quinta-feira, junho 30, 2005

Limpeza das almas

A decadente República Francesa, ainda mais decadente do que se poderia imaginar, lá vai prosseguindo a sua campanha de secularização de tudo o que mexe, removendo todos os vestígios que possam indiciar qualquer diferença no espírito dos seus “cidadãos”, sejam eles argelinos ou parisienses.
Numa sala de aula, perante os protestos de uma estudante que insistia em usar o traje da tradição, o professor explicava que não, que não podia ser, porque assim é que ela poderia vir a ser discriminada!
O objectivo (para já) da secularização, seria, segundo percebi, “parecermos” todos iguais, por fora! Ele estava, no fundo, a defendê-la dela própria!!!
Parece-me que já vi este filme...

terça-feira, junho 28, 2005

Diálogos com a Ciência

Agora, desde que sabem que estamos no Interregno, telefonam-me para dar umas “dicas” sobre a actualidade. No dia de São João, foi o discurso do Blair, ontem foi o prémio de um cientista português, chamado Damásio!
Confesso, com toda a minha ignorância, que estou a leste deste assunto. Eu vivo isolado, compreendam-me.
Do outro lado da linha insistem pacientemente, que é importantíssimo – “é o Pai da neurologia cognitiva”!
Peço mais uns dados e lá me explicam, à altura dos meus conhecimentos, que Darwin, Mendel, etc., também não tinham percebido! Animei-me.
“Que isto era uma verdadeira revolução na ciência”! Assustei-me.
O que afinal o “Pai Damásio” tinha descoberto, era que temos células (penso que na cabeça) que apreendem a informação disponível, e que a incorporam no código genético, alterando-o. Se não é assim peço desculpa.
“Bem, as consequências que isto poderá ter, são imensas”, avisou-me logo o meu interlocutor!
Sempre havia razão para alarme. Um pouco confuso, quis saber imediatamente se isso poria em causa as minhas convicções religiosas, se tinha que deixar de ser monárquico, abandonar o Belenenses!?
A ligação caiu. Já não houve resposta...
Admito que me fui deitar um bocadinho incomodado, e uma primeira certeza assaltou o meu espírito indefeso: quando os portugueses começam a evidenciar-se muito, ou está alguma coisa a acabar... ou então vem aí alguma “Índia”!
O meu lado pessimista, lembrou-se logo do actual Presidente da Comissão Liquidatária da União Europeia, do “Refugiado” Guterres, da eminente rescisão do Figo?!
Afastei os maus pensamentos, temos que ser positivos. Não podem ser sempre más notícias. Adormeci.
Hoje, enquanto descascava um bocado de girassol, para dar à minha canária (ela gosta), as coisas estavam mais claras:
Então não andam as religiões a pregar há séculos para alterarmos comportamentos, para nosso bem?! Não se sacrificou o próprio Cristo por nós, para redimir os nossos erros?! A Igreja não desafia os Homens a cultivarem a santidade?!
Afinal, quais são as novidades? As mesmas.
O “Lineu português” vem agora confirmar, com a verdade da Ciência, que o corpo humano está preparado para tudo isso, e, pelo livre arbítrio, para o contrário disso. Que tem uma célula apropriada, um botão, onde se opera esse transvaze, e que depois, nada fica como dantes!
Em suma e conforme rezam as Escrituras, seremos responsabilizados pelos nossos actos e pelas suas consequências.
Só nos podemos alegrar e valorizar por termos acreditado nisto antes.
Em qualquer caso, parabéns à descoberta do cientista português!

Nota básica:
Sobre as previsíveis consequências desta descoberta, tal como de qualquer descoberta da ciência humana, existem sempre duas possibilidades: o bom e o mau uso.
Tal como o “Pai Damásio” também explica.

Nota terapêutica:
Mas atenção, se eu bem percebi a mensagem, os erros repetidos, a cafrealização em curso, a alienação militante em que alegremente vivemos, já devem andar a fazer “mossa” no genoma!
É só olharmos uns para os outros!

segunda-feira, junho 27, 2005

Aviso à navegação.

Náufragos de todas as condições, d'aquém e d'além mar, que procurais em vão a tábua, o porto, a praia, etc. etc. – não se iludam, não se deixem enganar.
As bandeirinhas verdes e encarnadas, só verdes, só encarnadas, a selecção, a propaganda, nada disso substitui ou resolve o vosso problema.
Vocês vão continuar á deriva. A corrente de ilusões que vos arrasta é mais forte do que pensam, e nenhum etc. vos pode salvar.
Pelo lado do “saudosismo”, o nacional benfiquismo também não ajuda nada.
O tempo não volta para trás e o que vocês procuram, atrás, vocês não sabem, mas fica mais atrás.
É caso para dizer – organizem-se. Porque a alienação também tem os seus limites.
Se não conseguirem, peçam ajuda, aqui, no Interregno.
Sou um vosso criado.

Reis, precisam-se!

Divulguem este anúncio. Espalhem-no por toda a parte.
E depois, procurem, descubram-nos onde possam ainda existir – velhos, novos, bem parecidos, feios, mesmo senis, não interessa.
A nossa Memória precisa deles – só eles podem restituir-nos a identidade, a consciência do princípio, uma finalidade para a nossa história, para a história de todos. As Pátrias perdidas, precisam deles.
Onde está um lugar que reconheçamos como nosso, porque já foi dos nossos avós?!
Quem poderá conter o desespero de tantos fundamentalismos que não se sentem representados?!
Quem nos arranca deste desnorte?! Desta fragilidade inesperada?!
Não hesitem, não percam mais tempo, vão buscá-los.
Façam isso sem dramas, em silêncio, como um acto de contrição, pelo erro, por todos os erros.
Porque ainda não é tarde.

sexta-feira, junho 24, 2005

É o mar, estúpidos!

Nós já sabíamos.
O Salazar também sabia.
A primeira República fingiu que não sabia.
A Monarquia sempre soube. Descobriram isso logo na 1ª Dinastia!
Quem sabia mesmo era o Infante D. Henrique, e o Príncipe Perfeito tinha a certeza.
Depois os outros Reis foram sabendo, naturalmente.
O Rei D. Carlos terá sido assassinado porque, caluniosa e injustamente, disseram que não queria saber. Pelo contrário, foi dos que melhor soube.
Pois é, não há volta a dar, Portugal para ser independente tem que continuar a funcionar como uma “ilha”!
Não levem muito a sério a fronteira terrestre, imaginem que têm que ir de barco para Espanha.
Fixem-se no Atlântico, aprendam com quem sabia.
Vão ver que resulta.
Então não resultou durante dez séculos?

Agradecimentos e explicações

Quando há cerca de uns meses me iniciei no computador, não imaginava que passado pouco tempo iria ser autor de um blog (Interregno) e ter parceria noutro!
Incipiente, sem dominar a técnica informática, usando o computador como mera máquina de escrever, a minha aparição na blogosfera só tem sido possível graças aos bons ofícios de dois Cavaleiros de estirpe, que me têm graciosamente cedido as suas montadas. Generosidade que muito agradeço.
Hoje posso dizer que não estará longe o dia em que sulcarei os espaços siderais da informação, à garupa do meu próprio corcel, passando então a visitar e comentar o que me aprouver, sem nenhuma das limitações que agora existem.
Enquanto isso não acontece, tenho que agradecer todas as visitas e comentários que tenho recebido e a paciência que têm para o meu diário de convicções.

quinta-feira, junho 23, 2005

"Mais vale cair em graça do que ser engraçado"

Diz o Povo e é verdade. Com o País a arder, com uma série de Corporações a manifestarem-se na rua, com o custo de vida a apertar (não para todos, obviamente), a gente olha para os jornais, ouve a rádio, vê a televisão, e nada – está tudo mais ou menos bem!
Até já desisti de ler o conteúdo dos jornais: como que obedecendo a um encenador invisível, lá aparece a notícia de uma reacção desfavorável, deste ou daquele grupo de portugueses, e ao lado, a inevitável “sugestão” de um outro “grupo”, desta vez de “empresários”, a reclamarem mais cortes na despesa, dando assim novo fôlego ao Governo!
A televisão, também não vale a pena – vemos uma mulher gritar, desesperada, a dizer que ficou com tudo queimado, e de imediato, lá aparece o incontornável ministro Costa, a dizer que está a tratar de tudo, nesse preciso momento, perante a expressão complacente do repórter!
Faz-me lembrar o jornal “A Bola”, a propósito do Benfica. Não há notícia, não há acontecimento, por mais funesto que seja, que não sofra de imediato uma maquilhagem regeneradora, por forma a manter o clube da águia nos píncaros. Enfim, uma autêntica doença... infantil, diga-se.
Com Sócrates é o mesmo. A tal “boa Imprensa”...
Agora... se isto fosse com o Santana... bem, nem consigo imaginar a desgraça em que estaria transformado este formoso País?!
Afinal, assim é melhor, temos dois Países em vez de um – o verdadeiro e o do Harry Potter...

Nota: É nestes momentos que valorizo a blogosfera. Este postal, independentemente de se poder dizer se está bem escrito ou não, se vai ou não ser lido por alguém, nunca conseguiria ver a luz do dia na nossa, global e corporativa, comunicação social!

terça-feira, junho 21, 2005

A Monarquia e o PPM

Nasci monárquico sem saber exactamente porquê. Nem isso era necessário. Tal como também nasci católico. Por um acto de cultura o que é razão mais do que suficiente, ou se quiserem, “por todas as razões e mais uma” na expressão feliz e corrente que quer dizer que essa “mais uma” não é inteiramente da esfera do racional. É a “diferença na alma”.
Mais tarde percebi que era monárquico não apenas por Tradição, mas pela Tradição*. Por causa daquela fonte que jorra no passado, mas que está sempre disponível para dar de beber, a quem tenha sede! E se era por isso que era monárquico – então estava certo, não poderia ter arranjado melhor causa nem motivo.
Foi nestas condições que encontrei o PPM a seguir ao 25 de Abril de 74. Aprendi então, com alguns dos ilustres fundadores, as bases da doutrina monárquica que vinha do Integralismo e a pujança dessa escola de pensamento fez-me ver mais longe e mais claro.
Nunca me filiei, e foi como monárquico, que acompanhei um destacado dirigente do Partido, numa incursão ao Alentejo e Algarve, na tentativa de encontrar candidatos pelo PPM à Assembleia Constituinte de 1975.
Conseguimos em Portalegre, falhámos em Évora e Beja, e por meia hora, atrasámo-nos em Faro. Dessa experiência inesquecível só posso dizer que – semeámos muito mas colhemos pouco...fizemos o possível.
Na campina rasa em que a ditadura tinha transformado o País, falar em monarquia era o mesmo que falar em latim... Nesses tempos o PPM foi a única referência realmente visível da Monarquia e o seu trabalho doutrinário não pode ser esquecido.
Depois veio o Poder com tudo o que lhe está associado. A força inicial e a sua legítima razão de ser – esclarecer os portugueses para a necessidade de mudar de regime – ficou naturalmente enredada nos meandros de um programa de governo, começando então a questionar-se a utilidade de um Partido Monárquico?!
Esta questão, que mereceria uma ampla e aberta discussão entre os monárquicos nunca foi feita, resvalando-se sempre para a política das “capelinhas”, e é pena... Os Republicanos também tiveram que resolver esta questão estratégica e decidiram-se a fazer eleger candidatos ao Parlamento, primeiro como Independentes, mas depois constituídos em Partido, como se sabe. A estratégia para eles resultou.
Claro que isto não tem nada a ver com o que eventualmente se possa estar a passar com o PPM, já que é voz corrente que o recém-eleito Presidente do Partido parece ter “pretensões a pretendente”, questão ridícula, que felizmente não divide nem interessa nada aos Portugueses de hoje. A ser verdade só pode tratar-se de uma manobra de diversão para desviar os monárquicos do seu verdadeiro objectivo – mudar o actual regime que não serve para Portugal.
Enfim e em suma, nunca nos podemos esquecer que aquilo que verdadeiramente e em concreto, distingue um monárquico de um republicano, é que um monárquico abdica, em nome do bem comum, de ser candidato à chefia de Estado.
Se me fiz entender.

* Fernando Pessoa, que andou pela fonte, percebeu a diferença quando afirmou que “o português à antiga portuguesa” era mais recente que o “português”.

sexta-feira, junho 17, 2005

Falta qualquer coisa…

“ A diferença entre culto e erudito é que, quem é erudito torna-se erudito, e quem é culto nasce culto. Nascitur, non fit é verdade do homem culto como do poeta.”
Fernando Pessoa

Das análises dos nossos comentadores políticos nunca se vislumbra em concreto uma solução, um caminho novo ou renovado, um termo de comparação. Falta o necessário passo em frente, o risco e a coragem de assumir a quota-parte no erro colectivo que foi a implantação da República. Claro que o rotativismo anterior já havia descredibilizado os partidos e toda a classe politica mas não a Instituição Real como hoje todos reconhecem. E é preciso lembrar que a Monarquia não começou em 1820; acompanha-nos desde o “berço”. Também por isso, sabemos agora, (soubemos sempre), sem disfarces, que o problema não é de Governo mas sim de Regime.

Falta-nos Pátria e quem a represente. Falta-nos o princípio desta História – o Príncipe.
Cardoso de Miranda, no elogio do último Príncipe do Grão - Pará, descreve bem quem é o Príncipe e o que nos falta... “ a projecção daquela longa sombra que se estende do medievo e vem daqueles Senhores Reis que reinaram em Guimarães ou em Barcelos, por tardes e manhãs amenas de Portugal, pais da plebe, uma espécie de figura humana da Pátria, recebendo o Povo nos seus Conselhos, acolhendo a gente humilde no pátio lajeado do seu paço tranquilo... vínculo humano dos nossos ciclos históricos...” e por aí adiante.

Falta-nos a Memória de tudo isto, e assim não teremos futuro.

Pois sim, pois não...

Um parente chegado, um dos que melhor me explicou porque é que eu era monárquico, pessoa dada a frases e sínteses fulgurantes, disse-me uma vez que – “os portugueses só chegaram á Índia porque não usavam a dialéctica anglo-saxónica do sim e do não!”
Ao contrário, a linguagem hesitante e confusa (também para os próprios) do “pois não” a querer dizer “sim” ou vice-versa, tinha-lhes permitido estabelecer “pontes” e “margens de diálogo” inimagináveis e imprevisíveis. Penso que os “brandos costumes” também andam por aí – tal como o facto geográfico do cabo “Finis terrae” – o que tudo somado ou subtraído terá contribuído para enformar este peculiar comportamento lusitano.
Os mais intransigentes esclarecem que esse tipo comportamental anda associado aos “invertebrados” e adiantam a esse propósito alguma bibliografia. – “Pois sim”, também não deixam de ter razão, e a comprová-lo o facto de os portugueses terem quase todos “problemas de coluna”! Já para não falar de outras maleitas ancestrais.
Mas sejamos justos – Com a espinha dorsal a prumo e com a linguagem corajosa do sim e do não, nós até éramos capazes de chegar à Índia – agora, não nos aguentávamos lá 500 anos!
Também não se pode querer tudo...

N.B. Afonso de Albuquerque e um ou outro Vice-Rei foram as excepções que confirmaram a regra.

quarta-feira, junho 15, 2005

Aristocracia Republicana

Nestes dias quentes de Junho só apetece discorrer sobre assuntos levezinhos. Por exemplo, não passa despercebido o esforço insano que a nossa comunicação social vem fazendo, para promover essa pequenina família, quase real, cujo apelido é Carrilho! Diga-se, que o próprio também tem sido bastante colaborante e empreendedor.
O percurso até à ribalta é um clássico da III República – primeiro dirigimo-nos à Câmara de Lisboa (via Grande Oriente) e depois seguimos naturalmente até Belém. A variante, neste caso, é a mesma – aquela sensação (certeza) de que não vamos a lado nenhum...

A dialéctica do Interregno

Se por aqui me guiasse pela estreita dialéctica marxista, bem poderia concluir que as figuras que politicamente se evidenciaram, neste período cinzento a que chamei Interregno, terão sido, por essa mesma evidência, responsáveis maiores pelo infeliz prolongar deste momento soturno da História Pátria.
Mas, como disse São Paulo, “eu nem a mim me julgo”! E os caminhos do “Interregno” também nada sabem sobre a Justiça de Deus. Apenas que enviou o Seu Filho para Redenção de todos os pecados.
Por isso, na hora derradeira, paz ás suas almas.

terça-feira, junho 14, 2005

Diário de um carteirista português

Era um carteirista com uma longa carreira, e podia considerar-se bem sucedido.
Com o tempo aprendera a distinguir os “clientes”, e hoje dedicava-se mais à investigação do que propriamente à profissão. O seu grande objectivo era descortinar a verdadeira identidade da vítima, aquilo a que nos seus estudos designava por “vítima real”.
Descobrira muito rapidamente que a maior parte dos lesados viviam directa ou indirectamente do Orçamento de Estado, o que, se não lhe atenuava a culpa, ao menos, aliviava-lhe a consciência!
Num raciocínio simplista, e atendendo à situação económica do País, as verbas que “colectava” não podiam corresponder a contrapartida de trabalho realmente produtivo, seriam pois, quiçá, remunerações indevidas?! Podíamos chamar-lhes subsídios.
Mas a verdadeira revelação, o que de facto mudou a sua vida, e o atirou para a carreira de investigador, digamos “socio-económico”, aconteceu quando subtraiu a carteira a um advogado. Contra o seu hábito, depois de retirar o numerário, resolveu examinar mais detalhadamente a documentação inclusa.
No meio da inscrição de profissão liberal, viam-se avenças por serviços e cargos em empresas públicas, semi-publicas e privadas; recibos de pareceres de toda a espécie, para organismos do Estado, outra vez as tais empresas, as autarquias, etc.etc.etc.
Surpreendido, farejou de imediato a “vítima real” – o Orçamento do Estado.
Já não parou. Diversificou as buscas (subtracções). Seguiu as pistas: grandes empresas – obras, fornecimentos e serviços ao Estado, autarquias e às tais empresas – aí estava novamente a “vítima real”.
No mundo do futebol, só poupou os jogadores do seu clube do coração! No resto, em cada intervenção, já sabia que a vítima não era a que gritava pela polícia.
Evitou o pequeno comércio, aliás em vias de extinção, e para lá de uma ou outra excepção, de uma ou outra dúvida, os estudos estavam feitos e batiam certo: tinha passado a vida a roubar o Orçamento de Estado!
Não se sentiu incomodado, já que bem feitas as contas aquilo era apenas uma migalha – nem pagava o trabalho da investigação. Verdadeiro remorso, só sentiu verdadeiramente, quando num momento infeliz, e por mera questão de hábito, subtraíra a carteira ao engraxador do café lá do bairro. Mais tarde veio a saber que o homem não recebia subsídios e que afinal, vivia só do seu trabalho!

segunda-feira, junho 13, 2005

O Império à nossa procura

(no 10 de Junho de 2005)

Enquanto a Norte, enfarpelados e ao som de clarins, os grandes descolonizadores comemoravam solenemente, o “dia de todos nós”, mais a Sul, propriamente na praia de Carcavelos, o Império celebrava a data, mas “à sua maneira”. Habituem-se, como diria o Vitorino!
Incomodado com os festejos, o ministro António Costa (não nos livramos disto?! – continuamos com um “País de costas”?!) anunciava que para já, mandava a polícia para a praia e que depois se “debruçariam sobre as causas profundas”!
Estamos a imaginar a “comissão de sábios” (incluindo os Louçãs e uns quantos daqueles que no passado gritavam – “nem mais um soldado e nem mais um tostão para as Colónias”) a “debruçarem-se” sobre o assunto e a adiantarem aquelas sábias conclusões – “que isto dos bairros problemáticos é um problema”, “ que nós até temos sorte porque por exemplo o Afeganistão e o Iraque estão pior” ou então “temos que levar este problema para a Europa resolver”...
Provavelmente também vamos ouvir o incontornável Constâncio a aconselhar o Governo, em nome do equilíbrio orçamental, a cortar com algumas importações supérfluas: “arrastões”, “favelas”, “muceques”, ... “Francamente. Não havia necessidade!”
Entretanto viva o 10 de Junho, dia da Raça, de Camões, das Comunidades, da praia de Carcavelos, etc. etc. etc. ...

Ouvindo Caetano Veloso…..

(Sampa)
“Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui
Eu nada entendi…
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas…

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza Ipiranga e a Avenida São João
(…)
E foste um difícil começo…”

Ouve-se e não podemos deixar de gostar! E sorrimos do conhecido complexo de Édipo deste famoso baiano! Depois, é sempre reconfortante sermos criticados em português, ainda por cima com sotaque.
Mas não é isso que hoje me faz atravessar o Atlântico.
Vamos lá acertar algumas contas em nome da “purificação da memória” com os nossos “irmãos” “caçulas”:
Irmãos, não, filhos. Esta história de os filhos tratarem os pais por tu ou por irmãos, deu e dá mau resultado – cria confusão e é deseducativo.
Claro que a culpa é dos pais!
Feita a rectificação, recordemos os passos infelizes de ambos os Países em direcção à República e portanto à decadência:

“No confronto, que requer estudo, entre as condições históricas que cercaram a queda da monarquia no Brasil e em Portugal – ambos os regimes instaurados por D. Pedro IV ou I e onde reinavam, sob a cúpula de uma quase idêntica Constituição, igualmente outorgada pelo mesmo Dador, as duas linhas da sua descendência dinástica – haveria um saldo positivo de virtudes públicas a favor do Brasil.
É estranho, mas, onde se poderia supor menor maturidade política, houve mais dignidade de vida pública.
(…)
A República no Brasil foi implantada por um pronunciamento militar contra o Gabinete, que derivou ocasionalmente para um golpe de Estado …, sem turbulências de momento, a que também não precederam perturbações anárquicas do Parlamento e desvairamento da imprensa. Afora esporádicas manifestações individuais…, foi sempre exemplar o respeito colectivo das corporações partidárias, das casas legislativas, das forças armadas, dos grandes órgãos de imprensa pela dinastia e pela Monarquia.
E, não digo a transição, a substituição do regime operou-se no Brasil sob o signo dum comportamento político mais cordato do que em Portugal: não foram mudadas a bandeira e o hino – símbolos de uma continuidade histórica e de uma tradição nacional que cumpria salvar. Na bandeira, conservadas a disposição e as cores das peças heráldicas essenciais, em campo verde um losango de oiro, apenas foram substituídas (aliás, com muito mau gosto) as armas do Império, de tão alto significado, com a esfera armilar e a cruz de Cristo, por um globo azul salpicado de estrelas e enlaçado pelo dístico positivista.
E no hino, deixada inalterada a música (uma das mais belas no género, pela sua singular vibração marcial), trocaram a letra – no que não houve nem perda nem lucro, por que aos inexpressivos e mal alinhavados versos anteriores sucederam estrofes de um preciosismo monótono e dolente.
Portugal, porém, foi às últimas, em matéria de alteração dos símbolos nacionais: à bandeira azul e branca do Constitucionalismo deram como sucessora (contra a exaltada opinião de Guerra Junqueiro) a bandeira verde e encarnada da propaganda, e ao “Hino da Carta” (que “gingava” – como dizia João da Ega) “A Portuguesa”.
(…)”
* “O ultimo Rei” de Cardoso de Miranda

Que tristeza, até os que ensinámos, nos ensinam…

Entretanto, no Brasil, ficou estabelecido que o novo regime seria ratificado pelo Povo brasileiro. Passados 103 anos sobre a queda da monarquia, esse compromisso foi honrado e os brasileiros decidiram em referendo continuar com o regime republicano.
Em Portugal, como se sabe, os portugueses nunca foram chamados a pronunciar-se sobre nada …

Mas voltando à música de Caetano Veloso, ele, até nem tem razão para se queixar da sua triste orfandade porque teve decerto a oportunidade (que eu que o ouço agradecido, nunca tive) de rectificar essa situação através do citado referendo. Tal como todos os outros brasileiros.E a pergunta que lanço aos vencedores e por isso desembarquei outra vez em terras de Vera Cruz, é simplesmente esta: passados quinze anos, ainda não estão arrependidos da escolha?

sexta-feira, junho 10, 2005

O Regime à defesa

A IV República, ainda não oficialmente empossada, já aí está, já começou a jogar. É muito parecida com a II (vulgo Estado Novo) mas com outro fio de jogo e equipamento mais berrante: há eleições (nos mesmos e para os mesmos), o Parlamento funciona a meio gaz e, porque não há “alternativa” política, também não há oposição. Prevêem-se, além disso muitos pactos de regime a fazer lembrar a saudosa União Nacional!
O Dr. Jardim escusa portanto de a reclamar, porque ela tem vindo a ser laboriosamente construída desde que o bloco central tomou conta da situação. Com Cavaco Silva, registe-se.
Não será presidencialista, mas neo-salazarista como gostamos mais, uma espécie de República monárquica, com o Presidente a fazer de Rainha de Inglaterra. O gato por lebre que já estamos habituados.
Sem nenhuma ideia de Portugal, sem nenhuma ideia para Portugal, enredados no círculo vicioso das Instituições que serviram (e mal) no século XIX e hoje já não servem para coisa nenhuma, teimosamente atrelados à decadência francesa, os nossos políticos apenas sabem balbuciar – que não há “alternativa à Europa”, frase de código com que têm vindo a comprometer a força e os destinos de uma Nação com dez séculos de História!
Não há alternativa para Portugal… é no fundo o que pensam, e na sua incapacidade, querem dizer.
Ora, políticos que não apresentam alternativas ao previsível descalabro da UE, não existem e nós não precisamos deles para nada.
Entretanto, como um animal encurralado, o regime defende-se de qualquer maneira. Estão assustados, aceitam tudo em nome da sobrevivência e só assim se explica o silencioso protesto, que ninguém ouviu, quando se sujeitaram a dolorosa auto-mutilação!
Para disfarçar fingem que têm um plano. E fazem segredo como se ele existisse.
Não há plano nenhum.
Sirva de exemplo o ofício que o MNE enviou ao Governo Brasileiro solicitando-lhe “compreensão” no sentido de impedir o fluxo de emigração que se dirige para Portugal!
“Esta é a ditosa Pátria” criadora de civilizações mas que hoje não sabe o que fazer às criaturas desorientadas e aflitas que a procuram…
Mas que ideia terá este preclaro Ministro dos Negócios Estrangeiros, para Portugal, para o mundo que fala português, enfim, para o futuro da Portugalidade?
O Império bate-lhe à porta e a única coisa que tem para dizer é – tenham paciência, só podem entrar uns quantos…
Ou virá falar-nos de CPLP’S, sigla anónima e anódina de uma organização inexistente? E ainda que formalmente exista, qual é o seu rosto e qual é o seu rumo?
Não, o lema presente, e que está em vigor, é, “cada um por si e quem vier atrás que feche a porta”…
O resto, são cantigas.
Haverá esperança?
Se ao menos estes idiotas que nos governam, percebessem, que sem esses Povos, que continuam a querer viver connosco um destino comum, nós não nos justificamos como Nação independente?!
Se ao menos percebessem que serão eles, esses Povos que ainda nos procuram, que irão garantir o nosso futuro, como sempre aconteceu no passado?!
Se por fim vislumbrassem que sem essa responsabilidade Histórica, Portugal reduzir-se-á a uma pequena autonomia regional, integrada em outros voos e alugada a outros objectivos, porventura meritórios, mas que não serão os seus?! Os nossos?!
E quem duvida hoje que o nosso projecto histórico, com as suas naturais cicatrizes e incertezas, foi e é uma estrutura de serviço universal?
Que melhor prova, que essa permanente assunção de portugalidade a que todos os dias assistimos e a propósito de tudo e de nada?
E de novo esse fluxo de emigração brasileira (dos que votaram no Lula, mas não querem viver com ele), não significa ele também o regresso de alguém da família (apesar do desgaste histórico e da desconfiança mútua)?
Mas afinal quem procuram os filhos quando estão aflitos?
Claro que nós não estamos preparados para isto. Claro que falta o Rei para representar isto tudo… Mas seria bom que começássemos a perceber qual é a nossa realidade.
Quanto às “cabecinhas pensadoras”… só vão perceber quando ficarem sem emprego e perderem a importância.
Deus queira que não seja tarde de mais…

sábado, junho 04, 2005

A conversão de António Sardinha


“(...) Persistia a distância nas ideias políticas. E Almeida Braga prosseguia com um poema melancólico e vencido, para terminar evocando-lhe os passeios que em Coimbra, nos dias depois das férias, demoradamente davam à roda do cais, contando-se os últimos trabalhos e planos. Almeida Braga acabava por se despedir, perguntando e exclamando: o teu casamento é dentro desta Primavera, ou deita ainda para diante? Como Portugal deve estar lindo!
Eis a resposta de Sardinha:
Queridíssimo Luís: escrevo-te em vinte e quatro de Abril, em vésperas do Senhor São Marcos, um dos quatro que disseram da vida de Jesus e padrinho dos bois e dos boieiros de toda a Cristandade. Amanhã, perto daqui, numa engalanada ermidinha, à hora da missa, por entre os fiéis, um novilho de dois anos entrará pela nave acima até ao altar – mor. “Entra, Marcos!” – lhe gritarão os mordomos da festa, que com varinhas o irão tangendo, que o animal se poluiria se as mãos humanas o tocassem. “Entra, Marcos!” E junto aos degraus do tabernáculo, com as hastes enastradas de fitas e de ervas de cheiro, a rês, em vez de tombar sob o cutelo sagrado, em nome da verdade receberá a bênção da Igreja e nos cornos se lhe cantará o Evangelho do dia.
“ Entra, Marcos!” E o engelhado Topsius que habitava dentro de mim acaba de descobrir que essa festa, que o Cristianismo conservou e santificou, tem raízes milenárias, descende da festa do touro que uma civilização pré-árica bronzífera, espalhou por toda a Europa. Mr. Homais rir-se-ia da ingénua solenidade e aproveitar-lhe-ia a origem para atacar a pobreza criadora do Cristianismo e a mentira das Religiões. Eu, como homem que estuda, solidifico com o facto a minha crença vendo nele um sinal claro dessa curva ascensional do homem primitivo para a Perfeição, que é Deus. “ Entra Marcos!” E hoje as ladainhas saem pelos campos – saíam – a rogar ao Céu pelo renovo primaveril, pela messe que se aformoseia, pelos frutos que despontam. Como Portugal estará lindo! – Exclamava na tua carta a tua nostalgia. – Como Portugal está lindo e como ele te manda saudades, meu amigo! Floresce o rosmaninho, a planta que soalha as igrejas em Quinta-Feira de Endoença e que, assistindo à cena do Calvário, perpetuou na sua austeríssima flor o sangue inocente do Cordeiro.
(...)
Para Sardinha, o retorno a Monforte reforçara-lhe a convicção de que a Verdade Portuguesa que buscava, estaria no povo e nas suas tradições; em vez da distância, a proximidade ao povo, em vez do desprezo altaneiro das elites letradas, o amor pelas coisas simples e o sentimento de um percurso até às raízes que era uma ascese até Ele.
Uma outra carta, datada de 30 de Dezembro de 1912, anunciava a Almeida Braga, por fim, de forma explícita, a sua total conversão ao catolicismo e ao monarquismo.
António Sardinha começa por saudá-lo e aos seus companheiros de exílio em palavras de intenso fervor: “Vós sois, no niilismo moral que nos abafa, o fermento sagrado que há-de levedar uma Pátria”. E logo adiante: “Recordas-te, Luís, de um dia me dizeres na tua casa, ao fim da jeropiga e entremeando um cavaco com a senhora Teresa (…), que o erro jacobino havia de morrer em mim, por incompatível com a sinceridade que eu lhe consagrava, e que os meus olhos se abririam para as verdades eternas? Pois, meu amigo, meu Irmão, leste fundo na minha alma e com alegria te conto a minha conversão à Monarquia e ao Catolicismo, – as únicas limitações que o homem, sem perda de dignidade e orgulho, pode ainda aceitar. E eu abençoo, eu abençoo esta República trágico-cómica que me vacinou a tempo pela lição da experiência, que livrou a minha existência dum desvio fatal".
(…)
Pela mesma altura, fez também Sardinha seguir para o Conde de Monsaraz, em Paris, a notícia da sua conversão. Do espólio de Sardinha responde-nos a letra do velho Conde numa breve, comovida e saudosa carta: “A sua generosa conversão, confessada com tanta nobreza de consciência, sensibilizou-nos profundamente”…
Alberto de Monsaraz, saindo do abatimento e descrença em que se prostrara ia para dois anos, recobra animado, respondendo-lhe:
“Já há tempos vinha percebendo, pelo modo de escrever, essa evolução que, pouco a pouco, se desenhava no teu espírito e na tua consciência de visionário desiludido. Nunca supus, porém, que, depois de haveres defendido tamanhos erros, tivesses a grandeza de ânimo de os enjeitar por completo. Esperava encontrar um desencantado, refugiando-se num cómodo silêncio, recurso último daquelas coerências que nunca torcem. Esta contrição alevantada e nobre, confesso, não contava com ela. Perdoa a um velho amigo a injustiça que involuntariamente te fazia. Já tinha uma vivíssima admiração pelo teu grande carácter, mas agora, se é possível, ainda o fico admirando mais. Vencer o amor-próprio é o maior triunfo duma consciência humana. Bem-haja a tua que a alcançou! As minhas esperanças no futuro da Pátria nunca esmorecem e estou crente de que a nossa velha tradição de grandeza não se perderá. Deus, que acima de tudo é grato, como pode consentir na irremediável agonia de um povo, que em oito séculos de existência e de fé, procurou sempre honrar o seu nome e alevantar o prestígio da sua Igreja. (…)”

In “Filhos de Ramires” de José Manuel Quintas

quarta-feira, junho 01, 2005

O REI E OS SOVIETES

A frase que serve de título disse-a o grande Rolão Preto e consubstancia a única proposta verdadeiramente revolucionária pós 25 de Abril. Para os espíritos mais sensíveis ou para aqueles que ainda pensam que a Monarquia é um conto de fadas apresso-me a traduzir o alcance da feliz expressão que todos os dias parece fazer mais sentido. Corrigindo o idiótico slogan “O Povo e o MFA” o “jovem” de oitenta anos explicou que não, que não era nada disso que Portugal precisava para cumprir o seu destino histórico mas sim da velha e sempre renovada aliança entre o Rei e o Povo, entre o Rei e as Comunidades ou, actualizando a formula, entre o Rei e as Repúblicas Regionais. Claro que a Portugalidade agradece. A mensagem não foi entendida e a História apenas recordará da 3ª República a feliz criação das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores cujo espectacular desenvolvimento ninguém se atreverá a negar. É indispensável prosseguir neste sentido reconhecendo as outras Regiões Históricas que se torna necessário reactivar e que aliás se descortinam sem grande esforço porque estão hoje praticamente abandonadas. Mas para realizar tudo isto é preciso substituir de imediato a Chefia de Estado Republicana pela Instituição Real introduzindo no sistema as referências de unidade e rumo histórico que só o Rei consegue representar.
Como é que isto se faz?
Em primeiro lugar é preciso alterar a Constituição antidemocrática que temos para podermos escolher em Referendo entre a Republica e a Monarquia. Claro que a opção pela Republica ganharia folgadamente mas a consulta teria o mérito extraordinário, para além do esclarecimento de posições, de, pela primeira vez, desde a implantação da Republica, responsabilizar directamente a sociedade civil pelo regime em vigor. Todos concordam que um dos traços mais marcantes do nosso atraso reside na incapacidade da sociedade portuguesa de crescer mentalmente, de se libertar da excessiva dependência do Estado, em suma, de se tornar adulta. Aí temos a grande oportunidade de começarmos a existir e só por isso já se justificaria o Referendo. Depois, bem, depois as queixas e as lamúrias por parte daqueles que preferiram a República já não seriam aceitáveis e, a não ser que ocorresse um milagre, sempre poderíamos olhar de vez em quando para a vizinha Monarquia Espanhola e interrogarmo-nos – qual é a diferença?

O amante constitucional

Adorava Constituições! Quanto mais novas, melhores. Buscava nelas, o retrato perfeito, a identidade sonhada, sem as rugas do passado, sem os seus podres, sem as suas dívidas. Do passado queria apenas as coisas boas.
Curiosamente, ou talvez não, tinha uma vida amorosa semelhante. Perseguia amantes, umas atrás das outras, na esperança de encontrar, finalmente, a alma-gémea com quem seria eternamente feliz.
Claro que isto estava a dar com ele em doido! Mas não desistia, a próxima é que era…
A paixão (o vício) Constitucional nascera da leitura de um livro sobre a tomada da Bastilha e os acontecimentos posteriores, em França!
Ficara verdadeiramente deslumbrado com a possibilidade de um Povo, construir, de um jacto, uma nova identidade, livre de todas as grilhetas, de todas as superstições! E depois, a epopeia daquele general italiano, que à frente das tropas francesas, levara a boa nova a quase todos os povos da Europa… deixava-o sempre comovido…
Sabe-se que a coisa não correu bem e que outras tentativas no mesmo sentido, ainda correram pior, mas ele considerava-se um resistente.
A oportunidade de reescrever a História sem olhar para trás, aí estava de novo com uma nova Constituição, agora, Europeia! O vício acordou-o, mas pela primeira vez, a vontade hesitou. Começava a estar cansado da busca e algo desiludido com os resultados.
Um bom amigo já o tinha aconselhado a tratar-se, e adiantara inclusivamente, que as sucessivas crises de identidade de que visivelmente padecia, tinham origem na sua baixa auto-estima, provavelmente provocada por uma memória maliciosamente selectiva. Nada, que um bom psiquiatra não lhe soubesse explicar.
Se pensasse bem, insistiu o amigo, nem tinha razões para estar assim! Afinal, bastar-lhe-ia aceitar a globalidade da herança com um espírito de humildade e grandeza, e então descobriria, na sua história pessoal e colectiva, factos e feitos suficientes para se motivar. Quanto ao bilhete de identidade, escusava de o procurar na nova Constituição, porque decerto ele estaria lá em casa, fechado ou perdido nalguma gaveta…