segunda-feira, dezembro 25, 2006

Presente de Natal

Os novos hábitos não contemplam a missa do galo e a consoada já não reúne a família. Por causa disso reduzimos o presépio e fizemos crescer a árvore de Natal. Os portugueses exageram sempre – a maior da Europa, tinha que ser!
Apetece blasfemar: quem acabou com o morgadio, acabou com a família. Lembro-me então que não sou o mais velho, o primogénito! Deixá-lo, regras são regras.
Deixei tudo para a última hora, faltam três presentes, verifico a verba, vamos aos livros! Há bons e baratos, para todos os paladares. Estou numa grande superfície comercial.
Carolina, estava a ver que não estavas aqui, mas estás, por todo o lado, é agora ou nunca, vais escondida no meio dos outros, só a menina da caixa é que há-de sonhar com o teu romance. Detecto entretanto um problema: e lá em casa, como é que justifico a Carolina! Digo que me enganei? Que estava em promoção! Não pega, não acreditam. Se disser que foi o vizinho que me pediu para comprar, desconfiam, e o vizinho não me vai perdoar a denúncia infame.
Mudo de táctica, enquanto finjo que escolho, leio o livro. Comecei por desarrumar a prateleira para construir um castelo: coloquei estrategicamente alguns livros de grande lombada à volta da frágil criatura, livrando-a assim de olhares indiscretos. E passei à fase seguinte – com a Carolina no meio e um livro insuspeito à mão de semear, desfolhei vagarosamente, uma a uma, cada folha daquela explosiva história de amor… e maldizer. Fui até ao fim. Quando levantei os olhos encarei com um funcionário complacente que se limitou a sorrir e a abanar a cabeça.
Já sei que estão cheios de curiosidade para saber como é!
Se querem que lhes diga, o livro lê-se bem, tem muitas fotografias alusivas, e tomadas as devidas precauções, consegue-se. A posição não é famosa, temos que estar em pé, e de sobreaviso, por exemplo, os carrinhos de compras com miúdos lá dentro, são um perigo! Os miúdos querem sempre tudo e mais alguma coisa, e os papás não resistem. Houve uma altura em que tive que me desviar e nesses segundos intermináveis a Carolina ficou completamente desprotegida. E temos ainda os curiosos que vagueiam por toda a parte, e os maçadores que aparecem para comprar livros, e logo ali!
Enfim, tem as suas dificuldades, mas posso garantir que é uma experiência única! Um último conselho: não façam isto fora da quadra natalícia, porque pode acontecer que os funcionários não sejam tão compreensivos, principalmente naquela fase em que temos que desarrumar as prateleiras.
Boas Festas.

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