Num
tempo de vergonha e negação daquilo que realmente somos lembrei-me
de André Frossard e deste texto no seu livro 'Deus em questões'.
Diz ele:
Eis
uma pergunta que poderíamos chamar recreativa. Poderíamos situar
Deus na direita, na medida em que nos impõe mandamentos que não
foram objecto de nenhuma consulta prévia, mas poderíamos igualmente
imaginá-lo na esquerda, uma vez que perdoa as nossas infracções, o
que a direita sempre tem dificuldade em fazer. Seria indelicado
considerá-lo 'centrista' sob pretexto de que, segundo Pascal, o
universo é um circulo cujo centro está em toda a parte e a
circunferência em lugar nenhum. Para resolver a questão, seria
necessário estabelecer uma distinção nítida entre a esquerda e a
direita. Ora, desde a morte das ideologias, que expiraram sob os
nossos olhos, a diferença entre os dois partidos prende-se apenas a
uns matizes verbais.
No
entanto, existem sempre 'homens de esquerda' e 'homens de direita'
que em nada se assemelham, mesmo quando praticam a mesma política.
Poderíamos
fazer remontar a questão até ao pecado original e dizer que o homem
de esquerda não acredita nele, enquanto o homem de direita acredita
de tal forma nele que lhe custa aceitar a Redenção. É mais simples
porém afirmar que o homem de esquerda julga proceder segundo o seu
coração, o homem de direita segundo a sua razão, e que ambos se
enganam. Quanto a Deus, não o vemos à vontade nem num nem noutro
partido, e bem podemos perguntar-nos se não terá sido Ele quem
inspirou esta sentença à nossa Simone Weil, cujo génio começa
onde termina o de Pascal: - “É preciso estar sempre pronto a mudar
de campo com a justiça, essa perpétua fugitiva do campo dos
vencedores”.
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