o Costa, o Lacão, a confraria toda, porque a “ética republicana” que exibem e apregoam não engana – liberdade, igualdade e fraternidade entre eles, para eles e mais ninguém!
Podem ainda descansar os “preocupados” defensores de mais (!) garantias processuais, porque elas, em Portugal, serão sempre infinitas quando se trata de “safar” alguém da quadrilha!
Mas, há sempre um mas, vem agora o advogado Serra Lopes, habilmente, lançar a estratégia da “absolvição geral” e diga-se, tem argumentos!
Depois de considerar, no mínimo, “exótica”, a circunstância de Paulo Pedroso não constar da lista de arguidos no processo da Casa Pia, e no caso provável da Relação decidir novamente não o pronunciar, a “doutrina” absolutória surge cristalina: - se os depoimentos das vítimas não são credíveis para incriminar Paulo Pedroso, então porque é que os mesmos depoimentos das mesmas vítimas servem para incriminar e levar a julgamento todos os outros arguidos?!
Esta a questão caricata e vergonhosa que se desenrola à frente de todos os portugueses de boa fé e que se está a tornar insuportável para o regime em que mal sobrevivemos!
Sampaio pode dizer o que lhe apetecer sobre a reforma das Nações Unidas, que ninguém o ouve, Sócrates pode fazer implodir o que quiser, que ninguém o vê, porque a Casa Pia, para o Bem ou para o Mal, já marcou os seus destinos.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Asfixia partidária

A expressão não é minha, é de um jornalista-escritor muito em voga, mas não deixa de ser uma realidade absoluta em Portugal! A prevista nomeação do socialista “independente” Guilherme Oliveira Martins para o Tribunal de Contas, órgão destinado a fiscalizar o Governo, é apenas mais um acto esclarecedor, que fecha o círculo vicioso em que vivemos! Mas há mais – com as eleições autárquicas reduzidas à magna questão de expulsar ou eliminar dissidências partidárias, a futura eleição para a Chefia de Estado Republicana, é um verdadeiro hino à partidocracia vigente!!!
A segunda República, que muitos gostam de chamar Estado Novo, escamoteava a questão com um número de ilusionismo – as eleições eram a fingir e o candidato apresentava-se fardado!
Hoje o que é que vemos?!
Como na Roma Cesarista, lutas fratricidas, traições, intrigas várias a cargo dos escribas de turno, dos afilhados, dos camaradas e confrades, vale tudo desde que o “árbitro” seja “nosso”!
Os saudosistas sabem que o filme não está completo: faltam as legiões e as consequentes revoluções! Mas convenhamos que não se pode ter tudo – desfeito o Império, desfizeram-se as legiões, e enquanto os ordenados forem pagos pela UE, não há nada para ninguém!
“Esta é a ditosa democracia minha amada” em que vamos navegando (baloiçando) sem sair do mesmo sítio – ao leme, seguem os traidores. Falta apenas aquela frasezinha do Wiston Churchill, pronunciada pelas habituais aventesmas, a “explicarem” que a “democracia é, apesar dos seus naturais defeitos, o melhor que conseguimos arranjar...” – expressão encantada, do tipo pass-word, que normalmente cala todas as controvérsias.
O “interregno” é que não enfia barretes! Descodifica e replica: W.C., disse essa frase, no contexto de uma monarquia assente numa constituição histórica, o que faz toda a diferença para todos os outros regimes que se reclamem de uma constituição feita “de encomenda”, normalmente atentatória dos valores e cultura dos povos que as sofrem. Portugal é nessa matéria um “belíssimo” exemplo.
Aqui chegados, os diagnósticos situacionistas, começam a falar de mudança de regime (!), um avanço sem dúvida, numa sociedade imóvel como a nossa!
Mas o que querem eles dizer com isso?!
Analisaremos o assunto em próximo postal.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Os brandos costumes

Com a revolução dos cravos ao rubro, ainda assim a planície alentejana mantinha o hábito de adormecer em silêncio! Com a cumplicidade da noite era possível passear e conversar por Évora e nessas circunstâncias especiais, o tema versava sobre a nossa personalidade colectiva!
Em boa companhia, um padre jesuíta, a única pessoa que nos esperava (!), ungido com a simplicidade dos sábios, explicava a origem dos nossos brandos costumes, enquanto ía desconstruindo uma série de teorias sobre a nacionalidade!
- Lembrem-se que o cabo Finisterra ficava e fica por aqui, e as sucessivas invasões, perante a imensidão do mar que se estendia à sua frente, percebiam de imediato que o caminho da fuga estava vedado e que se quisessem ficar, teriam que adoptar uma atitude cordata com quem já cá estava! Era uma questão de bom “viver”!
Foi-se assim desenvolvendo, por necessidade e engenho, uma forma de convivência pacífica entre povos diferentes, diferentes no pensar e no sentir, que acabou por edificar uma vocação ecuménica, que é hoje o traço mais original da nossa cultura e que nos há-de servir para passarmos mais esta Taprobana!
Da planície alentejana, da revolução de Abril, das hesitações no rumo a seguir, de Évora... me vou lembrando!

quinta-feira, setembro 08, 2005

O "p d i"

A sigla, originalmente do género feminino, esconde uma expressão inofensiva, quase sempre pronunciada a meia voz, para significar a saudável aceitação dum facto natural – o envelhecimento.
“O pavor da idade” é outra coisa!
Está na ordem do dia, domina as preocupações do homem do Ocidente, o tal que se reclama do humanismo primordial, com mandamento e versículo genético incluído: “O homem criou deus à sua imagem e semelhança”!
Bonito serviço! Não admira que se tenham tornado ateus!
Eu, neste ponto, estou com o homem das cavernas, que percebeu logo que o Criador não podia ser ele, e foi nessa evidência, que encontrou, afinal, o estímulo para o seu aperfeiçoamento.
Mas voltemos ao pdi, porque a coisa não está fácil.
Se nascer e morrer, com a descoberta de novos direitos e não direitos, se tornou tarefa bastante difícil, envelhecer, é um autêntico inferno!
E nem é tanto a questão do habitual declínio físico, que sempre se vai aguentando; refiro-me à atitude das “criaturas – criadoras” ou “criadoras – criaturas” (para eles, a ordem dos factores é arbitrária), que por certo descontentes com a sua obra, resolvem implicar com os outros!
Lembrem-se as preocupações com a idade do anterior Pontífice, que essa gente achava que se deveria reformar, e ser abatido ao efectivo!
A recente apresentação da candidatura de Mário Soares, que passou mais de metade do seu discurso a tentar justificar e garantir que ainda estava dentro do prazo de validade!
A concepção Socrática sobre o “peso” da idade no plano Orçamental, descobrindo para isso uma solução de rejuvenescimento obrigatório, no caso de ser funcionário público!
Enfim, os exemplos de que o envelhecimento é uma doença socialmente perigosa, são inúmeros!
Nestas condições e atendendo a que já tenho mais passado que futuro, estou tentado a emigrar para África ou para o Oriente, lugares onde o envelhecimento é respeitado, é considerado fonte de sabedoria, e onde se pode ainda nascer e morrer descansado!

segunda-feira, setembro 05, 2005

Marcelo treinador

Já tinha escrito umas linhas sobre outra conversa em família, a que dei o título de – “Marcelo aflito”!
Rasguei. Comentava então as aflições de Marcelo perante a perspectiva de uma candidatura de Mário Soares que entretanto se anunciava.
Hoje, depois do que ouvi, não resisto a um breve comentário:
Marcelo, bronzeado, defronte da belezoca em declínio, mas que se acha em ascensão, disse práticamente tudo o que Cavaco deveria e não deveria fazer, para ganhar a próxima eleição presidencial!
Faltou apenas escolher a gravata e os sapatos! Ou então dizer – escusas de aparecer, que isto já está ganho!
Antes porém, em verdadeiro trabalho de sapa, encarregou-se de reduzir Soares ao papel de vilão sem desculpa, lendo inclusivamente versos de Alegre!
Enfim, depois do esforço, do afinco, e vamos lá, do treino intensivo a que tem sujeitado Cavaco, Marcelo está de facto em condições de dizer – Cavaco, agora é contigo.
Mas Cavaco ainda não é certo, e se estes programas continuarem, pode haver lugar a uma surpresa:
Marcelo, que sabe tudo o que é preciso fazer para ganhar o jogo, e caso o seu pupilo simule uma lesão, pode muito bem lembrar-se de despir o fato de treino... e entrar em campo!
É uma hipótese, uma mera hipótese.

domingo, setembro 04, 2005

Alerta amarelo

Quando a coisa começa a cheirar a esturro ou quando rebenta alguma bronca, o sistema defensivo do regime entra em alerta amarelo, com a comunicação social especializada a lançar barragens de fumo e outros artefactos para distrair o pagode.
É a altura de enviar para o ar aqueles programas excessivamente democráticos em que se propõe ao pacato cidadão que dê umas dicas sobre os berbicachos que o Governo se mostra incapaz de resolver!
Foi o que aconteceu a seguir às denúncias do autarca Paulo Morais sobre a corrupção generalizada que grassa nos municípios do País, como se isso fosse uma grande novidade, aquecesse ou arrefecesse o nosso eterno fadário de fazer coincidir o fim dos euros com o fim do mês, essa sim, uma aventura diária cheia de novidades e surpresas!
Ainda assim e porque a generosidade (e a paciência) dos portugueses é praticamente infinita, há sempre muita gente interessada em telefonar para dar a sua ajuda ao Governo!
Nesse dia, o programa avançava por entre testemunhos mais dramáticos e menos dramáticos, com normalidade, a solução final para todos os nossos problemas estava encontrada, até porque a emissão também estava a chegar ao fim, quando, inesperadamente, tudo aquilo começou a resvalar para fora do alinhamento previsto!
Verdade se diga que a locutora também teve algumas culpas no cartório. Entusiasmada com o desembaraço que vinha do outro lado do fio, resolve fazer uma pergunta metafísica:
- Então, diga-nos lá o que é que o senhor e todos nós devemos fazer para mudar as nossas mentalidades (corruptas), para mudar Portugal?
A resposta atrevida não se fez esperar – oh minha senhora, eu mudar até mudava, mas veja lá, o nosso primeiro-ministro Sócrates, assim que tomou posse, apressou-se logo a declarar que não tinha carro, não tinha casa e que a única coisa que tinha em seu nome eram umas acções do Benfica! Com este exemplo, a gente faz o mesmo.
Houve um pequeno sobressalto, a locutora acabou por convir que nunca tinha pensado nisso, dessa maneira, e mudou de ouvinte.
Lá para os seus botões deve ter concluído que no tempo do Santana Lopes é que era bom! Era tudo a bater no ceguinho! Aquilo sim, eram programas a sério!
Agora isto está impossível, por causa desses mal-educados, que não respeitam o nosso trabalho, etc. etc., vêm para aqui atacar o engenheiro Sócrates que, coitado, está tão caladinho, não faz mal a ninguém...

quinta-feira, setembro 01, 2005

A forma republicana de governo

E como se chamará a forma de governo em Espanha ou em Inglaterra?
Será forma monárquica de governo ou forma de governo monárquica?
E de quem terá sido a ideia de meter esta preciosidade na Constituição da República?
O objectivo é claro!
Serve para iludir e confundir o povo e as pessoas mais simples. Mas a quem é que a Monarquia mete tanto medo ao ponto de inventarem fórmulas obscuras que só os eruditos, nos cumes da sua sapiência, entendem?!
E pasme-se, ao fim de trinta anos de “democracia” e inúmeras revisões constitucionais a expressão permanece, para nossa vergonha, incluída nos limites materiais de revisão constitucional! Os monárquicos protestam, o Duque de Bragança contesta, mas os donos do regime fingem que não ouvem, desvalorizam, cumprem o seu plano usurpador e traiçoeiro.
Assumam um referendo se têm coragem! Ganhem e responsabilizem-se pelo regime que têm!
Afinal o regime é uma República unitária, por enquanto do Minho às Desertas, por este caminho, do Minho às Berlengas, mas assumam isso, com um mínimo de coragem. Plantem isso na Constituição para que todos percebam.
A política existe para simplificar a vida e não para enganar as pessoas.

Já que me meti nisto e para esclarecimento de muito boa gente que quando pronuncia a palavra regime, ou não percebe ou tem medo de perceber do que é que está a falar, resta-me ditar para a acta o seguinte:
- Que fique registado que em milénios, o homem aprendeu a fazer fogo riscando o sílex, inventou a roda, foi à Lua, descobriu inclusivamente o fecho eclair, mas neste tempo todo não conseguiu organizar-se senão em dois regimes – republica e monarquia!
Ainda hoje, todos os Estados independentes, ou que se julgam independentes, ou são monarquias ou republicas.
Os dois regimes coexistiram historicamente, tiveram e têm as suas “nuances”, mas a essência mantém-se: na república a escolha do Representante é feita exclusivamente pelos contemporâneos, enquanto que o Rei, eleito pela História, representa não apenas os contemporâneos, mas também os antepassados e os vindouros, precisamente porque não foi escolhido, só pelos contemporâneos.
Naturalmente que a preferência de regime diz bastante sobre o estado da respectiva nação. Quando os contemporâneos se arrogam o direito de decidirem, não apenas sobre o valor acrescentado à herança (no nosso caso, diminuído), mas sobre a totalidade da herança, renegando os antepassados e ignorando os vindouros, o estado dessa nação não é famoso! Se por acaso, estamos a falar de nós, então é preocupante...
Fica o esclarecimento, que pelas mesmas razões, também vai para a acta junto com as reticências.

Nota:
Espero que depois de lerem a acta, quer o Prof. Paulo Varela Gomes quer o Eng. Sevinate Pinto, deixem de fazer confusão com os regimes! Quando, em Portugal, dizemos que é preciso mudar de regime, isso deve querer significar – mudar para Monarquia.