Faltou uma página ao livro de
José António Saraiva. Vou tentar escrevê-la aqui. Começaria assim: - e depois,
pese as desinteligências, as vergonhas, as guerras intestinas entre pedreiros e
lojas, juntaram-se todos no cinco de Outubro! Para celebrar as mordomias e o
emprego! Talvez pudesse fazer uma antevisão do que seria a festa, imaginar a coreografia,
não seria difícil atendendo à sua experiência de jornalista. Eu limitei-me a seguir
com os olhos parte do programa televisivo, numa mesa longínqua, enquanto tomava
o pequeno almoço no café habitual.
Lá estava a guarda pretoriana do
regime, perfilada, um corpo policial paralelo, que não existe nos países
civilizados mas é frequente existir nas ditaduras. Lá estava também o
presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a rebentar de contente, mestre-de-cerimónias
natural da revolução lisboeta. A GNR continuava firme e aguardava o pretor.
Enquanto Marcelo descia da limousine o meu espírito recuou e lembrei-me que a GNR
fora a única força que quis disparar contra o 25 de Abril! Era a tentativa para salvar o seu padrinho Marcelo Caetano e a segunda república! Curioso, quem diria! Mas
agora estamos na terceira república, e o melhor sinal de que ainda lá estamos
foi esta reposição do feriado contrariando aqueles que à maneira de Salazar
quiseram (e querem) pôr uma pedra sobre o assunto. Fingir que aquilo não
aconteceu! Nessas condições prefiro que se comemore, não gosto de cernelhas,
prefiro pegas de caras. Gosto de ver a face dos meus adversários, a sombra dos traidores, a pose dos adesivos. E adesivos são todos aqueles que lá estão podendo lá não
estar.
É um dia feliz para uns tantos
mas é um dia triste para Portugal.
Viva a monarquia!
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