A história não se repete, dizem os sábios, e é bem possível que tenham razão!
Mas enquanto o homem continuar a nascer debaixo do sol e for essa criatura fácil de reconhecer quando está um espelho por perto... se a história não se repete, ele há muitas coincidências!
E tinha logo que se chamar Filipe, o futuro Rei de Espanha! E tinha logo que ser a Espanha essa potência rompante que se adivinha, enquanto o “vizinho” definha, sem resistir à rima, porque é verdade!
E tínhamos que estar sem rei nem roque, à deriva, pedindo a todos os santinhos que tomem conta de nós!
E tinha que ser neste estado de alma, sem vontade nenhuma de lutar pela nossa independência, à semelhança do que aconteceu em 1580, nas tristemente célebres Cortes de Almeirim!
Ontem como hoje, Febo Moniz votou vencido, último sopro de uma nação anestesiada e atemorizada com o futuro! A viver de mão estendida, entregando-se por um prato de lentilhas!
Filipe II foi lapidar – “Portugal?!.. Herdei-o, conquistei-o e comprei-o”.
Para nossa memória, fica o registo da patriótica alegação do procurador de Lisboa, dirigindo-se ao indeciso Cardeal-rei:
– “Se el-rei D. Filipe é cristão, não quererá mover uma guerra entre cristãos, por causa duvidosa, contra a justa sucessão; porque sendo assim, não terá bom sucesso, e Deus não será em seu favor; e quando o quisesse fazer, faremos o que sempre fizemos; bem sabemos perder a vida pela liberdade, e, posto que sejamos poucos e desarmados, e ele poderoso e apercebido, esperanças tenho em Nossa Senhora, que ajudará a efectuar uma sentença dada por um rei tão católico e tão santo e que não permitirá sermos vencidos, pois levamos a verdade e a razão por guia. Atónito estou de ver que, sendo a justiça igual, e estando ainda o parecer de Vossa Alteza tão duvidoso, se incline para Castela! Como poderá Vossa Alteza extinguir uma nação, que os reis seus antecessores trabalharam tanto para enobrecer? Não sei como Vossa Alteza poderá acabar aquelas cinco chagas, que Jesus Cristo Nosso Senhor deu por armas no Campo de Ourique a este reino?! Poder-se-ão elas, sem receio ou temor, meter entre os leões de Castela? Este negócio é maior que todos os do mundo, por árduos que sejam! Que falta é esta de amigos, que pobreza de vassalos reais? Porque não tenho por amigos do vosso serviço, nem por criados leais, quem tal coisa vos aconselha. Porque quereis que vos estale o reino nas mãos? Não vê Vossa Alteza a nódoa que põe em seu nome? Aonde se dirá que se entregou este reino a Castela, por temor de se defender do seu poder? Pelas lágrimas dos órfãos, que vivem das esmolas do reino e de seu rei natural; pelo remédio dos fidalgos, que ides entregar a um rei estranho; pelas necessidades das viúvas; pelas misérias dos pobres, peço-vos, senhor, que conserveis este reino na liberdade em que os reis vossos antepassados o puseram! Representai ante vossos olhos, que todos comigo dão vozes: a quem nos deixais, senhor? Porque nos cativais?! Aonde nos levais?! Clama o povo, clama a nossa consciência, clama a justiça e a razão, e os nossos clamores hão-de chegar ao céu! Dai-nos liberdade, e, se vos parecer que a não merecemos, tirai-nos a vida, para que com ela se acabe o nosso cativeiro: que antes queremos os verdadeiros portugueses, entregar de boa vontade a vida, do que perder a liberdade.” (*)
Seguiram-se sessenta anos de união ibérica, com graves prejuízos para os interesses de Portugal e dos portugueses.
Mas enquanto o homem continuar a nascer debaixo do sol e for essa criatura fácil de reconhecer quando está um espelho por perto... se a história não se repete, ele há muitas coincidências!
E tinha logo que se chamar Filipe, o futuro Rei de Espanha! E tinha logo que ser a Espanha essa potência rompante que se adivinha, enquanto o “vizinho” definha, sem resistir à rima, porque é verdade!
E tínhamos que estar sem rei nem roque, à deriva, pedindo a todos os santinhos que tomem conta de nós!
E tinha que ser neste estado de alma, sem vontade nenhuma de lutar pela nossa independência, à semelhança do que aconteceu em 1580, nas tristemente célebres Cortes de Almeirim!
Ontem como hoje, Febo Moniz votou vencido, último sopro de uma nação anestesiada e atemorizada com o futuro! A viver de mão estendida, entregando-se por um prato de lentilhas!
Filipe II foi lapidar – “Portugal?!.. Herdei-o, conquistei-o e comprei-o”.
Para nossa memória, fica o registo da patriótica alegação do procurador de Lisboa, dirigindo-se ao indeciso Cardeal-rei:
– “Se el-rei D. Filipe é cristão, não quererá mover uma guerra entre cristãos, por causa duvidosa, contra a justa sucessão; porque sendo assim, não terá bom sucesso, e Deus não será em seu favor; e quando o quisesse fazer, faremos o que sempre fizemos; bem sabemos perder a vida pela liberdade, e, posto que sejamos poucos e desarmados, e ele poderoso e apercebido, esperanças tenho em Nossa Senhora, que ajudará a efectuar uma sentença dada por um rei tão católico e tão santo e que não permitirá sermos vencidos, pois levamos a verdade e a razão por guia. Atónito estou de ver que, sendo a justiça igual, e estando ainda o parecer de Vossa Alteza tão duvidoso, se incline para Castela! Como poderá Vossa Alteza extinguir uma nação, que os reis seus antecessores trabalharam tanto para enobrecer? Não sei como Vossa Alteza poderá acabar aquelas cinco chagas, que Jesus Cristo Nosso Senhor deu por armas no Campo de Ourique a este reino?! Poder-se-ão elas, sem receio ou temor, meter entre os leões de Castela? Este negócio é maior que todos os do mundo, por árduos que sejam! Que falta é esta de amigos, que pobreza de vassalos reais? Porque não tenho por amigos do vosso serviço, nem por criados leais, quem tal coisa vos aconselha. Porque quereis que vos estale o reino nas mãos? Não vê Vossa Alteza a nódoa que põe em seu nome? Aonde se dirá que se entregou este reino a Castela, por temor de se defender do seu poder? Pelas lágrimas dos órfãos, que vivem das esmolas do reino e de seu rei natural; pelo remédio dos fidalgos, que ides entregar a um rei estranho; pelas necessidades das viúvas; pelas misérias dos pobres, peço-vos, senhor, que conserveis este reino na liberdade em que os reis vossos antepassados o puseram! Representai ante vossos olhos, que todos comigo dão vozes: a quem nos deixais, senhor? Porque nos cativais?! Aonde nos levais?! Clama o povo, clama a nossa consciência, clama a justiça e a razão, e os nossos clamores hão-de chegar ao céu! Dai-nos liberdade, e, se vos parecer que a não merecemos, tirai-nos a vida, para que com ela se acabe o nosso cativeiro: que antes queremos os verdadeiros portugueses, entregar de boa vontade a vida, do que perder a liberdade.” (*)
Seguiram-se sessenta anos de união ibérica, com graves prejuízos para os interesses de Portugal e dos portugueses.
(*) - De uma transcrição do manuscrito original feita pelo historiador Oliveira Martins.
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