sábado, julho 30, 2005

Quem vai nu?

Ninguém repara nisso?
Não é evidente?
Rei e Presidente?
Quando se encontram?!
Numa fotografia?!
Em qualquer recepção, oficial ou não?!

Nos Açores, por exemplo?
Ou em qualquer parte?

Rei e Presidente! É sempre diferente!
Um degrau os separa!
Um pormenor, cada vez maior!

O Rei nem precisa de falar, de explicar,
basta-lhe ser e estar!
E representa tudo,
de cima abaixo,
da esquerda à direita,
de trás para a frente!

E ao Presidente?!
Falta qualquer coisa!
Por mais que se esforce, não tem dimensão!
Representa a metade de um momento da Nação! ! !

Podia lá estar o nosso primeiro.
Eis a questão!
Estamos a mais e estamos a menos !
Somos duplicados,
inutilmente,
sem razão!

Ali, nos Açores,
com o dono ausente,
O Presidente,
Feitor deslocado, mostra os limites,
Coitado!
E vai repetindo,
- Sou um seu criado !

Por mais Otas que faças
Por mais Tegevês que ligues,
aqui ou ali,
A centralidade não muda.
Do que aprendi,
e sei!
Nem sequer é Madrid,
É o Rei !

A tua centralidade é atlântica
E foi construída a duras penas...


E se mesmo assim,
Não queres ver!?
A alegoria a saber:
Não é o Rei que vai nu,
És tu!

sexta-feira, julho 29, 2005

A última guerra púnica

Quem é que esperava por esta?
No início do século XXI, assistir ao vivo, neste canto da Península, a um último combate entre o romano Mário e o cartaginês Aníbal?
Nem na Playstation, digo eu?!
Entretanto, “os dados estão lançados” e como na tradição, Roma vai ganhar. Mas será muito interessante tentar adivinhar que surpresas bélicas apresentará Aníbal?!
Quais serão os seus “elefantes” desta vez? Que momentaneamente poderão confundir o Império? Que ardis utilizará?
E se tiver uma pequena hipótese de destruir o adversário, será que numa nova hesitação, se perderá por Cápua?
Curioso, é que como antigamente, romano e cartaginês representam mundos e ideias sobre o mundo diferentes! De novo, a continentalidade de Mário a opor-se à brisa marítima que o descendente de Ulisses inevitavelmente transporta!
E a nós portugueses essas diferenças não serão indiferentes!
A raiz ou a viagem, eis a questão?
Para os indecisos, segue a citação de um poeta...

Temos ideias gregas e ruínas romanas
Fernando Pessoa

quinta-feira, julho 28, 2005

O último cartucho

Está prestes a ser disparado! Soares vai ser candidato! “Abril” atira a carne toda (e os ossos) para o assador!!!
Porquê tanto desespero? Que já nem poupa os velhinhos?
Que algo de terrível poderá ou poderia acontecer se o Professor Cavaco ganhar ou ganhasse as eleições?
A tal arbitragem ou o tal poder moderador correriam assim tantos riscos se o circunspecto professor de finanças ficasse com o apito na boca?
O que descobriria ele? O que destaparia?
Perguntas e mais perguntas que só o futuro e os resultados eleitorais poderão dar alguma resposta.
Para um monárquico, que nunca votou nem votará numa eleição para a Chefia de Estado, este assunto não deixa de ser preocupante, e neste caso, pelo que revela de “fim de festa”, assume ainda contornos mais dramáticos!
Os ciclos republicanos são sempre iguais e encerram-se sempre da mesma maneira – recriminações, desculpas, irresponsabilidades, saneamentos, violências várias e quando acaba o dinheiro, ainda pior...
Portanto, a questão entre Cavaco e Soares, para mim, não é saber quem ganha, mas saber se o vencedor terá a coragem e o despojamento para propor o fim do interregno português?!
É por isso que não posso terminar sem relembrar, mais uma vez, a clarividência patriótica de Henrique Barrilaro Ruas: “... apenas desejo que os Portugueses não tenham de sofrer muito mais desastres e desilusões antes de se convencerem, por um acto sereno de inteligência, que tudo quanto é autenticamente republicano tem lugar em monarquia”.

O Governo Sombra

Quando um Governo sombra sobe ao Poder deveria, em coerência, manter-se na sombra, e tentar passar despercebido!
Mas este, como insiste em “governar”, está a revelar-se perigoso para a saúde dos portugueses e, como agora se verifica, para os nervos dos próprios governantes!
O Ministro das Finanças não resistiu, meteu baixa!
O Ministro Freitas, decididamente, não é homem para andar na sombra!
Desnorteado, não apenas do ponto de vista cardeal, abriu o livro e desatou a disparar em todas as direcções?!
O Ministro Costa, bombeiro sombra deste Governo, anda desesperado a tentar controlar os fogos que lavram no País real e as fagulhas que de quando em vez, irrompem da Casa Pia! Os outros Ministros não se sabe onde estão! Provavelmente continuam na sombra?!
Falta o primeiro?! O primeiro-ministro sombra, que ficará na história como o governante mais silencioso do planeta, no seu tempo!
A táctica do silêncio é aliás, o seu grande argumento! Não abrir a boca para não sair asneira, é a sua divisa.
E é um homem de sorte, a comunicação social que temos, gosta dele e trata-o nas palminhas! As notícias são sempre boas, as derrotas são pequenas vitórias e quando não é possível ignorar o desaire, viram-se para o líder da Madeira, e pronto!
O Presidente deste País sombrio... nem um pio!
Mas sem sombra de dúvida que temos que tirar alguma ilação de tudo isto!?
Para memória futura, recordamos que este é o Governo que subiu ao poder através de um “golpe de Estado comunicacional”!
Partindo da cabalística expressão “trapalhada” e com o beneplácito da “nomenclatura”, a nossa comunicação social resolveu aniquilar o anterior Governo para pôr no seu lugar este “competentíssimo” grupo de homens sombra!
O resultado começa a estar à vista de todos e as sombras da nossa imaginação começam a perceber o nervosismo que se apoderou de tanta gente, face à perspectiva de aceder à Presidência da República um antigo governante, que pode ter todos os defeitos, menos incompetente!
Aguardemos os próximos capítulos deste romance genuinamente português...

sábado, julho 23, 2005

O dia da Independência

Não serão quarenta os conjurados, nem sequer serão conjurados!
É um pequeno grupo de patriotas! Na sua maioria, Republicanos!
Sabem que a Pátria corre enormes riscos pelo Erro, pelo nó cego que a enreda!
Sentem-se responsáveis, cabe-lhes desfazer o nó e o erro!
Seguem unidos – o exemplo de Egas Moniz inspira-os!
Reconhecemos alguns – lado a lado, monárquicos de sempre, veneráveis, antigos carbonários, um provável bisneto dos regicidas!
Quebram juramentos, esquecem diferenças, pensam nos filhos. A terra onde nasceram, que ainda receberam livre e independente, por mais sofismas que inventem, está à mercê de qualquer tirania!
Os Pais da República vão à frente, indicam o caminho. O seu destino é o Paço!
Pedem ao Duque de Bragança que assegure a continuidade da Pátria!
Este não hesitará!
Na Homilia do dia, o Patriarca dirá aos fiéis que nesta hora grave para os destinos da Comunidade os Portugueses estão outra vez reunidos! Podemos ter esperança!
A História registará a data acrescentando um painel ao célebre Políptico.
O longo Interregno terminou!
Portugal terá futuro!

terça-feira, julho 19, 2005

S. A. o Duque de Bragança ao Semanário 'O Independente'.

O Interregno transcreve, com a devida vénia, a entrevista de Sua Alteza o Duque de Bragança, concedida ao Semanário ‘O Independente’ no dia 15 de Julho p.p.

D. DUARTE

É UM MONARCA SEM TRONO. EM TEORIA, ACEITA QUE A REPÚBLICA É UM REGIME MAIS DEMOCRÁTICO.
MAS ACREDITA QUE NA PRÁTICA AS MONARQUIAS FUNCIONAM MELHOR. O DUQUE DE BRAGANÇA NÃO TERIA DEMITIDO SANTANA LOPES, DEFENDE A LEGALIZAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO, NÃO CONSIDERA JUSTO QUE AS MULHERES SEJAM CONDENADAS PELA PRÁTICA DE ABORTO E ENTENDE QUE OS BOMBISTAS SUICIDAS SÃO TUDO MENOS COBARDES.


«Sinto-me rei dos portugueses»

Quando tem de preencher um impresso o que coloca no espaço reservado à profissão? – Normalmente, agricultor. Ou então administrador da Fundação D. Manuel II. Geralmente prefiro a primeira. Acho mais interessante.

É da agricultura que vem a principal fatia dos seus rendi­mentos? – Não. Ultimamente até tem dado prejuízo.

De onde vêm então os seus proventos? – Uma parte vem das propriedades da minha mãe no Brasil. Juntamente com os meus tios, somos proprietá­rios de muitos terrenos na cidade de Petrópolis. E tam­bém tenho feito trabalhos de consultoria para algumas empresas exportadoras. Mas tenho uma vida simples. Gasto apenas o estritamente necessário para cumprir as minhas obrigações. O desperdício é um erro. O último carro que tive durou 20 anos. Agora tenho um Volkswagen Sharon e espero que dure outros 20.

Como é o quotidiano de um rei sem trono? – Administro as minhas coisas e acompanho os filhos nos estudos e noutras actividades. Depois há muitos convi­tes que tenho de aceitar e que implicam deslocações dentro e fora de Portugal. Agora estou também a pre­parar um livro sobre a minha vida.

Sente-se rei de Portugal? – Não. Mas, em certa medida, sinto-me rei dos portu­gueses.

Em que sentido? Tenho um dever para com o país. Se os portugueses me quiserem, aceito as minhas responsabilidades políti­cas. Se não quiserem, ou não puderem exprimir-se, assumo da mesma forma os meus deveres morais, cul­turais e sociais.

Gostava de ser rei? – Gostaria de poder fazer mais por Portugal. E, como rei, teria muito mais possibilidades de ser útil ao país do que na minha situação actual.

É um sonho? – Não. Sinto apenas que o país tem essa necessidade. Os portugueses estão órfãos de Portugal. Não sabem para onde vai o seu país, sentem-se perdidos e desorienta­dos. Perderam a fé na democracia.

Acredita que Portugal voltará a ser uma monarquia? – Era muito útil para o país se isso acontecesse. Mas tudo depende da evolução da nossa democracia. Neste momento é imatura. Os portugueses são tratados como crianças incapazes de decidir sobre o seu futuro. A pro­va disto é um artigo na Constituição que diz que "a for­ma republicana de governo é inalterável". Devia alterar-se para "forma democrática de governo". Muitas das repúblicas que há no mundo são ditaduras ou demo­cracias insuficientes. E, por outro lado, quase todas as monarquias têm regimes democráticos avançados.

Há países monárquicos em que as coisas não funcionam bem... – Há, de facto, algumas monarquias árabes, ultra-tradicionalistas, que estão muito longe do que entendemos por democracia. Mas em África as monarquias fun­cionam melhor do que as repúblicas. No Sudoeste Asiático, a Tailândia é certamente um dos países mais democráticos da sua região. O Japão é muito mais democrático do que a China...

Por que motivo uma monarquia parlamentar há-de funcionar melhor do que uma república? – Só há dois motivos válidos para se ser republicano. Um é acreditar que é indispensável um poder presidencial forte. O outro é querer ser Presidente da República. Todos os parlamentos funcionam melhor com um rei, porque não há conflito de poderes. Nunca um rei demi­tiria um governo com maioria parlamentar.

Não teria demitido Santana Lopes? – Nenhum rei o teria feito. Todos os primeiros-ministros dos países monárquicos dizem que os reis são uma grande ajuda para o seu trabalho. Têm uma influência discreta mas muito positiva. Em Portugal não há um só governo que tenha gostado do relacionamento com o Presidente da República.

Porque razão um rei nunca demitiria um primeiro-ministro? – Porque o rei respeita o Parlamento e considera que os deputados estão ali em representação do povo.

Santana Lopes não tinha sido eleito... – Mas tinha maioria no Parlamento. Os eleitores votam em partidos políticos. Não se pode demitir um governo apenas porque não se gosta dele.

Foi isso que aconteceu? – O Presidente da República limitou-se a falar dos “motivos que todos sabem”. Os motivos que todos sabíamos eram os comentadores políticos na televisão e nos jornais. Nunca apontou justificações para o que fez. E nem sequer demitiu o primeiro-ministro...

Dissolveu a Assembleia... – O que é pior ainda, porque o Parlamento tinha uma maioria estável. Obviamente que o fez com a melhor das intenções e por acreditar que estava a servir os interesses de Portugal. O que ponho em causa não é esta situação em concreto. É o facto de, numa república, serem frequentes os confrontos entre o governo e a presidência. Isto atrasa o país. Se o próximo presidente, qualquer que ele seja, não for do PS vai acabar por entrar em conflito com o Governo.

Quem gostaria de ver em Belém? – Não posso dizer. Mas preferia um militar. Têm um sentido da dignidade do Estado e de independência em relação às forças políticas que os aproxima mais da tradição monárquica.

Só pelo facto de o rei não ter cor politica os conflitos de interesses com os governos desapareceriam? – O rei limita-se a exercer uma magistratura de influência. Só intervém em caso de emergência, numa situação de caos e desordem generalizada. Nunca interfere em situações de normalidade política.

Então um rei teria muito menos poderes do que o Presidente da República... – Há reis que têm muitos poderes, só que não os usam. Reservam-nos para situações-limite.

Há pouco dizia que gostaria de ser rei para cumprir a sua obrigação para com o país. Reservando os poderes apenas para situações de emergência, como é que poderia intervir na situação actual? – Basta ver o que acontece na Europa do Norte, onde os reis têm uma grande influência cultural e pedagógica. Dão o exemplo através das causas que defendem. Os presidentes também o tentam mas, quando já sabem fazê-lo, acaba o mandato e não podem ser reeleitos.

Qual a razão para os presidentes não poderem ser reeleitos se o povo assim o quiser? – É simples. Os repu­blicanos que elaboraram as consti­tuições vêem um presidente como um potencial ditador. Outra expli­cação pode ser que muitos gosta­riam de ser presidentes e não con­vém que alguém lá fique eterna­mente. A limitação dos mandatos presidenciais é absurda.

Duas das premissas da democracia são a igualdade de direitos e de oportuni­dades entre todos. A monarquia não é o oposto de tudo isto? – Em teoria, a república é mais per­feita como regime democrático. Mas o que interessa no funciona­mento dos Estados é a prática. E os reis, muitas vezes, defendem melhor as liberdades democráticas do que os presidentes. Por outro lado, a sucessão não é automá­tica. O rei tem de ser aprovado pelo parlamento. Os perigos aparentes da monarquia estão previstos e con­trolados pelas leis.

Não pode chegar ao trono alguém manifestamente incapaz? – E o presidente da república pode ser um louco e estar ligado a narcotraficantes. Pode ser completamente inca­paz e ser eleito. Basta que tenha dinheiro e uma boa equipa de publicitários brasileiros. Não há testes psi­cotécnicos para os candidatos a presidente.

Quais são neste momento os principais problemas que Portugal enfrenta? – O primeiro é a falta de raciocínio lógico. No sistema educativo não se treina a lógica, e isso leva a que não se compreenda a importância do civismo. A falta de lógica faz também com que os governantes ainda não tenham definido um modelo de desenvolvimento para o país. Vai variando por modas e por interesses de gru­pos. Continuamos, por exemplo, a estimular a utilização de automóveis quando se devia apostar no transporte ferroviário. Tudo quanto seja desperdício de energia é sintonia de um modelo de desenvolvimento errado.

Falta qualidade à classe política portuguesa? – Há, evidentemente, pessoas sem qualquer qualidade moral que, infelizmente, continuam a ser eleitos para as câmaras municipais...

Quer dar exemplos? – Não é preciso. Felizmente a opinião pública já começa a estar atenta a esses casos. Mas há pessoas manifesta­mente desonestas que continuam a ser apoiadas pêlos partidos. Os políticos, aos poucos, também desacredi­taram o Parlamento, e isso é perigoso para a demo­cracia. É claro que, por todos os governos, também têm passado ministros de prestígio e qualidade.

Costuma votar? – Voto sempre nas eleições municipais e tenho votado nas legislativas.

E nas presidenciais? – Não. Se considero que a instituição está errada não faria sentido proce­der de outra forma.

Vota Partido Popular Monárquico (PPM) nas legislativas? – Não vou dizer em quem voto, mas é importante que haja mais depu­tados que dêem prioridade aos problemas ambientais.

Faz sentido um partido monárquico con­correr a eleições num regime republi­cano? – Durante a monarquia havia um par­tido republicano que chegou a reu­nir sete por cento dos votos e ven­ceu algumas eleições municipais. Mas penso que não é bom identifi­car a monarquia com um partido político. Há monárquicos em todos os partidos.

Nuno da Câmara Pereira, presidente do PPM, diz-se o legítimo herdeiro do tro­no. Como comenta? – Do ponto de vista jurídico e histó­rico não tem base nenhuma. Sempre tive uma boa relação de amizade com ele, até que um dia se zangou comigo por qualquer razão que me escapa.

Que opinião tem dele? – É um excelente artista.

O aborto voltou a estar na ordem do dia. Concorda com nova consulta popular? – Fazer referendos sobre o direito à vida é um terreno muito perigoso. A seguir teremos uma consulta sobre a eutanásia... E quem tem o direito de matar os doentes? O médico, a família, o Estado?

E se for o próprio a decidir sobre a sua vida? – Isso é o suicídio.

Pode haver um desejo expresso... – Nesse caso ninguém se pode opor. Se alguém se quer matar está no seu direito. Não podemos é correr o ris­co de o Estado, aos poucos, autorizar que decidamos sobre a vida de outros.

Ainda sobre o aborto. As mulheres que os fazem devem sen­tar-se no banco dos réus? – Penso que não. É uma decisão difícil, tomada em gran­de stresse.

Então é a favor da descriminalização? – Julgo que as mulheres não devem ser julgadas nem con­denadas. Quem deve ser perseguido são os praticantes do aborto. Os médicos, as clínicas, as abortadeiras... Esses devem ser condenados.

E a prostituição, deve ser legalizada? – Penso que sim. A prostituição é um mal, mas a situação vigente é a pior de todas. É caos, a desordem, a falta de higiene... E, numa sociedade livre, ninguém tem o direito de proibir uma mulher de vender serviços sexuais. Por outro lado, existem muitas formas de pros­tituição que são aceites pela sociedade, como a secre­tária que tem relações sexuais com o patrão e recebe algo em troca. É a mesma coisa.

Nos últimos tempos muito se tem falado das tensões étnicas em Portugal. O que defende em termos de política de imi­gração? – A abertura descontrolada das fronteiras conduz a todo o tipo de situações perigosas, a começar para os pró­prios imigrantes. Quando um povo se sente ameaçado por uma minoria muito afirmativa, como é o caso dos muçulmanos em França, surgem reacções hostis. Em Portugal o problema é que não houve apoio à inte­gração da segunda geração de imigrantes. As crianças de raça negra têm dificuldades de adaptação à escola, problemas de pobreza e de exclusão social. Ou se faz um grande trabalho tendo em vista a sua integração, ou vamos ter muitos problemas no futuro.

Defende que as entradas devem ser controladas. E quem já cá está? – Se têm uma actividade económica e uma posição correc­ta perante a vida, os imigrantes devem ser respeitados. Se se dedicam a actividades marginais e não são portu­gueses devem ser expulsos. Não faz sentido ter margi­nais estrangeiros em Portugal. Já bastam os portugueses.

Na semana passada, em Londres, assistimos a mais um aten­tado terrorista. Esta espiral de violência pode ser vista como um a guerra entre o Ocidente e o Islão? – É, de facto, uma guerra. Faz-me alguma impressão ver certos políticos, com ar de virgens ofendidas, queixar-se da cobardia dos bombistas que se suicidam. Podem ser muitas coisas mas cobardes não são. Só se matam porque acreditam que estão a lutar por uma causa jus­ta. É complicado dizer isto mas nós, portugueses, tam­bém estivemos envolvidos numa guerra terrorista durante dez anos. Uma guerra que ganhámos militarmente mas que perdemos no aspecto político.

Como se ganha uma guerra contra o terrorismo? – Pela via militar é muito difícil. E preciso analisar as cau­sas e atacar o assunto do ponto de vista político. As situações de pobreza e miséria favorecem o cresci­mento do fundamentalismo. Em parte é por aí que se deve atacar o problema. Por outro lado, não podemos deixar pregar a guerra santa entre nós e nada fazer em nome da liberdade de expressão. Não podemos deixar que os fundamentalistas promovam o terrorismo e actuar só depois de as bombas explodirem.

Devemos reprimir essa liberdade de expressão? – Tal como não aceitamos discursos de ódio racial, tam­bém devemos perseguir a promoção da violência e do terrorismo. Temos de pensar que estamos numa situação de guerra e não podemos deixar que as liberdades se tor­nem fraquezas. Felizmente, em Portugal, a comunidade muçulmana é exemplar e muito trabalhadora.

Se neste momento lhe aparecesse o génio da lâmpada que três desejos pedia? – Desde criança que acredito na ideia do Quinto Império. Uma época em que os governantes actuariam sempre com base na Justiça e nos princípios do Espírito Santo.

Faltam dois.

– Impedir que a Humanidade destrua o Ambiente. – E, finalmente, que a minha família consiga ser feliz e ao mesmo tempo contribuir de forma válida para a comu­nidade em que vive.

Essa contribuição passa pela instituição da monarquia em Portugal e pela sua aclamação como rei? – Não é necessário. Pode passar por muitos outros domí­nios da intervenção cívica, social e cultural.

Entrevista> José Eduardo Fialho Gouveia
Fotografia> João Cortesão Gomes
In – "O Independente"
15 Julho 2005

sábado, julho 16, 2005

O Lázaro

O Lázaro sou eu, não foi o outro,
O das migalhas e das chagas podres.
O Lázaro sou eu, aqui sentado
À mesa do Vice-Rei
A mastigar com nojo estes faizões!...
Sou eu, vestido de holanda,
A pregar a nudez que sempre usei
Nas grandes ocasiões!...

Sou eu, nado e criado para amar,
e que não sei amar!
Sou eu, que disse não e me perdi!
Que vi Deus e nunca acreditei!
Que vi a estrada impedida
E passei!...

Sou eu, que não sou feliz no Céu nem no Inferno,
porque no Céu há paz, e no Inferno há guerra,
e a minha Paz é outra, e a minha Guerra é outra...
Sou eu, tão Grande e Pequeno
que nem sirvo para grão
da parábola da mostarda!
Sou eu, que há vinte e sete anos
Vivo sem Anjo da Guarda!

Sou eu, que ou tudo ou nada, ou Vida ou Morte,
E acerto sempre na Morte!
Que espeto sempre o punhal
Onde não quero ferir!...
Que sou assim, às cegas e às golfadas,
como as dores abençoadas
de parir!

Sou eu, que me disse adeus
E fiquei à minha espera!...
E que naquela manhã de ano bissexto
- que podia ter sol e teve chuva –
recebi nestes meus braços
o esqueleto verdadeiro
da saudade amargurada
de quem não tem ausentes nem distâncias!

Sou eu, o louco sem asas
Que se lança aos abismos a cantar
A Canção do Inocente...
E que do fundo desse sonho novo
Atira a praga
Que o traga
àquela redentora incompreensão
do seu povo!...

Sou eu – e mostro-me todo!
Quem puder, arranque os olhos
e venha cheio de Fé
ver o Lázaro real
que não vem nos Evangelhos,
mas é!...

Miguel Torga
in “O outro Livro de Job”

terça-feira, julho 12, 2005

Coutinho contra o Povo

É a minha sina. O DN não me dá descanso! Coutinho está contra o Povo!...
Diz ele, que Avelino Torres e Alberto João Jardim, são parecidos – o Povo (“pimba”, segundo Coutinho) gosta deles, e no caso de Avelino, nem sequer é pela obra?! É mesmo amor verdadeiro – no Marco ou em Amarante!
Mas afinal o que é que os Coutinhos querem?
Não lhes chega ter o Poder Local quase todo indexado aos aparelhos partidários de Lisboa?
Querem a domesticação total?
Bem, nesse caso sugiro que os autarcas passem a ser nomeados como os antigos Governadores Civis!
Assim, está bem?

Noutro registo:
O Interregno é um diário de convicções e por isso não intervém sem abrir caminho.
Miguel Coutinho, jornalista que não conheço, Director do DN, vou tentar explicar-lhe porque é que o Povo gosta de “Avelino e Alberto” como você lhes chamou – o que as pessoas apreciam nesses personagens é a independência que evidenciam em relação aos partidos políticos, precisamente o contrário do que se passa com a grande maioria dos autarcas que você deve apreciar!
Os aspectos menos positivos das suas personalidades, que de facto existem, são irrelevantes. As populações vêem nesses homens o que mais lhes interessa – um vago símbolo de liberdade e independência.
E essa sensação é boa, garanto-lhe.
Se o seu editorial, em lugar de se distrair com questões menores, versasse sobre a independência dos autarcas em relação aos aparelhos partidários, provavelmente você não receberia as pancadinhas nas costas de uns quantos amigos, mas o Povo, as tais populações que sofrem este sistema iníquo, ficavam-lhe agradecidas.
E eu passava a ler mais vezes o Diário de Notícias.

Note:
Juro que não vou passar férias à Madeira (nunca fui, infelizmente) nem a Amarante (uma região bonita).

segunda-feira, julho 11, 2005

A Tese e o Erro

Comecemos pela Tese:

Os terroristas islâmicos são uma raça de pessoas más que querem destruir os nossos “valores”, que são intrinsecamente bons, a saber: – A democracia, (expressão bastante vaga e abrangente); a separação absoluta da Igreja do Estado, (excepto para a Inglaterra, Israel e Estados Unidos); a nossa liberdade, (enquanto não interferir com os interesses daqueles três Países); o capitalismo liberal, (porque eles são os donos dos negócios); e mais uns quantos “valores”, que agora não me ocorrem.
Estão dispensados, transitoriamente, de observar estas evidências: a Rússia e a China (e talvez a Coreia do Norte) porque ainda têm armas para se defender!

Equacionada a questão, recontemos a História:

‘Roma’ sabe que eles se escondem no Templo. E porque Roma é o Universo, e não tolera quaisquer desvios à sua lei, há que procurá-los e destruí-los.
Nesse sentido, a Cesarina Rice, vai mandar recensear toda a Terra, para averiguar quem são e onde estão os filhos de Alá, e obrigá-los a aceitar a Paz de César! Quem resistir será preso e lançado às feras!
Claro que há um pequeno pormenor – as armas são desiguais!
A Cesarina tem muitas bombas, mas os infiéis têm uma crença e morrem por ela!
Além disso a Cesarina sabe que ninguém do seu vasto e poderoso Império arriscará uma unha para defender aqueles “valores”!
E aí, é que está o problema!?
Talvez então se lembre das grandes produções do cinema americano (o seu País!) sobre as catacumbas, o circo romano e a resistência daquele punhado de “infiéis” que se chamavam Cristãos!
Talvez admita que o seu arrogante belicismo é um erro, que todos os dias fabrica novos “infiéis”!
Talvez pense duas vezes e evite o Erro.
Talvez?!

Notas:
Já devíamos ter aprendido – a arrogância é que gera o terrorismo.
A cultura Ocidental nunca foi superior à Oriental! E mesmo que fosse?! Hoje, sem verdadeiras convicções, não é de certeza.
Esses povos aceitam ser espoliados, até derrotados, mas humilhados, não.
Os portugueses que sempre conviveram e guerrearam com eles aprenderam isso há muito tempo.
A Cesarina do Arroz é que ainda não aprendeu.

sexta-feira, julho 08, 2005

Terrorismo em Londres (7 de Julho de 2005)

Tinha prometido não me referir à tragédia e nem um dia passou e já estou a quebrar o prometido. Por causa de uma ninharia – a prosa de um jornalista “laico, republicano e socialista”.
Esse meu “semelhante”, (no sentido bíblico), escreveu em editorial no DN, o seguinte:

“O ninho do Terrorismo”
(...) É por isso que a luta contra o terrorismo tem de prosseguir... (...)e fora de muros, fomentando a democratização dos países onde nasce o radicalismo, num processo que passa, necessariamente, pelo afastamento da religião dos centros de poder. Já se percebeu que o ninho perfeito para o terrorismo é essa zona de equívoco em que se faz a guerra em nome de um deus.”

Fui lendo e quando acabei de ler, a raiva contra este “semelhante” explodiu... numa catilinária muda, pela bestialidade do género humano!
Os restos dos estilhaços deixo-os aí, para interrogatório dos suspeitos:

Quem são os inocentes?
Como é que chegámos aqui?
Quem são estes homens que se suicidam entre vítimas ocasionais? Quem comanda esta feroz violência?
Onde estão os Reis destes desesperados? Quem os destronou?
Quem deixou os Sacerdotes sozinhos no templo? À rédea solta?
Quem recusou a obediência ao sucessor de Pedro? E não se arrependeu?
Quem soltou os criminosos da Bastilha? E prendeu, e matou o seu próprio Rei, com gáudio?
Quem celebra as guerras civis?
Quem inventou as revoluções do ódio?
Quem lançou a bomba no Japão?
Quem pagou e incentivou a mina, que na “picada” mutilou os soldados portugueses?
Quem disse que havia terrorismos bons e maus? E apoiou uns ou outros? E se aproveitou disso?
Quem andou a apregoar e a espalhar a “boa nova” de que Deus tinha morrido? Ou que não era necessário?
Quem são os arautos desse fundamentalismo laicista? Da secularização em curso?
Quem quer impor essa laicização aos outros, à bomba? Aos outros, que ainda têm fé?
.
Se és tu? Arrepende-te, mas não te admires com o que está a acontecer!

quinta-feira, julho 07, 2005

Vem aí qualquer coisa...

Não me passou despercebido o encontro amigável, entre Putin, Schroeder e Chirac, na emblemática Kalininegrado ou se preferirem, Konisberg!
São três personagens sem dimensão, que têm em comum o facto de ocuparem cargos para os quais não têm condições de representação política suficiente, (ou idónea, se quiserem), e por isso, quando estas efemérides se juntam, para combinar ou conspirar qualquer coisa, a Europa profunda corre sempre grandes riscos. E nem é preciso avivar muito a memória...
O que tramarão eles agora? Em Konisberg? Bastião dos antigos cavaleiros Teutónicos, que Eisenstein documentou como flagelo da Pátria russa!!!
Percebe-se que Schroeder e Putin fizeram as pazes, mas o que estava ali a fazer o idiota do Chirac?
Analisemos melhor os personagens:
Putin é um perigoso mujic, que pertence a uma geração também perigosa, que ambiciona reconstruir o Império Russo imaginando que pode passar por Czar!
Schroeder, que já não precisa da França para nada, embora Chirac ainda não tenha percebido, é um homem rico, proprietário de uma falsa Nação, e prepara-se para discutir com Putin a partilha da...Polónia e não só!!!
Chirac, lídimo representante daquela França infeliz e órfã, que adoptou padrasto corso, faz o seu inevitável papel de marido enganado! E que depois canta vitória!!!
Repito, vem aí qualquer coisa...
Infelizmente, para nós portugueses, estes encontros vêm ao encontro daquilo que já há muito tempo sabemos, mas não queremos acreditar – esta União Europeia foi feita por eles, para eles, e enquanto eles quiserem...

A substância da forma

“ (...)
Os italianos primeiro e, logo a seguir, os russos ofereciam-se para tomar a seu cargo a sepultura de George Sorel – pobre e abandonado recanto dum cemitério de França, que uns e outros se propunham transformar em prodigiosa Memória, digna de culto que a Itália fascista e a Rússia soviética julgam dever ao seu nome.
(...)
Mussolini e Lenine são no fundo, a interpretação italiana e a interpretação russa do método soreliano. Na França, apesar de todas as homenagens da “esquerda”, reclamando-lhe a paternidade, talvez seja um homem da extrema-direita, Maurras, quem melhor entendeu o gladiador sindicalista.
Assim, postas as coisas nesta nitidez de recorte, haverá espíritos que se confranjam. A realidade tem, porém, os seus direitos.
Sorel explica todo o nosso tempo. Sem ele, o caminho feito por certos excessos não seria possível e esta época teria, evidentemente, uma fisionomia diferente.
(...)
É que todos nós temos responsabilidades na criação do ambiente soreliano; todos nós aplaudimos a sua impiedosa destruição de mitos; todos respirámos, com entusiasmo, a onda de eflúvios dinâmicos que emanava, espontaneamente, dos seus conceitos vitais.
Claro está que ao aplaudirmos, por exemplo, a violência dos ataques contra o Direito Formal, não visávamos de modo algum, a anulação das garantias para a Pessoa Humana; antes pensávamos criar uma maior plasticidade ao “meio” jurídico em que o Homem se move e assim melhor acautelar-lhe e assegurar-lhe os direitos naturais. Mas, rompido o dique, de que um certo formalismo constituía o indispensável cimento, nada poderia já deter a onda dos instintos, contra a qual o Homem reconhece, aterrado, toda a sua impotência nesta hora dramática...
(...) O verniz das fórmulasaverigua-se, agora – não só encobria, aos nossos olhos, inúmeras misérias, como impedia que fôssemos, na verdade, mais miseráveis ainda.
O valor intrínseco da personalidade foi sacrificado, antes de tudo, às preocupações duma nova ordem moral...
(...) O que urge frisar é a perda do respeito que o homem considerava dever ao homem, há apenas uns trinta anos atrás.
Queda brusca, queda aterradora para os direitos do espírito e da sensibilidade humana...
(...)”

Rolão Preto, in Revolução Espanhola.


Nota pessoal e intransmissível:
O meu comentário podia resumir-se ao título que escolhi para encimar estas reflexões de Francisco Rolão Preto, em plena guerra civil Espanhola.
Mas este texto não tem data. Os mesmos erros já fizeram o seu curso, estão entre nós, dissimulados na cultura de facilidade (e submissão) que instalámos à nossa volta. Sem o sabermos, fazem parte das nossas vidas! Na primeira oportunidade, vão reaparecer triunfantes, para executarem o seu sinistro trabalho. É certo que os “muros” entretanto caíram, que a paz perpétua parece garantida, mas desenganem-se, as ideologias não acabaram, estão só no “intervalo”!

quarta-feira, julho 06, 2005

Ódios de estimação

Os democratas do partido único, espécie muito comum entre nós, que infelizmente não corre o risco de extinção, têm um inimigo principal: é o Alberto João, da Madeira!
A nossa comunicação social, que sofre dos mesmos saudosismos, também não gosta dele. Está sempre vigilante e quando a oportunidade surge, alista-se de imediato na grande cruzada contra o “incorrigível” madeirense.
Os delitos de Jardim são conhecidos:
Põe os interesses da Madeira acima dos interesses do PSD, aplica bem o dinheiro que recebe, (no que destoa do Continente), não passa cartão aos “jornalistas de Abril”, e pior que tudo isso, costuma ganhar as eleições!
A última bronca, surgiu a propósito de uma ameaça à livre circulação de produtos chineses na Ilha, com o intuito de defender o comércio local e o emprego dos madeirenses!
Caíram-lhe todos em cima. Os adeptos do livre comércio (libérrimo, digo eu), os adversários da globalização, o comissário dos imigrantes, os “sindicatos chineses”, etc. etc., - foi o fim do mundo...
Alberto João Jardim não sabe que eu existo, espera por uma inútil IV República, inclinação de raiz jacobina que não aprecio, mas tenho que admirar a coragem e a eficácia, com que defende os interesses do arquipélago e dos seus habitantes!

Nota solta:
Esta obcecação contra o líder madeirense, só tem paralelo, na raiva que o Portugal lisboeta nutre pelo Presidente do FCP, Jorge Nuno Pinto da Costa! Provavelmente, também, por causa do êxito que tem obtido, o que neste País de invejosos, é um enorme pecado!

terça-feira, julho 05, 2005

Nacionalismos...

Lá estão eles outra vez a discutir, perdidos, ao largo de Bizâncio, em cima duma jangada de pedra, sem vela, sem leme e sem rumo! Cada um com a sua cartilha, cada um com o seu testamento, a afirmar que o seu é que é o verdadeiro, enfim... heranças e partilhas. Sabe-se como é, quando há muitos “testamentos” e a maioria são falsos?!
- E se forem todos falsos?!
Quem não conhece aquela piada:
–“Então, dás-te bem com a tua família?” – “Dou!” – “É porque ainda não tiveste partilhas...”
Bem, mas tenham calma. Nós vamos pôr a jangada a navegar, e com bom vento e bom rumo.
Eu não sabia nada, aprendi.
Querem aprender?
Então, toca a atirar essas cartilhas todas ao mar, para ver se a gente se orienta.
Em primeiro lugar, uma explicação – essas cartilhas/testamentos foram postas a circular aí por volta de 1820, (mais coisa, menos coisa), inspiradas noutras, que vieram de França. Quem não se lembra disso?
Foi aí que se baralharam, não foi?
Mas vocês nessa altura já existiam, já tinham um testamento, um pacto social, pelo qual se orientavam, e sempre navegaram bem!
Vamos lá então recordar a carta de navegação que os nossos Avós nos legaram, que o tempo ainda não apagou, mas que vocês inadvertidamente esqueceram:
Mas não se enganem outra vez – pode haver para aí uns papéis, mas nada de calhamaços escritos, com muitos artigos, o que interessa – são actos de vontade, são compromissos honrados, são gestos de solidariedade, são as vitórias, são as derrotas, é o saber acumulado!
Houve algumas discórdias, como esta, de hoje; mas tínhamos quem representasse a unidade, e o rumo, ainda que às vezes fosse o mínimo divisor comum, ainda que às vezes andássemos a bater pano, mas tínhamos e navegávamos.
Se quisermos ainda podemos ter.
É o Rei e a Dinastia, vocês sabem isso.
Quem é que hoje representa o Acto Fundador? As quinas de Ourique? O gesto de Egas Moniz? A vela em Cruz? O cativeiro de Fez? O dia da Independência? O pobre sobreiro?
E os que querem viver connosco? Como nós antes vivíamos? E o sonho, escondido atrás das nossas raivas e frustrações?
Quem representa, ao fim e ao cabo, essa vossa diferença, enquanto discutem?
...“Ninguém, Telmo – ninguém, se já nem tu me conheces...”, como diria o dramaturgo (que por acaso também se baralhou com os testamentos!).
Muito bem, vejo que se calaram, que já não discutem, mas eu tenho ainda que fazer um aviso:
Cuidado com as imitações!
São mais subtis, insinuam-se no corpo da Pátria, tentam passar-se por ela, apresentam-se do lado da História, mas são falsas, também, como as outras!
Chegou portanto a altura de alguns de vocês, decerto bem intencionados, atirarem fora esse livrinho, desesperadamente guardado, que tem aquelas frases – “Portugal do Minho a Timor”, ou “Portugal não é só uma Nação Europeia...”, vá, eu sei que custa, até a mim me dói, mas tem de ser. Atirem-no fora.
Quando, por confusão ou necessidade de remediar erros próprios, e alguns alheios, Salazar limitou o projecto, com a tal frase de que – “Portugal era do Minho a Timor” – o que restava do Império, ruiu silenciosamente e os destroços andam por aí, como nós, à deriva.
O ditador esqueceu-se de averiguar qual era, de facto, o Título dos Reis de Portugal, mas eu relembro – “ Reis de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar, em África, (o controle do Estreito), Senhores do Comércio e da Navegação, na Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia (ou seja, no Mundo inteiro).
Não há confusão nenhuma na cabeça dos Reis de Portugal, nem no pacto social que estabeleceram com os representantes da Nação, em Cortes!
Precisamos do mar para viver, temos por isso de navegar e consequentemente, temos que ter os portos livres. Para isso, a esquadra portuguesa, tinha que defender essa livre circulação dos nossos produtos. No estreito de Gibraltar ou no de Ormuz, onde fosse necessário. O Título não menciona ocupação de terras, nem submissão de populações. Nós não éramos estúpidos, não nos metíamos nas funções dos Régulos ou dos mandarins.
A violência dos Albuquerques foi a estritamente necessária. Claro que nessa época também havia danos colaterais, mas pensem bem – alguém se aguenta 500 anos nalgum sítio, só pela força?!
Aquelas primeiras cartilhas que vocês atiraram ao mar, que apregoavam as grandes “liberdades”, é que acabaram a ocupar tudo e todos, nomeadamente a cabeça e a alma das pessoas! Repetiram isso mais vezes, e algumas dessas vezes, à nossa vista! É dos nossos dias...
Nesta altura, já sei que alguns de vocês vão reagir e vão falar da Inquisição...
Sosseguem, que a questão religiosa, que no passado, nem sempre foi bem resolvida, é assunto que vamos ter que resolver, novamente, e vamos lá ver se nos saímos melhor desta vez?!
Duvido, porque agora, os infiéis são vocês, somos nós!
E aqueles que tivemos que combater no passado, quando tínhamos e porque tínhamos convicções, e, que, apesar de tudo nos respeitavam por isso, agora desprezam-nos porque as não temos!
Ultrapassada esta questão, com êxito, porque o assunto é sério e já não se presta a demagogia barata, vamos então concluir – deixem lá as cores da pele porque isso ainda é sinal do naufrágio, juntem os destroços da velha Herança Lusitana, chamem o Rei, icem a vela, perguntem pelo leme e... reconstruam a nossa Independência.
O Império agradece.


“Portugal para nascer...
O mundo inteiro para morrer”
(Padre António Vieira)

sábado, julho 02, 2005

Os Monárquicos e as eleições autárquicas

Não é preciso ser-se monárquico, nem ter uma inteligência acima da média, para perceber que os partidos, são nesta III República (já a fugir para a IV), um elemento de centralização absoluta da vida política portuguesa!
Por conseguinte, o absurdo de ver partidos políticos nacionais a proporem candidatos autárquicos, (listas de candidatos ainda é pior), diz tudo sobre o estado lamentável em que se encontra o País!
Ao contrário, o Poder Local deve funcionar numa lógica de contraponto ou contra poder (dentro dos limites das suas atribuições) ao Governo Central, e não neste domesticado sistema, que se agrava em períodos eleitorais, com o espectáculo indecoroso dos partidos a mandarem os seus “notáveis” à “província”!
A melhor prova (“a contrario sensu”) de que isto é verdade, é a constatação de independência, para muitos difícil de engolir, que o Presidente da Região Autónoma da Madeira evidencia em relação ao seu partido! Mas neste caso é ao Estatuto da Autonomia que os Madeirenses (e também os Açorianos) devem e podem agradecer a liberdade de movimentos dos seus líderes, face à constante pressão partidária. E ainda bem que é assim.
Claro que quando se aponta a imbecilidade da lei eleitoral autárquica, aparecem logo os “afrancesados” do costume, a dizer que isto é assim em toda a parte, e que as eleições autárquicas funcionam como uma espécie de “primárias”, etc. etc.,...
Bem, se querem “primárias” façam-nas sem rodeios, agora não instrumentalizem, nem manipulem a vida das populações com testes de popularidade aos partidos e aos seus líderes! Enganar-se, é uma coisa que pode acontecer a qualquer um, outra coisa é gostar de ser enganado e isso trata-se... Agora, andar a enganar as pessoas... é feio.
Feita esta prevenção, que deveria preocupar seriamente os monárquicos, e ser inclusivamente uma das nossas bandeiras contra o regime... passemos então a analisar o assunto do momento (!) e que está a deixar muita gente consternada:
Elsa Raposo, uma bela mulher, que os portugueses conhecem em pormenor (e os habitantes de Cascais também), como nenhum outro candidato autárquico é conhecido, foi proposta pelo Partido Popular Monárquico para a Câmara de Cascais.
É um facto político absolutamente normal, embora como já perceberam pelo intróito, eu tivesse preferido, e pelas razões que apontei, uma candidatura sem indicação partidária.
De qualquer modo ninguém tem dúvidas, que os eleitores de Cascais, votarão em consciência.
Levantam-se, entretanto, algumas críticas e considerações sobre as nefastas consequências que esta mediática candidatura possa trazer para a Causa da Monarquia. Não dramatizo a questão.
Pelo lado mediático, temos que admitir que o quotidiano também tem os seus direitos, e a Monarquia em Portugal, face ao silêncio dominante, ganha sempre em ser discutida na Praça Pública!
Se Elsa Raposo tem ou não a necessária cultura monárquica para desempenhar o cargo republicano a que se propõe (isto, para quem entenda a aparente contradição) só o saberemos perante a obra realizada, no caso de ser eleita.
Pelo lado do calculismo, dos ganhos e percas que esta candidata possa trazer para a Causa, se enveredasse por aí, estaria a contradizer-me e a fazer o jogo dos partidos contra os interesses das populações.
E isso, eu não faço.

sexta-feira, julho 01, 2005

Prioridades...

Os Ingleses disseram calmamente que não iam continuar a sustentar os agricultores Franceses, porque isso lhes estava a fazer diferença!
Disseram, enfim, que este projecto Europeu é muito bonito, mas que primeiro estão os interesses da Inglaterra!
E disseram isto, com elegância e com sentido político da oportunidade, depois dos Franceses, com o egoísmo de sempre, terem dito “não” ao seu próprio projecto constitucional!
Elementar, para quem sabe perfeitamente quem é, quem foi, e o que pretende ser!
Precisamente o contrário do que se passa connosco!
Podemos ficar decepcionados, podemos chamar-lhes nomes, podemos chorar sobre a nossa triste situação, mas também podíamos aprender alguma coisa...