A vida quanto mais pobre, mais medíocre, menos vida, gera
sempre deslocações de interesses, actos falhados, fugas à realidade, e todo um
cardápio de reacções humanas, legítimas sem dúvida, até certo ponto compreensivas,
isso está estudado, a ciência conhece, o observador comum repara... mas o que é demais, é demais.
Já perceberam que estou a referir-me ao manifesto exagero que
rodeia a chamada… ‘selecção’! Pus entre aspas porque a própria designação me
arrepia! Assusta-me!
Fico com a sensação que só temos isto para nos agarrar, para
nos justificar como povo, como nação, como Pátria! Pior ainda, se calhar é
verdade!
Eu bem sei que há muito dinheiro em jogo, muita gente a
ganhar com a seleção, e sendo assim, não será ‘assim’ tão importante do ponto
de vista cultural, mas mesmo ‘assim’…
De manhã à noite, a selecção está no hotel, sai do hotel,
vai fazer um treino, o país desloca-se, a TV desloca-se, o Ronaldo constipa-se,
o governo espirra, a presidência tosse, os canais disponíveis (todos) discutem
em mesa redonda, como sair desta constipação! E a dita selecção ainda nem
sequer partiu para o Brasil! Entretanto, vigiam-se os aeroportos, as brigadas
de trânsito multiplicam-se, os batedores seguem-nos, os repórteres, sempre os
repórteres, por todo o lado…
É certo que eu podia desligar a televisão, é o que quase sempre faço. Acontece que às vezes também me apetece ver um bocado de futebol! Mas é precisamente isso que
não acontece! Futebol jogado, não. Só conversado. Quando muito um treino a
fingir contra a Grécia, com bilhetes pagos e enchente. E a malta vai nisso e
paga! E gosta! Não há nada a fazer. Dizem-me que no resto do (terceiro) mundo
também é assim…
Saudações desportivas
Nota: Antigamente éramos conhecidos pela pátria dos três 'efes'. Agora, é só um ‘F’ grande, descomunal ao pé dos outros dois.
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