Li o livro de que todos falam, um
livro maldito para muitos, um livro que achei interessante por ser um retrato
fiel da terceira república e da sua classe política. Escrito por um jornalista
proeminente da nossa praça, com poucas concessões ao mau gosto (a anedota em
vernáculo do Deus Pinheiro era dispensável) o livro confirma aquilo que todos
sabem ou desconfiam com razoável grau de certeza. E sendo assim compreendo que
seja incómodo que alguém que dirigiu o Expresso durante tantos
anos, órgão de referência do regime, venha agora contar pormenores ou detalhes que
confirmam suspeitas e acendem factos que se mantinham no limbo do semi-esquecimento.
Mas é nos detalhes que a verdade se insinua.
E a primeira verdade, o primeiro
retrato é o do autor, como acontece aliás em qualquer livro de memórias. José
António Saraiva é filho de alguém que foi militante do partido comunista, tal
como muitos dos retratados neste livro, e por aí compreendemos melhor a teia de
relações da república, a pequenez do país e a inferioridade do seu destino. Todos
se conhecem, todos têm a revolução francesa enfiada na cabeça, são todos de
esquerda. O autor foge um pouco à mediania e aparenta alguma superioridade moral
fruto talvez de uma educação antiga e do facto, digo eu, de ter nascido na
Ajuda e ter assim respirado aquela atmosfera intraduzível que vai do Calvário a Belém! Julgo que é simpatizante do Belenenses o que o torna sem dúvida uma figura singular! Pelo
menos aos meus olhos.
Sobre os outros retratados
existem muitos pormenores curiosos, alguns decisivos na imagem que a história venha eventualmente a perpetuar. Isto se a história estiver para isso. Reproduzo apenas um que me chamou particularmente a atenção e define a república mentirosa que somos: - Findo o mandato o nosso ex-presidente
Cavaco Silva, e num último encontro que teve com o autor do livro, referiu quais os jornais e revistas que tenciona receber no seu futuro escritório no Palácio do Sacramento. E são eles: - as notas da agência Lusa; a revista Economist; o Financial Times; o El País e o Le Monde! Os dois últimos são como
se sabe dois jornais socialistas. O chamado líder da direita é afinal (sempre foi) um
homem de esquerda. Não lê nem se interessa por saber o que pensa a direita
portuguesa ou internacional!
Saudações monárquicas
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