Com a licença na mão, que me custou os olhos da cara e uma longa espera até ser atendido, posso enfim debitar, em prosa ou verso, tudo o que me vai na alma sobre esta escalada de violência a que todos assistimos no médio oriente.
Antes porém e à semelhança de muitos, tive que cumprir os vários rituais de passagem que purificaram a minha compreensão e esclareceram dúvidas sobre os verdadeiros desígnios de Israel nesta guerra, que tantos consideram necessária e benfazeja!
Eu conto:
Mal me aproximei do guichet passaram-me um formulário breve mas conciso:
- És negacionista, ou pelo contrário, aceitas e assumes o holocausto com todas a suas consequências!
- Conheces a diferença entre terrorismo e o direito de Israel a viver em segurança dentro das suas fronteiras, nas terras que foram dos seus antepassados, ou és daqueles que andam para aí a desinformar a população alegando que o nosso antepassado foi um ricaço que comprou umas quintas na Palestina nos finais do século dezanove, e que nós ‘herdámos’ em 1948?!
- Por último, sabes o risco que corres se escreveres qualquer coisa que revele proximidade com o Islão, alguma condescendência com os terroristas, esses arautos da violência, que pregam o fim de Israel e do mundo ocidental?!
Havia ainda uma pergunta facultativa, que não contava para a média final:
- Acreditas piamente na nossa democracia e que só a nossa democracia conseguirá construir um novo médio oriente?
Foi este o teste!
E agora? Querem saber como saquei a licença?
Eu conto:
Não discuti o holocausto, limitei-me a acrescentar que os holocaustos existem, tal como os recordes também existem... para serem batidos. É sempre do próximo que tenho medo, justificado pelo anterior.
Na segunda pergunta hesitei, acabando por responder que um bom vinho do Porto tem de certeza mais de sessenta anos! Esta resposta foi considerada uma provocação e estive para chumbar, mas por sorte o examinador era aquilo a que se pode chamar ‘um apreciador’, e como bom judeu, tinha uma excelente reserva do famoso néctar! Encerrou desportivamente a questão com a promessa de uma visita à adega.
Na terceira pergunta, considerada a mais difícil, fiz um brilharete: disse a verdade sobre as relações de proximidade e convivência mais ou menos pacífica que temos mantido com os povos islâmicos que habitam o flanco sul da Europa, especialmente com Marrocos a quem hoje não tentamos impor nem a nossa cultura nem a nossa democracia. Beneficiámos é certo da circunstância de ninguém se ter lembrado de introduzir nesta região um corpo estranho, ao contrário do que aconteceu na Palestina, com as consequências que se conhecem e com os processos de rejeição que se adivinham por parte de quem já ali habitava.
O judeu coçou a cabeça, ter-me-á achado inofensivo e predispôs-se a entregar-me a licença!
Foi já certificado que decidi responder à pergunta facultativa, em jeito de gratificação: esta violência, esta democracia, não são caminho para coisa nenhuma a não ser para transformar o mundo num barril de pólvora. Não vão construir nada de novo, nada que já não seja conhecido há muito tempo – o inferno do ódio!
O papel dos Estados Unidos neste conflito, como tem acontecido noutros, é trágico e cómico ao mesmo tempo, perdendo completamente a face perante o mundo muçulmano.
E há quem se iluda com a força das armas e pense que é possível eliminar ou aniquilar todos os árabes, persas, turcos, indianos, polinésios, em suma todos os que professam o islamismo! Perigoso pensamento, próprio de orgulhosos mentecaptos, oriundos de um império recente e sem qualquer estofo colonizador, porque lhe falta o tempo que traz sabedoria às nações e lhe sobra a barbárie que gera desconfiança e animosidade.
É o que acontece com os senhores de Washington que agora deram em aliar-se com a nomenclatura do Kremlin e da China Popular!
É caso para dizer como os tempos mudam, e as companhias (as más) também!
Mas se o Islão não pode ser derrotado recorrendo à violência, Israel arrisca-se a desaparecer do mapa, apesar das suas inúmeras bombas, se não escolher outros caminhos e se calhar, outros aliados!!!
Não se espantem pois os sábios se o segredo da sobrevivência de Israel residir na sua plena integração como estado do médio oriente e não nesta política segregacionista e suicida, armado em povo eleito, e no papel de afilhado (ou mentor) do imperialismo americano.
Visado pela comissão de censura.
Antes porém e à semelhança de muitos, tive que cumprir os vários rituais de passagem que purificaram a minha compreensão e esclareceram dúvidas sobre os verdadeiros desígnios de Israel nesta guerra, que tantos consideram necessária e benfazeja!
Eu conto:
Mal me aproximei do guichet passaram-me um formulário breve mas conciso:
- És negacionista, ou pelo contrário, aceitas e assumes o holocausto com todas a suas consequências!
- Conheces a diferença entre terrorismo e o direito de Israel a viver em segurança dentro das suas fronteiras, nas terras que foram dos seus antepassados, ou és daqueles que andam para aí a desinformar a população alegando que o nosso antepassado foi um ricaço que comprou umas quintas na Palestina nos finais do século dezanove, e que nós ‘herdámos’ em 1948?!
- Por último, sabes o risco que corres se escreveres qualquer coisa que revele proximidade com o Islão, alguma condescendência com os terroristas, esses arautos da violência, que pregam o fim de Israel e do mundo ocidental?!
Havia ainda uma pergunta facultativa, que não contava para a média final:
- Acreditas piamente na nossa democracia e que só a nossa democracia conseguirá construir um novo médio oriente?
Foi este o teste!
E agora? Querem saber como saquei a licença?
Eu conto:
Não discuti o holocausto, limitei-me a acrescentar que os holocaustos existem, tal como os recordes também existem... para serem batidos. É sempre do próximo que tenho medo, justificado pelo anterior.
Na segunda pergunta hesitei, acabando por responder que um bom vinho do Porto tem de certeza mais de sessenta anos! Esta resposta foi considerada uma provocação e estive para chumbar, mas por sorte o examinador era aquilo a que se pode chamar ‘um apreciador’, e como bom judeu, tinha uma excelente reserva do famoso néctar! Encerrou desportivamente a questão com a promessa de uma visita à adega.
Na terceira pergunta, considerada a mais difícil, fiz um brilharete: disse a verdade sobre as relações de proximidade e convivência mais ou menos pacífica que temos mantido com os povos islâmicos que habitam o flanco sul da Europa, especialmente com Marrocos a quem hoje não tentamos impor nem a nossa cultura nem a nossa democracia. Beneficiámos é certo da circunstância de ninguém se ter lembrado de introduzir nesta região um corpo estranho, ao contrário do que aconteceu na Palestina, com as consequências que se conhecem e com os processos de rejeição que se adivinham por parte de quem já ali habitava.
O judeu coçou a cabeça, ter-me-á achado inofensivo e predispôs-se a entregar-me a licença!
Foi já certificado que decidi responder à pergunta facultativa, em jeito de gratificação: esta violência, esta democracia, não são caminho para coisa nenhuma a não ser para transformar o mundo num barril de pólvora. Não vão construir nada de novo, nada que já não seja conhecido há muito tempo – o inferno do ódio!
O papel dos Estados Unidos neste conflito, como tem acontecido noutros, é trágico e cómico ao mesmo tempo, perdendo completamente a face perante o mundo muçulmano.
E há quem se iluda com a força das armas e pense que é possível eliminar ou aniquilar todos os árabes, persas, turcos, indianos, polinésios, em suma todos os que professam o islamismo! Perigoso pensamento, próprio de orgulhosos mentecaptos, oriundos de um império recente e sem qualquer estofo colonizador, porque lhe falta o tempo que traz sabedoria às nações e lhe sobra a barbárie que gera desconfiança e animosidade.
É o que acontece com os senhores de Washington que agora deram em aliar-se com a nomenclatura do Kremlin e da China Popular!
É caso para dizer como os tempos mudam, e as companhias (as más) também!
Mas se o Islão não pode ser derrotado recorrendo à violência, Israel arrisca-se a desaparecer do mapa, apesar das suas inúmeras bombas, se não escolher outros caminhos e se calhar, outros aliados!!!
Não se espantem pois os sábios se o segredo da sobrevivência de Israel residir na sua plena integração como estado do médio oriente e não nesta política segregacionista e suicida, armado em povo eleito, e no papel de afilhado (ou mentor) do imperialismo americano.
Visado pela comissão de censura.
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