Quatrocentos
É apenas um número e corresponde
ao número de postais que levo escritos neste interregno, um caminho que se
aproxima a passos largos dos três anos de idade e quem sabe, do seu limite.
Olhando para trás tenho a sensação que passei o tempo a escrever o mesmo postal!
E com um único título – “Deus, Pátria, Rei”.
Relembro que o interregno é essa
ausência, a ausência de Deus na cidade dos homens, que reduz a dimensão (e o
valor) da vida humana à economia dos seus aspectos utilitários, onde não entra
a noção de eternidade. A apregoada separação entre a Igreja e o Estado esconde
afinal o divórcio entre o homem e Deus. Nestas circunstâncias deixam de existir
valores permanentes, tudo é efémero, e os poucos que resistem, porque não têm
representação adequada, relativizam-se e tornam-se descartáveis. Assim a Pátria
é hoje uma vaga memória colectiva, susceptível de ser vendida ou alocada, de
acordo com a melhor oferta. Não admira que o Príncipe tenha sido expulso ou
assassinado, ele era a figura humana da Pátria, a sua defesa, a sua
representação política, portanto, um empecilho para os apetites das grandes
potências, um alvo a abater pelos traidores. É preciso esclarecer que Portugal não é um hino, ou um monumento ao passado, é a vida da própria comunidade, a
sua história, a sua cultura, é território, é independência conquistada em mil
batalhas, e em outros tantos gestos de nobreza!
Nem todos os povos ou nações
conseguiram construir pátrias livres e independentes, faltou-lhes por certo algum
dos pilares que enunciei, faltou-lhes sobretudo a vontade que hoje nos vai
faltando.
Interregno, 18/10/07
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