quarta-feira, outubro 04, 2006

A Mónica arrependida

Aquilo era um ritual para além do ordinário da Missa! No adro da Igreja de São Mamede esperávamos a saída das ‘Mónicas’, e lá vinham aquelas miúdas giríssimas, sempre acompanhadas pelos pais, ele, um senhor distinto, a mãe, uma senhora linda! Era um momento para ver passar a beleza.
Passaram mil anos e estou a ver uma delas na televisão. Está a confessar-se! Ou estará a justificar-se?
Penso que entrou decididamente nessa fase da vida em que a lucidez vai tomando conta dos nossos erros, vai desarrumando umas coisas que pareciam arrumadas e vice-versa. É natural.
Mas ainda hesita, não consegue assumir as suas origens, ainda tem vergonha de alguma coisa e por isso expulsa demónios com endereço errado!
Sem saber, este produto do Salazarismo, critica Salazar onde o ditador acerta! Sabemos hoje que quis contrariar o sistema mas que teve medo de perder o poder nessa guerra. Filomena Mónica não percebeu. Aliás, na crítica generalizada que faz a Portugal e aos portugueses denuncia as más companhias! Assemelha-se aos intelectuais queirosianos que diziam mal de tudo e de todos! Que também tinham vergonha das suas origens. E como praticavam a inacção, ai de quem se atrevesse a fazer alguma coisa.
Esta filha de Rousseau, escreveu ‘Os filhos de Rousseau’, uma crítica à educação de Abril, como já tinha criticado a educação do Estado Novo! Não percebeu que somos todos jacobinos, e por causa disso, a direita e a esquerda não se distinguem. Também por isso somos todos republicanos. A Filomena Mónica também é.
Fica provado que a beleza não chega para superar complexos.
Mas haja esperança, é uma pessoa inteligente, e vai por certo vencer os desafios que ainda a atormentam, o maior dos quais nunca conseguiu disfarçar naquela espécie de monólogo – a reconciliação com a Igreja Católica, de que faz parte, como eu próprio testemunhei na minha juventude.

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