terça-feira, julho 05, 2005

Nacionalismos...

Lá estão eles outra vez a discutir, perdidos, ao largo de Bizâncio, em cima duma jangada de pedra, sem vela, sem leme e sem rumo! Cada um com a sua cartilha, cada um com o seu testamento, a afirmar que o seu é que é o verdadeiro, enfim... heranças e partilhas. Sabe-se como é, quando há muitos “testamentos” e a maioria são falsos?!
- E se forem todos falsos?!
Quem não conhece aquela piada:
–“Então, dás-te bem com a tua família?” – “Dou!” – “É porque ainda não tiveste partilhas...”
Bem, mas tenham calma. Nós vamos pôr a jangada a navegar, e com bom vento e bom rumo.
Eu não sabia nada, aprendi.
Querem aprender?
Então, toca a atirar essas cartilhas todas ao mar, para ver se a gente se orienta.
Em primeiro lugar, uma explicação – essas cartilhas/testamentos foram postas a circular aí por volta de 1820, (mais coisa, menos coisa), inspiradas noutras, que vieram de França. Quem não se lembra disso?
Foi aí que se baralharam, não foi?
Mas vocês nessa altura já existiam, já tinham um testamento, um pacto social, pelo qual se orientavam, e sempre navegaram bem!
Vamos lá então recordar a carta de navegação que os nossos Avós nos legaram, que o tempo ainda não apagou, mas que vocês inadvertidamente esqueceram:
Mas não se enganem outra vez – pode haver para aí uns papéis, mas nada de calhamaços escritos, com muitos artigos, o que interessa – são actos de vontade, são compromissos honrados, são gestos de solidariedade, são as vitórias, são as derrotas, é o saber acumulado!
Houve algumas discórdias, como esta, de hoje; mas tínhamos quem representasse a unidade, e o rumo, ainda que às vezes fosse o mínimo divisor comum, ainda que às vezes andássemos a bater pano, mas tínhamos e navegávamos.
Se quisermos ainda podemos ter.
É o Rei e a Dinastia, vocês sabem isso.
Quem é que hoje representa o Acto Fundador? As quinas de Ourique? O gesto de Egas Moniz? A vela em Cruz? O cativeiro de Fez? O dia da Independência? O pobre sobreiro?
E os que querem viver connosco? Como nós antes vivíamos? E o sonho, escondido atrás das nossas raivas e frustrações?
Quem representa, ao fim e ao cabo, essa vossa diferença, enquanto discutem?
...“Ninguém, Telmo – ninguém, se já nem tu me conheces...”, como diria o dramaturgo (que por acaso também se baralhou com os testamentos!).
Muito bem, vejo que se calaram, que já não discutem, mas eu tenho ainda que fazer um aviso:
Cuidado com as imitações!
São mais subtis, insinuam-se no corpo da Pátria, tentam passar-se por ela, apresentam-se do lado da História, mas são falsas, também, como as outras!
Chegou portanto a altura de alguns de vocês, decerto bem intencionados, atirarem fora esse livrinho, desesperadamente guardado, que tem aquelas frases – “Portugal do Minho a Timor”, ou “Portugal não é só uma Nação Europeia...”, vá, eu sei que custa, até a mim me dói, mas tem de ser. Atirem-no fora.
Quando, por confusão ou necessidade de remediar erros próprios, e alguns alheios, Salazar limitou o projecto, com a tal frase de que – “Portugal era do Minho a Timor” – o que restava do Império, ruiu silenciosamente e os destroços andam por aí, como nós, à deriva.
O ditador esqueceu-se de averiguar qual era, de facto, o Título dos Reis de Portugal, mas eu relembro – “ Reis de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar, em África, (o controle do Estreito), Senhores do Comércio e da Navegação, na Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia (ou seja, no Mundo inteiro).
Não há confusão nenhuma na cabeça dos Reis de Portugal, nem no pacto social que estabeleceram com os representantes da Nação, em Cortes!
Precisamos do mar para viver, temos por isso de navegar e consequentemente, temos que ter os portos livres. Para isso, a esquadra portuguesa, tinha que defender essa livre circulação dos nossos produtos. No estreito de Gibraltar ou no de Ormuz, onde fosse necessário. O Título não menciona ocupação de terras, nem submissão de populações. Nós não éramos estúpidos, não nos metíamos nas funções dos Régulos ou dos mandarins.
A violência dos Albuquerques foi a estritamente necessária. Claro que nessa época também havia danos colaterais, mas pensem bem – alguém se aguenta 500 anos nalgum sítio, só pela força?!
Aquelas primeiras cartilhas que vocês atiraram ao mar, que apregoavam as grandes “liberdades”, é que acabaram a ocupar tudo e todos, nomeadamente a cabeça e a alma das pessoas! Repetiram isso mais vezes, e algumas dessas vezes, à nossa vista! É dos nossos dias...
Nesta altura, já sei que alguns de vocês vão reagir e vão falar da Inquisição...
Sosseguem, que a questão religiosa, que no passado, nem sempre foi bem resolvida, é assunto que vamos ter que resolver, novamente, e vamos lá ver se nos saímos melhor desta vez?!
Duvido, porque agora, os infiéis são vocês, somos nós!
E aqueles que tivemos que combater no passado, quando tínhamos e porque tínhamos convicções, e, que, apesar de tudo nos respeitavam por isso, agora desprezam-nos porque as não temos!
Ultrapassada esta questão, com êxito, porque o assunto é sério e já não se presta a demagogia barata, vamos então concluir – deixem lá as cores da pele porque isso ainda é sinal do naufrágio, juntem os destroços da velha Herança Lusitana, chamem o Rei, icem a vela, perguntem pelo leme e... reconstruam a nossa Independência.
O Império agradece.


“Portugal para nascer...
O mundo inteiro para morrer”
(Padre António Vieira)

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