sexta-feira, maio 12, 2006

O Portugal dos Pequeninos

Sou monárquico por mil e uma razões, mas sobretudo porque acredito que o regime monárquico poderia significar uma vida melhor, não apenas para mim, mas para o meu vizinho, e para aquele outro, que não é meu vizinho, mas que se sente parte da mesma comunidade. Noutra perspectiva, porque respeito o legado dos antepassados, herança que gostaria de transmitir acrescentada aos vindouros.
Portugal é esse sonho palpável, um caminho percorrido por muitas gerações, com alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, sem perder o rumo!
Dito isto, olho à minha volta e verifico que a palavra monarquia continua envolta em estranhos pensamentos, estranhas ligações, a que se associa atraso, coisa antiquada, que não existe nos países civilizados e desenvolvidos... Note-se, estou a descrever uma mentalidade que persiste no século XXI em Portugal!
Ora bem, esta ideia da monarquia não nasceu no dia 25 de Abril de 1974, antes pelo contrário. Posso até acrescentar, sem receio de falhar, que nos primeiros anos da revolução dos cravos, se falou mais em monarquia do que nos quarenta anos anteriores!
Posto isto, resta concluir que a ideia que vinha sendo vendida, conjugando a monarquia com um antiquário de plumas, inútil, com os Reis e a Corte a explorarem o povo, se fazia parte da propaganda republicana pura e dura, foi profundamente difundida durante o Estado Novo!
Mas Salazar era monárquico, gritam-me agora aos ouvidos!?
Então, se era, porque não contrariou a propaganda republicana durante o seu consulado?
Porque é que um belo dia, não se terá lembrado de dizer, alto e bom som, que era monárquico, ou ao menos, que a monarquia era o regime adequado para Portugal!?
Convém acrescentar o seguinte: a população, a esmagadora maioria dos portugueses é ‘republicana’, não porque tenha lido Platão, mas muito simplesmente porque as eminentes figuras do Estado, que religiosamente segue e imita, se afirmam republicanas. É assim que funciona a política de massas.
Por exemplo, se hoje o conhecido doutrinador televisivo, Marcelo Rebelo de Sousa, resolvesse afirmar-se monárquico e pusesse nesse ideal o ênfase com que lutou pela eleição de Cavaco Silva, estou convencido que a breve trecho, outros notáveis o seguiriam. Nessa altura o povoléu juraria a pés juntos uma fé inabalável na Coroa e mudar-se-ia de armas e bagagens para o ideário monárquico.
Dir-me-ão que isso é uma impossibilidade matemática, porque o distinto Professor acredita piamente nas virtualidades da república, faceta do seu carácter a quem deve o renome e prestígio que desfruta!
Não será bem assim, mas o exemplo permanece e pode explicar porque é que nunca há oposição em Portugal!
Estabelecendo agora um paralelismo com Salazar, e dando de barato que o ditador prezava a opinião alheia, uma de duas: ou esse pequeno Politburo chamado União Nacional, era um autêntico campo de batalha, surda e sangrenta, ou então, na outra hipótese, Salazar dominava completamente a situação e tinha a força suficiente para inflectir as decisões no sentido que lhe convinha.
A primeira hipótese é académica, não tem, nem teve, nada a ver com a realidade. Na segunda hipótese, Salazar não quis restaurar a monarquia e ponto final.
Porquê?
E que interessa isso agora?
Ao menos, que não se repitam os mesmos erros daqui para a frente. Um alerta, para quem acredita que Portugal independente ou existe em monarquia ou não existe.
Dispenso-me de demonstrar, só não vê quem não quer.

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