O mandinga não me larga, quer contar-me o seu drama, o problema dos papéis, uma autorização, uma dificuldade, Bissau não responde, sem isso não consegue viver! A cuanhama simpatiza comigo, o sul de Angola ficou para trás, e com ele, as inúmeras cabeças de gado que apascentava. O problema é o mesmo, os papéis, o bilhete de identidade perdido nos confins da descolonização exemplar! O mestiço indiano, que um dia aportou a Moçambique para fazer negócio, idem, idem, aspas, aspas! E eu não tenho nada para lhes dar, nem uma esperança de vida melhor. Verdade se diga que às vezes me irrito e atiro-lhes à cara a frase mortífera: - então não queriam ser independentes?! E agora querem papéis para serem portugueses?!
Estou a ser injusto, a culpa maior é nossa, fomos nós que fugimos às nossas responsabilidades, fomos nós que nos resignámos à filosofia da moda! Tão triunfante quão mentirosa! Mentirosa, sim, e o mandinga bem poderia confrontar-nos com o paradoxo: - então, vossemecês andaram a descolonizar-nos à viva força, entregaram-nos a uns quantos chefes tribais, em guerra, e agora passam a vida a implorar que alguém (o eixo franco-alemão, por exemplo) vos colonize 'rápidamente e em força'! Seja com euro-bonds, seja em federação, seja de que maneira for!
Mas o mandinga não irá tão longe. Ele quer apenas os papéis para ter uma oportunidade de vida fora do ‘seu país’. ‘Seu país’! Que tragédia para ele! Que mentira para todos nós!
Saudações monárquicas
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