Os novos hábitos não contemplam a missa do galo e a consoada já não reúne a família. Por causa disso reduzimos o presépio e fizemos crescer a árvore de Natal. Os portugueses exageram sempre – a maior da Europa, tinha que ser!
Apetece blasfemar: quem acabou com o morgadio, acabou com a família. Lembro-me então que não sou o mais velho, o primogénito! Deixá-lo, regras são regras.
Deixei tudo para a última hora, faltam três presentes, verifico a verba, vamos aos livros! Há bons e baratos, para todos os paladares. Estou numa grande superfície comercial.
Carolina, estava a ver que não estavas aqui, mas estás, por todo o lado, é agora ou nunca, vais escondida no meio dos outros, só a menina da caixa é que há-de sonhar com o teu romance. Detecto entretanto um problema: e lá em casa, como é que justifico a Carolina! Digo que me enganei? Que estava em promoção! Não pega, não acreditam. Se disser que foi o vizinho que me pediu para comprar, desconfiam, e o vizinho não me vai perdoar a denúncia infame.
Mudo de táctica, enquanto finjo que escolho, leio o livro. Comecei por desarrumar a prateleira para construir um castelo: coloquei estrategicamente alguns livros de grande lombada à volta da frágil criatura, livrando-a assim de olhares indiscretos. E passei à fase seguinte – com a Carolina no meio e um livro insuspeito à mão de semear, desfolhei vagarosamente, uma a uma, cada folha daquela explosiva história de amor… e maldizer. Fui até ao fim. Quando levantei os olhos encarei com um funcionário complacente que se limitou a sorrir e a abanar a cabeça.
Já sei que estão cheios de curiosidade para saber como é!
Se querem que lhes diga, o livro lê-se bem, tem muitas fotografias alusivas, e tomadas as devidas precauções, consegue-se. A posição não é famosa, temos que estar em pé, e de sobreaviso, por exemplo, os carrinhos de compras com miúdos lá dentro, são um perigo! Os miúdos querem sempre tudo e mais alguma coisa, e os papás não resistem. Houve uma altura em que tive que me desviar e nesses segundos intermináveis a Carolina ficou completamente desprotegida. E temos ainda os curiosos que vagueiam por toda a parte, e os maçadores que aparecem para comprar livros, e logo ali!
Enfim, tem as suas dificuldades, mas posso garantir que é uma experiência única! Um último conselho: não façam isto fora da quadra natalícia, porque pode acontecer que os funcionários não sejam tão compreensivos, principalmente naquela fase em que temos que desarrumar as prateleiras.
Boas Festas.
Apetece blasfemar: quem acabou com o morgadio, acabou com a família. Lembro-me então que não sou o mais velho, o primogénito! Deixá-lo, regras são regras.
Deixei tudo para a última hora, faltam três presentes, verifico a verba, vamos aos livros! Há bons e baratos, para todos os paladares. Estou numa grande superfície comercial.
Carolina, estava a ver que não estavas aqui, mas estás, por todo o lado, é agora ou nunca, vais escondida no meio dos outros, só a menina da caixa é que há-de sonhar com o teu romance. Detecto entretanto um problema: e lá em casa, como é que justifico a Carolina! Digo que me enganei? Que estava em promoção! Não pega, não acreditam. Se disser que foi o vizinho que me pediu para comprar, desconfiam, e o vizinho não me vai perdoar a denúncia infame.
Mudo de táctica, enquanto finjo que escolho, leio o livro. Comecei por desarrumar a prateleira para construir um castelo: coloquei estrategicamente alguns livros de grande lombada à volta da frágil criatura, livrando-a assim de olhares indiscretos. E passei à fase seguinte – com a Carolina no meio e um livro insuspeito à mão de semear, desfolhei vagarosamente, uma a uma, cada folha daquela explosiva história de amor… e maldizer. Fui até ao fim. Quando levantei os olhos encarei com um funcionário complacente que se limitou a sorrir e a abanar a cabeça.
Já sei que estão cheios de curiosidade para saber como é!
Se querem que lhes diga, o livro lê-se bem, tem muitas fotografias alusivas, e tomadas as devidas precauções, consegue-se. A posição não é famosa, temos que estar em pé, e de sobreaviso, por exemplo, os carrinhos de compras com miúdos lá dentro, são um perigo! Os miúdos querem sempre tudo e mais alguma coisa, e os papás não resistem. Houve uma altura em que tive que me desviar e nesses segundos intermináveis a Carolina ficou completamente desprotegida. E temos ainda os curiosos que vagueiam por toda a parte, e os maçadores que aparecem para comprar livros, e logo ali!
Enfim, tem as suas dificuldades, mas posso garantir que é uma experiência única! Um último conselho: não façam isto fora da quadra natalícia, porque pode acontecer que os funcionários não sejam tão compreensivos, principalmente naquela fase em que temos que desarrumar as prateleiras.
Boas Festas.
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