Levas e levas de peregrinos em
direcção a Fátima. E estrebuchem no papel os livre-pensadores. Se não há
sobrenatural, como eles afirmam, há pelo menos necessidade de transcendência.
Elêusis, Delfos, Meca, Compostela, Lourdes e outros locais onde o céu e a terra
se confundem são a mesma Cova da Iria renovada no tempo. O ar miraculoso que
ali se respira, mesmo que fraudulento, vem ao encontro de apetências recônditas
do nosso sub-consciente. O homem é um crédulo envergonhado quando tem de
acreditar sozinho. Mas, se encontra companheiros de fé, desafia todas as críticas
e absurdos. Apoiado no número, desinibido, faz de chavascais lugares santos,
que visita sempre que pode, carregado das suas atribulações. E, em procissão,
vai-as alijando pelo caminho, até que, despojado de todas as gangas mundanais,
tem acesso disponível às nascentes sagradas que, parecendo manar do chão
bendito que pisa, lhe brotam de dentro da própria alma.
Coimbra, 12 de Maio de 1975
Miguel Torga – Diário
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