segunda-feira, julho 16, 2012

Uma tarde nos Zagallos

‘O palácio é do povo’, enfatizou o vereador da cultura!

Era uma tarde de Verão, os salões estavam cheios como vem sendo habitual. Para quem não sabe, o solar dos Zagallos é o local escolhido (aliás muito bem escolhido) pela Câmara de Almada para premiar as melhores quadras de São João, o Santo Padroeiro da cidade. E assim foi este ano.

A poetiza de serviço declamou entretanto as quadras que se evidenciaram e se a última palavra é da Senhora presidente, as primeiras palavras são do Senhor vereador. E aquela insistência, a emoção do evento, a própria lembrança das datas (14 de Julho/tomada da Bastilha), levaram-me a outra quadra, a outra verdade histórica, dentro do mote do concurso (‘Almada’ e ‘brilho’).
Ei-la:

Sem o nosso São João
Sem o brilho, sem nobreza,
Não haveria salão
Nem Almada concerteza!

Como se adivinha, a ordem dos factores não é arbitrária, mas confesso que fui tentado a substituir a palavra ‘brilho’ pela palavra ‘povo’. Seria um erro. A quadra, perdendo o brilho, acabaria naturalmente desclassificada.

O palácio não é do povo. Mandado construir pelos Zagallos, ainda no século XVIII, foi casa de família, e aqueles salões doirados testemunharam vida, alegrias e tristezas. Arruinaram-se, como tudo se arruina, e a quinta terá sido comprada pela burguesia emergente, por aqueles que celebraram (e celebram) a Bastilha!

O solar dos Zagallos é hoje administrado pela Câmara de Almada, em nome dos munícipes, os que elegeram a actual edilidade e os que não a elegeram, e só é do povo nesse sentido. Sentido que a história se encarregará de negar. Não vem longe o tempo em que será de novo adquirido pela aristocracia do poder, que atendendo ao rumo dos acontecimentos será da casta dos banqueiros e outros liberais de nomeada.

Resta saber em que circunstâncias o solar dos Zagallos melhor serve os interesses da comunidade! Se casa de família e de linhagem! Se casa de burgueses sujeita às leis do mercado! Se casa do povo que não existe a não ser na propaganda!

De qualquer modo não poderia terminar sem transcrever a quadra vencedora, atribuída a um poeta da Sobreda, e que tanto emocionou a Senhora presidente:

Em dia alegre de festa
Em noite escura de breu
És a joia que nos resta!
Almada! Que brilho o teu!

Saudações monárquicas





















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