Por estes dias, há quatrocentos e vinte e dois anos, Dom Sebastião viajava com o seu exército de quinze mil homens para a conquista de Marrocos. Fazia-o para combater a expansão dos turcos no Norte de África.
Fazia-o para evitar os ataques dos corsários a partir da costa africana. Fazia-o também cheio de um espírito sacrificial que, quando protagonizado por reis, envolve também o sacrifício das pátrias.
E assim o conseguiu. Os turcos não conseguiram avançar para Marrocos depois deste país ter reafirmado a sua identidade depois da batalha. Os corsários também não se refugiaram nas costas africanas mais controladas pelas autoridades locais. E o país sacrificou-se, como o seu rei e alguns dos seus conselheiros o desejavam, certamente com outras expectativas. Falo-vos disto porque acabei de ler um livro muito interessante intitulado “Dom Sebastião, Rei de Portugal”, escrito pelo espanhol António VillaCorta Baños-Garcia.
A perspectiva é de um historiador Castelhano, com muita informação sobre a óptica espanhola dos acontecimentos, de alguma forma benevolente face à atitude dúbia de Filipe II, e manifestamente crítico da atitude voluntariosa de Dom Sebastião. No entanto traz-nos informações que a maioria dos portugueses desconhece. Sobretudo informa-nos e angustia-nos, como se estivéssemos a viver aqueles momentos sabendo da morte anunciada do rei e do país. No fim da leitura vêm-nos à mente uma série ordenada de perguntas na condicional que poderiam ter mudado a sorte de Portugal e do mundo naquele século: Se a regência fosse dada a Joana de Áustria, mãe de Dom Sebastião, e não a Dona Catarina, avó do rei e esposa de Dom João III, muito provavelmente a educação do rei teria sido diferente, pois a sua mãe não o deixaria com poucas semanas de vida por ter emigrado para Espanha.
Se Filipe II, tio direito de Dom Sebastião, tivesse apoiado a invasão e sequente partilha de Marrocos, em vez de negociar a paz com Sultão Ali, aliado dos turcos, certamente que o resultado do confronto teria sido diferente, mesmo com o rei voluntarioso em demasia.
Se Dom Sebastião não tivesse demorado tempo demais em Cádiz e em Arzila, muito provavelmente teria conquistado Larache, mesmo caminhando por terra através da planície de Alcácer-Quibir. De facto, se assim fosse, o Sultão Ali não teria tempo de chegar ao local com o seu exército sediado em Fez. Isto tudo sem o apoio de Filipe II e com o mesmo rei jovem e voluntarioso.
Se Dom Sebastião tivesse aceite as condições de paz do Sultão Ali, que lhe prometia devolver as praças portuguesas, para além da Ceuta, Tânger, Argila e Mazagão em nosso poder; e ainda a cidade e o termo de Tetuão. Se assim fosse, tal bastaria para criar um território consistente em Marrocos e não haveria a perda do rei, do exército e do país. Mesmo sem apoio de Filipe II, sem atraso de Cádiz e com o rei considerado irresponsável por muitos.
Se o Sultão Ali, gravemente doente, tivesse morrido antes da batalha e não durante a mesma por agravamento da doença, muito provavelmente as tropas marroquinas virar-se-iam para apoiar Muhamad, berbere, cujo trono tinha sido usurpado por Ali, e que por isso alinhou nas fileiras portuguesas. Isto mesmo sem o apoio de Filipe II, o atraso de Cádiz, o acordo com Ali ou e a juventude do rei. Se, finalmente, a batalha fosse ganha pelos portugueses, como começou a sê-lo no início. Então, apesar de tudo o mais, o resultado seria bem diferente, para Portugal e para o Mundo. Ficou o sacrifício, Marrocos e, também, Portugal.
Tomás Dentinho
Jornal “A União” de Angra do Heroísmo, de 20 de Julho de 2006.
Fazia-o para evitar os ataques dos corsários a partir da costa africana. Fazia-o também cheio de um espírito sacrificial que, quando protagonizado por reis, envolve também o sacrifício das pátrias.
E assim o conseguiu. Os turcos não conseguiram avançar para Marrocos depois deste país ter reafirmado a sua identidade depois da batalha. Os corsários também não se refugiaram nas costas africanas mais controladas pelas autoridades locais. E o país sacrificou-se, como o seu rei e alguns dos seus conselheiros o desejavam, certamente com outras expectativas. Falo-vos disto porque acabei de ler um livro muito interessante intitulado “Dom Sebastião, Rei de Portugal”, escrito pelo espanhol António VillaCorta Baños-Garcia.
A perspectiva é de um historiador Castelhano, com muita informação sobre a óptica espanhola dos acontecimentos, de alguma forma benevolente face à atitude dúbia de Filipe II, e manifestamente crítico da atitude voluntariosa de Dom Sebastião. No entanto traz-nos informações que a maioria dos portugueses desconhece. Sobretudo informa-nos e angustia-nos, como se estivéssemos a viver aqueles momentos sabendo da morte anunciada do rei e do país. No fim da leitura vêm-nos à mente uma série ordenada de perguntas na condicional que poderiam ter mudado a sorte de Portugal e do mundo naquele século: Se a regência fosse dada a Joana de Áustria, mãe de Dom Sebastião, e não a Dona Catarina, avó do rei e esposa de Dom João III, muito provavelmente a educação do rei teria sido diferente, pois a sua mãe não o deixaria com poucas semanas de vida por ter emigrado para Espanha.
Se Filipe II, tio direito de Dom Sebastião, tivesse apoiado a invasão e sequente partilha de Marrocos, em vez de negociar a paz com Sultão Ali, aliado dos turcos, certamente que o resultado do confronto teria sido diferente, mesmo com o rei voluntarioso em demasia.
Se Dom Sebastião não tivesse demorado tempo demais em Cádiz e em Arzila, muito provavelmente teria conquistado Larache, mesmo caminhando por terra através da planície de Alcácer-Quibir. De facto, se assim fosse, o Sultão Ali não teria tempo de chegar ao local com o seu exército sediado em Fez. Isto tudo sem o apoio de Filipe II e com o mesmo rei jovem e voluntarioso.
Se Dom Sebastião tivesse aceite as condições de paz do Sultão Ali, que lhe prometia devolver as praças portuguesas, para além da Ceuta, Tânger, Argila e Mazagão em nosso poder; e ainda a cidade e o termo de Tetuão. Se assim fosse, tal bastaria para criar um território consistente em Marrocos e não haveria a perda do rei, do exército e do país. Mesmo sem apoio de Filipe II, sem atraso de Cádiz e com o rei considerado irresponsável por muitos.
Se o Sultão Ali, gravemente doente, tivesse morrido antes da batalha e não durante a mesma por agravamento da doença, muito provavelmente as tropas marroquinas virar-se-iam para apoiar Muhamad, berbere, cujo trono tinha sido usurpado por Ali, e que por isso alinhou nas fileiras portuguesas. Isto mesmo sem o apoio de Filipe II, o atraso de Cádiz, o acordo com Ali ou e a juventude do rei. Se, finalmente, a batalha fosse ganha pelos portugueses, como começou a sê-lo no início. Então, apesar de tudo o mais, o resultado seria bem diferente, para Portugal e para o Mundo. Ficou o sacrifício, Marrocos e, também, Portugal.
Tomás Dentinho
Jornal “A União” de Angra do Heroísmo, de 20 de Julho de 2006.
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