sábado, abril 26, 2008

Uma boa oportunidade


Se houvesse um bocadinho de bom senso, disfarçavam, nem era preciso bom senso, bastava um mínimo de bom gosto e esqueciam a data, tal como a juventude a ignora e foge da política porque desconfia dos políticos!
O 25 de Abril, o 28 de Maio, o 5 de Outubro, para não ir mais atrás, com cravos ou sem cravos, são datas de guerras civis, lutas fraticidas entre portugueses, e por isso, ninguém com dois dedos de testa se lembraria de comemorar tal coisa. O que seria expectável é que no fim de cada uma destas 'revoluções', os vencedores a festejassem e os vencidos a chorassem, e depois todos a esquecessem porque a vida continua. Mas não, nesta terra a política virou propaganda, portanto, os que ganham e conquistam o poder, continuam a comemorar o facto atirando anualmente à cara do adversário os louros da sua vitória. E curiosamente, esperam que os vencidos do dia estejam contentes e abrilhantem o festejo!!!
Claro que isto não podia dar certo, e daí o ar sorumbático e comprometido dos 'convivas'. Daí a morte anunciada destas datas que a memória não retém! Ou se retém é pelos piores motivos.
Salazar, que era de facto mais esperto que os do seu tempo, neste capítulo das comemorações fez os possíveis para desvalorizar e fazer esquecer, quer o 28 de Maio, quer o cinco de Outubro. E fê-lo, não por amor à verdade, mas por razões estratégicas, para não criar cisões profundas entre os portugueses, cisões que o obrigariam mais tarde ou mais cedo a definir-se, e isso ele não queria. A sua longevidade política dependia muito (e dependeu) dessa indefinição.
Ora aqui estava, portanto, uma boa oportunidade para esta terceira república afirmar alguma superioridade sobre as anteriores, assumindo os erros cometidos, a tragédia da descolonização, podia também assinalar a virtude pelas regiões autónomas, mas de seguida encerrava definitivamente as comemorações! Que hoje só interessam a alguns, aos que herdaram o estado novo, e como justificação para se eternizarem no poder, garantindo assim os interesses anexos. Para o país estes festejos não interessam, para além de absurdos, perpetuam desconfianças, dividem em lugar de unir, e impedem que a nação se mobilize para as tarefas do futuro. E são dispendiosos.
Em suma, só inconvenientes.

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